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O algo a mais que Jesus nos pede

A dimensão moral da vida, a que engloba tudo o que aprendemos como certo, errado, justo e injusto, pode e deve evoluir.

À medida que vamos amadurecendo, evoluindo espiritualmente, passamos a perceber melhor os nossos erros e os erros dos outros. Nós, cristãos, temos em Jesus a nossa meta de evolução.

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Queremos ter e aplicar o senso de justiça de Jesus nos nossos dias. Olhamos para Ele e entendemos quem queremos ser, como podemos ser. Para isso, precisamos conhecê-lo, entender o que Ele recomendou aos seus discípulos, traduzir e atualizar as suas recomendações. Numa passagem do evangelho de Mateus, há um conselho muito difícil de ser aplicado.

Jesus diz que não devemos fazer

Pacto Educativo Global

somente o que nos pede a Lei quando se trata de nossa relação com as outras pessoas. Se a Lei nos diz que não devemos matar, a postura cristã não deve nos permitir matar o corpo, mas também de outras formas. Matar com nossa palavra grosseira, com nossa calúnia, com o nosso julgamento.

Ele nos diz mais. Caso haja algum entrave de relacionamento, todo ritual religioso só terá sentido se for precedido de um pedido de perdão, de um gesto de reconciliação. Traduzindo. Antes de ir à missa, ao culto, passe a sua consciência a limpo. Há alguém que precise ouvir o seu pedido de perdão?

O cristianismo não autoriza a hipocrisia. Ah, sou uma pessoa religiosa, participo regularmente da vida litúrgica. Ah, mas sou insuportável, falo mal das pessoas, difamo, calunio, estou sempre com uma pedra nas mãos para atirar em que foi flagrado em sua miséria.

Lamento informar que essa religiosidade não poderá nos salvar, pois Deus não é matemático. Ele não tem uma régua para medir religiosidade de ninguém. O que a Ele interessa é o coração puro, justo e verdadeiro.

Ouvir é o grande dom de quem tem, de fato, empatia na relação humana, prioritariamente, com os irmãos que mais sofrem pelas estruturas de injustiça. Ouvir ultrapassa a atividade da informação e considera a realidade do interlocutor em sua história de vida. Ouvir é o ato de silenciar o próprio pensamento para abrir-se todo inteiro para compreender, lucidamente, o que se apresenta no irmão. Ouvir é uma ação receptiva e acolhedora sem críticas ou preconceitos.

Toda geração traz em si uma riqueza cultural, comportamental, vivencial, relacional e de fé própria do período histórico em que se desenvolveu. É de suma importância estabelecer o ambiente de diálogo no processo de escuta respeitosa das gerações mais jovens, pois é na permuta vivencial que se realiza o diálogo que enriquece jovens e adultos. A riqueza maior da vida consiste em ser eterno aprendiz dos mistérios da vida, do existir, das relações interpessoais e no diálogo amoroso com Jesus.

O Papa Francisco, no Pacto Educativo Global, utiliza-se de três verbos para sintetizar a importância de ouvir as gerações mais novas: ouvir, transmitir e construir. A pessoa estando como centro do processo de ouvir, é provocada às suas perguntas existenciais interiores e particulares. Esta prática de autoconhecimento favorece a ver melhor em si as áreas de força, assim como também, as áreas de fragilidade. Ver a própria realidade, conhecer com consciência a própria história, saber-se quem se é, relativizar eventos da própria vida sem perder o rumo da continuidade do próprio desenvolvimento e abraçar a garra de viver com força são os elementos constitutivos deste primeiro passo do ouvir as novas gerações.

O Papa Francisco ainda fala em transmissão, mas a qual transmissão ele se refere? A transmissão de valores! Estes estão permeados da vivência dos valores apresentados por Jesus através do seus Evangelhos. Transmissão, na verdade, é partilha de valores, de vida e de fé. Na transmissão das gerações mais adiantas para as gerações mais novas processa-se, pela empatia e acolhimento, o intercâmbio de pessoas e valores perenes da antropologia cristã. A maior de todas as transmissões possíveis é a da capacidade de amar de forma incondicional como Jesus amou. O modelo de adulto que estimula as gerações mais novas ao caminho da aprendizagem dos valores da humanidade e do Evangelho deve estar com sua estrutura humana apta para fazer o bom contágio.

No entanto, como o ouvir e o transmitir podem chegar à consecução positiva na sociedade e na Igreja? Através do construir juntos, do fazer colaborativamente e do entender que juntos fazemos mais e melhor. Com o modelo de construção colaborativo das gerações mais novas tem mais chance de dar certo, visto que ativa as melhores habilidades de seus participantes, age em vista do desenvolvimento das habilidades que estão em dormência e gera mobilidade sistêmica. A educação é a ferramenta mais eficiente e eficaz no processo de formação das gerações mais novas. Pelos bancos escolares todas as pessoas das novas gerações passam. A Educação tem a dignidade de “Santuário do Desenvolvimento Humano”. Na escola, o protagonista é o estudante. A metodologia educacional deve considerar as peculiaridades de cada um e ativar, naquilo que for possível, as melhores estruturas de personalidade, de caráter, de consciência, de liberdade, de autonomia, de relação humana e de fé. Ao estudante de alta dotação humana deve-se oferecer condições de expandir suas estruturas em vista do próprio bem, do bem da família, da sociedade e da Igreja. Já o estudante que por questões pessoais, biológicas, familiares, psicológicas, sociais e econômicas apresenta uma inclusão, cabe à educação responsável criar condições de desenvolvimento que ative suas estruturas inclusivas em estruturas capazes de viver de forma digna. É tarefa fácil? Claro que não, mas é tarefa possível desde que a boa vontade permeada pela técnica pedagógica e o amor verdadeiro sejam as ferramentas mobilizadoras.