Boletim Pastoral Familiar - Março 2016

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MARÇO/2016

Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina e Bispo Referencial da Pastoral Familiar do Regional Sul 2/ CNBB

 Nesta Edição  01 – Divórcio emocional 03 – Catequeses 39 a 42 do Papa João Paulo II – Teologia do Corpo 09 – Reunião da coordenação da CRPF em Francisco Beltrão

18 – Dom Orlando participa de Encontro da Pastoral Familiar em Maringá

A separação de um casal normalmente obedece a um processo de separações até que se efetue o divórcio judicial. As separações começam no coração, no sentimento, no jeito do casal se relacionar. Eis alguns divórcios emocionais.

19 – Preparando-se para preparar

1. Falar sozinho

11 – Igreja, Matrimônio e Família (II) 15 – O Fim não justifica os Meios 17 – Reunião da Província de Londrina

20 - O corpo e os desafios atuais: ética e teologia

tece é o monopólio da palavra, ou seja, um fala sozinho e o outro faz que não ouve. Acabou o diálogo, não há mais pontes, e sim muros. A comunicação está trancada entre gritos e silêncios. 2. Passear sozinho

Um já não ouve o outro. Quando falam o que acon-

O casal não sai mais juntos, não tem mais desejo de participar de passeios, festas,


lazeres. Onde um vai o outro faz de tudo para não ir. Entre mentiras e manipulações mútuas conseguem achar desculpas para não sair juntos. Vem o isolamento e morrem as amizades. 3. Ir à Igreja sozinho Quando um casal não se entende a respeito da religião, as brigas, decepções, desentendimentos são constantes e desgastantes. A separação emocional atinge de maneira especial o lado religioso. O sofrimento é grande para quem parece ser viúvo de marido vivo e vice-versa, porque enfrenta sozinho reuniões, trabalhos e celebrações de sua religião.

4. Tomar refeição sozinho O casal evita sentar-se à mesa porque a refeição só traz dissabores. Os horários das refeições são despistados e quando sentam à mesa acontece o silêncio ou o barulho da televisão ou as reclamações. O que era para ser lugar prazeroso e unificador, tornou-se lugar de murmuração e mal-estar.

5. Dormir sozinho A separação de cama é antecipada por uma crise de desencontros e desentendimentos a respeito da vida sexual. Já não há mais carinho, elogio, gratidão. Com o coração ferido pelas mágoas e ressentimentos, a vida intima tende a fracassar. Daí em diante o que acontece é a separação de quarto, a abstinência conjugal. 6. Viver sozinho O casal consegue viver sozinho na mesma casa, de modo independente ou um dos dois sai de casa. Visitam-se como amigos

ou simplesmente rompem todo tipo de comunicação. Não legalizam judicialmente a separação por razões ou vantagens pessoais. A decisão é viver sozinho. Há quatro pilares que salvam o casal e a família: o diálogo constante, o perdão de todo coração, o carinho através dos pequenos gestos e a oração. Soluções existem mas precisam ser procuradas. O diálogo permite o desabafo e o alívio das tensões. O perdão liberta das mágoas, decepções e vinganças. O carinho, o toque, a gratidão reacendem a confiança. A oração enlaça as almas, os projetos, as intenções. Assim é reforçada a amizade do casal e cresce a afeição e a admiração mútua. Apreciar o outro, é atitude de quem ama. O outro precisa sentir e saber que é amado. O pior inferno é a incapacidade de amar e de deixar-se amar. O amor transforma tragédias em triunfos. Não deve pois o casamento matar o amor.

Um sorriso, um elogio, um toque podem fazer milagres. Buscar sucesso profissional e destruir a família é um engano e falta de bom senso. Ferida no amor a pessoa humana adoece, embrutece e aborrece. O amor de Deus é capaz de curar nossas feridas de amor. A paz interior se restabelece, a satisfação consigo próprio leva a uma atitude positiva e desarmada perante a vida e as pessoas. A aceitação da ajuda de Deus tem restabelecido a vida familiar e salvado muitos casamentos.

Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina


39ª. Catequese A concupiscência como afastamento do significado esponsal do corpo

Reflitamos nas seguintes palavras de Jesus, tiradas do Sermão da Montanha: ―Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração‖ (―tornou-a já adúltera no seu coração‖)i. Cristo pronuncia esta frase diante dos ouvintes, que, baseados nos livros do Antigo Testamento, estavam, em certo sentido, preparados para compreender o significado do olhar que nasce da concupiscência. Já na quarta-feira passada fizemos referência aos textos tirados dos chamados Livros Sapienciais. Eis, por exemplo, outra passagem, em que o autor bíblico analisa o estado de alma do homem dominado pela concupiscência da carne: ―… uma paixão ardente como fogo aceso / não se acalmará antes de devorar alguma coisa. / O homem que abusa do seu próprio corpo, / não terá sossego enquanto não devorar uma fogueira. / Para o homem impuro todo o pão é apetitoso, / e não se cansará de pecar até à morte. / O homem que desonra o leito conjugal / diz no seu coração: ‗Quem me vê? / As trevas cercam-me, as paredes escondem-me, / ninguém me vê, e a quem temerei? / O Altíssimo não se lembrará dos meus pecados‘. / Não considera que os olhos de Deus vêm todas as coisas, / que um semelhante temor humano afasta de si o temor de Deus. / Só teme os olhos dos homens. / E não sabe que os olhos do Senhor / são muito mais luminosos que o sol; / veem todos os caminhos dos homens, / e penetram as profundezas do abismo e os corações dos mesmos homens / até aos seus mais íntimos recônditos. / Assim também perecerá toda a mulher que deixar o seu marido, / e lhe der como herdeiro um filho adulterino…‖ii.

Não faltam análogas descrições na literatura mundial1. Certamente, muitas destas distinguem-se por mais penetrante perspicácia de análise psicológica, e por mais intensa sugestividade e força expressiva. Todavia, a descrição bíblica de Eclesiásticoiii compreende alguns elementos que podem ser considerados ―clássicos‖ na análise da concupiscência carnal. Elemento do gênero é, por exemplo, a comparação entre a

concupiscência da carne e o fogo: este, ardendo no homem, invade-lhe os sentidos, excita o corpo, arrasta os sentimentos e em certo sentido apodera-se do ―coração‖. Tal paixão, originada pela concupiscência carnal, sufoca no ―coração‖ a voz mais profunda da consciência, o sentido da responsabilidade diante de Deus; e isto, por sinal, é especialmente posto em evidência no texto bíblico recém-citado. Persiste, por outro lado, o pudor externo a respeito dos homens — ou antes uma aparência de pudicícia, que se manifesta como temor das consequências, mais que do mal em si mesmo. Sufocando a voz da consciência, a paixão leva consigo inquietação do corpo e dos sentidos: é a inquietação do ―homem exterior‖. Quando o homem interior foi reduzido ao silêncio, a paixão, depois de obter por assim dizer liberdade de ação, manifestase com insistente tendência para a satisfação dos sentidos e do corpo. Tal satisfação, segundo o critério do homem dominado pela paixão, deveria extinguir o fogo; mas, pelo contrário, ela não atinge as fontes da paz interior e limita-se a tocar o nível mais exterior do indivíduo humano. E aqui o autor bíblico justamente verifica que o homem, cuja vontade está empenhada em satisfazer os sentidos, não encontra sossego nem se encontra a si mesmo, mas, pelo contrário, ―consome-se―. A paixão procura satisfazer-se; por isso, embota a atividade reflexiva e desatende a voz da consciência; assim sem ter em si qualquer princípio de indestrutibilidade, ―extenua-se‖. É-lhe conatural o dinamismo do uso, que tende a ―esgotar-se‖. É verdade que, estando a paixão inserida no conjunto das mais profundas energias do espírito, pode tornar-se força criadora; em tal caso, porém, deve sofrer uma transformação radical. Se, pelo contrário, sufoca as forças mais profundas do coração e da consciência (como acontece na narrativa de Eclesiástico 23, 17-22), ―consome-se‖ e, de modo indireto, nela se consome o homem que é sua presa.

Quando Cristo, no Sermão da Montanha, fala do homem que ―deseja‖, que ―olha com desejo‖, pode presumir-se que tem diante dos olhos também as imagens conhecidas daqueles que O ouvem usando a tradição ―sapiencial‖. Todavia, contemporaneamente, refere-se a cada homem que, baseado na própria experiência interior, sabe o que significa ―desejar‖, ―olhar com desejo‖. O Mestre não analisa tal experiência nem a descreve, como fizera, por exemplo, o Eclesiástico iv; parece pressupor, diria eu, suficiente conhecimento daquele fato interior, para o qual chama a atenção dos ouvintes, presentes e potenciais. É possível que algum deles não saiba de que se trata? Se realmente nada soubesse, o conteúdo das palavras de Cristo não lhe diria respeito, nem qualquer análise ou descri-


ção seria capaz de o esclarecer. Se, pelo contrário, souber — trata-se, de fato, em tal caso, de uma ciência de todo interior, intrínseca ao coração e à consciência — compreenderá imediatamente, quando as sobreditas palavras a ele se refiram.

Cristo, portanto, não descreve nem analisa o que forma a experiência do ―desejar‖, a experiência da concupiscência da carne. Tem-se mesmo a impressão de Ele não penetrar nesta experiência em toda a amplitude do seu interior dinamismo, como acontece por exemplo no texto citado de Eclesiástico, mas detém-se antes no limiar dela. O ―desejo‖ não se transformou ainda numa ação exterior, ainda não se tornou o ―ato do corpo‖; e até agora o ato interior do coração: exprime-se no olhar, no modo de ―olhar para a mulher‖. Todavia, já deixa entender, desvela, o seu conteúdo e a sua qualidade essenciais. É necessário fazermos agora tal análise. O olhar exprime o que está no coração. O olhar exprime, diria eu, o homem completo. Se em geral se admite que o homem ―opera em conformidade com o que é‖ (operari sequitur esse), Cristo neste caso quer pôr em evidência que o homem ―olha‖ conformemente àquilo que é: intueri seguitur esse. Em certo sentido, o homem através do olhar revela-se exteriormente e aos outros; sobretudo revela o que percebe no ―interior‖2.

Cristo ensina, portanto, a considerarmos o olhar quase como limiar da verdade interior. Já no olhar, ―no modo como se olha‖, é possível reconhecer plenamente o que é a concupiscência. Procuremos explicá-lo. ―Desejar‖, ―olhar com desejo‖, indica uma experiência do valor do corpo, em que o seu significado esponsal cessa de ser tal, precisamente por causa da concupiscência. Cessa, também, o seu significado procriativo, de que falamos nas nossas precedentes considerações. Este — quando diz respeito à união conjugal do homem e da mulher — está radicado no significado esponsal do corpo e quase organicamente dele deriva. Ora, o homem, ―desejando‖, ―olhando para desejar‖ (como lemos em Mt 5, 27-28), experimenta de modo mais ou menos explícito o desapego daquele significado do corpo, que (segundo já observamos nas nossas reflexões) está na base da comunhão das pessoas: seja fora do matrimônio, seja — de modo particular — quando o homem e a mulher são chamados a constituir a união ―no corpo‖ (como proclama o ―evangelho do princípio‖ no clássico texto de Gênesis 2, 24). A experiência do significado esponsal do corpo está subordinada, de modo particular, à chamada sacramental, mas não se limita a ela. Tal significado qualifica a liberdade do dom, que — segundo veremos com maior precisão nas seguintes análises — pode realizar-se não só no matrimônio, mas também de modo diverso. Cristo diz: ―Todo aquele que olha para uma mulher para a desejar (isto é, quem olha com concupiscência) já cometeu adultério com ela no seu coração‖ (―tornou-a já adúltera no seu coração‖)v. Não quer acaso Ele dizer com isto que precisamente a concupiscência — como o adultério — é desapego interior do significado esponsal do corpo? Não quer mandar os Seus ouvintes para as experiências interiores que têm desse desapego? Não é acaso por isto que o define ―adultério cometido no coração‖?

_______________________________________ 1 Cf. p. ex. ―Confissões‖ de S. Agostinho: ―Deligatus morbo carnis mortifera suavitate trahebam catenam meam, solvi timens, et quasi concusso vulnere repellens verba bene suadentis tamquam manum solventis. (…) Magna autem ex parte atque vehementer consuetudo satiandae insatiabilis concupiscentiae me captum excruciabat‖ (Confessiones, VI, 12, 2122). ―Et non stabam frui Deo meo, sed rapiebar ad te decore tuo; moxque deripiebar abs te pondere meo, et ruebam in ista cum gemi tu: et pondus hoc, consuetudo carnalis‖ (Confessiones, 1, VII, c. 17). ―Sic aegrotabam et excruciabar accusans memetipsum solito acerbius nimis, ac volvens et versans me in vínculo meo, donec abrumperetur totum, quo iam exiguo tenebar, sed tenebar tamen. Et instabas tu in occultis Domine, severa misericordia, flagella ingeminans timoris et pudoris, ne rursus cessarem, et non abrumperetur idipsum exiguum et tenue quod remanserat; et revalesceret iterum et me robustius alligaret…‖ (Confessionis, 1, VIII, c. 11). Dante descreve esta fratura interior e considera-a merecedora de pena: ―Quando giungon davanti alla ruina / quivi le strida, il compianto, il lamento; / bestemmian quivi la virtù divina. / Intesi che a così fatto tormento / enno dannati i peccator carnali, / che la ragion dommettono al talento. / E come gli stornei ne portan l‘ali / nel freddo tempo a schiera larga e piena, / così quel fiato gli spiriti mali: / di qua, di là, di giù, di su li mena; / nulla speranza li conforta mai, / non che di posa, ma di minor pena.‖ (Dante, Divina Commedia, Inferno, V, 37-43). ―Shakespeare descreveu a satisfação de uma tirânica concupiscência como algo de: ‗Past reason hunted and, no sooner had, / past reason hated‖ (C.S. Lewis, The Four Loves, New York 1960, Harcourt, Brace, p. 28). 2 A análise filológica confirma o significado da expressão ho blépo (―o olhante‖ ou ―quem quer que olha‖: Mt 5, 28). ―Se blépo de Mt 5, 28 tem o valor de percepção interna, equivalente a ‗penso, fixo o olhar, reparo‗ — mais severo e mais elevado resulta o ensinamento evangélico quanto às relações interpessoais dos discípulos de Cristo. Segundo Jesus, não é necessário nem sequer um olhar luxurioso para fazer tornar adúltera uma pessoa. Basta mesmo um pensamento do coração‖ (M. Adinolfi, ―Il desiderio della donna in Matteo 5, 28″, in: Fondamenti biblici della teologia morale, Atti della XXII Settimana Biblica Italiana, Brescia 1973, Paideia, p. 279). ______________________________________ i Mt 5, 28. ii Eclo 23, 17-22. iii 23, 17-22. iv 23, 17-22. v Mt 5, 28.

40ª. Catequese O desejo, redução intencional do horizonte da mente e do coração


Durante a última reflexão, perguntamo-nos o que é o ―desejo‖, de que fala Cristo no Sermão da Montanhai. Recordemonos que Ele, falando assim, se referia ao mandamento ―Não cometerás adultério‖. O mesmo ―desejar‖ (precisamente: ―olhar para desejar‖) é definido como ―adultério cometido no coração‖. Isto dá muito que pensar. Nas precedentes reflexões, dissemos ter querido Cristo, ao exprimir-se daquele modo, indicar aos seus ouvintes o distanciamento do significado esponsal do corpo, distanciamento experimentado pelo homem (no caso, o varão), quando ele dá para a concupiscência da carne com um ato interior do ―desejo.‖ O distanciamento do significado esponsal do corpo ao mesmo tempo traz consigo um conflito com sua dignidade de pessoa: um autêntico conflito de consciência. A esta altura, manifesta-se que o significado bíblico (portanto, também teológico) do ―desejo‖ é diverso do puramente psicológico. O psicólogo descreverá o ―desejo‖ como intensa orientação para o objeto, por causa do seu peculiar valor: no caso aqui considerado, pelo seu valor ―sexual‖. Quanto parece, encontraremos tal definição na maior parte das obras dedicadas a semelhantes temas. Todavia, a descrição bíblica, mesmo sem desvalorizar o aspecto psicológico, põe em relevo sobretudo o ético, uma vez que há um valor que é lesado. O ―desejo‖ é, diria, o engano do coração humano quanto à perene chamada do homem e da mulher — chamada que foi revelada no mistério mesmo da criação — à comunhão através de um dom recíproco. Assim, pois, quando Cristo, no Sermão da Montanhaii, faz referência ―ao coração‖ ou ao homem interior, as suas palavras não deixam de estar carregadas daquela verdade acerca do ―princípio‖, com a qual, respondendo aos fariseusiii, Ele relacionara todo o problema do homem, da mulher e do matrimônio.

A perene chamada, de que procuramos fazer a análise seguindo o Livro do Gênesis (sobretudo, Gn 2, 23-25) e, em certo sentido, a perene atração recíproca da parte do homem para a feminilidade e da parte da mulher para a masculinidade, é convite por meio do corpo, mas não é o desejo no sentido das palavras de Mateus 5, 27-28. O ―desejo‖, como atuação da concupiscência da carne (mesmo e sobretudo no ato puramente interior), diminui o significado do que eram — e substancialmente não deixam de ser — aquele convite e aquela recíproca atração. O eterno ―feminino‖ (―das ewig weibliche‖), assim como, aliás, o eterno ―masculino‖, mesmo no plano da historicidade, tende a libertar-se da pura concupiscência, e procura um lugar de afirmação ao nível próprio do mundo das pessoas. Dá disso testemunho aquela vergonha original, de que fala Gênesis 3. A dimensão da intencionalidade dos pensamentos e dos corações constitui um dos principais filões da universal cultura humana. As palavras de Cristo no Sermão da Montanha confirmam precisamente tal dimensão.

Apesar disto, estas palavras exprimem claramente que o ―desejo‖ faz parte da realidade do coração humano. Quando afirmamos que o ―desejo―, quanto à original atração recíproca da masculinidade e da feminilidade, representa uma ―redução‖, temos na mente uma ―redução‖ intencional, quase uma

restrição ou fechamento do horizonte do espírito e do coração. Uma coisa, de fato, é ter consciência de que o valor do sexo faz parte de toda a riqueza de valores, com que ao varão aparece o ser feminino; e outra coisa é ―reduzir‖ toda a riqueza pessoal da feminilidade àquele único valor, isto é, ao sexo, como objeto idôneo à satisfação da própria sexualidade. O mesmo raciocínio se pode fazer quanto ao que é a masculinidade para a mulher, se bem que as palavras de Mateus 5, 2728 se refiram diretamente só à outra relação. A ―redução‖ intencional é, como se vê, de natureza sobretudo axiológica. Por um lado, a eterna atração do homem para a feminilidadeiv liberta nele — ou talvez, deveria libertar — uma gama de desejos espirituais-carnais de natureza, sobretudo, pessoal e ―de comunhão‖ (cf. a análise do ―princípio‖), aos quais corresponde uma proporcional hierarquia de valores. Por outra parte, o ―desejo‖ limita tal gama, ofuscando a hierarquia dos valores que marca a atração perene da masculinidade e da feminilidade.

O desejo faz que no interior, isto é, no ―coração‖, no horizonte interior do homem e da mulher, se ofusque o significado do corpo, próprio da pessoa. A feminilidade cessa deste modo de ser para a masculinidade, sobretudo, sujeito; deixa de ser uma específica linguagem do espírito; perde o caráter de sinal. Cessa, diria, de trazer sobre si o estupendo significado esponsal do corpo. Cessa de estar colocado no contexto da consciência e da experiência de tal significado. O ―desejo‖ que nasce da mesma concupiscência da carne, desde o primeiro momento da existência no interior do homem — da existência no seu ―coração‖ — , passa em certo sentido ao lado de tal contexto (poder-se-ia dizer, com uma imagem, que passa sobre as ruínas do significado esponsal do corpo e de todos os seus elementos subjetivos), e em virtude da própria intencionalidade axiológica tende diretamente para um fim exclusivo: para satisfazer só a necessidade sexual do corpo, como próprio objeto.

Tal redução intencional e axiológica pode verificar-se, segundo as palavras de Cristov, já no âmbito do ―olhar‖ ou, antes, no âmbito de um ato puramente interior expresso pelo olhar. O olhar, em si mesmo, é ato cognoscitivo. Quando na sua estrutura interior entra a concupiscência, o olhar toma caráter de ―conhecimento desejoso‖. A expressão bíblica ―Olha para desejar‖ pode indicar quer um ato cognoscitivo, de que se serve o homem desejando (isto é, conferindo-lhe o caráter próprio do desejo tendente para um objeto), quer um ato cognoscitivo que desperta o desejo no outro sujeito e sobretudo na sua vontade e no seu ―coração‖. Como se vê, é possível atribuir uma interpretação intencional a um ato interior, tendo presente um ou outro polo da psicologia do homem: o conhecimento ou o desejo entendido como appetitus. (O appetitus é alguma coisa mais ampla que o ―desejo‖, porque indica tudo o que se manifesta no sujeito como ―aspiração‖, e, como tal, orienta-se sempre para um fim, isto é, para um objeto conhecido sob o aspecto do valor). Todavia, uma adequada interpretação das palavras de Mateus 5, 27-28 requer que — através da intencionalidade própria do conhecimento ou do appetitus — avistemos alguma coisa mais, isto é, a intencionalidade da existência mesma do homem em relação com o outro


homem; no nosso caso: do homem em relação com a mulher e da mulher em relação com o homem. A este assunto convir-nos-á voltar. Concluindo a reflexão de hoje, é necessário ainda acrescentar que naquele ―desejo‖, no ―olhar para desejar‖, de que trata o Sermão da Montanha, a mulher, para o homem que ―olha‖ assim, deixa de existir como sujeito da eterna atração e começa a ser apenas objeto de concupiscência carnal. A isto está ligado o profundo desprendimento interno que falamos já na precedente reflexão. _______________________________________ i ii iii iv v

Mt 5, 27-28. Mt 5, 27-28. Cf. Mt 19, 8. Cf. Gn 2, 23. Mt 5, 27-28.

41ª. Catequese A concupiscência afastaq o homem e a mulher da perspectiva pessoal e «da comunhão»

No Sermão da Montanha, Cristo diz: ―Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no coração‖i. Algum tempo há que procuramos penetrar no significado desta afirmação, analisando-lhe cada elemento para compreendermos melhor o conjunto do texto. Quando Cristo fala do homem, que ―olha com desejo‖, não indica só a dimensão da intencionalidade do ―olhar‖, portanto do conhecimento concupiscente, a dimensão ―psicológica‖, mas indica também a dimensão da intencionalidade da existência mesma do homem. Isto é, demonstra quem ―é‖ ou antes em que ―se torna‖, em relação ao homem, a mulher para quem ele ―olha com concupiscência‖. Neste caso, a intencionalidade do conhecimento determina e define a intencionalidade mesma da existência. Na situação descrita por Cristo, aquela dimensão parte unilateralmente do homem, que é sujeito, para a mulher, tornada objeto (isto, porém, não quer dizer que tal dimensão seja apenas unilateral); por agora não invertamos a situação analisada, nem a estendamos a ambas as partes, a ambos os sujeitos. Detenhamo-nos na situação traçada por Cristo, sublinhando que se trata de um ato ―puramente interior‖, escondido no coração e fixo na soleira do olhar. Basta verificar que em tal caso a mulher — que, por motivo da subjetividade pessoal, existe perenemente ―para o homem‖, considerando que também ele, pelo mesmo motivo, exista ―para ela‖ — fica privada do significado da sua atração enquanto pessoa, a qual, mesmo sendo própria do ―eterno feminino‖, ao mesmo tempo para o homem torna-se só objeto: começa, isto é, a existir intencionalmente como objeto de potencial satisfação da necessidade sexual inerente à sua masculinidade. Embora o ato seja completamente interior, encerrado no ―coração‖ e expresso só pelo ―olhar‖, nele dá-se já uma mudança (subjetivamente unilateral) da intencionalidade mesma da existência. Se assim não fosse, se não se tratasse de mudança tão profunda, não teriam sentido as palavras

seguintes da mesma frase: ―Já cometeu adultério com ela no seu coração‖ii.

Aquela mudança da intencionalidade da existência, mediante a qual certa mulher começa a existir para certo homem não como sujeito de chamada e de atração pessoal ou sujeito ―de comunhão‖, mas exclusivamente como objeto de potencial satisfação da necessidade sexual, atua-se no ―coração‖ porque se atuou na vontade. A mesma intencionalidade cognoscitiva não quer dizer ainda escravização do ―coração‖. Só quando a redução intencional, explicada precedentemente, arrasta a vontade ao seu horizonte limitado, quando lhe desperta a decisão de um relacionamento com outro ser humano (no nosso caso: com a mulher) segundo a escala dos valores própria da ―concupiscência‖, só então pode-se dizer que o ―desejo‖ se apoderou também do ―coração‖. Só quando a ―concupiscência‖ se apodera da vontade, é possível dizer que ela domina a subjetividade da pessoa e está na base da vontade e da possibilidade de escolher e decidir, através do que — em virtude da autodecisão ou autodeterminação — é estabelecido o modo mesmo de existir nas relações com outra pessoa. A intencionalidade de tal existência adquire então plena dimensão subjetiva.

Só então — quer dizer, a partir daquele momento subjetivo e no seu prolongamento subjetivo — é possível confirmar o que lemos, por exemplo, no Eclesiásticoiii acerca do homem dominado pela concupiscência, o que lemos em descrições ainda mais eloquentes na literatura mundial. Então, podemos ainda falar daquele ―constrangimento‖ mais ou menos completo, que noutras passagens é chamado ―constrangimento do corpo‖ e leva consigo a perda da ―liberdade do dom‖, conatural à profunda consciência do significado esponsal do corpo, de que falamos também nas precedentes análises.

Quando falamos do ―desejo‖ como transformação da intencionalidade de uma existência concreta, por exemplo do homem, para quem (segundo Mt 5, 27-28) certa mulher se torna só objeto de potencial satisfação da ―necessidade sexual‖ inerente à sua masculinidade, não se trata de nenhum modo de pôr em questão aquela necessidade, como dimensão objetiva da natureza humana acompanhada pela finalidade procriativa que lhe é própria. As palavras de Cristo no Sermão da Montanha (em todo o seu amplo contexto) estão longe do maniqueísmo, como o está também a autêntica tradição cristã. Neste caso, não podemos, portanto, levantar objeções do gênero. Trata-se, pelo contrário, do modo de existir do homem e da mulher como pessoas, ou seja, daquele existir num recíproco ―para‖, o qual — mesmo com base naquilo que, segundo a dimensão objetiva da natureza humana, é definível como ―necessidade sexual‖ — pode e deve servir à construção da unidade ―de comunhão‖ nas suas relações recíprocas. Tal, de fato, é o significado fundamental próprio da perene e recíproca atração da masculinidade e da feminilidade, contida na realidade mesma da constituição do homem como pessoa, corpo e sexo juntamente.


À união ou ―comunhão‖ pessoal, a que o homem e a mulher são reciprocamente chamados ―desde o princípio‖, não corresponde, pelo contrário está em contraste, a possível circunstância de uma das duas pessoas existir só como sujeito de satisfação da necessidade sexual, e a outra se tornar exclusivamente objeto de tal satisfação. Além disso, não corresponde a tal unidade de ―comunhão‖ — pelo contrário, opõe-se-lhe — o caso de ambos, homem e mulher existirem reciprocamente como objeto de satisfação da necessidade sexual, e cada um por sua parte ser só sujeito daquela satisfação. Tal ―redução‖ de tão rico conteúdo na recíproca e perene atração das pessoas humanas, na sua masculinidade ou feminilidade, não corresponde precisamente à ―natureza‖ da atração de que se trata. Tal ―redução‖, de fato, apaga o significado pessoal e ―de comunhão‖, precisamente do homem e da mulher, através do qual, segundo Gênesis 2, 24, ―o homem… se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne‖. A ―concupiscência‖ afasta a dimensão intencional da recíproca existência do homem e da mulher das perspectivas pessoais e ―de comunhão‖, próprias da perene e recíproca atração entre os dois, reduzindo-a e, por assim dizer, impelindo-a para dimensões utilitaristas, em cujo âmbito o ser humano ―se serve‖ do outro ser humano, ―usando-o‖ só para satisfazer as próprias ―necessidades‖.

Parece podermos precisamente reencontrar tal conteúdo, carregado de experiência interior humana própria de épocas e ambientes diferentes, na concisa afirmação de Cristo no Sermão da Montanha. Ao mesmo tempo, não se pode em nenhum caso perder de vista o significado que tal afirmação atribui à ―interioridade‖ do homem, à integral dimensão do ―coração‖ como dimensão do homem interior. Aqui está o núcleo mesmo da transformação do ethos, para a qual tendem as palavras de Cristo segundo Mateus 5, 27-28, expressas com vigorosa energia e ao mesmo tempo, com admirável simplicidade. _______________________________________ i Mt 5, 27-28. ii Mt 5, 28. iii 23, 17-22.

42ª. Catequese Construir o novo sentido ético através da descoberta dos valores

Chegamos na nossa análise à terceira parte do enunciado de Cristo no Sermão da Montanhai. A primeira parte era: ―Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério‖. A segunda, ―Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a‖, está gramaticalmente ligada à terceira, ―já cometeu adultério com ela no seu coração‖. O método aqui aplicado, que é o de dividir, de ―quebrar‖ o enunciado de Cristo em três partes, que se seguem, pode

parecer artificioso. Todavia, quando procuramos o sentido ético do enunciado inteiro, na sua globalidade, pode ser útil precisamente a divisão do texto por nós usada, contanto que não seja aplicada só em modo disjuntivo, mas sim conjuntivo. É isto que projetamos fazer. Cada uma das partes distintas tem conteúdo e conotações que lhe são específicas, e é exatamente tudo o que desejamos pôr em relevo, mediante a divisão do texto; mas, ao mesmo tempo, observa-se que se explana cada uma das partes na relação direta com as outras. Isto refere-se em primeiro lugar aos mais importantes elementos semânticos, mediante os quais o enunciado constitui um conjunto. Eis aqui esses elementos: cometer adultério, desejar, cometer adultério no corpo e cometer adultério no coração. Seria particularmente difícil estabelecer o sentido ético do ―desejar‖ sem o elemento indicado aqui como último, isto é, o ―adultério no coração‖. Já a análise precedente em certo grau tomou em consideração este elemento; todavia, uma compreensão mais plena do elemento ―cometer adultério no coração‖ é possível só depois de uma análise especial.

Como já indicamos no princípio, trata-se aqui de estabelecer o sentido ético. O enunciado de Cristo, em Mt 5, 27-28, originase no mandamento ―não cometerás adultério‖, para mostrar como é preciso entendê-lo e pô-lo em prática para abundar nele a ―justiça‖ que Deus-Javé como Legislador quis; para ela abundar em medida maior do que a resultante da interpretação e da casuística dos doutores do Antigo Testamento. Se as palavras de Cristo em tal sentido tendem para construir o novo ethos (e em base do mesmo mandamento), o caminho para isto passa através da nova descoberta dos valores, que na compreensão geral vétero-testamentária e na aplicação deste mandamento foram perdidos.

Deste ponto de vista, é significativa também a formulação do texto de Mateus 5, 27-28. O mandamento ―não cometerás adultério‖ é formulado como proibição que exclui de modo categórico um mal moral determinado. É sabido que a Lei mesma (Decálogo), além da proibição ―não cometerás adultério‖, compreende também a proibição ―não cobiçarás a mulher de teu próximo‖ii. Cristo não torna vã uma proibição a respeito da outra. Embora fale do ―desejo‖, tende a uma clarificação mais profunda do ―adultério‖. É significativo que, depois de citar a proibição ―não cometerás adultério‖, como conhecida pelos ouvintes, em seguida, no decurso do seu enunciado, muda-lhe o estilo e a estrutura lógica, de normativa em narrativo-afirmativa. Quando diz ―Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração‖, descreve um fato interior, cuja realidade pode ser facilmente compreendida pelos ouvintes. Ao mesmo tempo, através do fato assim descrito e qualificado, indica como se deve entender e pôr em prática o mandamento ―não cometerás adultério‖ a fim de levar à ―justiça‖ querida pelo Legislador.

De tal modo, chegamos à expressão ―cometeu adultério no coração‖, expressão-chave, como parece, para entender o seu justo sentido ético. Esta expressão é, ao mesmo tempo, a fonte principal para revelar os valores essenciais do novo


ethos: do ethos do Sermão da Montanha. Como acontece muitas vezes no Evangelho, também aqui encontramos certo paradoxo. Como, de fato, pode haver ―adultério‖ sem se ―cometer adultério‖, isto é, sem o ato exterior, que permite reconhecer o ato proibido pela Lei? Vimos quanto se esforçou a casuística dos ―doutores da Lei‖ em precisar este problema. Mas, também independentemente da casuística, parece evidente que o adultério pode ser reconhecido apenas ―na carne‖, isto é, quando os dois — o homem e a mulher — , que se unem entre si de maneira que se tornam uma só carneiii, não são cônjuges legais — marido e mulher. Que significado pode ter, portanto, o ―adultério cometido no coração‖? Não é esta, acaso, uma expressão só metafórica, usada pelo Mestre para realçar a pecaminosidade da concupiscência?

Se admitíssemos tal leitura semântica do enunciado de Cristoiv, seria necessário refletir profundamente sobre as consequências éticas que daí derivariam, isto é, sobre as conclusões acerca da regularidade ética do comportamento. O adultério dá-se quando o homem e a mulher, que se unem entre si de maneira que se tornam uma só carnev, isto é, no modo próprio dos cônjuges, não são cônjuges legais. O reconhecimento do adultério como pecado cometido ―no corpo‖ está estreita e exclusivamente unido ao ato ―exterior‖, à convivência conjugal que se refere também ao estado das pessoas agentes, reconhecido pela sociedade. No caso em questão, este estado é impróprio e não autoriza a tal ato (daqui, precisamente, a denominação ―adultério‖).

Passando à segunda parte do enunciado de Cristo (isto é, àquilo em que principia a configurar-se o novo ethos) seria necessário entender a expressão ―todo aquele que olhar para uma mulher desejando-a‖, referida exclusivamente às pessoas segundo o seu estado civil, isto é, reconhecido pela sociedade, sejam ou não cônjuges. Aqui principiam a multiplicar-se as interrogações. Como não pode criar dúvidas indicar Cristo a pecaminosidade do ato interior da concupiscência — expressa através do olhar dirigido para toda a mulher que não seja a esposa daquele que para ela olha do modo dito — , portanto podemos e até devemos perguntar-nos se com a mesma expressão admite Cristo e comprova tal olhar tal ato interior da concupiscência, dirigido para a mulher que é esposa do homem, que assim olha para ela. Em favor da resposta afirmativa a tal pergunta parece estar a seguinte premissa lógica: no caso em questão, pode cometer o ―adultério no coração‖ só o homem que é sujeito potencial do ―adultério na carne‖. Dado que este sujeito não pode ser o homem-marido quanto à própria mulher legítima, então o ―adultério no coração‖ não pode referir-se a ele, mas pode atribuir-se como culpa a todo outro homem. Se é marido, não pode cometê-lo quanto à própria mulher. Ele só tem direito exclusivo de ―desejar‖, de ―olhar com concupiscência‖ para a mulher que é sua esposa — e nunca se poderá dizer que por motivo de tal ato interior mereça ser acusado do ―adultério cometido no coração‖. Se, em virtude do matrimônio, tem o direito de ―unir-se com sua mulher‖ de maneira que ―os dois sejam uma só carne‖, este ato não pode nunca ser chamado ―adultério‖; analogamente, não pode ser definido ―adultério cometido no coração‖ de que trata o Sermão da Montanha.

Tal interpretação das palavras de Cristo em Mt 5, 27-28, parece corresponder à lógica do Decálogo, em que, além do mandamento ―não cometerás adultério‖ (VI), há também o mandamento ―não desejarás a mulher do teu próximo‖ (IX). Além disso, o raciocínio que foi feito em seu apoio tem todas as características da correção objetiva e da exatidão. Todavia, justamente permanece em dúvida se este raciocínio toma em conta todos os aspectos da revelação e também da teologia do corpo que devem ser considerados, sobretudo quando desejamos compreender as palavras de Cristo. Já vimos precedentemente qual é o ―peso específico‖ desta locução, como são ricas as implicações antropológicas e teológicas da única frase em que apela Cristo para ―a origem‖vi. As implicações antropológicas do enunciado do Sermão da Montanha, em que apela Cristo para o coração humano, conferem, ao enunciado mesmo, também um ―peso específico‖ próprio, e ao mesmo tempo determinam-lhe a coerência com o conjunto do ensinamento evangélico. Por isso, devemos admitir que a interpretação acima indicada, com toda a sua objetiva correção e precisão lógica, requer certo ampliamento e, sobretudo, aprofundamento. Devemos recordar-nos que o apelo ao coração humano, expresso talvez de modo paradoxalvii, provém d‘Aquele que ―conhecia o interior de cada um‖viii. E se as suas palavras confirmam os mandamentos do Decálogo (não só o sexto, mas também o nono), ao mesmo tempo exprimem aquela ciência sobre o homem, que — segundo fizemos notar de outra vez — nos consente unir a consciência da pecaminosidade humana com a perspectiva da ―redenção do corpo‖ix. Precisamente tal ciência está na base do novo ethos, que deriva das palavras do Sermão da Montanha. Tomando em consideração tudo isto, concluímos que, assim como, ao entender o ―adultério na carne‖, Cristo submete a crítica a interpretação errônea e unilateral do adultério que deriva de não-observância da monogamia (isto é, do matrimônio entendido como a aliança indefectível das pessoas), assim também ao entender o ―adultério no coração‖, Cristo considera não apenas o real estado jurídico do homem e da mulher em questão. Cristo faz depender a valorização moral do ―desejo‖, sobretudo da mesma dignidade pessoal do homem e da mulher; e isto tem a sua importância, seja quando se trata de pessoas não casadas, seja — e talvez mais ainda — quando são cônjuges, mulher e marido. Partindo deste ponto de vista, convir-nos-á completar a análise das palavras do Sermão da Montanha, e fá-lo-emos na próxima vez. _______________________________________ i ii iii iv v vi vii viii ix

Mt 5, 27-28. Êx 20, 14.17; Dt 5, 18.21. Cf. Gn 2, 24. Mt 5, 27-28. Cf. Gn 2, 24. Cf. Mt 19, 8. Mt 5, 27-28. Jo 2, 25. Cf. Rm 8, 23.


Nos dias 20 e 21 de fevereiro a Diocese de Palmas-Francisco Beltrão sediou reunião da coordenação da CRPF – Comissão Regional da Pastoral Familiar – CNBB/ Regional Sul 2 – Estado do Paraná.

Presentes o casal Jorge e Sandra Bovo (Coordenador Regional, pertence à Diocese de Apucarana), coordenações dos Setores e Províncias Eclesiásticas de Curitiba, Cascavel, Londrina e Maringá. A reunião


Aconteceu no Centro Paroquial Pedro Granzotto – Concatedral Nossa Senhora da Glória em Francisco Beltrão, a partir das 14h00 do sábado, 20, terminando no domingo, 21, ao meio dia. Foram acolhidos pela Coordenação Diocesana da Pastoral Familiar e pelo assessor pe. Nilzeu Garcia Albuquerque que destacou a importância da Diocese sediar um evento com a participação das lideranças que pensam as ações evangelizadoras com as famílias no Paraná.

Dias 21 e 22 de maio de 2016, em Aparecida – SP.

No sábado, após o jantar, houve uma apresentação cultural e tradicionalista com casais do Grupo de Danças Xirú do CTG Recordando os Pagos, de Francisco Beltrão (veja foto no alto da página e acima) Em breve traremos mais notícias e novidades sobre a Assembleia.

Dentre os assuntos em pauta a avaliação do Congresso Regional da Pastoral Familiar, realizado em 2015 em Guarapuava, e programar a Assembleia Regional Eletiva da Pastoral Familiar, em setembro de 2016, na diocese de Jacarezinho, em Santo Antonio da Platina. Também foi debatido sobre a participação no 6º Simpósio da Família e a 8ª Peregrinação Nacional da Família a ser realizado nos


A Constituição Pastoral Gaudium et spes O Concílio Vaticano II enfatiza que a Igreja colabora sinceramente com a altíssima vocação humana de voltar-se para Deus, a origem de sua existência, em busca de uma fraternidade universal que corresponde a esta mesma vocação (GS, nº 3). Deus abençoa a família e lhe dá condições de viver neste mundo com dignidade (GS, nº 4), assim a miséria, a exclusão e a pobreza não fazem parte do projeto de Deus e sim da ganância humana. Por isso, é necessário garantir esse bem estar da família. A desigualdade social afeta seriamente a estrutura familiar. Para que a sociedade avance contra o individualismo ou interesses corporativistas, ela deve entender a garantia da família como modelo. Na família, cada pessoa é ponto importante de consideração e atenção. Para que o bem

comum das pessoas e da sociedade seja alcançado deve ser considerado o “bem estar da família” (GS, nº 47), sem deixar de destacar que o próprio Jesus nasceu num lar, numa família. A Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, estabelece nos parágrafos 47 a 52 a „promoção da dignidade do matrimônio e da família‟, “fala da „aliança conjugal‟ estreitamente unida ao amor de um homem e de uma mulher” (PAREDES, 2006, p. 225), afirmando sobre o amor conjugal que: a palavra de Deus convida repetidas vezes os noivos a alimentar e robustecer o seu noivado com um amor casto, e os esposos e sua união com um amor indiviso (Cf. Gn 2, 22-24; Pr 5, 15-20; 31, 10-31; Tb 8, 4-8; Ct 1, 23; 4, 16; 5, 1; 7, 8-14; 1Cor 7, 3-6; Ef 5, 25-33). E também muitos dos nossos contemporâneos têm em grande apreço o verdadeiro amor entre marido e mulher, manifestado de diversas maneiras, de

acordo com os honestos costumes dos povos e dos tempos. Esse amor, dado que é eminentemente humano  pois vai de pessoa a pessoa com um afeto voluntário  compreende o bem de toda a pessoa, e, por conseguinte, pode conferir especial dignidade às manifestações do corpo e do espírito, enobrecendoas como elementos e sinais peculiares do amor conjugal (GS, n. 49).

No mistério da Encarnação se inaugura a concretização da esperança escatológica, o Logos se apresentou a nós pessoalmente, fez-se humano e se uniu a todos os seres humanos. O Filho de Deus entra na história em nosso favor para nos levar à comunhão com o Pai e entre nós. “Para o aperfeiçoamento pessoal e a sorte eterna de cada um dos membros da família, para a dignidade, paz e prosperidade da própria família e da sociedade humana inteira...”(GS, nº 48). Envolve o ser humano e este numa família, “assim a família


comunicará as suas riquezas espirituais generosamente ainda às outras famílias” (GS, nº 48).

A Gaudium et spes nos diz que a família é testemunha “daquele amor que o Senhor revelou ao mundo por sua morte e ressurreição” (GS, nº 52), pois, é seguidora de Cristo, e assim, manifesta sua vocação eclesial. E pede ainda o empenho para o bem do matrimônio e da família, diante da realidade que aí está, e exige atitude cristã: a família é como que uma escola de valorização humana. Para que esteja em condições de alcançar a plenitude da sua vida e missão, exige, porém, benévola comunhão de almas e comum acordo dos esposos, e a diligente cooperação dos pais na educação dos filhos. A presença ativa do pai contribui poderosamente para a formação destes; mas é preciso assegurar também a assistência ao lar por parte da mãe, da qual os filhos, sobretudo os menores, têm tanta necessidade; sem descurar, aliás, a legítima promoção da mulher. [...] Os cristãos, resgatando o tempo presente (cf. Ef 5, 16; Cl 4,5), e distinguindo o que é eterno das formas passageiras, promovam com empenho o bem do matrimônio e da família, com o testemunho da própria vida e cooperando com os homens de boa vontade; deste modo, superando as dificuldades, proverão às necessidades e vantagens da família, de acordo com os novos tempos. Para alcançar este

fim, muito ajudarão o sentir cristão dos fiéis, a retidão da consciência moral dos homens, bem como o saber e competência dos que se dedicam às ciências sagradas (GS, n. 52).

Este enfoque da Gaudium et spes faz eco na Encíclica Humanae vitae, para atender o que durante o Concilio Vaticano II não foi possível aprofundar. A Encíclia Humanae vitae Paulo VI publica em 1968 a Encíclica Humanae vitae sobre a regulação da natalidade, que foi recebida em meio a uma grande controvérsia, sendo entendida por alguns como profética enquanto outros reagiram com decepção sob a justificativa de que ficou aquém do esperado, não aceitando ou não entendendo que ela seja muito mais que um „não‟ à contracepção. Essa dicotomia permanece até os nossos dias. O papa Paulo VI estava consciente do problema apresentado à Igreja sobre o controle dos nascimentos: os católicos usavam cada vez mais os anticoncepcionais e os teólogos europeus começavam a colocar em dúvida o ensinamento recebido em revistas especializadas. Também existia a dúvida sobre se a pílula anticoncepcional era uma forma de anticoncepção, já que não intervinha no transcurso do ato sexual. Os assessores começaram a pressionar o Papa por todos os lados, sobre a urgência da questão, instando-o a levar em consideração tal tema

(BRUGGER, 2011).

Mesmo sabendo da seriedade do assunto, o Papa entendeu que o Concilio Vaticano II não era o fórum próprio para tratar desse assunto (BRUGGER, 2011). Por isso, ampliou o número de participantes da comissão ´pontifícia com vários médicos, psiquiatras, demógrafos, sociólogos, economistas e casais: sendo uma comissão confidencial, muitos detalhes relacionados aos trabalhos realizados jamais foram publicados. Sabemos, no entanto, que, um ano antes da publicação da Humanae vitae e seis meses depois de a comissão terminar seus trabalhos, na primavera de 1967, quatro documentos da comissão vazaram e foram publicados em inglês e francês. Estes documentos revelavam que a maioria dos membros estava a favor de mudar o ensinamento tradicional sobre a anticoncepção e que tinham recomendado isso ao Papa (BRUGGER, 2011). Com o destaque que a imprensa deu sobre os documentos que vazaram, os católicos em geral ficaram com a impressão de que a Igreja estava preparando uma "mudança importante em seu magistério" sobre a anticoncepção, fortalecendo as esperanças e criando falsas expectativas (BRUGGER, 2011). Isso provocou, em parte, a consternação de muita gente na Igreja, quando, em junho de 1968, o Santo Padre reafirmou o antigo


ensinamento: o problema da natalidade, como de resto qualquer outro problema que diga respeito à vida humana, deve ser considerado numa perspectiva que transcenda as vistas parciais  sejam elas de ordem biológica, psicológica, demográfica ou sociológica  à luz da visão integral do homem e sua vocação, não só natural e terrena, mas também sobrenatural e eterna. E, porque na tentativa de justificar os métodos artificiais de limitação dos nascimentos, houve muito quem fizesse apelo para as exigências, tanto do amor conjugal como de uma “paternidade responsável”, convém precisar bem a verdadeira concepção destas duas grandes realidades da vida matrimonial, atendo-nos principalmente a tudo aquilo que, a este propósito, foi recentemente exposto, de forma altamente autorizada, pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (HV, n. 7). Nas diretivas pastorais, a encíclica recorda a atitude da Igreja Mestra e Mãe, que ensina e ao mesmo tempo entende e acolhe os seus filhos: a nossa palavra não seria a expressão adequada do pensamento e das solicitudes da Igreja, Mãe e Mestra de todos os povos se, depois de termos assim chamado os homens à observância e respeito pela lei divina, no que se refere ao matrimônio, ela os não confortasse no caminho de uma regulação honesta da natalidade, não obstante as difíceis condições que hoje afligem as famílias e as po-

pulações. A Igreja, de fato, não pode adotar para com os homens uma atitude diferente da do Redentor: conhece as fraquezas, tem compaixão das multidões, acolhe os pecadores, mas não pode renunciar a ensinar a lei que na realidade é própria de uma vida humana, restituída à sua verdade originária e conduzida pelo Espírito de Deus (HV, n. 19).

Dirigindo-se, finalmente aos esposos cristãos, admoesta-os a recordarem o compromisso com seu Batismo e o Matrimônio e o fortalecimento que recebem por eles, estando ciente das dificuldades inerentes à vida de casados: os esposos cristãos, portanto, dóceis à sua voz, lembrem-se de que a sua vocação cristã, iniciada no Batismo, se especificou ulteriormente e se reforçou com o sacramento do Matrimônio. Por ele os cônjuges são fortalecidos e como que consagrados para o cumprimento fiel dos próprios deveres e para a atuação da própria vocação para a perfeição e para o testemunho cristão próprio deles, que têm de dar frente ao mundo (Cf. Gaudium et spes, n. 48). Foi a eles que o Senhor confiou a missão de tornarem visível aos homens a santidade e a suavidade da lei que une o amor mútuo dos esposos com a sua cooperação com o amor de Deus, autor da vida humana. Não pretendemos, evidentemente, esconder as dificuldades, por vezes graves,

inerentes à vida dos cônjuges cristãos: para eles, como para todos, de resto, “é estreita a porta e apertado o caminho que comduz à vida” (Mt 7, 14; cf. Hb 12, 11). Mas, a esperança destas vidas, precisamente, deve iluminar o seu caminho, enquanto eles corajosamente se esforçam por “viver com sabedoria, justiça e piedade no tempo presente” (Cf. Tt 2, 12), sabendo que a “figura deste mundo passa (Cf. 1Cor 7, 31)” (HV, n. 25). Doze anos depois, a reflexão se aprofunda com o papa João Paulo II na Exortação Apostólica Familiaris Consortio. (continua...) Referências Vaticano II. Gaudium et spes – Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje. 15 ed. São Paulo: Paulinas, 2007.

PAREDES, José Christo Rey Garcia. O que Deus uniu. Teologia da vida matrimonial e familiar. São Paulo: Paulus, 2006. PAULO VI. Carta Encíclica Humanae vitae sobre a regulação da natalidade. In: Documentos da Igreja – Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulinas, 1997. BRUGGER, E.C. Pe. Ford, Paulo VI e o controle da natalidade – Germain Grisez oferece nova visão da comissão papal. Disponível em: http://www.zenit.org/pt/arti cles/peford-paulo-vi-e-ocontrole-da-natalidade.


Dias 12-13 9º Encontro da Pastoral Familiar Província de Cascavel

Dia 25 Solenidade da Apresentação do Senhor e Sexta-feira Santa Dia 27 Páscoa da Ressurreição do Senhor

Abril Dia 03 Encontro Pastoral Familiar Província de Maringá em Paranavaí Dia 10 Encontro Pastoral Familiar Província de Curitiba em Ponta Grossa Dia 21 Tiradentes – Feriado Nacional


O FIM NÃO JUSTIFICA OS MEIOS Padre José Rafael Solano Durán.

A viagem do Papa Francisco, trouxe uma enorme alegria para o povo mexicano. Nesta 12ª viagem apostólica o Papa se mostrou alegre, disponível e sereno como sempre. Sua figura contagia pela bondade, pela beleza das suas homilias e sobretudo pela grandeza do seu testemunho. É praxe que na viagem de volta se tenha uma espécie de “coletiva”, na qual jornalistas representantes dos mais diversos veículos de informação do mundo façam perguntas. Desta vez a jornalista Paloma Garcia Ovejero, fez uma pergunta sobre o vírus da ZIka: “Santo Padre, há algumas semanas há muita preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o vírus “Zika”. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angustia. Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez. Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “entre os males, o menor”? É evidente que a pergunta parece fácil de responder porém ela utilizou um dos ar-

gumentos mais fortes da moral e da ética cristã como é aquele do mal menor. O que significa o mal menor. Num primeiro sentido, o mal menor se refere às consequências derivadas de uma decisão numa situação que obriga a fazer uma escolha; sendo essa situação inevitável, escolhese a consequência menos prejudicial. Na vida moral de cada ser humano e de maneira particular nas decisões; cada pessoa possui um nível de responsabilidade. Somos responsáveis pelos nossos atos. A decisão moral envolve a consciência que formada à luz do bem e da retidão da mesma, sabe que tudo aquilo que fizer deverá sempre ser benéfico para si próprio e para os outros. Nossos atos não são uma carta de recomendação, ou uma aparente imagem do que somos. Nós somos nossos atos. A nossa responsabilidade por aquilo que fazemos determina num certo sentido nossa forma de ser e de nos posicionar diante da realidade que a situação exige.


Num segundo sentido (mais restrito), o princípio do mal menor significa que, quando todas ou cada uma das possíveis decisões a serem tomadas são, realmente negativas e não existe alternativa para tomar uma decisão, é preciso optar pela menos negativa. Aqui está a meu ver a errada interpretação que os meios de comunicação fizeram da resposta do Santo Padre. O Papa como pedagogo que é se valeu de um exemplo prático e concreto citando seu predecessor o Beato Paulo VI. Só que antes do exemplo o Papa foi contundente e claro: “O aborto não é um “mal menor. É um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz eh? É um crime. É um mal absoluto.” Não existe espaço para pensar em aceitar ou relativizar o mal absoluto do aborto com aqueles governos que pensam que promovendo o aborto o vírus Zika ou qualquer outro vírus ou doença será remediado. Os meios de comunicação posteriormente distorceram o exemplo citado pelo Papa das freiras que na África foram liberadas na década dos 70 para no caso de serem violentadas ou estupradas utilizaram contraceptivos com a permissão do Papa Paulo VI. Colocou-se no mesmo patamar da decisão moral, o perigo do estupro e a contaminação com o vírus zika. Imediatamente os meios anunciaram a resposta do Papa com manchetes como estas: “Para combater Zika, Papa admite uso de anticoncepcionais” EBC – Agencia Brasil. “Papa admite uso de contraceptivos durante epidemia de zika” GLOBO. “Papa se mostra favorável ao uso de contraceptivos por causa da zika”. Globo NEWS. Todas as manchetes dispararam com anúncios que não continham nem a resposta do Papa, nem muito menos o pensamento do magistério Eclesial. O fim não justifica os meios. Em nenhum momento poderíamos afirmar que a solução para o Zika é o uso dos contraceptivos. O Papa Francisco foi claro: “Não con-

fundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o aborto”. Afirmou o Papa. Na época em que o Papa Paulo VI considerou a possibilidade de que as freiras utilizassem o consumo da pílula o fez diante de uma situação limite: a guerra. Muitas consagradas poderiam ter sido violentadas e algumas delas virem a ficar grávidas. O fim não justifica os meios. O exemplo veio no testemunho das religiosas que preferiram oferecer suas vidas em sacrifício, pois muitas delas foram martirizadas e doaram as suas vidas pelo Reino e pelo povo. Quando se entende que o fim não justifica os meios, se compreende a bela proposta que o Papa Francisco fez ao comparar a atitude do seu predecessor Paulo VI. O bem da vida é absoluto, a vida é sagrada e para defender uma vida se faz tudo aquilo que evite agressão, destruição e muito menos acabar com a vida de um para salvaguardar a vida do outro. O fim não justifica os meios. Precisamente por esta razão o Papa encorajou a comunidade científica a não medir esforços procurando as vacinas e as terapias necessárias para poder ajudar as mães grávidas a resolver esta situação. Tenha-se presente que não todas as mulheres grávidas estão desenvolvendo no seu ventre crianças com microcefalia, o que não acontecia na África quando todas as mulheres indistintamente eram consideradas alvo de violência e estupro sobretudo quando estas eram cristãs e estrangeiras. Esta sim é uma situação limite. Parece-me prudente que os meios antes de lançar uma manchete como estas deveriam pensar e amadurecer o conteúdo da mesma resposta, considerando o valor dos teólogos moralistas ou de outros assessores que podem contribuir para evitar a confusão desnecessária que causou na opinião pública e nos fiéis. Padre José Rafael Solano Durán. Sacerdote e Teólogo da Arquidiocese de Londrina. Professor da PUC – PR e Professor convidado da Faculdade Canção Nova.


Aconteceu no sábado, 27 de fevereiro, em Apucarana, a reunião da Pastoral Familiar – Província de Londrina, com a apresentação dos trabalhos realizados, projetos e expectativas das dioceses de nossa região. Entenda um pouco sobre a estrutura da Pastoral Familiar: CNPF – Comissão Nacional da Pastoral Familiar é responsável por todo território nacional; CRPF – Regional Sul 2 compreende todo o estado do Paraná, Os coordenadores são Jorge e Sandra Bovo e o Bispo Referencial Dom Orlando Brandes; Província de Londrina compreende as dioceses de Londrina, Apucarana, Jacarezinho e Cornélio Procópio. Os coordenadores são José Aparecido e Maria Amélia.


Dom Orlando participa de Encontro da Pastoral Familiar em Maringá

O arcebispo de Londrina e bispo referencial da Pastoral Familiar do Regional Sul 2/ CNBB, dom Orlando Brandes, participou no dia 14 de fevereiro em Maringá do Encontro da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Maringá, na casa de retiro Rainha da Paz.

Dom Orlando trabalhou com os 180 participantes o tema “Ano da Misericórdia”, focado no perdão e a misericórdia dentro da família, com os

pais, filhos, e casais em nova união. Os agentes tiveram momentos de reflexão, de troca de ideias e de profunda oração.


Aconteceu nesse domingo no Decanato Centro na Paróquia São José de Cambira Encontro de Formação para agentes da Pastoral Familiar que irão trabalhar com os noivos. Obrigado ao casal coordenador Elisangela e Rodrigo pelo bom trabalho realizado no decanato. Que Deus os abençoe.

DIOCESE DE APUCARANA


O corpo e os desafios atuais: ´ ética e teologia A preocupação pela pessoa humana e por tudo que a ela diz respeito estimula o cuidado e a reflexão pastoral da Igreja em considerar o corpo no âmbito e no contexto de uma mais adequada antropologia de raízes ontológicas referenciadas na integralidade (natural-terrena, sobrenatural-eterna). Esta preocupação, todavia, confronta-se com os desafios da mentalidade atual, que inegavelmente traz o corpo ao centro das atenções, mas o relega à sorte das reduções ideológicas que o diminuem a ―material disponível e manipulável‖ por meio de concepções parciais que, se de um lado seduzem a sociedade a uma compreensão marginal e unilateral do corpo, centradas na ótica da estimulação da sensibilidade e da estética (body building), sem referência à sua identidade específica e desassociando-o de qualquer elevação espiritual, de outro entorpecem a possibilidade da descoberta do significado mais profundo do corpo pelo estímulo de uma imagem-anônima e fora da sua vitalidade esponsal. À nova mutação antropológica da modernidade a Igreja apresenta uma diferente proposta de concretização moral: Jesus Cristo, indicador e verdadeira possibilidade da realização plena e integral da pessoa humana, que libera a consciência para uma constituição relacional e de comunhão com Ele mesmo e com o seu próximo marcada pela reciprocidade e solidariedade no amor como vocação fundamental e originária do ser humano. Neste âmbito, o matrimônio é um lugar especial desta reflexão; dele se abrem horizontes para todos os níveis de sacramentalidade da vida cristã, que encontra, no amor e na fecundidade do acolhimento, a novidade do Cristo, isto é, a força de ser sinal comunicante de um amor maior, dom do alto, que evidencia o corpo não como prisão da escravidão da sensibilidade e da estética, mas na sua verdade de mystérion enraizado na Trindade e frutificado na comunhão e solidariedade com os irmãos e irmãs. Leia o artigo do Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo completo em LEXICON – Pontifício Conselho para a

Família – Termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas, Brasília: Edições CNBB, 2.ed. 2007, p.161 – 169.

Bispo Referencial Dom Orlando Brandes do.brandes@uol.com.br Casal coordenador Jorge Luis Bovo e Sandra Regina P.Bovo jorgebovo@gmail.com sandrabovo@gmail.com Assessor Regional Diác. Juares C. Krum jckrum@gmail.com

PRIORIDADE EVANGELIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS Com seis destaques:    

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Catequese Grupos de Reflexão Pais e filhos Espiritualidade conjugal Juventude Noivos


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