Boletim Pastoral Familiar - Julho 2016

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JULHO/2016

Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina e Bispo Referencial da Pastoral Familiar do Regional Sul 2/ CNBB

 Nesta Edição  01 – A melhor herança familiar 03 – Catequeses 55 a 58 do Papa João Paulo II – Teologia do Corpo 09 – O pré-processo de nulidade matrimonial 13 – Pesquisei e achei na internet 14 – 13º Retiro Bom Pastor para casais recasados

16 – Pastoral Familiar da Arquidiocese de Curitiba realiza sua XXI Assembleia 18 – Diocese promove formação sobre Amoris Laetitia

Os pais gostam de deixar alguma herança para seus filhos. Geralmente a herança é financeira. Temos, porém, outras muito preciosas que enriquecem as pessoas no seu humanismo, herança de valores. Vejamos algumas heranças humanitárias que enriquecem o ser.

O sentimento de amor pela

vida dos seres humanos. Vivemos para ajudar outros a viver. O respeito pela vida e dignidade da pessoa humana é a melhor herança que podemos deixar. Sentir satisfação pelo bem dos outros é a suprema emoção. O propósito de não prejudicar e fazer aos outros o que queremos que nos façam, é amor pela vida do outro. Tais sentimentos nos enchem de simpatia e consideração pelo


próximo e nos cumulam de paz interior. Atos de altruísmo, de voluntariado e de gratuidade são valores de alto quilate. Quem se preocupa menos consigo, sofre menos. É a herança do amor fraterno.

A consciência de viver o que foi ensinado. Praticar os mandamentos, interiorizar e viver os princípios éticos, dar testemunho de vida é uma herança inestimável. Que possam dizer de nós: era uma pessoa que fazia o que dizia, passou fazendo o bem. Uma vida pautada pela coerência e transparência é cativante e irradiante. O mundo aprecia mais as testemunhas que os mestres. Os gestos falam mais que palavras. Em nossos filhos fica marcado o jeito de viver de seus pais. Eis a herança do bom exemplo.

Não repetir os erros cometidos. Aprender com os erros, não repeti-los, não justificá-los, não mistificá-los, é uma sabedoria que nos faz amadurecer. Crer que podemos ser melhores e ir além de nossos limites, é manifestar a esperança que nos habita. Enfim isso tudo significa humildade. Nossos erros podem ser nossa escola, nosso pedagogo, nossa chance de memorar e de mudar. A coragem de assumir os erros e corrigir-nos nos eleva e dignifica. É a herança da sabedoria.

A capacidade de escolher novos rumos. É belo saber recomeçar, não desistir, procurar soluções, corrigir rotas. Para quem não tem rumo todos os caminhos são errados. Ter ideais, metas e objetivos é ser pessoa motivada. Os motivados fazem mais que os inte-

ligentes. Refazer e reorganizar a vida, os rumos, os horizontes é próprio de quem tem razões para viver, e sabe dar sentido e significado para a vida. Vencemos os sentimentos de inutilidade, de vazio existencial, de conformismo e nos equipamos com a "vontade de sentido", transformando tragédias em triunfos, espadas em arados, lixo em luxo. É a herança da esperança e do otimismo.

Ter interioridade. Significa ter bondade de coração, retidão de consciência, escala de valores, capacidade de renúncia, apreciação pelo bem estar dos outros. Sucesso é passar de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo, isso também é interioridade. Silêncio, meditação, opção de vida, oração e ação, manifestam a interioridade das pessoas. São capazes de passar por injurias e humilhações sem perder a serenidade. Encontram sentido para o sofrimento. Quanto mais trituradas mais doçura emitem. É a herança dos valores.

O respeito pelo indispensável: pão, saúde, trabalho. Eis o zelo pela justiça, pelas condições básicas de vida, pela dignidade humana, são os pilares da paz. Lutar pelo bem comum, pela solidariedade onde justiça e liberdade, verdade e amor se abraçam, é crer na construção da sociedade justa e fraterna. Altruísmo, voluntariado e gratuidade são as melhores heranças que os pais deixam para seus filhos e para a nova sociedade.

Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina


55ª. Catequese Descrição paulina do corpo e doutrina sobre a pureza

Nas nossas considerações de quarta-feira passada sobre a pureza segundo o ensinamento de São Paulo, chamamos a atenção sobre o texto da primeira Epístola aos Coríntios. O Apóstolo apresenta ali a Igreja como Corpo de Cristo, e isto oferece-lhe a oportunidade de fazer a seguinte reflexão a respeito do corpo humano: ―… Deus, porém, dispôs os membros do corpo, cada um conforme entendeu… Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos é que são os mais necessários; as partes do corpo que nos parecem menos honrosas é que nós rodeamos da maior consideração, e os nossos membros menos decorosos são tratados com a maior decência, ao passo que os decorosos não precisam disto. Pois bem, Deus compôs o corpo, dispensando maior consideração ao que dela carecia, para não haver divisão no corpo, mas para os membros terem a mesma solicitude uns com os outros‖i.

A ―descrição‖ paulina do corpo humano corresponde à realidade que o constitui: é, portanto, uma descrição ―realista‖. No realismo de tal descrição é entretecido, ao mesmo tempo, um sutilíssimo fio de apreciação que lhe confere um valor profundamente evangélico, cristão. Certamente é possível ―descrever‖ o corpo humano, exprimir a sua verdade com a objetividade própria das ciências naturais; mas tal descrição — com toda a sua precisão — não pode ser adequada (isto é, comparável com o seu objeto), dado que não se trata apenas do corpo (entendido como organismo, no sentido ―somático‖), mas sim do homem, que se exprime a si mesmo mediante aquele corpo e em tal sentido ―é‖, diria, aquele corpo. Assim, pois, aquele fio de apreciação, considerando que se trata do homem como pessoa, é indispensável ao descrever o corpo humano. Além disso, deve-se dizer quanto esta apreciação é justa. Esta é uma das tarefas e dos temas perenes de toda a cultura: da literatura, escultura, pintura e também da dança, das obras teatrais e por fim da cultura da vida cotidiana, particular ou social. Argumento que valeria a pena tratar em separado.

A descrição paulina da primeira Epístola aos Coríntios 12, 1825 não tem certamente um significado ―científico‖: não apresenta um estudo biológico sobre o organismo humano ou sobre a ―somática‖ humana; deste ponto de vista é uma simples descrição ―pré-científica‖, embora concisa, feita apenas com poucas frases. Tem todas as características do realismo comum e é, sem dúvida, suficientemente ―realista‖. Todavia, o que determina o seu caráter específico, o que de modo particular justifica a sua presença na Sagrada Escritura, é precisamente aquela apreciação entretecida na descrição e expressa no seu mesmo entrecho ―narrativo-realista‖. Pode-se dizer com certeza que tal descrição não seria possível sem toda a verdade da criação e também sem toda a verdade da ―redenção do corpo―, que Paulo professa e proclama. Pode-se também afirmar que a descrição paulina do corpo corresponde precisamente ao comportamento espiritual de ―respeito‖ para com o corpo humano, devido em consequência da ―santidade‖ii que resulta dos mistérios da criação e da redenção. A descrição paulina está igualmente longe quer do desprezo maniqueísta do corpo, quer das várias manifestações de um ―culto do corpo‖ naturalista.

O Autor da primeira Epístola aos Coríntios 12, 18-25 tem diante dos olhos o corpo humano em toda a sua verdade; por conseguinte, o corpo permeado antes de mais (se assim nos podemos exprimir) de toda a realidade da pessoa e da sua dignidade. Ele é, ao mesmo tempo, o corpo do homem ―histórico‖, varão e mulher, ou seja, daquele homem que, depois do pecado, foi concebido, por assim dizer, dentro da realidade do homem que tinha feito a experiência da inocência original. Nas expressões de Paulo sobre os ―membros menos decorosos‖ do corpo humano, e também sobre os que ―parecem mais fracos‖ ou os ―que nos parecem menos honrosos‖, julgamos encontrar o testemunho da mesma vergonha que os primeiros seres humanos, varão e mulher, experimentaram depois do pecado original. Esta vergonha imprimiu-se neles e em todas as gerações do homem ―histórico‖ como fruto da tríplice concupiscência (com particular referência à concupiscência da carne). E, contemporaneamente, nesta vergonha — como foi já posto em relevo nas precedentes análises — imprimiuse um certo ―eco‖ da mesma inocência original do homem: quase um ―negativo‖ da imagem, cujo ―positivo‖ tinha sido precisamente a inocência original.

A ―descrição‖ paulina do corpo humano parece confirmar perfeitamente as nossas análises anteriores. Há no corpo hu-


mano os ―membros menos decorosos‖ não em consequência da sua natureza ―somática‖ (dado que uma descrição científica e fisiológica trata todos os membros e os órgãos do corpo humano de modo ―neutro‖, com a mesma objetividade), mas apenas, e exclusivamente, porque no homem mesmo existe aquela vergonha que faz sentir alguns membros do corpo como ―menos decorosos‖ e leva a considerá-los tais. A mesma vergonha parece, igualmente, estar na base do que escreve o Apóstolo na primeira Epístola aos Coríntios: ―As partes do corpo que nos parecem menos honrosas é que nós rodeamos da maior consideração, e os nossos membros menos decorosos são tratados com a maior decência)iii. Assim, pois, podese dizer que da vergonha nasce precisamente o ―respeito‖ pelo próprio corpo: respeito, a cuja conservação Paulo exorta na primeira Epístola aos Tessalonicensesiv. Precisamente tal conservação do corpo ―em santidade e honra‖ deve ser considerada como essencial para a virtude da pureza.

Voltando ainda à ―descrição‖ paulina do corpo na primeira Epístola aos Coríntios 12, 18-25, queremos chamar a atenção para o fato de que, segundo o Autor da Epístola, aquele particular esforço que tende a respeitar o corpo humano e especialmente os seus membros mais ―fracos‖ ou ―menos decorosos‖, corresponde ao desígnio original do Criador ou seja àquela visão de que fala o Livro do Gênesis: ―Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a muito boa‖v. Paulo escreve: ―Deus compôs o corpo, dispensando mais consideração ao que dela carecia, para não haver divisão no corpo, mas para os membros terem a mesma solicitude uns com os outros‖ vi. A ―divisão no corpo―, cujo resultado é que alguns membros são considerados ―mais fracos‖, ―menos honrosos‖, portanto ―menos decorosos‖, é ulterior expressão da visão do estado interior do homem depois do pecado original, isto é, do homem “histórico”. O homem da inocência original, varão e mulher, de quem lemos no Gênesis 2, 25 que ―estavam nus… mas não sentiam vergonha‖, não sentia nem sequer aquela ―divisão no corpo‖. À objetiva harmonia, de que o Criador dotou o corpo e que Paulo precisa como recíproco cuidado dos vários membrosvii, correspondia análoga harmonia no íntimo do homem: a harmonia do ―coração‖. Esta harmonia, ou seja, precisamente a ―pureza de coração‖, consentia ao homem e à mulher no estado de inocência original experimentarem simplesmente (e num modo que originalmente os fazia felizes a ambos) a força unitiva dos seus corpos, que era, por assim dizer, o ―insuperável‖ substrato da sua união pessoal ou communio personarum.

Como se vê, o Apóstolo na primeira Epístola aos Coríntios viii relaciona a sua descrição do corpo humano com o estado do homem ―histórico‖. Nos alvores da história deste homem está a experiência da vergonha relacionada com a ―divisão do corpo‖, com o sentido de pudor por aquele corpo (e em especial por aqueles seus membros que somaticamente determinam a masculinidade e a feminilidade). Todavia, na mesma ―descrição‖, Paulo indica também o caminho que (precisamente sobre a base do sentido de vergonha) conduz à transformação de tal estado até à gradual vitória sobre aquela “divisão no corpo―, vitória que pode e deve ser atuada no coração do homem. Este é precisamente o caminho da pureza, ou seja, do ―possuir o próprio corpo com santidade e honra‖. Ao ―respeito‖, de que trata a primeira Epístola aos Tessaloni-

censesix, refere-se Paulo na primeira Epístola aos Coríntios x usando algumas locuções equivalentes, quando fala do ―respeito‖ ou seja da estima para com os membros ―menos honrosos‖, ―mais fracos‖ do corpo, e quando recomenda maior ―decência‖ no que se refere àquilo que no homem é considerado ―menos decoroso‖. Estas locuções caracterizam mais de perto aquele ―respeito‖ sobretudo no âmbito da convivência e dos comportamentos humanos em relação ao corpo; o que é importante quer em referência ao ―próprio‖ corpo, quer evidentemente às relações recíprocas (especialmente entre o homem e a mulher, embora não limitadamente a elas). Não temos dúvida alguma que a ―descrição‖ do corpo humano na primeira Epístola aos Coríntios tem um significado fundamental para o conjunto da doutrina paulina sobre a pureza. _______________________________________ i ii iii iv v vi1 vii viii ix x

1Cor 12, 18.22-25. Cf. 1Ts 4, 3-5.7-8. 1Cor 12, 23. 4, 4. Gn 1, 31. Cor 12, 24-25. Cf. 1Cor 12, 25. 12, 18-25. 4, 3-5. 12, 18-25.

56ª. Catequese A virtude da pureza realiza a vida segundo o Espírito

Durante os nossos últimos encontros das quartas-feiras analisamos duas passagens da primeira Epístola aos Tessalonicensesi e da primeira Epístola aos Coríntiosii, a fim de mostrar o que parece ser essencial na doutrina de São Paulo sobre a pureza, compreendida em sentido moral, ou seja, como virtude. Se no texto citado da primeira Epístola aos Tessalonicenses se pode constatar que a pureza consiste na temperança, neste texto, todavia, como ainda na primeira Epístola aos Coríntios, é também posto em relevo o momento do ―respeito‖. Mediante tal respeito devido ao corpo humano (e acrescentamos que, segundo a primeira Epístola aos Coríntios, o respeito é precisamente visto em relação com a sua componente de pudor), a pureza, como virtude cristã, revela-se nas Epístolas paulinas caminho eficaz para afastar daquilo que no coração humano é fruto da concupiscência da carne. A abstenção ―da impureza‖, que pressupõe a posse do corpo ―em santidade e honra‖, permite deduzir que, segundo a doutrina do Apóstolo, a pureza é uma ―capacidade‖ integrada na dignidade do corpo, isto é, na dignidade da pessoa em relação ao próprio corpo, na feminilidade ou masculinidade que neste corpo se manifesta. A pureza, entendida como ―capacidade‖, é precisamente expressão e fruto da vida ―segundo o Espírito‖ no pleno significado da expressão, ou seja, como nova capacidade do ser humano, no qual frutifica o dom do Espírito Santo. Estas duas dimensões da pureza — a dimensão moral, ou seja, a virtude, e a dimensão carismática, ou seja, o dom do Espírito Santo — estão presentes e estreitamente ligadas na mensagem de Paulo. Isto é posto em particular relevo pelo Apóstolo na primeira Epístola aos Coríntios,


em que ele chama ao corpo ―templo (por conseguinte: morada e santuário) do Espírito Santo―.

―Não sabeis, porventura, que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, que recebestes de Deus, e que não vos pertenceis a vós mesmos?‖ — pergunta Paulo aos Coríntiosiii, depois de os ter esclarecido com muita severidade sobre as exigências morais da pureza. ―Fugi da imoralidade. Qualquer pecado que o homem comete é exterior ao seu corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o seu próprio corpo‖iv. O sinal peculiar do pecado que o Apóstolo estigmatiza está no fato de que tal pecado, diversamente de todos os outros, é ―contra o corpo‖ (enquanto os outros pecados são ―exteriores ao corpo‖). Assim, portanto, na terminologia paulina encontramos a motivação para as expressões: ―os pecados do corpo‖ ou ―os pecados carnais‖. Pecados que estão em contraposição precisamente com aquela virtude, em força da qual o homem deve possuir ―o próprio corpo em santidade e honra‖v.

Tais pecados trazem consigo a ―profanação‖ do corpo: privam o corpo da mulher ou do homem do respeito a ele devido em virtude da dignidade da pessoa. Todavia, o Apóstolo vai mais além: segundo ele o pecado contra o corpo é também ―profanação do templo―. Da dignidade do corpo humano, segundo Paulo, decide não só o espírito humano, graças ao qual o homem se constitui como sujeito pessoal, mas ainda mais a realidade sobrenatural que é a morada e a contínua presença do Espírito Santo no homem — na sua alma e no seu corpo — como fruto da redenção realizada por Cristo. Acontece assim que o ―corpo‖ do homem já não é apenas ―seu‖. E não só pelo motivo de ser corpo da pessoa, merece aquele respeito, cuja manifestação no comportamento recíproco dos homens, varões e mulheres, constitui a virtude da pureza. Quando o Apóstolo escreve: ―O vosso corpo é templo do Espírito que habita em vós, que recebestes de Deus‖vi, pretende indicar ainda uma outra fonte da dignidade do corpo, precisamente o Espírito Santo, que é também fonte do dever moral que deriva de tal dignidade.

É a realidade da redenção, que é também ―redenção do corpo―, a constituir esta fonte. Para Paulo, este mistério de fé é uma realidade viva, orientada diretamente para cada homem. Por meio da redenção, cada homem recebeu de Deus quase novamente a própria existência e o próprio corpo. Cristo inscreveu no corpo humano — no corpo de cada homem e de cada mulher — uma nova dignidade, dado que nele mesmo o corpo humano foi admitido, juntamente com a alma, à união com a Pessoa do Filho-Verbo. Com esta nova dignidade, mediante a ―redenção do corpo‖ nasceu ao mesmo tempo também uma nova obrigação, sobre a qual Paulo escreve de modo conciso, mas muitíssimo comovente: ―Fostes comprados por um grande preço‖vii. O fruto da redenção é de fato o Espírito Santo, que habita no homem e no seu corpo como num templo. Neste Dom, que santifica cada homem, o cristão recebe novamente o próprio ser como dom de Deus. E este novo, dúplice dom, obriga. O Apóstolo faz referência a esta dimensão da obrigação quando escreve aos crentes, conscientes do Dom, para os convencer que não se deve cometer a

―imoralidade‖, não se deve ―pecar contra o próprio corpo‖viii. Ele escreve: ―O corpo… não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo‖ix. É difícil exprimir de modo mais conciso o que traz consigo para cada crente o mistério da Encarnação. O fato de que o corpo humano se torne em Jesus Cristo corpo de Deus-Homem obtém por tal motivo, em cada homem, uma nova elevação sobrenatural, que todos os cristãos devem ter em conta no seu comportamento para com o ―próprio‖ corpo e, evidentemente, para com o corpo alheio: o homem para com a mulher e a mulher para com o homem. A redenção do corpo comporta a instauração, em Cristo e por Cristo, de um novo padrão da santidade do corpo. Precisamente a esta ―santidade‖ exorta Paulo na primeira Epístola aos Tessalonicensesx, quando escreve que se deve ―possuir o próprio corpo em santidade e honra‖.

No capítulo 6 da primeira Epístola aos Coríntios, Paulo precisa pelo contrário a verdade sobre a santidade do corpo, condenando com palavras até drásticas a ―imoralidade‖, isto é, o pecado contra a santidade do corpo, o pecado da impureza: ―Não sabíeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu, então, tomar os membros de Cristo para os fazer membros de uma prostituta? De modo algum! Não sabeis que aquele que se junta com a prostituta torna-se um mesmo corpo com ela? Porque serão dois uma só carne, como diz a Escritura. Aquele, porém, que se une ao Senhor constitui, com Ele, um só espírito‖ xi. Se a pureza é, segundo o ensinamento paulino, um aspecto da ―vida segundo o Espírito‖, isto quer dizer que o mistério da redenção do corpo nela frutifica como parte do mistério de Cristo, iniciado na Encarnação e já através dela dirigido a cada homem. Este mistério frutifica também na pureza, entendida como particular empenho fundado na ética. O fato de termos ―sido comprados por um grande preço‖xii, isto é, pelo preço da redenção de Cristo, faz nascer precisamente um compromisso especial, ou seja, o dever de ―possuir o próprio corpo em santidade e honra‖. A consciência da redenção do corpo atua na vontade humana em favor da abstenção da ―impureza‖, antes, age a fim de fazer adquirir uma adequada habilidade ou capacidade, chamada virtude da pureza. O que resulta das palavras da primeira Epístola aos Coríntiosxiii a propósito do ensinamento de Paulo sobre a virtude da pureza como realização da vida ―segundo o Espírito‖, é particularmente profundo e tem a força do realismo sobrenatural da fé. É necessário voltarmos a refletir sobre este tema mais de uma vez. _______________________________________ i ii iii iv v vi1 vii viii ix x xi xii xiii

4, 3-5. 12, 18-25. 1Cor 6, 19. Ibid., 6, 18. Cf. 1Ts 4, 3-5. Cor 6, 19. Ibid., 6, 20. Ibid., 6, 18. Ibid., 6, 13. 4, 3-5. 1Cor 6, 15-17. 1Cor 6, 20. 6, 15-17.


57ª. Catequese Doutrina paulina da pureza como “vida segundo o Espírito”

No nosso encontro de há semanas, concentramos a atenção sobre a passagem da primeira Epístola aos Coríntios, em que São Paulo chama ao corpo humano ―templo do Espírito Santo‖. Escreve: ―Não sabeis, porventura, que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós, que recebestes de Deus, e que não vos pertenceis a vós mesmos? E que fostes comprados por alto preço‖i. ―Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?‖ii. O Apóstolo indica o mistério da ―redenção do corpo‖, realizada por Cristo, como fonte de um particular dever moral, que obriga os cristãos à pureza, aquela que o mesmo Paulo define noutra passagem como exigência de ―possuir o seu corpo em santidade e honra‖iii.

Todavia, não descobriríamos até ao fundo a riqueza do pensamento encerrado nos textos paulinos, se não notássemos que o mistério da redenção frutifica no homem também de modo carismático. O Espírito Santo que, segundo as palavras do Apóstolo, entra no corpo humano como no próprio ―templo‖, nele habita e opera unido aos seus dons espirituais. Entre estes dons, conhecidos na história da espiritualidade como os sete dons do Espírito Santoiv, o mais congenial à virtude da pureza parece ser o dom da “piedade” (eusebeía, donum pietatis)1. Se a pureza dispõe o homem para ―manter o próprio corpo com santidade e respeito‖, segundo lemos na primeira Epístola aos Tessalonicensesv, a piedade, que é dom do Espírito Santo, parece servir de modo particular à pureza, adaptando o sujeito humano àquela dignidade que é própria do corpo humano em virtude do mistério da criação e da redenção. Graças ao dom da piedade, as palavras de Paulo — ‖Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós… e que não pertenceis a vós mesmos?‖vi — adquirem a eloquência de uma experiência e tornam-se viva e vivida verdade nas ações. Abrem também o acesso mais pleno à experiência do significado esponsal do corpo e da liberdade do dom ligado com ele, no qual se desvelam o rosto profundo da pureza e o seu laço orgânico com o amor.

Embora a conservação do próprio corpo ―com santidade e honra‖ se consiga mediante a abstenção da “impureza” — e tal caminho é indispensável — , todavia frutifica sempre na experiência mais profunda daquele amor, que foi inscrito desde o ―princípio‖, segundo a imagem e semelhança do próprio Deus, em todo o ser humano e, portanto, também no seu corpo. Por isso São Paulo termina a sua argumentação da primeira Epístola aos Coríntios no capítulo sexto com uma significativa exortação: ―Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo‖vii. A pureza, como virtude, ou seja, capacidade de ―manter o próprio corpo com santidade e respeito‖, aliada com o dom da piedade, como fruto da permanência do Espírito Santo no ―templo‖ do corpo, realiza nele tal plenitude de dignidade nas relações interpessoais, que Deus mesmo é nisso glorificado. A pureza é glória do corpo humano diante de

Deus. É a glória de Deus no corpo humano, através do qual se manifestam a masculinidade e a feminilidade. Da pureza brota aquela singular beleza, que penetra toda a esfera da recíproca convivência dos homens e consente que se exprimam a simplicidade e a profundidade, a cordialidade e a autenticidade irrepetível da confiança pessoal. (Talvez se apresente depois outra ocasião para tratar mais amplamente este tema. O laço da pureza com o amor, no amor — com aquele dom do Espírito Santo que é a piedade — constituem a trama pouco conhecida da teologia do corpo, que merece todavia aprofundamento particular. Isto poderá ser realizado no decurso das análises quanto à sacramentalidade do matrimónio).

Agora, uma breve referência ao Antigo Testamento. A doutrina paulina acerca da pureza, entendida como ―vida segundo o Espírito‖, parece indicar certa continuidade em relação com os Livros “sapienciais” do Antigo Testamento. Neles, encontramos, por exemplo, a seguinte oração para obter a pureza nos pensamentos, palavras e obras: ―Senhor, pai e Deus da minha vida… afastai de mim a intemperança, e não se apodere de mim a paixão da impureza‖viii. A pureza é, de fato, a condição para encontrar a sabedoria e para segui-la, conforme lemos no mesmo Livro: ―Encontrei, em mim mesmo, muita sabedoria, e nela fiz grandes progressos‖ix. Além disso, poder-se-ia também de algum modo tomar em consideração o texto do Livro da Sabedoriax conhecido pela liturgia na versão da Vulgata: ―Scivi quoniam aliter non possum esse continens, nisi Deus det; et hoc ipsum erat sapientiae, scire, cuius esset hoc donum‖2. Segundo este contexto, não tanto é a pureza condição da sabedoria quanto a sabedoria é condição da pureza, como de um dom particular de Deus. Parece que já nos supercitados textos sapienciais se delineia o duplo significado da pureza: como virtude e como dom. A virtude está ao serviço da sabedoria, e a sabedoria predispõe para acolher o dom que provém de Deus. Este dom fortifica a virtude e consente que se gozem, na sabedoria, os frutos de um proceder e de uma vida que sejam puros.

Como Cristo na sua bem-aventurança do Sermão da Montanha, a qual se refere aos ―puros de coração‖, põe em relevo a ―visão de Deus‖, fruto da pureza e em perspectiva escatológica, assim Paulo por sua vez realça a sua irradiação nas dimensões da temporalidade, quando escreve: ―Tudo é puro para os que são puros; mas, para os homens sem fé nem integridade, nada é puro; até o seu espírito e a sua consciência estão contaminados. Dizem que conhecem a Deus, mas negam-n’O com as suas obras…‖xi. Estas palavras podem referir-se também à pureza em sentido tanto geral quanto específico, como à nota característica de todo o bem moral. Para a concepção paulina da pureza, no sentido de que falam a primeira Epístola aos Tessalonicensesxii e a primeira Epístola aos Coríntiosxiii, isto é, no sentido da ―vida segundo o Espírito‖, parece ser fundamental — como resulta do conjunto destas nossas considerações — a antropologia do renascimento do Espírito Santoxiv. Ela ergue-se das raízes lançadas na realidade da redenção do corpo, operada por Cristo: redenção, cuja expressão última é a ressurreição. Há profundas razões para relacionar a temática inteira da pureza com as palavras do Evangelho, nas quais Cristo se refere à ressurreição (e isto


constituirá o tema da nova etapa das nossas considerações). Aqui pusemo-la em relação com o ethos da redenção do corpo.

O modo de entender e de apresentar a pureza — herdado da tradição do Antigo Testamento e característico dos Livros ―sapienciais‖ — era certamente uma indireta mas, apesar disso, real preparação para a doutrina paulina acerca da pureza entendida como ―vida segundo o Espírito‖. Sem dúvida aquele modo facilitava também a muitos ouvintes do Sermão da Montanha a compreensão das palavras de Cristo, quando, explicando o mandamento ―Não cometerás adultério‖, se referia ao ―coração‖ humano. O conjunto das nossas reflexões pôde deste modo demonstrar, ao menos em certa medida, com que riqueza e com que profundidade se distingue a doutrina sobre a pureza nas suas mesmas fontes bíblicas e evangélicas. _______________________________________ 1 A eusebeía ou pietas no período helenístico-romano referia-se geralmente à veneração dos deuses (como ―devoção‖), mas conservava ainda o sentido primitivo mais lato do respeito para com as estruturas vitais. A eusebeía definia o comportamento recíproco dos consanguíneos, as relações entre os cônjuges, e também a atitude que as legiões deviam a César ou a dos escravos para com os patrões. No Novo Testamento, só os escritos mais tardios aplicam a eusebeía aos cristãos; nos escritos mais antigos esse termo caracteriza os ―bons pagãos‖ (At 10, 2.7; 17, 23). E assim a eusebeía helênica, como também o ―donum pietatis‖, referindo-se embora, sem dúvida, à veneração divina, têm larga base para exprimir as relações inter-humanas (cf. W. Foerster, art. eusebeía, em: ―Theological Dictionary of the New Testament‖, ed. G. Kittel-G. Brominley, vol. VII, Grand Rapids 1971, Eerdmans, concupiscência. 177-182). 2 Essa versão da Vulgata, conservada pela Neovulgata e pela liturgia, citada várias vezes por Santo Agostinho (De S. Virg., par. 43; Confess. VI, 11; X, 29; Serm. CLX, 7), muda todavia o sentido do original grego, que se traduz assim: ―Como sabia que não podia obter a sabedoria, se Deus ma não desse…‖.

_______________________________________ i ii iii iv v vi vii viii ix x xi xii xiii xiv

1Cor 6, 19-20. 1Cor 6, 15. 1Ts 4, 4. Cf. Is 11, 2 segundo os Setente e a Vulgata. 4, 3-5. 1Cor 6, 19. V. 20. Eclo 23, 4-6. Eclo 51, 20. 8, 21. Tt 1, 15ss. 4, 3-5. 6, 13-20. Cf. também Jo 3, 5ss.

58ª. Catequese A função positiva da pureza de coração

Antes de concluir o ciclo de considerações sobre as palavras pronunciadas por Jesus Cristo no Sermão da Montanha, é necessário recordar essas palavras uma vez mais e retomar sumariamente o fio das ideias, de que estas constituíram a base. Eis o teor das palavras de Jesus: ―Ouvistes que foi dito:

Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela, no seu coração‖i. São palavras sintéticas, que exigem aprofundada reflexão, de modo análogo às palavras em que Cristo se referiu ao ―princípio‖. Aos fariseus, que — apoiando-se na lei de Moisés que admitia o chamado ato de repúdio — lhe tinham perguntado: ―É permitido ao homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo?‖, Ele respondeu: ―Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher? … Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, e unirse-á a sua mulher e serão os dois uma só carne… Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem‖ii. Também estas palavras requereram uma reflexão aprofundada, para extrair toda a riqueza nelas encerrada. Uma reflexão deste gênero consentiu-nos apresentar a autêntica teologia do corpo.

Seguindo a referência que fez Cristo ao ―princípio‖, dedicamos uma série de reflexões aos relativos textos do Livro do Gênesis, que tratam precisamente daquele ―princípio‖. Das análises feitas surgiu não só uma imagem da situação do homem — varão e mulher — no estado de inocência original, mas também a base teológica da verdade do homem e a sua particular vocação que brota do eterno mistério da pessoa: imagem de Deus, encarnada no fato visível e corpóreo da masculinidade ou feminilidade da pessoa humana. Esta verdade encontra-se na base da resposta dada por Cristo em relação com o caráter do matrimônio, e em particular com a sua indissolubilidade. É verdade sobre o homem, verdade que faz penetrar as raízes no estado de inocência original, verdade que é necessário, portanto, entender-se no contexto daquela situação anterior ao pecado, tal como procuramos fazer no ciclo precedente das nossas reflexões.

Ao mesmo tempo, é preciso todavia considerar, entender e interpretar a mesma verdade fundamental sobre o homem, o seu ser de varão e de mulher, no prisma de outra situação: isto é, daquela que se formou mediante a ruptura da primeira aliança com o Criador, ou seja, mediante o pecado original. Convém ver tal verdade sobre o homem — varão e mulher — no contexto da sua pecaminosidade hereditária. E é precisamente aqui que nos encontramos com o enunciado de Cristo no Sermão da Montanha. É óbvio que na Sagrada Escritura da Antiga e da Nova Aliança há muitas narrações, frases e palavras, que vêm confirmar a mesma verdade, isto é, a de trazer o homem ―histórico‖ em si a herança do pecado original; apesar disto, as palavras de Cristo, pronunciadas no Sermão da Montanha, parecem ter — com toda a sua concisa enunciação — uma eloquência particularmente densa. Demonstram-no as análises feitas precedentemente, que foram desvelando pouco a pouco o que está encerrado naquelas palavras. Para clarificar as afirmações relativas à concupiscência, é necessário tomar o significado bíblico da concupiscência mesma — da tríplice concupiscência — e principalmente da concupiscência da carne. Então, pouco a pouco, chega-se a compreender porque define Jesus aquela concupiscência (precisamente: o ―olhar desejando‖) como ―adultério cometido no coração‖. Efetuando as análises respectivas, procuramos ao mesmo tempo compreender que significado tinham as palavras de Cristo para os seus imediatos ouvintes, educados na tradição do Antigo Testamento, isto é, na tradição dos textos legislativos, como também proféticos e ―sapi-


enciais‖; e, além disso, que significado podem ter as palavras para o homem de todas as outras épocas, e em particular para o homem contemporâneo, considerando os seus vários condicionamentos culturais. Estamos persuadidos, de fato, que estas palavras, no seu conteúdo essencial, se referem ao homem de todo o lugar e de todos os tempos. Nisto está também o seu valor sintético: a cada um anunciam elas a verdade que é, para ele, válida e substancial.

Qual é esta verdade? Indubitavelmente, é uma verdade de caráter ético e, portanto, afinal, de uma verdade de caráter normativo, assim como normativa é a verdade contida no mandamento: ―Não cometerás adultério‖. A interpretação deste mandamento, dado por Cristo, indica o mal que é necessário evitar e vencer — precisamente o mal da concupiscência da carne — e ao mesmo tempo indica o bem a que a vitória sobre os desejos abre caminho. Este bem é a ―pureza de coração‖, de que fala Cristo no mesmo contexto do Sermão da Montanha. Do ponto de vista bíblico, a ―pureza de coração‖ significa a liberdade de todo o gênero de pecado ou de culpa e não só dos pecados que dizem respeito à ―concupiscência da carne‖. Todavia, aqui ocupamo-nos de modo particular de um dos aspectos daquela ―pureza‖, o qual constitui o contrário do adultério ―cometido no coração‖. Se aquela ―pureza de coração―, de que tratamos, se entende segundo o pensamento de São Paulo, como “vida segundo o Espírito”, então o contexto paulino oferece-nos uma imagem completa do conteúdo encerrado nas palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da Montanha. Contêm uma verdade de natureza ética, põem de sobreaviso contra o mal e indicam o bem moral do comportamento humano, aliás, levam os ouvintes a evitar o mal da concupiscência e a adquirir a pureza de coração. Estas palavras têm portanto significado normativo e, também, indicador. Dirigindo para o bem da ―pureza de coração‖, indicam ao mesmo tempo, os valores a que o coração humano pode e deve aspirar.

Daqui a pergunta: que verdade, válida para todo o homem, está contida nas palavras de Cristo? Devemos responder que está nelas encerrada não só uma verdade ética, mas também a verdade essencial sobre o homem, a verdade antropológica. Por isso, exatamente, remontamos a estas palavras ao formular aqui a teologia do corpo, em estreita relação e, por assim dizer, na perspectiva das palavras precedentes, em que se referira Cristo ao ―princípio‖. Pode-se afirmar que, com a sua expressiva eloquência evangélica, à consciência do homem da concupiscência é, em certo modo, recordado o homem da inocência original. Mas as palavras de Cristo são realistas. Não procuram obrigar o coração humano a voltar ao estado de inocência original, que o homem já deixou atrás de si no momento em que cometeu o pecado original; pelo contrário, indicam-lhe o caminho para uma pureza de coração, que lhe é possível e acessível também no estado da pecaminosidade hereditária. É, esta, a pureza do ―homem da concupiscência‖, que todavia está inspirado pela palavra do Evangelho e aberto à ―vida segundo o Espírito‖ (em conformidade com as palavras de São Paulo), é esta a pureza do homem da concupiscência, que está envolvido inteiramente pela ―redenção do corpo‖, realizada por Cristo. Precisamente por isto encontramos nas palavras do Sermão da Montanha a referência ao ―coração‖, isto é, ao homem interior. O homem interior deve abrir-se à vida segundo o Espírito, para que a pureza evangé-

lica de coração seja por ele participada: para que ele reencontre e realize o valor do corpo, libertado dos vínculos da concupiscência mediante a redenção. O significado normativo das palavras de Cristo está profundamente radicado no seu significado antropológico, na dimensão da interioridade humana.

Segundo a doutrina evangélica, desenvolvida de modo tão maravilhoso nas Epístolas paulinas, a pureza não é só absterse da impudicíciaiii, ou seja, temperança, mas, ao mesmo tempo, abre também o caminho para uma descoberta cada vez mais perfeita da dignidade do corpo humano; o que está organicamente ligado com a liberdade do dom da pessoa na autenticidade integral da sua subjetividade pessoal, masculina ou feminina. Deste modo, a pureza, no sentido de temperança, desenvolve-se no coração do homem que a cultiva e tende a descobrir e a afirmar o sentido esponsal do corpo na sua verdade integral. Esta mesma verdade deve ser conhecida interiormente; deve, de certo modo, ser ―sentida com o coração‖, para que as relações recíprocas do homem e da mulher — e mesmo o simples olhar — readquiram aquele conteúdo autenticamente esponsal dos seus significados. E é precisamente este conteúdo que no Evangelho é indicado pela ―pureza de coração‖.

Se na experiência interior do homem (isto é, do homem da concupiscência) a ―temperança‖ se desenha, por assim dizer, como função negativa, a análise das palavras de Cristo, pronunciadas no Sermão da Montanha e relacionadas com os textos de São Paulo, consente-nos deslocar tal significado para a função positiva da pureza de coração. Na pureza consumada o homem goza dos frutos da vitória alcançada sobre a concupiscência, vitória a que se refere São Paulo ao exortar a que ―se mantenha o próprio corpo com santidade e respeito‖iv. Mais, exatamente numa pureza assim consumada manifestase em parte a eficácia do dom do Espírito Santo, de que o corpo humano ―é templo‖v. Este dom é sobretudo o da piedade (donum pietatis), que restitui à experiência do corpo — especialmente quando se trata da esfera das relações recíprocas do homem e da mulher — toda a sua simplicidade, a sua limpidez e também a sua alegria interior. Este é, como se vê, um clima espiritual, bem diverso da ―paixão e concupiscência‖, sobre que escreve Paulo (e que, por outro lado, conhecemos devido às precedentes análises; basta recordar o Eclesiástico 26, 13.15-18). Uma coisa é, de fato, a satisfação das paixões, outra a alegria que o homem encontra em possuir-se mais plenamente a si mesmo, podendo deste modo tornar-se, ainda mais plenamente, um verdadeiro dom para outra pessoa. As palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da Montanha dirigem o coração humano precisamente para tal alegria. A elas é necessário confiarmo-nos a nós mesmos, confiarmos os nossos pensamentos e as próprias ações, para encontrar a alegria e a oferecer aos outros. _______________________________________ i ii iii iv v

Mt 5, 27-28. Mt 19, 3-6. Cf. 1Ts 4, 3. 1Ts 4, 4. Cf. 1Cor 6, 19.


Juares Celso Krum Diácono Permanente, Bacharel e Mestre em Teologia pela PUCPR - Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar do Regional Sul 2

Iniciar ou não o processo de nulidade?

No grupo de WhatsApp do Regional Sul 2, a coordenadora da Comissão Regional Sandra Bovo no dia 25 de junho digitou uma mensagem, dizendo que durante a 40ª Assembleia Nacional da Pastoral Familiar em Brasília: “Monsenhor Moacir afirmou que a Pastoral Familiar deverá ter uma formação para acolher e entender se é possível ou não iniciar o processo de nulidade. E, se sim, iniciar e acompanhar o mesmo”. Pode até parecer um paradoxo, pois a missão da Pastoral Familiar é ajudar as famílias a se manterem

unidas, e irá ajudar no processo de dissolução dessas famílias! Mas, será isso mesmo? Vamos resgatar de onde veio esta afirmação, porque se falou disso e se realmente está se dissolvendo uma família com o que se propõe seja feito. O Documento que deu origem

A Carta Apostólica dada na forma de Motu Proprio Mitis Iudex Dominus Iesus - MIDI (15/ago/2015) apresenta nas Regras Processuais nas causas de Declaração de Nulidade do Matrimônio, nos artigos 2 a 5: Art. 2. A investigação prévia ao juízo ou pastoral, que acolhe nas estruturas

paroquiais ou diocesanas os fiéis separados ou divorciados que duvidam da validade do seu matrimônio ou estão convencidos da sua nulidade, tem como finalidade o conhecimento de sua condição e a recolhida de elementos úteis para o processo judicial, ordinário ou mais breve. Tal investigação se desenvolverá no âmbito da pastoral matrimonial conjunta, de âmbito diocesano. Art. 3. Tal investigação seja confiada a pessoas tidas como hábeis pelo Ordinário local, possuidoras de competência, mesmo que não seja especificamente jurídicocanônica. Entre elas encontram-se, em primeiro lugar, o pároco próprio ou aquele que preparou os cônjuges para a cele-


bração das núpcias. Este trabalho de consultas pode ser confiado também a outros clérigos, pessoas consagradas ou leigos aprovados pelo Ordinário local. A diocese ou várias dioceses conjuntamente, de acordo com os agrupamentos atuais, poderão constituir uma estrutura estável, através da qual seja oferecido este serviço, e redigir, se for o caso, um manual que enumere os elementos essenciais para o desenvolvimento mais adequado da investigação. Art. 4. A investigação pastoral reúne os elementos úteis para a eventual introdução da causa perante o tribunal competente. Investigue-se se as partes estão de acordo em pedir a nulidade. Art. 5. Recolhidos todos os elementos, a investigação se encerra com o libelo, a ser apresentado, se for o caso, ao tribunal competente.

Os pontos a destacar

 criar estruturas no âmbito paroquial ou diocesano para “investigar” a condição dos casais separados para auxiliá-los num eventual processo de nulidade.  É necessário que as pessoas que irão compor estas estruturas sejam competentes, sem que tenham formação especificamente jurídico-canônica.  Com as adequações necessárias e, recolhidos todos os elementos, a investigação se encerra com o libelo. Agora na Amoris Laetitia

Este assunto é retomado na Exortação Apostólica pós sinodal Amoris Laetitia no capítulo 6, no parágrafo 244: “Além disso, um grande número de Padres « sublinhou a necessidade de tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos de todo os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade »(Relatio Synodi 2014, n. 48). A lentidão dos processos irrita e cansa as pessoas. Os meus

dois documentos recentes sobre tal matéria (Cf. MIDI, n. 3-4; MMI, n. 5-6) levaram a uma simplificação dos procedimentos para uma eventual declaração de nulidade matrimonial. Através deles, quis também « evidenciar que o próprio bispo na sua Igreja, da qual está constituído pastor e chefe, é por isso mesmo juiz no meio dos fiéis a ele confiados » (MIDI, preâmbulo III). Por isso, « a aplicação destes documentos é uma grande responsabilidade para os Ordinários diocesanos, chamados eles próprios a julgar algumas causas e a garantir, de todos os modos possíveis, um acesso mais fácil dos fiéis à justiça. Isto implica a preparação de pessoal suficiente, composto por clérigos e leigos, que se dedique de modo prioritário a este serviço eclesial. Por conseguinte, será necessário colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à PASTORAL FAMILIAR, que possa também acolher as pessoas tendo em vista a investigação


preliminar do processo matrimonial (cf. MIDI, arts. 2-3) »[Relatio Finalis 2015, n. 82]. Ou seja, colocar à disposição das pessoas separadas ou em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação da PASTORAL FAMILIAR que também possa acolher as pessoas em vista da investigação preliminar do processo matrimonial. As duas primeiras questões foram analisadas e tratadas. Vamos para a terceira: será que realmente as famílias estão se dissolvendo com isso que está sendo proposto nos documentos do Papa Francisco? Discernimento e Acompanhamento!

Começo a responder esta questão, citando o que diz o Papa no início do capítulo 8 de Amoris Laetitia: “os Padres sinodais afirmaram que, embora a Igreja reconheça que toda a ruptura do vínculo matrimonial « é contra a vontade de Deus, está consci-

ente também da fragilidade de muitos dos seus filhos ». [...] Embora não cesse jamais de propor a perfeição e convidar a uma resposta mais plena a Deus, « a Igreja deve acompanhar, com atenção e solicitude, os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e extraviado, dando-lhes de novo confiança e esperança, como a luz do farol de um porto ou de uma tocha acesa no meio do povo para iluminar aqueles que perderam a rota ou estão no meio da tempestade »” (AL, n. 291). É preciso lembrar sempre que em todo relacionamento surgem crises e que « a história de uma família está marcada por crises de todo gênero, que são parte também da sua dramática beleza. Cada crise implica um aprendizado, que permite incrementar a intensidade da vida comum ou, pelo menos, encontrar um novo sentido para a experiência matrimonial. Cada crise esconde uma boa notícia, que é preciso saber escutar, afinando os ouvidos do coração »(AL, n. 232). Há casos em que as crises levam ao fortalecimento das relações, com a vivên-

cia do perdão e da reconciliação entre os cônjuges. É fato, porém, que « tornou-se frequente que, quando um cônjuge sente que não recebe o que deseja, ou não se realiza o que sonhava, isso lhe pareça ser suficiente para pôr fim ao matrimônio. Às vezes, para decidir que tudo acabou, basta uma desilusão, a ausência de um momento em que se precisava do outro, um orgulho ferido ou um temor indefinido » (AL, n. 237). « Em todo caso, reconhecendo que a reconciliação é possível, hoje descobrimos que “um ministério dedicado àqueles cuja relação matrimonial se interrompeu, parece particularmente urgente” » (AL, n. 238). Pois bem, assim como há casos e situações que se resolvem com muito ou menos esforço, há também « em alguns casos, a consideração da própria dignidade e do bem dos filhos que exige pôr um limite firme às pretensões excessivas do outro, a uma grande injustiça, à violência ou a uma falta de respeito que se tornou crônica. É preciso


reconhecer que “há casos em que a separação é inevitável. Por vezes, pode tornar-se até moralmente necessária, quando se trata de defender o cônjuge mais frágil, ou os filhos pequenos, das feridas mais graves causadas pela prepotência e a violência, pela humilhação e a exploração, pela alienação e a indiferença”. Mas deve ser considerado um remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis » (AL n. 241). O Código de Direito Canônico de 1983 prevê no cânon 1153, § 1: « Se um dos cônjuges é causa de grave perigo para a alma ou para o corpo do outro cônjuge ou dos filhos ou, de outra forma, torna muito difícil a convivência, está oferecendo ao outro causa legítima de separação, por decreto do Ordinário local e, havendo perigo na demora, também por autoridade própria ». E no § 2: « Em todos os casos, cessando a causa da separação, deve-se restaurar a convivência, salvo determinação contrária da autoridade eclesiástica ». Ou seja, fazer todo o pos-

sível para a reconciliação e a busca da vivência em harmonia. Contudo, quando a realidade mostra que não há mais nada que se possa fazer, que a separação já é um fato, que já aconteceu uma nova união civil, uma opção possível é a busca da análise da situação matrimonial anterior: afinal, o matrimônio anterior foi válido ou não? Penso que com esta possibilidade não se está dissolvendo os laços de uma família. Pelo contrário. Busca-se uma solução, uma saída para resolver a situação de uma família que vive uma condição precária, porque há um vínculo anterior, vínculo esse que pode não ter existido se quando da realização do matrimônio anterior houve a inobservância de alguma norma exigida pela Igreja. Quando um matrimônio pode ser nulo?

Temos três grupos de motivos pelos quais o matrimônio pode ser nulo:

1) Se as pessoas, não obstante as aparências, não queriam casar verdadeiramente. Faltou o CONSENTIMENTO MATRIMONIAL (cf. cân. 1057, 1095 – 1107); 2) Se as pessoas mesmo querendo casar, não eram juridicamente hábeis, quer dizer, possuíam um impedimento legal para celebrar um verdadeiro matrimônio. Havia um IMPEDIMENTO DIRIMENTE (cf. cân. 1073-1094) ; 3) Mesmo que se trate de duas pessoas que querem contrair verdadeiro matrimônio e que são juridicamente hábeis, não observaram as formalidades da lei . Houve FALTA DE FORMA (cf. cân. 1108-1123). No processo de nulidade será analisado se há enquadramento em qualquer um dos três grupos de motivos, ou, se for o caso, em mais de um deles. É necessário que se faça o processo porque conforme destaca o cân. 1060: “ O matrimônio goza do favor do direito; portanto, em caso de dúvida, deve-se estar pela validade do matrimônio, enquanto não se prova o contrário”. (continua na p.20)


ENCONTRO DE NOIVOS – JUNHO DE 2016


13º RETIRO BOM PASTOR PARA CASAIS RECASADOS DIOCESE DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS – 18 E 19 DE JUNHO DE 2016 PARÓQUIA NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS – ARAUCÁRIA – PR

Nos dias 18 e 19 de junho, no Santuário Nossa Senhora dos Remédios, em Araucária, foi realizado o 13º retiro para casais em 2ª união numa ação pastoral que integrou a Comissão Diocesana de Pastoral Familiar, a equipe paroquial da Pastoral Familiar e o Movimento de Casais Santa Terezinha de Araucária.

Vinte e seis casais em segunda união participaram do retiro vindos das paróquias de Araucária (Santuário Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro e Nossa Senhora das Dores), Contenda (São João Batista), Fazenda Rio Grande (São Gabriel da Virgem Dolorosa), São José dos Pinhais (Nossa Senhora Aparecida Guatupê, Nossa Senhora de Fátima e São Pedro). Estes casais serão acompanhados pelos casais da Pastoral Familiar em grupos de reflexão visando a integração dos casais recasados nos movimentos e pastorais das comunidades.

Pe. Antônio, pároco do Santuário, acolheu os casais participantes e o Diá-


cono Juares Celso Krum, Assessor Regional da Pastoral Familiar apresentou os temas: O Bom Pastor e Nulidade Matrimonial. “Os batizados que são divorciados e recasados devem ser integrados mais intensamente nas comunidades cristãs. A lógica da integração constitui a chave do seu acompanhamento pastoral, para que não somente saibam que pertencem ao Corpo de Cristo que é a Igreja, mas possam fazer uma experiência feliz e fecunda da mesma” (Amoris Laetitia nº 299).

O próximo retiro para casais em segunda união está programado para os dias 19 e 20 de novembro na paróquia Nossa Senhora Aparecida, bairro Xingu em São José dos Pinhais.

“Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, e , voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido.” Lc 15, 4-6


Pastoral Familiar da Arquidiocese de Curitiba realiza a sua XXI Assembleia A Comissão Família e Vida da Arquidiocese de Curitiba, promoveu no domingo, 3 de julho, no Santuário Nossa Senhora do Equilíbrio, a XXI Assembleia Arquidiocesana da Pastoral Familiar, com o tema: “Amoris Laetitia – Cuidar das famílias feridas”, com a participação de 250 pessoas. A primeira atividade foi de ordem espiritual com a celebração da Santa Missa, presidida por pe. Claudio Ambrozio, CS, pároco da paróquia São José em Santa Felicidade. O casal coordenador Afonso e Janete apresentou de forma sintética as conclusões da XX Assembleia, para lembrar a caminhada feita a partir dos seguintes itens: 1. Anunciar o Evangelho da família hoje, nos vários contextos; 2. Orientar os nubentes no caminho de preparação para o matrimônio; 3. Acompanhar os primeiros anos da vida matrimonial; 4. Cuidar das famílias feridas (separados, divorciados não recasados, divorciados recasados, famílias monoparentais) e 5. A transmissão da vida e o desafio da diminuição da natalidade.

Divididos em grupos de trabalho, os participantes refletiram sobre uma parte do capítulo VI da Exortação Apostólica pós sinodal Amoris Laetitia, compreendendo os parágrafos 231 a 258 com o tema Iluminar crises, angústias e dificuldades. A questão a ser refletida e à qual se deveria apresentar as propostas foi: “A partir dos destaques acima e da realidade da arquidiocese de Curitiba indique que ações da Pastoral Familiar são necessárias no sentido de acompanhar e cuidar das famílias e como desenvolvê-las”.


O Diácono Juares Celso Krum discorreu sobre a exortação Amoris Laetitia, destacando: a) o “jeito” simples, direto e concreto do Papa Francisco escrever o documento, com uma clareza que não se encontra facilmente em outros documentos do magistério; b) a importância da leitura, reflexão e entendimento do capítulo IV O amor no matrimônio, para facilitar a compreensão do capítulo VIII Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade; c) o fato do Papa Francisco conseguir falar de todas as situações sem classificar, sem categorizar; d) A atitude de “tirar os calçados diante da terra sagrada do outro” (EG 36) que perpassa toda a Amoris Laetitia; e) a importância de falar das nossas famílias “tal como são”; f) “Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las” (AL 37); g) do discernimento pastoral que fala o capítulo oitavo; h) as palavras chaves: acompanhar, discernir, crescer, integrar; i) as respostas decisivas encontradas no número 300; j) como pode e deve ser o discernimento pessoal e pastoral, é o tema da seção inteira da Amoris laetitia n. 300-312; l) “O caminho não é fácil, mas é cheio de alegria”. Logo após o almoço, novo trabalho com os grupos, desta feita refletindo sobre o capítulo VIII e buscando as respostas para as questões: 1 – A partir dos princípios da ação pastoral apresentados no Capítulo VIII revise o que foi respondido pelo gru-

po na primeira etapa de trabalho na Assembleia visando a complementar e ou adequar o que foi escrito; 2 – Selecione três das ações e a maneira de fazê-las, apontadas pelo grupo, para serem apreciadas em plenária visando à definição das prioridades para o próximo ano de trabalho. Foi apresentada para apreciação dos participantes, durante a plenária, os itens que se destacaram nas respostas dos grupos. Após considerações, foram aprovadas as seguintes ações: 1 – Formação; 2 – Comunicação/divulgação; 3 – Apoio aos grupos de gestantes e 4 – Implantação da Pastoral Familiar em todas as paróquias. Padre Alexsander Cordeiro Lopes, coordenador da Ação Evangelizadora e Dom José Antônio Peruzzo compareceram levando seu apoio a todos os participantes.


A Exortação Apostólica PósSinodal Amoris Laetitia ―sobre o Amor na Família‖, foi tema de estudo pelos agentes da Pastoral Familiar, Catequistas, Movimentos de Cursilho, Lareira e demais lideranças da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão, nos dias 25 e 26 de junho, na Casa de Formação Divino Mestre, em Francisco Beltrão. O encontro foi assessorado pelo Pe. Aldemir Francisco Belaver – Reitor do Seminário Diocesano de Filosofia (Francisco Beltrão). Teve a presença dos Padres Geraldo Macagnan (Administrador Diocesano), Emerson Detoni (CDAE) e Nilzeu Garcia Albuquerque (Assessor Diocesano da Pastoral Familiar). ―Amoris Laetitia‖, datada no dia19 de março, solenidade de São José, recolhe os resultados de dois Sínodos sobre a família convocados pelo Papa Francisco em 2014 e 2015, cujas Relações conclusivas são abundantemente

citadas, juntamente com documentos e ensinamentos dos seus Predecessores e as numerosas catequeses sobre a família do próprio Papa Francisco. A Exortação está dividida em nove capítulos 1) À LUZ DA PALAVRA: Tu e tua esposa, os teus filhos como brotos de oliveira, um rastro de sofrimento e sangue, o fruto do teu próprio trabalho e a ternura do abraço. 2) A REALIDADE E OS DESAFIOS DAS FAMÍLIAS: a situação atual na família e alguns desafios. 3) O OLHAR FIXO EM JESUS: a vocação da família, Jesus recupera e realiza plenamente o projeto divino, a família nos documentos da Igreja, sementes do Verbo e situações imperfeitas, a transmissão da vida e a educação dos filhos, a família e a Igreja. 4) O AMOR NO MATRIMÔNIO: o nosso amor cotidia-

no, crescer na caridade conjugal, amor apaixonado e a transformação do amor. 5) O AMOR QUE SE TORNA FECUNDO: acolher uma nova vida, fecundidade alargada e a vida na família em sentido amplo.

6) ALGUMAS PERSPECTIVAS PASTORAIS: anuncia hoje o Evangelho da família, guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimônio, acompanhamento nos primeiros anos da vida matrimonial, iluminar crises, angústias e dificuldades e quando a morte crava o seu aguilhão. 7) REFORÇAR A EDUCAÇÃO DOS FILHOS: onde estão os filhos?, a formação ética dos filhos, o valor da sanção como estímulo, realismo paciente, a vida familiar como contexto educativo, sim à educação sexual e transmitir a fé. 8) ACOMPANHAR, DISCERNIR E INTEGRAR A


FRAGILIDADE: a gradualidade na pastoral, o discernimento das situações chamadas irregulares, as circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral, as normas e o discernimento e a lógica da misericórdia pastoral. 9) ESPIRITUALIDADE CONJUGAL: espiritualidade da comunhão sobrenatural, unidos em oração à luz da Páscoa, espiritualidade do amor exclusivo e libertador, espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo. O Papa escreve que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. Por conseguinte, para algumas questões em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. Este princípio de inculturação revela-se como muito importante até no modo de articular e compreender os problemas, modo esse que, sem entrar nas questões dogmáticas bem definidas pelo Magistério da Igreja, não pode ser globalizado. O Papa afirma de imediato e com clareza que é necessário sair da estéril contraposição

entre a ânsia de mudança e a aplicação pura e simples de normas abstratas. Escreve: ―Os debates, que têm lugar nos meios de comunicação ou em publicações e mesmo entre ministros da Igreja, estendem-se desde o desejo desenfreado de mudar tudo sem suficiente reflexão ou fundamentação até à atitude que pretende resolver tudo através da aplicação de normas gerais ou deduzindo conclusões excessivas de algumas reflexões teológicas» (AL 2). Orienta o Pontífice que o estudo poderá ser de maior proveito, tanto para as famílias como para os agentes da Pastoral Familiar, aprofundar pacientemente uma parte de cada vez, ou procurar nela aquilo de que precisam em cada circunstância concreta. Sobre o discernimento das situações chamadas irregulares, no número 299 (AL), o Papa Francisco acolhe as considerações de muitos Padres sinodais que quiseram afirmar que ―Os batizados que são divorciados e recasados devem ser integrados mais intensamente nas comunidades cristãs de várias maneiras, evitando todas as ocasiões de escândalo. A lógica da integração constitui a chave do seu acompanhamento pastoral, para que não

somente saibam pertencem ao Corpo de Cristo que é a Igreja, mas possam fazer uma experiência feliz e fecunda da mesma. São batizados, são irmãos e irmãs, e o Espírito santo derrama sobre eles dons e carismas para o bem de todos. A sua participação pode manifestar-se em diferentes serviços eclesiais: por isso, é necessário discernir quais das diversas formas de exclusão atualmente praticadas nos âmbitos litúrgico, pastoral, educativo e institucional, podem ser superadas. Eles não apenas devem sentir-se excomungados, mas podem viver e amadurecer como membros vivos da Igreja, sentindo-a como uma mãe que os recebe sempre, que cuida deles com carinho e que os anima no caminho da vida e do Evangelho. Esta integração é necessária também em ordem ao cuidado e à educação cristã dos seus filhos, que devem ser considerados os mais importantes. Nesta definição não está inclusa a questão dos Sacramentos, diz Dom Francisco Carlos Bach (Bispo da Diocese de São José dos Pinhas): ―Exatamente. É um Documento de caráter pastoral que não muda a doutrina da Igreja, mas que nos diz que é preciso integrar o máximo possível, com muito discernimento e acompanhamento, as pessoas que vivem em segunda união, porque verdadeiramente é possível que elas estejam muito mais integradas, dependendo de cada situação. Esses casais podem nos ajudar em muitas coisas bonitas na Igreja. Não podem considerar-se e nem nós podemos considerá-los fora da Igreja. Há muito o que eles podem fazer pela vida eclesial e por suas comunidades‖. Por Luiz Carlos Bittencourt


Bispo Referencial Dom Orlando Brandes do.brandes@uol.com.br

(continuação da página 12)

E antes do processo de nulidade ser iniciado, o Papa Francisco recomenda que se faça um trabalho preliminar de avaliação, com vistas a facilitar a elaboração do libelo, quando for o caso. Com isso, o que se quer é que a aludida pastoral humanize os relacionamentos dos que estão prestes a se divorciar ou já estão divorciados, predispondo-os psicológica, moral e espiritualmente para o encaminhamento do feito ao tribunal eclesiástico competente. Esse trabalho prévio da pastoral ao processo judicial será feito para preparar os cônjuges, impelindo-os ao compromisso com a verdade objetiva e real acerca do seu matrimônio, a fim de que não prevaleça nenhuma percepção subjetiva dos fatos. Afinal de contas, o papa Francisco insiste em que no novo sistema se salvaguarde o casamento válido e consumado. Essa “pastoral judiciária” trará como consequência uma sadia descentralização da análise de cada caso, que contará com a participação de psicólogos, filósofos, teólogos etc. – leigos e clérigos – para examinar o casamento em crise e/ou conflito, na paróquia, não limitada, portanto, ao racionalismo dos tribunais canônicos. Só falta definir quem, como e quando o trabalho começa...

Casal coordenador Jorge Luis Bovo e Sandra Regina P.Bovo jorgebovo@gmail.com sandrabovo@gmail.com Assessor Regional Diác. Juares C. Krum jckrum@gmail.com

PRIORIDADE: EVANGELIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS Com seis destaques:

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Catequese Grupos de Reflexão Pais e Filhos Espiritualidade Conjugal Juventude Noivos


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