015 Timoteo 2º

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INTRODUÇÃO

2 TIMÓTEO Autoria As principais questões quanto à autoria das cartas canônicas de Paulo para Timóteo já foram observadas na introdução geral de 1 Timóteo. Conforme as narrativas finais de Atos 28, o apóstolo já havia sido liberto de sua prisão domiciliar, que cumprira junto à guarda pretoriana em Roma por volta do ano 63 d.C. Considerando que, logo depois, durante a sua quarta grande viagem missionária, produziu as epístolas de 1 Timóteo e Tito, quando voltou a ser perseguido e preso sob as ordens do imperador romano Nero, entre os anos 66 e 67 d.C., podemos igualmente compreender que foi nesse intervalo de tempo que Paulo escreveu sua segunda epístola a Timóteo. Contudo, ao contrário de sua primeira detenção, em que havia recebido autorização para alugar uma casa para seu confinamento (At 28.30), agora, nessa segunda prisão, padecia numa masmorra fria e úmida (4.13); acorrentado como um criminoso perigoso (1.16; 2.9). Seu isolamento foi de tal ordem que seus próprios amigos mais íntimos tiveram dificuldade para achar seu paradeiro (1.17). Paulo, nesse momento, estava perfeitamente consciente de que já havia concluído sua missão, e que seu tempo de vida nessa terra era exíguo (4.6-8). Propósitos Paulo teve pelo menos três grandes motivos para escrever esta segunda missiva ao seu amado “filho na fé”. Primeiro, de ordem pessoal, acostumado a grandes viagens e muitos relacionamentos, agora estava fechado num pequeno calabouço, isolado de tudo e de todos. Fígelo, Hermógenes, bem como todos os companheiros da província da Ásia, além de Demas, o haviam abandonado (1.15; 4.10). Para complicar, os fiéis discípulos Tito e Tíquico tinham partido em viagem, e somente o bom amigo e médico Lucas lhe fazia companhia (4.11). Por isso, o desejo intenso do velho apóstolo era que seu “filho da fé” fosse ao seu encontro, a fim de confortar-lhe o coração nesses derradeiros e dramáticos momentos (Rm 16.21; Fp 2.20-22; 1Co 4.17). Em segundo lugar, Paulo estava, como sempre, preocupado com o bem-estar da Igreja do Senhor em todas as partes onde houvesse um cristão ou um grupo de crentes reunidos em adoração sincera ao Senhor. O momento histórico era extremamente hostil, pois Nero odiava os cristãos e seus comandados impingiam violenta perseguição contra a Igreja de Cristo. O conselho de Paulo a Timóteo foi no sentido de encorajá-lo a guardar e perseverar com fé e coragem no Evangelho (1.14; 3.14), jamais cessando de pregar a Palavra (4.2), e oferecendo a própria vida nessa missão, se assim fosse necessário (1.8; 2.3). Em terceiro lugar, mas não em último, Paulo queria a ajuda de Timóteo para escrever aos irmãos da Igreja em Éfeso (4.20-22). Data da primeira publicação Cronologicamente, 2 Timóteo é a última das três “cartas pastorais” e se passa num tempo de extrema perseguição religiosa por parte das autoridades romanas. Em 1 Timóteo e Tito, o apóstolo estava livre para sonhar novos desafios missionários e chegar até a Espanha, seu grande desejo evangelístico. Entretanto, ao escrever esta epístola, em meados do ano 66 d.C., Paulo está jogado num cárcere em Roma, aguardando seu derradeiro julgamento (4.6). Esboço geral de 2 Timóteo 1. Saudação e introdução (1.1,2) 2. Expressão de graças a Deus por Timóteo (1.3-7) 3. O recrutamento de um soldado de Cristo (1.8-18) A. Um chamamento à bravura (1.8-12) B. Um chamamento à lealdade (1.13-18) 4. O caráter de um verdadeiro guerreiro de Cristo (2.1-26) A. Ser forte e destemido em Cristo (2.1-2)


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B. Ter seu objetivo focado no Senhor (2.3-4) C. Cultivar a vida disciplinada no Espírito (2.5-10) D. Viver seguro na sã doutrina de Cristo (2.11-13) E. Manter uma fé sadia e produtiva (2.14-19) F. Cuidar da santificação pessoal (2.20-23) G. Ser um servo de Cristo e da Igreja (2.24-26) Como lutar o bom combate por Cristo (3.1-17) A. O perigo do esfriamento espiritual (3.1-9) B. Como proteger-se contra a apostasia (3.10-17) A fidelidade do servo no ministério de Cristo (4.1-5) O consolo e prêmio do ministro de Cristo (4.6-18) A. Satisfação e honra de haver cumprido a missão (4.6-7) B. Um futuro de paz e júbilo por toda a eternidade (4.8) C. A companhia dos bons e fiéis companheiros (4.9-18) Saudações, últimos pedidos e bênção apostólica (4.19-22)


2 TIMÓTEO Prefácio e saudação Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela determinação de Deus, de acordo com a promessa da vida que está em Cristo Jesus,1 2 a Timóteo, filho muito amado: graça, misericórdia e paz provenientes de Deus e de Cristo Jesus, nosso Senhor.2

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Encorajamento à fidelidade 3 Rendo graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de ti, noite e dia, em minhas fervorosas orações. 4 Recordo-me das tuas lágrimas e desejo muito te ver, para que possa encher meu coração de alegria novamente. 5 Da mesma forma, trago na lembrança a sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe Eunice, e estou convencido de que também habita em ti. 6 Por esse motivo, uma vez mais quero encorajar-te que reavives o dom de Deus que habita em ti mediante a imposição das minhas mãos.3 7 Porquanto, Deus não nos concedeu

espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. 8 Assim sendo, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor nem de mim, prisioneiro dele; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos pela causa do Evangelho conforme o poder de Deus. 9 Pois Ele nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas em função da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi outorgada em Cristo Jesus desde os tempos eternos,4 10 e que nesses dias se manifestou pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, que aniquilou a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por intermédio do Evangelho. 11 Deste Evangelho fui constituído pregador, apóstolo e mestre. 12 Por essa causa, também sofro, todavia não me envergonho, porquanto sei em quem tenho crido e estou plenamente convicto de que Ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele Dia.5 13 Preserva com fé e amor em Cristo

1 Paulo, assim como os demais apóstolos, foi especialmente comissionado por Cristo para anunciar e ensinar as boas novas de que a vida eterna está à disposição de todas as pessoas e em todo o mundo. A humanidade sem Cristo está morta (separada de Deus eternamente), mas em Cristo a vida começa no presente e não terá fim (Gl 2.20; 1Tm 4.8; Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1). 2 Paulo tinha especial admiração pela fidelidade de Timóteo ao Senhor. A mesma fé dedicada que sua mãe Eunice, judia convertida a Cristo, e sua avó Lóide testemunharam, apesar do seu pai, de origem grega, ter preferido permanecer nas tradições pagãs de seu povo (At 16.1; Fp 2.20; 1Tm 1.3,15; 4.11,16). 3 Os dons não são oferecidos aos crentes em seu pleno florescimento; é necessário que, mediante a fé, o cristão os cultive e exercite em benefício do Corpo (a Igreja) e para a glória de Deus. Paulo usa a expressão grega original anazõpurõ, que significa “fazer o fogo reviver das brasas” ou “reatiçar”, para incentivar seu amado e jovem discípulo a permitir que o charisma (no original grego “dom gracioso”) de Deus fosse plenamente liberado por meio de suas palavras e atitudes. A imposição das mãos era um ato de fé e sinal da autoridade espiritual de Paulo (1Tm 1.18). 4 Deus planejou e determinou a salvação da humanidade desde a eternidade passada (Ef 1.4; 1Pe 1.20; Ap 13.8). Em sua onisciência e soberania conhece os seus: todos aqueles que responderem com fé ao chamamento de Cristo (Jo 1.12). Portanto, a salvação é exclusivamente um ato da graça imensurável do Senhor, e único meio do ser humano herdar a vida eterna. Não depende de qualquer esforço humano, mas absolutamente da realização do plano salvífico de Deus mediante o ato do sacrifício espontâneo de seu Filho: Jesus Cristo (Rm 3.28; Ef 2.8,9; Tt 3.5). Cristo destruiu (no original grego katargeõ) completamente o poder da morte de ser o ponto final (aniquilamento) na vida do ser humano verdadeiramente crente no Senhor. 5 Paulo usa uma metáfora bancária para explicar a segurança do nosso depósito de fé em Cristo. Nossos dividendos são o ensino do Senhor (1Co 3.12-15) e a herança eterna (At 20.32). “Aquele Dia” se refere ao glorioso Dia do retorno de Cristo (1.18; 4.8; 2Ts 1.10), também chamado nas Escrituras de “Dia do Juízo”.


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Jesus, o exemplo da sã teologia que observaste em mim. 14 Guarda o bom tesouro com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós. Paulo é abandonado por muitos 15 Estás bem ciente de que todos os que estão na província da Ásia me abandonaram, até mesmo Fígelo e Hermógenes.6 16 O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porquanto, muitas vezes, ele me abençoou com ânimo e não se envergonhou por eu estar preso; 17 pelo contrário, assim que chegou a Roma, procurou-me com persistência até me encontrar. 18 O Senhor lhe conceda que, naquele Dia, se encontre com as misericórdias da parte do Senhor! Tu bem sabes quantos serviços ele me prestou em Éfeso. As batalhas por amor a Cristo Tu, portanto, meu filho, fortalece-te na graça que há em Cristo Jesus. 2 O que ouviste de mim diante de muitas testemunhas, transmite a homens fiéis e capacitados a fim de que possam igualmente discipular a outros.1 3 Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus. 4 Nenhum soldado em serviço se permite

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envolver em negócios da vida civil, porquanto seu objetivo é agradar aquele que o recrutou para a guerra. 5 Da mesma forma, nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com o regulamento. 6 O lavrador que trabalha arduamente deve ser o primeiro a participar dos frutos da colheita. 7 Pensa bem sobre o que estou afirmando, pois o Senhor te fará compreender tudo. 8 Recorda-te de Jesus Cristo, ressurreto dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho,2 9 pelo qual sofro a ponto de ser preso como criminoso; mas a Palavra de Deus não está algemada.3 10 Por este motivo, suporto todas as aflições por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, com glória eterna. 11 Esta palavra é absolutamente digna de crédito: Se já morremos com Ele, da mesma forma com Ele viveremos; 12 se perseverarmos, com Ele igualmente reinaremos; se o negarmos, Ele também nos negará; 13 mas se somos infiéis, Ele, entretanto, permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.4

6 Paulo usa uma figura de linguagem (hipérbole) para enfatizar seu imenso pesar com o abandono de muitos cristãos de sua confiança. Pessoas que se deixaram iludir e seguiram falsos mestres e suas doutrinas heréticas. Timóteo e Onesíforo estavam em Éfeso, capital da província da Ásia (hoje parte do oeste da Turquia), e foram alguns dos poucos que permaneceram fiéis ao Senhor e apoiando o ministério de Paulo naquele momento (v.18; 4.19). Capítulo 2 1 Desde os tempos de Cristo, o ensino rabínico era transmitido não somente por meio de aulas teóricas, mas sobretudo pelo “seguir ao mestre”. A esse sistema de transferência de conhecimento bíblico e vida prática com Deus se deu o nome de “discipulado”, que se constituiu no principal método de crescimento da igreja primitiva. 2 A ressurreição de Jesus Cristo proclama a sua absoluta divindade. O fato de descender do rei Davi, comprova sua absoluta humanidade. Essas duas verdades juntas são vitais para a compreensão do Evangelho. Como Cristo é Deus, sua morte e ressurreição têm valor absoluto e eterno; por ser homem, Jesus Cristo pode, de acordo com a Lei, substituir todo aquele que crê, na cruz do Calvário. Paulo costuma usar uma expressão grega nos originais, cujo sentido literal é: “o Evangelho de cuja pregação estou incumbido” (Rm 2.16; 16.25). 3 Paulo usa o termo grego original kakourgos, “aqueles que praticam o mal” ou “criminosos”, para descrever a forma como estava sendo tratado por muitos enquanto aguardava sua condenação formal e execução por parte de Roma (4.6). Esse vocábulo só aparece em Lc 23.32,39, ao referir-se aos malfeitores crucificados ao lado de Jesus. Nero chamava os cristãos de “criminosos” ao promover suas implacáveis perseguições contra a Igreja do Senhor. 4 Mais uma vez, Paulo se vale da letra de um hino conhecido pela igreja primitiva para enfatizar suas teses teológicas. Aqui, o apóstolo apresenta a perseverança do crente em seguir a Cristo e a perseverança do Senhor que fundamenta a fé operosa do cristão (firmeza na sã doutrina e fidelidade na devoção a Deus). Alguns pensadores têm confundido esse princípio de conforto, segurança e descanso, especialmente para consciências assaltadas por contínuos sentimentos de culpa indevida (haja vista


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Atitudes do obreiro de Deus 14 Continua a lembrar essas orientações a todos, advertindo-os solenemente na presença de Deus, para que não se envolvam em discussões acerca de teorias vazias; isso não produz nada de bom, e serve tão somente para perverter os ouvintes.5 15 Procura, isto sim, apresentar-te aprovado diante de Deus, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a Palavra da verdade. 16 Evita, pois, as conversas inúteis e profanas, porquanto os que agem assim promovem ainda mais a impiedade, 17 e tais palavras se alastrarão como câncer; entre estes se encontram Himeneu e Fileto. 18 Eles se desviaram da verdade, proclamando que a ressurreição já aconteceu, e com isso corromperam a fé de alguns.6 19 Contudo, o firme fundamento de Deus permanece inabalável e autenticado com esse selo: “O Senhor conhece os seus” e “Aparta-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor”. 20 Numa grande casa há vasos não somente de ouro e prata, mas também

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de madeira e barro; alguns para nobres finalidades, outros para fins desonrosos. 21 Se alguém se purificar destes pecados, será como vaso de honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para todo bom serviço.7 22 Foge igualmente das paixões malignas da juventude e segue a justiça, a fé, o amor e a paz em comunhão com os que invocam o Senhor de coração puro. 23 E rejeita as questões insensatas e improdutivas, sabendo que geram apenas discussões. 24 Ao servo do Senhor não convém discutir, mas sim, ser amável para com todos, capacitado para ensinar, paciente. 25 Deves saber corrigir com mansidão os que se te opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda o arrependimento, conduzindo-os ao pleno conhecimento da verdade, 26 para que dessa maneira retornem ao bom senso e se livrem da armadilha do Diabo, que os capturou, a fim de agirem conforme a sua vontade.8 A humanidade nos últimos dias Sabe, entretanto, disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis.1

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que Cristo já pagou toda as nossas dívidas), com uma certa permissividade para a prática do pecado. Deus é fiel apesar da infidelidade do ser humano (Rm 3.8; 11.29-32; 1Jo 3.20; Mt 10.33). 5 Paulo usa a expressão grega katastrophe (perverter), que tem o sentido de “arruinar deixando tudo de cabeça para baixo”, para descrever uma forma primitiva de gnosticismo que começava a invadir a Igreja naqueles dias, fortemente refutada pelo apóstolo em suas cartas aos discípulos e líderes da Igreja, Timóteo e Tito. Paulo cita dois representantes dessas idéias heréticas: Himeneu e Fileto, pois negavam a ressurreição do corpo e afirmavam que apenas o espírito seguiria para uma outra dimensão (v.18). Erro ainda muito comum na atualidade entre os que acreditam numa ressurreição alegórica e não literal (1Tm 1.3-11,20; 1Co 15.12-19). 6 As palavras têm poder, e as palavras dos falsos mestres corroem como câncer (em grego gangraina). Esses líderes, em geral, saídos do convívio da própria Igreja, foram iludidos pelo Diabo e “extraviaram-se” (em grego astocheõ), isto é, literalmente: “erraram o alvo” (pecaram). A Igreja é o firme fundamento de Deus. O selo representa a autenticação (Rm 4.11; 1Co 9.2). Paulo exorta a Timóteo que reanime os crentes com a verdade de que a “pedra fundamental” tem duas inscrições: o Senhor tem santo e íntimo convívio com os seus filhos; enquanto a outra declaração apela à responsabilidade dos crentes: afaste-se da iniqüidade! A Igreja é propriedade de Deus e por Ele, pessoalmente, é protegida e seguirá em triunfo até o glorioso retorno do Senhor (Ef 1.13). 7 Paulo emprega a expressão grega original ekkathairõ, que significa “limpar plenamente” ou “eliminar o mal”, para admoestar a Igreja a “expurgar” do seu meio os falsos mestres renitentes e suas heresias diabólicas, bem como estimular a que cada cristão faça uma análise do seu próprio interior e comportamento e, “livre-se” de eventuais pecados e filosofias mundanas que, lentamente e com o passar do tempo, tendem a se infiltrar e instalar em nossos sistemas de valores. 8 Os cristãos sinceros não devem prejudicar seu testemunho com discussões, divagações e especulações inúteis. Entretanto, devem buscar a plenitude do Espírito e a boa formação na Palavra de Deus, a fim de estarem aptos a cooperar na recuperação daqueles que se desviaram mas, arrependidos, desejam voltar ao saudável convívio da família de Deus. Capítulo 3 1 O período histórico, chamado pelos autores bíblicos de “últimos dias” ou “final dos tempos”, corresponde a era messiânica, e iniciou-se com a primeira vinda de Jesus Cristo, e se encerrará com a segunda e gloriosa volta do Senhor (At 2.17; 1Tm 4.1; Hb 1.2; 1Pe 1.20; 1Jo 2.18).


7 2 Os homens amarão a si mesmos, serão ainda mais gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desrespeitosos aos pais, ingratos, ímpios,2 3 sem amor, incapazes de perdoar, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem,3 4 traidores, inconseqüentes, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, 5 com aparência de piedade, todavia negando o seu real poder. Afasta-te, portanto, desses também.4 6 Porque são pessoas assim que se intrometem pelas casas e conquistam mulheres insensatas sobrecarregadas de pecados, as quais se deixam levar por toda espécie de desejos. 7 Elas estão sempre aprendendo, mas jamais conseguem chegar ao conhecimento da verdade. 8 E à semelhança de Janes e Jambres que se colocaram contra Moisés, esses também se opõem à verdade. São homens que tiveram suas mentes corrompidas; são reprovados na fé. 9 Contudo, não irão longe; pois, como no caso daqueles opositores, a insensatez que lhes é própria se manifestará claramente a todos.5

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Paulo exorta seu filho espiritual 10 Tu, porém, tens seguido atentamente minha teologia, procedimento, propósitos, fé, paciência, amor, perseverança; 11 observado minhas perseguições e aflições, que sofri em Antioquia, Icônio e Listra. Quantas perseguições suportei! Contudo, de todas o Senhor me livrou!6 12 De fato, todas as pessoas que almejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidas. 13 Todavia, os perversos e impostores andarão de mal a pior, enganando e sendo enganados. 14 Tu, no entanto, permanece no ensino que recebeste e sobre o qual tens plena convicção, sabendo perfeitamente de quem o tem aprendido. 15 Porque desde a infância sabes as Sagradas Letras que têm o poder de fazer-te sábio para a salvação, por intermédio da fé em Cristo Jesus.7 16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver; 17 a fim de que todo homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar todas as boas ações.8

2 O ser humano, desde a Queda (Gn 3), vem incorporando características diabólicas em seu comportamento como indivíduo e sociedade. Paulo usa a expressão grega original philautoi, para descrever esse crescente e acentuado “amor do indivíduo humano por si mesmo” (egoísmo). Esse senso exagerado de auto-preservação o faz cada vez mais agressivo, no original grego blasphemoi, literalmente: “aquele que fala de modo destrutivo” (blasfemadores). 3 A mentira é uma das mais terríveis e mortais armas do Diabo, tanto que a expressão “caluniadores” vem do termo grego original diaboloi, que significa “lançadores de mentiras” ou “diabos”. A expressão grega anemeroi refere-se ao estado das pessoas depois da Queda (Gn 3): selvagens, rudes, violentas. 4 O ser humano aprendeu a falsificar suas mais profundas e reais intenções. O vocábulo grego morphe, usado aqui por Paulo, descreve o comportamento de certas pessoas que apenas ostentam “a forma” (aparência) de cristãs e piedosas, mas seus corações não foram realmente convertidos a Deus; seus interesses não são celestes e suas atitudes são ardis, com o objetivo de levar vantagens pessoais sem qualquer amor genuíno por Cristo e pelo próximo. 5 Janes e Jambres são homens que não foram citados nos textos canônicos do AT. Entretanto, segundo a tradição judaica, especialmente no Targum de Jônatas, que interpreta Êx 7.11, eram feiticeiros (magos) da corte egípcia que se opuseram a Moisés. 6 Paulo esteve ministrando em Antioquia, Icônio e Listra, três cidades da província romana da Galácia que o apóstolo visitou durante suas duas primeiras viagens missionárias (At 13.15 – 14.23; 16.1-6). Considerando que Timóteo era natural de Listra, devia conhecer bem de perto os sofrimentos de Paulo na região, bem como os milagrosos livramentos do Senhor concedidos ao seu pai espiritual (At 14.19,20). 7 Conforme a tradição judaica, os meninos começavam a ser instruídos formalmente no AT quando chegavam aos cinco anos de idade. Timóteo começou a ser ensinado em casa por sua avó Lóide e sua mãe Eunice, bem antes de completar essa idade (v.5). 8 Paulo assevera que o AT, bem como as porções do NT que já circulavam em sua época, são todas páginas infalíveis, escritas por autores escolhidos, cada qual com sua personalidade, história de vida e estilo, porém todos plenamente supervisionados pelo Espírito de Deus na produção dos manuscritos originais (1Tm 5.18; 2Pe 1.20,21; 3.15,16).


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Pregar a Palavra com sabedoria Eu te encorajo solenemente, na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, por ocasião da sua manifestação pessoal e mediante seu Reino: 2 Prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e encoraja com toda paciência e sã doutrina.1 3 Porquanto, chegará o tempo em que não suportarão o santo ensino; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, reunirão mestres para si mesmos, de acordo com suas próprias vontades. 4 Tais pessoas se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. 5 Tu, no entanto, sê equilibrado em tudo, suporta os sofrimentos, faze a obra de um evangelista e cumpre teu ministério.

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derá naquele Dia; e não somente a mim, mas certamente a todos os que amarem a sua vinda.

Paulo antevê seu martírio 6 Quanto a mim, já estou sendo derramado como vinho na oferta de libação. O momento da minha partida se aproxima.2 7 Combati o bom combate, completei a corrida, perseverei na fé! 8 Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me conce-

Recomendações finais 9 Procura vir ao meu encontro o mais depressa possível. 10 Porquanto Demas, havendo amado mais o mundo secular, me abandonou e se foi para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia.3 11 Somente Lucas está comigo. Toma a Marcos e traze-o contigo, pois ele me é de grande auxílio para o ministério.4 12 Mandei Tíquico para Éfeso.5 13 Quando vieres, traze-me a capa que deixei em Trôade, na casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.6 14 Alexandre, que trabalha com bronze, prejudicou-me severamente; o Senhor com certeza lhe retribuirá conforme as suas atitudes. 15 Tenhas muita cautela com ele, pois se opôs fortemente às nossas palavras. 16 Na minha primeira defesa, ninguém se fez presente para me ajudar; pelo contrário, todos me desampararam. Contudo, que isto não lhes seja imputado em juízo.

1 Mais do que um apelo, Paulo está encarregando oficialmente seu discípulo amado a dar seqüência à sua missão, pois antevê que seu tempo na terra se abrevia, e o juízo final se aproxima (Rm 2.16; At 17.31). O servo do Senhor deve estar sempre alerta e pronto para responder com a Palavra as mais variadas necessidades da humanidade: conselhos para livrar do erro (apelo à razão); repreensão espiritual (apelo à consciência) e encorajamento (apelo à vontade). Todas manifestações do ministério de “exortar” (no original grego parakaleõ). O mesmo ministério exercido pelo Espírito Santo (Paracleto) na vida do crente. 2 Paulo faz uma comparação entre seu sangue que está para ser derramado, por conta da sua iminente execução sob o juízo de Roma, e a tradição judaica da cerimônia da oferta de libação, quando se derramava vinho puro ao redor do altar do sacrifício (Nm 15.1-23; 28.7,24). O apóstolo está confiante e honrado em servir ao Senhor e oferecer a sua própria vida em oferta a Cristo (Fl 1.23; 2.17). 3 Demas foi cooperador de Paulo (Cl 4.14), mas desviou-se da sã doutrina e abandonou o apóstolo. Crescente só é mencionado aqui em todo o NT. Tito, discípulo de Paulo, foi em missão para a Dalmácia, região onde hoje se encontra a Albânia. Também conhecida nas Escrituras como Ilírico (Rm 15.19). Esse momento marca a conclusão da obra de Tito em Creta e o início da evangelização na costa leste do mar Adriático (Tt 1.5). 4 João Marcos preferiu não acompanhar Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária (At 13.13). Mais tarde, Barnabé levou Marcos consigo numa missão em Chipre, já que Paulo não quis levá-lo em sua segunda viagem missionária (At 15.36-41). Com o passar do tempo, Marcos comprovou sua vocação missionária e sua sincera amizade por Paulo ao permanecer ao seu lado, durante o primeiro encarceramento do apóstolo em Roma (Cl 4.10; Fm 24). Agora, Paulo pede a Timóteo que traga Marcos consigo, pois ele lhe será muito útil em Roma. 5 Tíquico também foi companheiro de Paulo em sua primeira prisão em Roma, procedente da província da Ásia (At 20.4), e portador das cartas aos Efésios (Ef 6.21) e aos Colossenses (Cl 4.7). 6 Os livros eram produzidos de papiro (grande erva própria das margens alagadiças do rio Nilo, da qual se produzia uma espécie de papel). Muitos documentos e textos bíblicos foram escritos sobre pergaminhos, feitos de peles de animais, especialmente de cabras (Êx 17.14). Paulo dedicava-se ao estudo do AT. Carpo é mencionado apenas aqui, em toda a Bíblia.


9 17 Todavia, o Senhor permaneceu ao meu lado e me abençoou com forças para que por meu intermédio a Mensagem fosse plenamente proclamada, e todos os que não são judeus a ouvissem. E eu fui livrado da boca do leão!7 18 Assim, o Senhor me livrará também de toda a obra maligna e me conduzirá a salvo para o seu Reino celestial. A Ele seja a glória para todo o sempre. Amém!8

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Saudações e bênção apostólica 19 Saúda a Prisca e Áquila e à casa de Onesíforo.9 20 Erasto permaneceu em Corinto, mas deixei Trófimo enfermo em Mileto. 21 Apressa-te a vir antes do inverno. Êubulo, Prudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos te enviam fraternais saudações.10 22 O Senhor seja com o teu espírito. A graça seja com todos vós!11

7 Considerando que Paulo, sendo cidadão romano, não podia ser lançado aos leões no anfiteatro, como era costume condenar os cristãos judeus e de outras nacionalidades, esse foi o modo figurado encontrado pelo apóstolo para comunicar à Igreja que a primeira audiência não resultou num veredicto condenatório. Paulo aproveitou seu tempo de prisão em Roma para evangelizar e discipular um grande número de romanos, particularmente oficiais militares e membros da corte imperial (At 28). 8 Paulo aqui se refere ao livramento espiritual e não físico, pois estava certo de que sua morte se daria em breve pelas mãos de Nero, certamente um dos mais terríveis anticristos da história (1Pe 5.8; Sl 7.2; 35.17). Contudo, não estava abatido, mas seguro e feliz por ter feito seu melhor para o Senhor, vencido a batalha da vida cristã e estar preparado para receber a coroa de vencedor com Cristo (vv.7,8). 9 Prisca (nome próprio, cujo diminutivo era Priscila) e Áquila sempre foram hospitaleiros, grandes amigos de Paulo e missionários de Cristo, para onde quer que levassem suas tendas (At 18.2,18; 19.22; Rm 16.3). 10 Segundo Irineu e a tradição dos pais da igreja, Lino foi o primeiro bispo de Roma, depois da morte de Pedro e Paulo. 11 Assim como no final de 1Tm, Paulo se preocupa em deixar registrada uma expressão de bênção a todos quantos pudessem ler e ouvir o conteúdo das suas cartas. Todavia, o apóstolo faz questão de dedicar uma palavra de particular encorajamento a Timóteo, seu filho na fé em Cristo.


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