Boletim Pastoral Familiar - Janeiro 2017

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JANEIRO/2017

Juares Celso Krum Diácono Permanente Assessor Eclesiástico da Pastoral Familiar do Regional Sul 2/ CNBB

 Nesta Edição  01 – Um relato sobre Sentido da Vida 04 – Catequeses 81 a 85 do Papa João Paulo II – Teologia do Corpo 11 – Calendário e Agenda 2017 12 – Divulgue seus eventos da Pastoral Familiar 13 – Espiritualidade do amor exclusivo e libertador fé 14 – Cinco metas e doze passos - Courage 16 – A Celebração do Matrimônio 22 – O movimentoIX dos Focolares

Marcelo é um jovem de 23 anos. Nascido numa família de classe média alta. Seus pais Alexandre e Beatriz são profissionais liberais. Ele é dentista e ela advogada da Vara da Família. Desde muito cedo Marcelo foi acostumado a estar a maior parte do tempo longe dos pais, aos cuidados de babás. Sua educação, a aprendizagem da vida foi feita, talvez até com boa vontade, mas de

certa forma fraca quanto aos muitos valores que lhe deveriam ter sido passados por seus pais. Sempre teve tudo o que precisou, quando se tratava de questões ou necessidades materiais: roupas, brinquedos, calçados, bicicletas, a primeira moto, mesada farta. Enfim, tudo muito bem resolvido em relação ao “ter”. Nos colégios por onde passou, invariavelmente


deixou sua marca de “menino carente”, “menino problema” tendo sido expulso de três estabelecimentos de ensino em menos de três anos. Isso se iniciou quando ainda tinha apenas 15 anos. Seus pais o encaminharam para tratamento psicológico, por meio da psicanálise, com um dos melhores profissionais do ramo. À época Marcelo estava já com seus 18 anos. Após dois anos de tratamento, de forma intensiva, com quatro consultas semanais de uma hora cada, parecia que tudo estava se encaminhando para uma solução dos problemas advindos das atitudes e do comportamento de Marcelo. Ele já estava mais tranquilo, não havia registro, nem queixa, vindos dos lugares que Marcelo frequentava, seja para estudar ou para seus momentos de lazer. O tratamento foi interrompido pelos pais em vista da melhora apresentada pelo filho. Mas, passados seis meses, novas situações aparecem de forma mais intensa do que tudo que havia sido experimentado por aquela família. Era uma sexta-feira, quando os pais de Marcelo foram chamados a uma delegacia de entorpecentes para acompanhar o registro do Boletim de Ocorrência de porte e tráfico de drogas. Eram cinco quilos de maconha e dez quilos de cocaína e mais quarenta pedras de crack. Marcelo foi preso e uma semana depois, uma moça chamada Helena foi procurar os pais de Marcelo para que a ajudassem a realizar um aborto

pois ela tinha engravidado num dos encontros que teve com Marcelo no Balneário Camboriú fazia três semanas. Ao saber da gravidez de Helena, Marcelo, que já estava com sua autoestima completamente nula, tentou se suicidar na cadeia, usando um pedaço de cabo de colher que havia escondido na última refeição. Por uma dessas coincidências que acontecem na vida, outro presidiário percebeu e avisou a carceragem, que conseguiu socorrer Marcelo e encaminhá-lo ao hospital sob escolta policial. Após os procedimentos médicos terem dado resultado positivo, Marcelo está sob observação e aos cuidados de um psiquiatra, numa ala especial. Suas ideias e pensamentos são de suicídio. Não consegue pensar em outra coisa. Os pais de Marcelo, ao finalmente “acordarem” e perceberem a gravidade da situação, procuraram, além da ajuda profissional médica, ajuda espiritual. Foi então que ao primeiro contato com Alexandre e Beatriz toda a situação veio à tona, com um “mea culpa” de ambos e com uma vontade sincera e muito forte de buscar uma saída, uma solução para a vida de seu filho. Ao invés de ficarem se lamentando, como muitos o fazem, utilizando os “se” mostraram-se dispostos a fazer o que fosse necessário para a vitória da vida. A volta da alegria, a busca da felicidade. Lembrei-lhes que estava estudando exatamente sobre o sentido da vida. Que este tema é polêmico, complexo e


que exige reflexão profunda e principalmente tomada de decisões e atitudes radicais, levando-se em consideração o que o mundo nos apresenta e, no caso do Marcelo, os fatos que o levaram a chegar a situação de total desespero. Como a parte médica está sendo cuidada, é preciso dar atenção à questão espiritual ou religiosa. Uma das dificuldades é com relação à “autoridade” dos pais para mostrar para Marcelo o caminho possível para a recuperação. Eles estão em dívida em relação à presença, à proximidade, ao diálogo com o filho. É preciso, portanto, que em primeiro lugar eles se “convertam” para uma atitude de acolhimento, de desprendimento, de disponibilidade e de entrega total ao filho, mostrando no concreto da vida o “amai-vos uns aos outros” das Escrituras. Isto feito – e é claro, que levará algum tempo para que se possa atingir uma certa excelência no relacionamento – terão que se dedicar ao filho. É preciso ficar claro que não dá para esperar nem um minuto. As coisas têm que andar de forma paralela. Os pais melhorando e procurando incutir na cabeça, ou melhor, no coração de seu filho Marcelo que Deus é o sentido para a vida. Enquanto não ficar claro. Enquanto não estiver convencido. Enquanto estiver apegado aos pensamentos destrutivos e suicidas não será possível enxergar a luz no fim do túnel. Foi o que fizeram os pais de Marcelo. Buscaram uma comunidade. Engajaram-se num movimento social. A mãe, Beatriz, com sua formação profissional na Área da Família, passou

a dar palestras, unindo o conhecimento com a fé e ajudando muitas pessoas e muitas famílias a melhorarem seus relacionamentos. O pai passou a administrar melhor o seu tempo, dividindo-o de forma equilibrada entre os pacientes, a família e a comunidade, sempre acompanhando a esposa. Os resultados não demoraram a surgir. Todos os que tiveram ou participaram da experiência que os ajudou a viver a verdadeira experiência de Jesus, passaram também eles a se dedicar com seu tempo e seus conhecimentos ajudando outras pessoas com problemas. Quando Marcelo soube o que os pais estavam fazendo, passou a acreditar neles e também entendeu que a busca do sentido da vida está em Deus. Com esse pensamento, pude me aproximar dele, dei-lhe uma Bíblia e a cada três dias eu o visito na penitenciária. Ele tem se mostrado bastante entusiasmado com as coisas de Deus e os sentimentos que lhe vão pelo coração são de esperança e fé de que, assim que for libertado, fará grandes coisas pelos irmãos que precisam de um sentido para suas vidas. O acompanhamento psiquiátrico continuará ainda por algum tempo, em vista das sequelas que ficaram. Pelo seu bom comportamento, Marcelo teve sua pena reduzida e no prazo de um ano estará livre para voltar à sociedade. Desta feita com uma nova visão de mundo e de relações familiares, movidas pelo amor. Sabe que o amor de Deus é vivido no dia-a-dia, no concreto de nossas vidas. É o que dá sentido à vida. Juares Celso Krum


81ª. Catequese 5 de maio de 1982 A virgindade e o “ethos” da Vida conjugal

Ao responder às perguntas dos fariseus sobre o matrimônio e a sua indissolubilidade, Cristo referiu-se ao “princípio”, isto é, à sua original instituição por parte do Criador. Uma vez que os seus interlocutores apelavam para a lei de Moisés, que previa a possibilidade da chamada “epístola de repúdio”, Ele respondeu: “Por causa da dureza dos vossos corações, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas no princípio não foi assim” (i). Depois do colóquio com os fariseus, os discípulos de Cristo dirigiram-se a Ele com as seguintes palavras: “Se essa é a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casarse!”. Respondeu-lhes: “Nem todos compreendem esta línguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferência dos homens, e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda” (ii).

As palavras de Cristo aludem inevitavelmente a uma consciente e voluntária renúncia ao matrimônio. Tal renúncia é possível só quando se admite uma autêntica consciência daquele valor que é constituído pela disposição esponsal da masculinidade e feminilidade para o matrimônio. Para que o homem possa estar plenamente consciente do que escolhe (a continência por amor do Reino), deve ser também plenamente consciente daquilo a que renuncia (trata-se, aqui, precisamente da consciência do valor em sentido “ideal”; todavia, esta consciência é completamente “realista”). Cristo exige por cer-to, deste modo, uma escolha cuidadosa. Comprova-o, sem qualquer dúvida, a forma em que é expressa a chamada à continência por amor do Reino dos Céus.

Mas não basta uma renúncia plenamente consciente ao sobredito valor. À luz das palavras de Cristo, como também à luz de toda a autêntica tradição cristã, é possível deduzir que tal renúncia é, ao mesmo tempo, uma particular forma de afirmação daquele valor, de que a pessoa não desposada se abstém coerentemente, seguindo o conselho evangélico. Pode isto parecer um paradoxo. É sabido, todavia, que o paradoxo acompanha

numerosos enunciados do Evangelho, e muitas vezes os mais eloquentes e profundos. Aceitando tal significado da chamada à continência “por amor do Reino dos Céus”, tiramos uma conclusão correta, defendendo que a realização desta chamada serve também — e de modo particular — para a confirmação do significado esponsal do corpo humano na sua masculinidade e feminilidade. A renúncia ao matrimônio por amor do Reino de Deus coloca em evidência, ao mesmo tempo, aquele significado em toda a sua verdade interior e em toda a sua pessoal beleza. Pode-se dizer que esta renúncia por parte de cada pessoa, homem e mulher, é em certo sentido indispensável, para o mesmo significado esponsal do corpo ser mais facilmente reconhecido em todo o ethos da vida humana e sobretudo no ethos da vida conjugal e familiar.

Assim, portanto, embora a continência “por amor do Reino dos Céus” (a virgindade, o celibato) oriente a vida das pessoas, que a escolhem livremente fora da via comum da vida conjugal e familiar, todavia não fica sem significado para esta vida: pelo seu estilo, o seu valor e a sua autenticidade evangélica. Não esqueçamos que a única chave para compreender a sacramentalidade do matrimônio é o amor esponsal de Cristo para com a Igreja (iii): de Cristo filho da Virgem, que era Ele mesmo virgem, isto é, “eunuco por amor do Reino dos Céus”, no sentido mais perfeito do termo. Convir-nos-á retomar este argumento mais tarde.

No fim destas reflexões permanece ainda um problema concreto: em que modo no homem, a quem “foi concedida” a chamada à continência por amor do Reino, essa chamada se forma sobre a base da consciência do significado esponsal do corpo na sua masculinidade e feminilidade, e, além disso, como fruto de tal consciência? De que modo se forma ou antes se “transforma”? Esta pergunta é igualmente importante, quer do ponto de vista da teologia do corpo, quer do ponto de vista do desenvolvimento da personalidade humana, que é de caráter personalista e carismático ao mesmo tempo. Se quiséssemos responder a tal pergunta de modo completo — na dimensão de todos os aspectos e de todos os problemas concretos que ela encerra — seria necessário fazer um estudo propositado sobre a relação entre o matrimônio e a virgindade, e entre o matrimônio e o celibato. Isto ultrapassaria, contudo, os limites das presentes considerações.

Permanecendo no âmbito das palavras de Cristo segundo Mateus (iv), é necessário concluir as nossas reflexões afirmando o que segue. Primeiro: se a continência “por amor do Reino dos


Céus” significa indubitavelmente renúncia, essa renúncia é ao mesmo tempo afirmação; a que deriva do descobrimento do “dom”, isto é, ao mesmo tempo, do descobrimento de uma nova perspectiva da realização pessoal de si mesmos “através de um dom sincero de si” (v); este descobrimento está então em profunda harmonia interior com o sentido do significado esponsal do corpo, ligado “desde o princípio” à masculinidade ou feminilidade do homem como sujeito pessoal. Segundo: embora a continência “por amor do Reino dos Céus” se identifique com a renúncia ao matrimônio — que na vida de um homem e de uma mulher dá início à família — , não se pode de nenhum modo ver nela uma negação do valor essencial do matrimônio; antes, pelo contrário, a continência serve indiretamente para colocar em relevo o que na vocação conjugal é perene e mais profundamente pessoal, o que nas dimensões da temporalidade (e, ao mesmo tempo, na perspectiva do “outro mundo”) corresponde à dignidade do dom pessoal, ligado ao significado esponsal do corpo na sua masculinidade ou feminilidade.

Deste modo, a chamada de Cristo à continência “por amor do Reino dos Céus”, justamente associada ao chamamento para a futura ressurreição (vi), tem significado capital não só para o ethos e para a espiritualidade cristã, mas também para a antropologia e para toda a teologia do corpo, que descobrimos nas suas bases. Recordemo-nos de ter Cristo dito, segundo a versão dos três Evangelhos sinóticos e apelando para a ressurreição do corpo no “outro mundo”: “Quando ressuscitarem dentre os mortos… nem casarão nem se darão em casamento…”(vii). Estas palavras, já anteriormente analisadas, fazem parte do conjunto das nossas considerações sobre a teologia do corpo e contribuem para a sua construção. _________________________________________________ i ii iii iv v vi vii

Mt 19, 8. Mt 19, 10-12. Cf. Ef 5, 22-23. 19, 11-12. Gaudium et spes, 24. Cf. Mt 21, 24-30; Mc 12, 18-27; Lc 20, 27-40. Mc 12, 25.

82ª. Catequese 23 de Junho de 1982 Importância e responsabilidade da escolha livre do estado de vida

Depois de analisar as palavras de Cristo, referidas pelo Evangelho segundo Mateus (i), convém passar à interpretação paulina do tema: virgindade e matrimônio. O enunciado de Cristo sobre a continência por amor do Reino dos Céus é conciso e fundamental. No ensinamento de Paulo, como nos convenceremos dentro de pouco, podemos reconhecer uma relação com as palavras do Mestre; todavia, o significado da enunciação (ii) no seu conjunto é avaliado de maneira diversa. A grandeza do ensinamento de Paulo consiste em que ele, apresentando a verdade proclamada por Cristo em toda a sua autenticidade e identidade, dá-lhe um timbre próprio, em certo sentido a própria interpretação “pessoal”, mas que surgiu sobretudo das experiências da sua atividade apostólico-missionária, e talvez mesmo da necessidade de responder às perguntas concretas dos homens, a quem esta atividade era dirigida. E

assim encontramos em Paulo o assunto da relação recíproca entre o matrimônio e o celibato ou a virgindade, como tema que solicitava as almas da primeira geração dos confessores de Cristo, a geração dos discípulos dos apóstolos, das primeiras comunidades cristãs. Isto acontecia para os convertidos do helenismo, portanto do paganismo, mais que do judaísmo; e isto pode explicar que o tema esteja presente especialmente numa epístola dirigida à comunidade de Corinto, a primeira.

O tom do enunciado inteiro é sem dúvida magisterial; todavia, o tom, como a linguagem, é também pastoral. Paulo ensina a doutrina transmitida pelo Mestre aos apóstolos e, ao mesmo tempo, mantém uma espécie de colóquio contínuo com os destinatários da sua epístola sobre o tema em questão. Fala como um clássico mestre de moral, enfrentando e resolvendo problemas de consciência, e por isso os moralistas gostam de recorrer de preferência aos esclarecimentos e às deliberações desta Primeira Epístola aos Coríntios (capítulo 7). É necessário, porém, recordar que a base última daquelas deliberações foi procurada na vida e no ensinamento do próprio Cristo.

O apóstolo sublinha, com grande clareza, que a virgindade, ou seja, a continência voluntária, deriva exclusivamente de um conselho e não de um mandamento: “No que se refere às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, dou porém o meu parecer”. Paulo dá este conselho ou parecer “como quem alcançou do Senhor misericórdia, para ser fidedigno”(iii). Como se vê das palavras citadas, o Apóstolo distingue, do mesmo modo que o Evangelho (iv), entre conselho e mandamento. Ele, com base na regra “doutrinal” da compreensão do ensinamento proclamado, quer aconselhar, deseja dar conselhos pessoais aos homens que se dirigem a ele. Assim, portanto, o “conselho” tem claramente na Primeira Epístola aos Coríntios (capítulo 7) dois significados diversos. O Autor afirma que a virgindade é um conselho e não um mandamento, e simultaneamente dá conselhos tanto às pessoas já casadas como àquelas que devem tomar ainda uma decisão a este propósito, e por último a todas as que se encontram no estado de viuvez. A problemática é substancialmente igual à que se nos depara em todo o enunciado de Cristo referido por Mateus(v): primeiro sobre o matrimônio e a sua indissolubilidade, e depois sobre a continência voluntária por amor do Reino dos Céus. Todavia, o estilo de tal problemática é bem próprio: é de Paulo.

“Mas, se alguém julga que é inconveniente para a sua filha haver passado a idade de se casar, e que é seu dever fazê-la casar, faça o que quiser; não peca se a casar; que eles se casem. Mas, o que resolveu firmemente no seu íntimo, não o obrigando a necessidade e com perfeita liberdade de escolha, guardar virgem a sua filha, faz bem. Portanto, quem casa a filha faz bem; mas quem a não casa faz melhor” (vi). 5. Quem tinha pedido conselho podia ser um jovem, que se tinha encontrado diante da decisão de tomar esposa, ou talvez um jovem desposado, que diante das correntes ascéticas existentes em Corinto refletia sobre a linha para dar ao seu matrimônio; podia ser também um pai ou um tutor de uma jovem, que tinha posto o problema do seu matrimônio. Em tal caso, tratar-se-ia diretamente da decisão que derivava dos seus direitos tutelários. Paulo escreve, com efeito, quando as decisões deste gênero pertenciam mais aos pais ou aos tutores do que


aos jovens mesmos. Ele, portanto, ao responder à pergunta desse modo a ele dirigida, procura explicar, de maneira muito precisa, que a decisão acerca da continência, ou seja, acerca da vida na virgindade, deve ser voluntária e que só tal continência é melhor do que o matrimônio. As expressões “faz bem” e “faz melhor” são, neste contexto, completamente unívocas. Ora, o Apóstolo ensina que a virgindade, ou seja, a continência voluntária, o abster-se a jovem do matrimônio, deriva exclusivamente de um conselho, e que, nas condições oportunas, a virgindade é “melhor” que o matrimônio. Não entra, porém, de nenhum modo a questão do pecado: “Está ligado a uma mulher? Não procures separar-te. Estás livre de mulher? Não procures mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca” (vii). Com base só nestas palavras, não podemos certamente formular juízos sobre aquilo que o Apóstolo pensava e ensinava acerca do matrimônio. Explicar-se-á este tema, já em parte, no contexto da Primeira Epístola aos Coríntios (capítulo 7) e, de maneira mais plena, na epístola aos Efésios (viii). No nosso caso, trata-se provavelmente da resposta à pergunta sobre se o matrimônio é pecado; e poder-se-ia ainda pensar que, em tal pergunta, há algum influxo de correntes dualistas pré-gnósticas, que mais tarde se transformaram em encratismo e maniqueísmo. Paulo responde que não entra aqui em jogo de maneira alguma a questão do pecado. Não se trata do discernimento entre o “bem” ou o “mal”, mas somente entre o “bem” ou o “melhor”. Em seguida, ele passa a motivar a razão por que quem escolhe o matrimônio “faz bem” e quem escolhe a virgindade, ou seja, a continência voluntária, “faz melhor”. Da argumentação paulina ocupar-nos-emos durante a nossa próxima reflexão. _________________________________________________ i ii iii iv v vi vii viii

Mt 19, 10-12. 1Cor 7. 1Cor 7, 25. Cf. Mt 19, 11-12. 19, 2-12. 1Cor 7, 36-38. 1Cor 7, 27-28. Ef 5, 21-33.

83ª. Catequese 30 de Junho de 1982 “Agradar a Deus” Síntese teológica da santidade

São Paulo, explicando no capítulo 7 da sua primeira Epístola aos Coríntios a questão do matrimônio e da virgindade (ou seja, da continência por amor do Reino de Deus), procura motivar a causa por que faz “bem” aquele que escolhe o matrimônio e quem, pelo contrário, se decide a uma vida na continência, ou seja, na virgindade, faz “melhor”. Escreve, de fato, assim: “Digo-vos, irmãos, que o tempo é breve. O que importa é que também aqueles que têm mulheres vivam como se as não tivessem…”; e depois: “aqueles que compram, como se não possuíssem; e os que se servem do mundo, como se dele se não servissem, porque a aparência deste mundo passa. E bem quisera eu que estivésseis sem cuidados” (i).

As últimas palavras do texto citado demonstram que Paulo se refere, na sua argumentação, também à própria experiência, pelo que a sua argumentação se torna mais pessoal. Não só formula o princípio e procura motivá-lo como tal, mas liga-se às reflexões e às convicções pessoais, nascidas da prática do conselho evangélico do celibato. Da sua força persuasiva testemunham todas as expressões e locuções. O Apóstolo não só escreve aos seus Coríntios: “Quisera que todos os homens fossem como eu” (ii), mas vai além, quando, com referência aos homens que contraem o matrimônio, escreve: “Todavia, esses tais terão tribulações na carne, e eu queria poupar-vos a elas” (iii). Aliás, essa sua convicção pessoal estava já expressa nas primeiras palavras do Capítulo 7 da sua epístola, referindo, fosse embora para a modificar, esta opinião dos Coríntios: “Quanto às coisas que me escrevestes, penso ser bom que o homem se abstenha de mulher…” (iv). É lícito pormo-nos a pergunta: que “tribulações na carne” tinha Paulo no pensamento? Cristo falava só dos sofrimentos (ou sejam, “aflições”), que experimenta a mulher quando deve dar “à luz a criança”, sublinhando, todavia, a alegria (v) com que ela se deleita, como compensação desse sofrer, depois do nascimento do filho: a alegria da maternidade. Paulo, pelo contrário, escreve sobre as “tribulações do corpo”, que esperam os cônjuges. Expressará isto uma aversão pessoal do Apóstolo no que se refere ao matrimônio? Nesta observação realista é necessário ver uma justa advertência para aqueles que — como por vezes os jovens — julgam que a união e a convivência conjugal devem trazer-lhes só felicidade e alegria. A experiência da vida demonstra que os cônjuges ficam não raras vezes desiludidos naquilo que mais esperavam. A alegria da união traz consigo também aquelas “tribulações na carne”, de que escreve o Apóstolo na epístola aos Coríntios. Estas são muitas vezes “tribulações” de natureza moral. Se ele pretende dizer com isto que o verdadeiro amor conjugal — precisamente aquele em virtude do qual “o homem se une à sua mulher e os dois são uma só carne” (vi) — é também um amor difícil, sem dúvida mantémse no terreno da verdade evangélica e não há qualquer razão para descobrir nisso sintomas da atitude que, mais tarde, devia caracterizar o maniqueísmo.

Cristo, nas Suas palavras acerca da continência por amor do Reino de Deus, não procura de qualquer modo encaminhar os ouvintes para o celibato ou para a virgindade, indicando-lhes “as tribulações” do matrimônio. Percebe-se, antes, que Ele procura pôr em relevo diversos aspectos, humanamente penosos, vindos da decisão em favor da continência: quer a razão social, quer as razões de natureza subjetiva, levam Cristo a dizer do homem, que toma tal decisão, que ele se faz “eunuco”, isto é, que voluntariamente abraça a continência. Mas, precisamente graças a isto, compreende-se muito claramente todo o significado subjetivo, a grandeza e a excepcionalidade de tal decisão: o significado de uma resposta pensada a um dom particular do Espírito.

Não diversamente entende o conselho de continência São Paulo, na epístola aos Coríntios, mas exprime-o de modo diverso. Na verdade, escreve: “Digo-vos, irmãos, que o tempo é breve…” (vii), e pouco depois: “A aparência deste mundo passa” (viii). Esta verificação acerca da caducidade da existência humana e da transitoriedade do mundo temporal, em certo


sentido acerca da acidentalidade de tudo o que é criado, deve fazer que “aqueles que têm mulheres, vivam como se as não tivessem” (ix), e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para o ensinamento sobre a continência. No centro do seu raciocínio, de fato, Paulo coloca a frase-chave que pode ser unida ao enunciado de Cristo, único no seu gênero, sobre o tema da continência por amor do Reino de Deus (x).

Enquanto Cristo coloca em relevo a grandeza da renúncia, inseparável de tal decisão, Paulo demonstra sobretudo como é necessário entender o “Reino de Deus”, na vida do homem que renunciou ao matrimônio em vista dele. E enquanto o tríplice paralelismo do enunciado de Cristo atinge o ponto culminante no verbo que significa a grandeza da renúncia assumida voluntariamente (“e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos por amor do Reino dos Céus” (xi)), Paulo define a situação com uma só palavra: “quem não está casado” (àga-mos); mais adiante, pelo contrário, exprime todo o conteúdo da expressão “Reino dos Céus” numa esplêndida síntese. Diz, com efeito: “O solteiro cuida do modo como há de agradar ao Senhor”(xii). Todas as palavras desse enunciado merecem especial análise. O contexto do verbo “preocupar-se” ou “procurar” no Evangelho de Lucas, discípulo de Paulo, indica que verdadei-ramente é preciso procurar só o Reino de Deus (xiii), o que forma “a parte melhor”, o unum necessarium (xiv). E o próprio Paulo fala diretamente da sua “preocupação por todas as Igrejas” (xv), da busca de Cristo mediante a solicitude pelos problemas dos irmãos, pelos membros do Corpo de Cristo (xvi). Já deste contexto se conclui todo o vasto campo da “preocupação”, à qual o homem não casado pode dedicar totalmente o seu pensamento, a sua fadiga e o seu coração. O homem, de fato, pode “preocupar-se” só daquilo que verdadeiramente tem a peito.

No enunciado de Paulo, quem não é casado, preocupa-se com as coisas do Senhor (tà toù kyriou). Com esta concisa expressão, Paulo abraça toda a realidade objetiva do Reino de Deus. “Do Senhor é a terra e tudo o que ela contém”, dirá ele mesmo pouco depois nesta epístola (xvii). O objeto da solicitude do cristão é o mundo todo! Mas Paulo, com o nome de “Senhor”, qualifica, antes de tudo, Jesus Cristo (xviii), e por isso “as coisas do Senhor” significam, em primeiro lugar, “o Reino de Cristo”, o Seu Corpo que é a Igreja (xix) e tudo quanto contribui para o Seu crescimento. De tudo isto preocupa-se o homem não casado e por isso Paulo, sendo no pleno sentido da palavra “apóstolo de Jesus Cristo” (xx) e ministro do Evangelho (xxi), escreve aos Coríntios: “Quisera que todos os homens fossem como eu” (xxii).

Todavia, o zelo apostólico e a atividade mais frutuosa não são ainda tudo o que encerra a motivação paulina da continência. Poder-se-ia mesmo dizer que a sua raiz e nascente se encontra na segunda parte da frase, que demonstra a realidade subjetiva do Reino de Deus: “O solteiro cuida do modo como há de agradar ao Senhor”. Esta verificação abraça todo o campo da relação pessoal do homem com Deus. “Agradar a Deus” — a expressão encontra-se em antigos livros da Bíblia (xxiii) — é sinônimo de vida na graça de Deus, e exprime a atitude daquele que procura Deus, ou seja, de quem se comporta segundo a Sua

vontade, de maneira que Lhe seja agradável. Num dos últimos livros da Sagrada Escritura, esta expressão torna-se síntese teológica da santidade. São João aplica-a uma só vez a Cristo: “Eu sempre faço o que é do Seu (isto é, do Pai) agrado” (xxiv). São Paulo observa na epístola aos Romanos: Cristo “não procurou o que Lhe era agradável” (xxv). Entre estas duas verificações, inclui-se tudo quanto constitui o significado do “agradar a Deus”, entendido no Novo Testamento como seguir as pisadas de Cristo.

Parece que ambas as partes da expressão paulina se sobrepõem: na verdade, preocupar-se com o que “pertence ao Senhor”, deve “agradar ao Senhor”. Por outro lado, aquele que agrada a Deus não pode fechar-se em si mesmo, mas abre-se ao mundo, a tudo o que há de ser reconduzido a Cristo. Estes são, evidentemente, só dois aspectos da mesma realidade de Deus e do Seu Reino. Paulo, contudo, devia distingui-los, para demonstrar mais claramente a natureza e a possibilidade da continência “por amor do Reino dos Céus”. Procuraremos voltar ainda a este tema. _________________________________________________ i 1Cor 7, 29.30-32. ii 1Cor 7, 7. iii 1Cor 7, 28. iv 1Cor 7, 1. v Cf. Jo 16, 21. vi Cf. Gn 2, 24. vii 1Cor 7, 29. viii 7, 31. ix 1Cor 7, 29; Cf. 7, 31. x Cf. Mt 19, 12. xi Mt 19, 12. xii 1Cor 7, 32. xiii Cf. Lc 12, 31. xiv Cf. Lc 10, 41. xv 2Cor 11, 18. xvi Cf. Fl 2, 20-21; 1Cor 12, 25. xvii 1Cor 10, 26; Cf. Sl 23/24, 1. xviii Cf. por exemplo Fl 2, 11. xix Cf. Cl 1, 18. xx 1Cor 1, 1. xxi Cf. Cl 1, 23. xxii 1Cor 7, 7. xxiii Cf., por exemplo, Dt 13, 19. xxiv Jo 8, 29. xxv Rm 15, 3.

84ª. Catequese 7 de Junho de 1982 A ação da graça de Deus em cada homem na escolha entre virgindade ou matrimônio

Durante o encontro de quarta-feira passada, procuramos aprofundar a argumentação de que se serve São Paulo na Primeira Epístola aos Coríntios para convencer, aqueles a quem se dirige, de que faz “bem” quem escolhe o matrimônio mas que, quem escolhe a virgindade (ou seja, a continência segundo o espírito do conselho evangélico), faz “melhor”(i). Continuando hoje esta meditação, recordamos que segundo São Paulo “o solteiro cuida do modo como há de agradar ao Senhor”(ii). O “agradar ao Senhor” tem, como fundo, o amor. Este fundo deriva de um novo confronto: o solteiro cuida do modo como


há de agradar a Deus, ao passo que o homem casado deve preocupar-se também com não descontentar a mulher. Aqui aparece, em certo sentido, o caráter esponsal da “continência por amor do Reino dos Céus”. O homem procura sempre agra-dar à pessoa amada. O “agradar a Deus” não é, portanto, destituído deste caráter, que distingue a relação interpessoal dos esposos. Por um lado, ele é um esforço do homem que tende para Deus e procura o modo de agradar-lhe, isto é, exprimir ativamente o amor; por outro lado, a esta aspiração corresponde um beneplácito de Deus, que, aceitando os esforços do homem, coroa a própria obra com dar nova graça: desde o princípio com efeito, esta aspiração foi dom Seu. O “cuidar de como agradar a Deus” é, portanto, um contributo do homem no contínuo diá-logo da salvação, iniciado por Deus. Evidentemente, nele toma parte todo o cristão que vive da fé.

Paulo observa, todavia, que o homem ligado com o vínculo matrimonial “se encontra dividido”(iii) por causa dos seus deveres familiares(iv). Desta verificação, parece por conseguinte resultar que a pessoa solteira deveria ser caracterizada por uma integração interior, por uma unificação, que lhe permitisse dedicar-se completamente ao serviço do Reino de Deus em todas as suas dimensões. Tal atitude pressupõe a abstenção do matrimônio, abstenção exclusivamente “por amor do Reino dos Céus”, e uma vida dirigida unicamente para esta finalidade. De outro modo, “a divisão” pode furtivamente entrar também na vida de um solteiro que, estando livre, por um lado, da vida matrimonial e, por outro, de uma clara finalidade pela qual deveria renunciar a ela, poderia encontrar-se diante de certo vazio.

O Apóstolo parece conhecer bem tudo isto, e apressa-se a especificar que não quer “atirar um laço” àquele a quem aconselha não casar-se, mas o faz a fim e o dirigir para aquilo que é digno e que o mantém unido ao Senhor sem distrações(v). Estas palavras fazem vir à mente o que, durante a Última Ceia, Cristo, segundo o Evangelho de Lucas, diz aos Apóstolos: “Vós estivestes sempre junto de Mim nas Minhas provações (literalmente, “nas tentações”); e Eu disponho a vosso favor do Reino, como Meu Pai dispõe dele a Meu favor”(vi). O solteiro, “estando unido ao Senhor”, pode estar certo que as suas dificuldades encontrarão compreensão: “porque não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, exceto no pecado”(vii). Isto permite à pessoa solteira não tanto mergulhar-se exclusivamente nos possíveis problemas pessoais, quanto incluí-los na grande corrente dos sofrimentos de Cristo e do Seu Corpo que é a Igreja. O Apóstolo mostra de que modo se pode “estar unido ao Senhor”: isto pode alcançar-se aspirando a um constante permanecer com Ele, a um gozar da sua presença (eupáredron), sem deixar-se distrair pelas coisas não essenciais (aperispástos)(viii). Paulo concretiza este pensamento ainda mais claramente, quando fala da situação da mulher casada, e da que escolheu a virgindade ou já não tem marido. Ao passo que a mulher casada deve preocupar-se de “como possa agradar ao marido”, a solteira “preocupa-se das coisas do Senhor, para ser santa no corpo e no espírito”(ix).

Para captar de modo adequado a profundidade do pensamento de Paulo, é necessário observar que a “santidade”, segundo a concepção bíblica, é mais um estado que uma ação; tem um caráter, primeiro que tudo, ontológico e depois também moral. Especialmente no Antigo Testamento, é uma “separação do que não está sujeito à influência de Deus, que é o “profanum“, para pertencer exclusivamente a Deus. A “santidade no corpo e no espírito”, portanto, significa também a sacramentalidade da virgindade ou do celibato, aceitos por amor do “Reino de Deus”. E, ao mesmo tempo, o que é oferecido a Deus deve distinguir-se com a pureza moral e, por isso, pressupõe um comportamento “sem mancha nem ruga”, “santo e imaculado”, segundo o modelo virginal da Igreja que está diante de Cristo (x). O Apóstolo, neste capítulo da epístola aos Coríntios, toca os problemas do matrimônio e do celibato ou da virgindade de modo profundamente humano e realista, dando-se conta da mentalidade dos seus destinatários. A argumentação de Paulo é, em certa medida, ad hominem. O mundo novo, a nova ordem dos valores que ele anuncia, deve encontrar-se, no ambiente dos seus destinatários de Corinto, com outro “mundo” e com outra ordem de valores, diversa também daquela a que eram dirigidas, pela primeira vez, as palavras pronunciadas por Cristo.

Se Paulo, com a sua doutrina acerca do matrimônio e da continência, se refere também à caducidade do mundo e da vida humana nele, o faz certamente com referência ao ambiente, que, em certo sentido, era orientado de modo programático para o “uso do mundo“. Quanto é significativo, deste ponto de vista, o seu apelo “àqueles que usam do mundo”, para que o façam “como se dele se não servissem”(xi). Do contexto imediato resulta que também o matrimônio, neste ambiente, era entendido como um modo de “usar o mundo” — diversamente de como tinha sido em toda a tradição israelita (não obstante algumas desfigurações, que Jesus indicou no colóquio com os fariseus, ou no Sermão da Montanha). Indubitavelmente, tudo isto explica o estilo da resposta de Paulo. O Apóstolo dava-se bem conta de que, animado para a abstenção do matrimônio, devia ao mesmo tempo colocar em evidência um modo de compreensão do matrimônio conforme com toda a ordem evangélica dos valores. E devia fazê-lo com maior realismo — isto é, tendo diante dos olhos o ambiente a que se dirigia, as ideias e os modos de apreciar as coisas, nele dominantes.

Aos homens que viviam num ambiente, em que o matrimônio era considerado sobretudo como um dos modos de “usar o mundo”, Paulo pronuncia-se com as significativas palavras, quer acerca da virgindade ou do celibato (como vimos), quer também acerca do matrimônio mesmo: “Digo aos solteiros e às viúvas que é melhor permanecer no mesmo estado que eu. Mas, se não aguentarem, casem-se. Porque mais vale casar-se que abrasar-se”(xii). Quase a mesma ideia tinha sido expressa por Paulo já antes: “Agora, quanto às coisas que me escrevestes: Penso ser bom que o homem se abstenha da mulher. Mas, dado o perigo da imoralidade, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido”(xiii).


O Apóstolo, na Primeira Epístola aos Coríntios, não olhará para o matrimônio exclusivamente do ponto de vista de um “remedium concupiscentiae”, como se costumava dizer na linguagem tradicional teológica? Os enunciados, referidos pouco acima, pareceriam testemunhá-lo. Entretanto, na imediata proximidade das formulações referidas, lemos uma frase que nos leva a ver de modo diverso o conjunto do ensinamento de São Paulo contido no capítulo 7 da Primeira Epístola aos Coríntios: “Quisera que todos os homens fossem como eu (repete o seu argumento preferido em favor da abstenção do matrimônio); mas cada qual recebe de Deus o seu próprio dom, este de uma maneira, aquele de outra”(xiv). Portanto, também aqueles que escolhem o matrimônio e vivem nele, recebem de Deus um “dom”, o “próprio dom”, isto é, a graça própria de tal escolha, deste modo de viver, deste estado. O dom recebido pelas pessoas que vivem no matrimônio, é diverso do recebido pelas pessoas que vivem na virgindade e escolhem a continência por amor do Reino dos Céus; apesar disso, este é um verdadeiro “dom de Deus”, dom “próprio”, destinado a pessoas concretas, e “específico”, isto é, adaptado à vocação de vida que têm.

Pode, portanto, dizer-se que, enquanto o Apóstolo, na sua caracterização do matrimônio pela parte “humana” (e talvez ainda mais por parte da situação local que dominava em Corinto), coloca energicamente em relevo o motivo da atenção à concupiscência da carne, ao mesmo tempo faz ele notar, com não menor força de convicção, também o caráter sacramental e “carismático“. Com a mesma clareza, com que vê a situação do homem em relação com a concupiscência da carne, vê também a ação da graça em cada homem — naquele que vive no matrimônio não menos do que naquele que escolhe voluntariamente a continência, tendo presente que “passa a cena deste mundo”. _________________________________________________ i ii iii iv v vi vii viii ix x xi xii xiii xiv

1Cor 7, 38. 1Cor 7, 32. 1Cor 7, 34. Cf. 1Cor 7, 34. Cf. 1Cor 7, 35. Lc 22, 28-29. Hb 4, 15. Cf. 1Cor 7, 35. 1Cor 7, 34. Ef 5, 27. 1Cor 7, 31. 1Cor 7, 8-9. 1Cor 7, 1-2. 1Cor 7, 7.

85ª. Catequese 14 de Julho de 1982 A “concessão” paulina de abstinência entre cônjuges na dinâmica espiritual da teologia do corpo

Durante as nossas precedentes considerações, analisando o capítulo sétimo da primeira carta aos Coríntios, procuramos juntar e compreender os ensinamentos e os conselhos, que São Paulo dá aos destinatários da sua carta sobre as questões relativas ao matrimônio e à continência voluntária (ou seja à abstenção do matrimônio). Afirmando que aquele que escolhe o

matrimônio “faz bem” e quem escolhe a virgindade “faz melhor”, o Apóstolo faz referência à caducidade do mundo — ou seja a tudo o que é temporal. É fácil intuir que o motivo da caducidade e da instabilidade do que é temporal, se expresse, neste caso, com muito maior força do que a referência à realidade do “outro mundo”. Ainda que o Apóstolo aqui se exprima não sem dificuldade, podemos todavia estar de acordo que na base da interpretação paulina do tema “matrimônio-virgindade” se encontra não tanto a mesma metafísica do ser acidental (portanto passageiro), quanto, de preferência, a teologia de uma grande expectativa, de que Paulo foi fervoroso propugnador. Não o “mundo” é o eterno destino do homem, mas o reino de Deus. O homem não pode apegar-se demasiado aos bens que são a medida do mundo perecedouro. Também o matrimônio está ligado com a “cena deste mundo”, que passa; e aqui estamos, em certo sentido, muito perto da perspectiva aberta por Cristo no seu enunciado acerca da futura ressurreição (cf. Mt 22, 23-32; Mc 12, 18-27; Lc 20, 27-40). Por isso o cristão, segundo o ensinamento de Paulo, deve viver o matrimônio do ponto de vista da sua vocação definitiva. E enquanto o matrimônio está ligado com a cena deste mundo que passa e por isso impõe, em certo sentido, a necessidade de “fechar-se” nesta caducidade — a abstenção do matrimônio, pelo contrário, poder-se-ia dizer livre de tal necessidade. Precisamente por isso, declara o Apóstolo que “faz melhor” aquele que escolhe a continência. Embora a sua argumentação prossiga neste caminho, todavia coloca-se decididamente em primeiro lugar (como já verificámos) sobretudo o problema de “agradar ao Senhor” e de “preocupar-se com as coisas do Senhor”.

Pode-se admitir que as mesmas razões falam em favor do que o Apóstolo aconselha às mulheres que ficam viúvas: “A mulher casada está ligada ao marido, enquanto este vive. Morto este, fica livre para se casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor. Mais feliz será, porém, na minha opinião, se ficar como estava. Julgo que também eu tenho o Espírito de “Deus!” (1 Cor 1, 39-40). Portanto: permaneça na viuvez de preferência a contrair novo matrimônio.

Mediante isto que descobrimos com uma leitura perspicaz da carta aos Coríntios (especialmente do capítulo 7), desvela-se todo o realismo da teologia paulina do corpo. Se o Apóstolo na carta proclama que “o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós” (1 Cor 6, 19), ao mesmo tempo está plenamente consciente da debilidade e da pecaminosidade a que o homem está sujeito, exatamente por motivo da concupiscência da carne. Todavia, tal consciência não lhe apaga de algum modo a realidade do dom de Deus, que é participado tanto por aqueles que se abstêm do matrimônio, como pelos que tomam mulher ou marido. No capítulo 7 da primeira carta aos Coríntios encontramos um claro encorajamento à abstenção do matrimônio: a convicção de que “faz melhor” aquele que se decide por ela; não encontramos, todavia, fundamento algum para considerar, aqueles que vivem no matrimônio, como “carnais” e aqueles, pelo contrário, que, por motivos religiosos, escolhem a continência, como “espirituais”. Com efeito, num e noutro modo de


viver — diríamos hoje: numa e noutra vocação — opera aquele “dom” que recebe cada um de Deus, isto é a graça, a qual faz que o corpo seja “templo do Espírito Santo” e tal permanece, tanto na virgindade (na continência) como também no matrimônio, se o homem se mantém fiel ao próprio dom e, conformemente ao seu estado, ou seja à sua vocação, não “desonra” este “templo do Espírito Santo”, que é o seu corpo.

No ensinamento de Paulo, contido sobretudo no capítulo 7 da primeira carta aos Coríntios, não encontramos nenhuma premissa para o que mais tarde será chamado “maniqueísmo”. “O Apóstolo está plenamente consciente de que — embora a continência pelo reino de Deus se mantenha sempre digna de recomendação — contemporaneamente a graça, isto é, o próprio dom de Deus”, ajuda também os esposos naquela convivência, em que (segundo as palavras de Gn 2, 24) eles se encontram tão estreitamente unidos que se tornam “uma só carne”. Esta convivência carnal está portanto submetida à potência do seu “próprio dom de Deus“. O Apóstolo escreve sobre ela com o mesmo realismo característico de todo o seu raciocínio no capítulo 7 desta carta: “O marido dê à mulher o que lhe é devido, e, da mesma sorte, a mulher também ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher” (vv. 3-4).

Pode dizer-se que estas formulações são patente comentário, por parte do Novo Testamento, das palavras há pouco recordadas do livro do Gênesis (Gn 2, 24). Todavia, as palavras aqui usadas, em particular as expressões “dever” e “não ter poder”, não podem explicar-se abstraindo da justa dimensão da aliança matrimonial, assim como procuramos esclarecer fazendo a análise dos textos do livro do Gênesis; procuraremos fazê-lo ainda mais plenamente, quando falarmos da sacramentalidade do matrimônio com base na carta aos Efésios (cf. Ef 5, 22-33). A seu tempo, será necessário voltar ainda a estas expressões significativas, que do vocabulário de São Paulo passaram para toda a teologia do matrimônio.

Por agora, continuemos a dirigir a atenção para as outras frases do mesmo trecho do capítulo 7 da primeira carta aos Coríntios, em que o Apóstolo dirige aos esposos as seguintes palavras: “Não vos recuseis um ao outro, a não ser por consentimento mútuo, a fim de vos entregardes à oração; depois, ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. Digo isto, porém, como concessão, não como mandamento” (1 Cor 7, 5-6). É um texto muito significativo, a que talvez seja necessário fazer ainda referência no contexto das meditações sobre os outros temas. É muito significativo que o Apóstolo — o qual, em toda a sua argumentação acerca do matrimônio e da continência, faz, como Cristo, clara distinção entre o mandamento e o conselho evangélico — sinta a necessidade de referir-se também à “concessão”, como a uma regra suplementar, isto sobretudo em referência aos cônjuges e à sua recíproca convivência. São Paulo diz claramente que tanto a convivência conjugal, como a voluntária e periódica abstenção dos cônjuges, deve ser fruto deste “dom de Deus” que lhes é “próprio”, e que, cooperando conscientemente com ele, os mesmos cônjuges podem manter e reforçar aquele recíproco laço pessoal e ao mesmo tempo

aquela dignidade que o fato de ser “templo do Espírito Santo que está neles” (cf. 1 Cor 6, 19) confere ao corpo de ambos. Parece que a regra paulina de “concessão” indica a necessidade de considerar tudo o que, de qualquer maneira corresponde à subjetividade tão diferenciada do homem e da mulher. Tudo isto que, nesta subjetividade é de natureza não só espiritual mas também psicossomática, toda a riqueza subjetiva do homem, a qual, entre o seu ser espiritual e o corporal, se exprime na sensibilidade específica quer para o homem quer para a mulher — tudo isto deve manter-se sob o influxo do dom que recebe cada um de Deus, dom que é seu próprio. Como se vê, São Paulo no capítulo 7 da primeira carta aos Coríntios interpreta o ensinamento de Cristo acerca da continência por amor do Reino dos Céus daquele modo, muito pastoral, que lhe é próprio, não poupando nesta ocasião insistências totalmente pessoais. Interpreta o ensinamento sobre a continência, sobre a virgindade, paralelamente com a doutrina sobre o matrimônio, conservando o realismo próprio de um pastor e, ao mesmo tempo, as proporções que encontramos no Evangelho, nas palavras do próprio Cristo.

No enunciado de Paulo pode-se encontrar aquela fundamental estrutura que sustenta a doutrina revelada sobre o homem, o qual também com o seu corpo está destinado à “vida futura”. Esta estrutura fundamental está na base de todo o ensinamento evangélico sobre a continência por amor do Reino de Deus (cf. Mt 19, 12) — mas contemporaneamente apoia sobre ela também o definitivo (escatológico) cumprimento da doutrina evangélica acerca do matrimônio (cf. Mt 22, 30; Mc 12, 25; Lc 20, 36). Estas duas dimensões da vocação humana não se opõem entre si, mas são complementares. Ambas fornecem plena resposta a uma das basilares perguntas do homem: à pergunta acerca do significado de “ser corpo”, isto é acerca do significado da masculinidade e da feminilidade, de estar “no corpo” um homem ou uma mulher.

O que aqui ordinariamente definimos como teologia do corpo mostra-se como alguma coisa de verdadeiramente fundamental e constitutiva para toda a hermenêutica antropológica — e ao mesmo tempo igualmente fundamental para a ética e para a teologia do “ethos” humano. Em cada um destes campos é necessário escutar atentamente não só as palavras de Cristo, em que Ele apela para o “princípio” (Mt 19, 4) e para o “coração” como lugar interior e contemporaneamente “histórico” (cf. Mt 5, 28) do encontro com a concupiscência da carne — mas devemos escutar atentamente também as palavras, mediante as quais Cristo apelou para a ressurreição, a fim de enxertar, no mesmo irrequieto coração do homem, as primeiras sementes da resposta à pergunta acerca do significado de ser “carne” na perspectiva do “outro mundo”.


18 Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração SexualCrianças e Adolescentes 25-26 41ª Assembleia CNPF–Aparecida-SP 27 7º Simpósio Nacional da Família 28 9ª Peregrinação Nacional da Família JUNHO 10-11 2ª Reunião Coordenação da CRPF Província de Maringá 12 Dia dos Namorados 15 Corpus Christi

26 Dia dos Avós AGOSTO JANEIRO

01 Maternidade Divina de Maria e Dia Mundial da Paz 01 Cinzas 08 Dia Internacional da Mulher 18-19 1ª Reunião Coordenação da CRPF Província de Cascavel 19 São José 25 Anunciação do Senhor ABRIL

08 Dia Mundial Combate ao Câncer 14 Sexta-feira Santa 16 Páscoa do Senhor 21 Tiradentes 26-05 55ª Assembleia Geral da CNBB MAIO 01 Dia do Trabalho 14 Dia das Mães

13 Dia dos Pais 13-19 Semana Nacional da Família SETEMBRO 07 Independência do Brasil 08-10 XV Congresso Nacional CNPF Cuiabá OUTUBRO 01-07 Semana Nacional da Vida 08 Dia do Nascituro 12 Nossa Senhora Aparecida / Dia das Crianças 21 Dia Nacional de Valorização da Família 21-22 3ª Reunião Coordenação da CRPF Província de Londrina 02 Finados 25 Dia Internacional Combate a Violência contra a mulher DEZEMBRO

02 Vigília pela Vida nascente 08 Dia Nacional da Família 31 Festa da Sagrada Família


Ajude a divulgar o que a nossa PASTORAL FAMILIAR tem realizado, está programando e os resultados alcançados... Faça um pequeno texto e, se possível, envie algumas fotos dos principais eventos e acontecimentos da sua paróquia ou diocese. COMO É BOM QUANDO VEMOS O TRABALHO EM EQUIPE BEM FEITO ISSO NOS MOTIVA A FAZER MAIS


ESPIRITUALIDADE DO AMOR EXCLUSIVO E LIBERTADOR No matrimônio, vive-se também o sentido de pertencer completamente a uma única pessoa. Os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos, e assim refletem a fidelidade de Deus. Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é uma «exigência interior do pacto de amor conjugal», porque, «quem não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar deveras um só dia». Mas isto não teria significado espiritual, se fosse apenas uma lei vivida com resignação. É uma pertença do coração, lá onde só Deus vê (cf. Mt 5, 28). Cada manhã, quando se levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta decisão de fidelidade, suceda o que suceder ao longo do dia. E cada um, quando vai dormir, espera levantar-se para continuar esta aventura, confiando na ajuda do Senhor. Assim, cada cônjuge é para o outro sinal e instrumento da proximidade do Senhor, que não nos deixa sozinhos: «Eu estarei sempre convosco, até ao fim dos tempos» ( Mt 28, 20). Há um ponto em que o amor do casal alcança a máxima libertação e se torna um espaço de sã autonomia: quando cada um descobre que o outro não é seu, mas tem um proprietário muito mais importante, o seu único Senhor. Ninguém pode pretender possuir a intimidade mais pessoal e secreta da pessoa amada, e só Ele pode ocupar o centro da sua vida. Ao mesmo tempo, o princípio do realismo espiritual faz com que o cônjuge não pretenda que o outro satisfaça completamente as suas exigências. É preciso que o caminho espiritual de cada um – como justamente indicava Dietrich Bonhoeffer – o ajude a «desiludir-se» do outro, a deixar de esperar dessa pessoa aquilo que é próprio apenas do amor de Deus. Isto exige um despojamento interior. O espaço exclusivo, que cada um dos cônjuges reserva para a sua relação pessoal com Deus, não só permite curar as feridas da convivência, mas possibilita também encontrar no amor de Deus o sentido da própria existência. Temos necessidade de invocar cada dia a ação do Espírito, para que esta liberdade interior seja possível. (Amoris Laetitia, n. 319-320)


As seguintes cinco metas do Courage foram criadas pelos próprios membros, quando o apostolado foi fundado. Essas metas são lidas no início de cada reunião e cada membro é chamado a praticá-las na vida diária. Os doze passos, por sua vez, foram adaptados com a permissão dos Alcoólicos Anônimos, e são um programa de vida espiritual a ser seguido por todos os membros do Courage.

Viver uma vida casta de acordo com o ensinamento da Igreja Católica Apostólica Romana acerca da homossexualidade

Dedicar a própria vida à Cristo por meio do serviço ao próximo, da leitura espiritual, da oração, da meditação, da direção espiritual particular, da participação frequente da Missa e do recebimento constante dos sacramentos da Reconciliação e da Santa Eucaristia


4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. Cultivar um espírito de fraternidade no qual todos podem partilhar seus pensamentos e experiências e, assim, assegurar que ninguém venha a enfrentar sozinho os problemas da homossexualidade

Ter em mente as seguintes verdades: que as castas amizades não são apenas possíveis como também necessárias na vivência da castidade cristã e que, no seu cultivo, elas oferecem um mútuo encorajamento

Viver a própria vida de tal modo que sirva de bom exemplo para os outros

1. Admitimos que éramos impotentes perante a homossexualidade – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. 2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade. 3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos.

5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas. 6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter. 7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. 8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados. 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudica-las ou a outrem. 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente. 11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade. 12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos, procuramos transmitir essa mensagem a outros e praticar esses princípios em todas as nossas atividades. Fonte: http://www.couragebrasil.com/p/recursos.html


Diácono Permanente, Bacharel e Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Queridos noivos, tende a coragem de ser diferentes, não vos deixeis devorar pela sociedade do consumo e da aparência. O que importa é o amor que vos une, fortalecido e santificado pela graça. Vós sois capazes de optar por uma festa austera e simples, para colocar o amor acima de tudo. Os agentes pastorais e toda a comunidade podem ajudar para que esta prioridade se torne a norma e não a exceção

Juares Celso Krum

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Amoris Laetitia enfatiza que é preciso “Guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimônio” e, nesse caminho pede que se prepare bem a celebração litúrgica do matrimônio. Assim, ele escreve que “a preparação próxima do matrimônio tende a concentrar-se nos convites, na roupa, na festa com os seus inumeráveis detalhes que consomem tanto os recursos econômicos como as energias e a alegria. Os noivos chegam desfalecidos e exaustos ao casamento, em vez de dedicarem o melhor das suas forças a preparar-se como casal para o grande passo que, juntos, vão dar. Queridos noivos, tende a coragem de ser diferentes, não vos deixeis devorar pela sociedade do consumo e da aparência. O que importa é o amor que vos une, fortalecido e santificado pela graça. Vós sois capazes de optar por uma festa austera e simples, para colocar o amor acima de tudo. Os agentes pastorais e toda a

comunidade podem ajudar para que esta prioridade se torne a norma e não a exceção” (212).

O subsídio da CNPF – Comissão Nacional da Pastoral Familiar: Guia de Preparação para a Vida Matrimonial (GPVM) – Encontros para


Noivos – apresenta como um dos temas (é o sétimo tema) a serem apresentados àqueles que estão se preparando para o matrimônio exatamente a Celebração Litúrgica do Matrimônio. Ou seja, sabe-se da importância de se esclarecer e entender bem a celebração, para que ela não seja apenas uma cerimônia que é uma forma exterior e regular de um culto, mas celebração.

O Ritual do Matrimônio no item III da Introdução Geral também trata de aspectos da celebração do matrimônio como a preparação e o rito a ser usado.

De acordo com o Diretório da Pastoral Familiar “destaque-se também o significado extraordinariamente enriquecedor


de pertencer à comunidade eclesial e esclareçam-se os noivos sobre o sentido e a riqueza litúrgica do sacramento que se preparam para celebrar. Assim, poderão tomar parte ativa e frutuosa na celebração (DPF n. 272). Com base em tudo isso penso que seja importante planejar, organizar e executar algumas ações para melhor celebrar o sacramento do matrimônio. Essas ações envolvem os agentes da pastoral familiar, o ministro (diácono, presbítero ou bispo) que vai presidir a celebração e é claro, os noivos.

NOS ENCONTROS EM PREPARAÇÃO AO MATRIMÔNIO – PREPARAÇÃO PRÓXIMA Tanto nos Encontros personalizados quanto nos “encontrões” (onde ainda existem) que de fato se faça uma apresentação com os principais dados sobre a celebração litúrgica do matrimônio. Como já dissemos, há um esquema de apresentação no GPVM, às páginas 57-60. Esse esquema é o seguinte:  Introdução  Celebração do Matrimônio sem a Missa  Celebração do Matrimônio na Missa  Escolha das leituras, orações e cantos  Rito Sacramental do Matrimônio É importante que se destaque que quando o matrimônio é celebrado dentro da Missa, deve-se tomar a Missa ritual “de casamento” ou para os dias constantes dos n. 1-4 da Tabela dos dias litúrgicos, use-se a Missa do dia com suas leituras, conservando-se a bênção nupcial e, se oportuno, a fórmula própria da bênção final (cf. Ritual do Matrimônio, n. 34). Quando for fora da missa, conforme recomenda o Ritual do Matrimônio, os noivos

junto com aquele que irá presidir a celebrar deverão escolher (cf. Ritual do Matrimônio, n. 29):  as leituras da Sagrada Escritura que serão comentadas na homilia  a maneira pela qual vão exprimir o consentimento mútuo  as fórmulas para a bênção das alianças, para a bênção nupcial, para as intenções das preces dos fiéis e para os cantos. Além disso, preste-se atenção nas variações prescritas no rito a serem usadas, assim como nos costumes locais, que se podem observar, se for oportuno. Por favor, mostrem, indiquem para os noivos onde estão as leituras da Sagrada Escritura que eles poderão escolher (Ritual do Matrimônio, capítulo V):

a) Leituras do Antigo Testamento (n. 179-187):  Gn 1, 26-28.31a  Gn 2, 18-24  Gn 24, 48-51.58-67  Tb 7, 6-14  Tb 8, 4b-8  Pr 31, 10-13.19-20.39-31  Ct 2, 8-10.14.16a; 8, 6-7a  Eclo 26, 1-4.16-21  Jr 31, 31-32a.33-34a b) Leituras do Novo Testamento (n. 188-201):


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Rm 8, 31b-35.37-39 Rm 12, 1-2.9-18 (mais longa) Rm 12, 1-2.9-13 (mais breve) Rm 15, 1b-3a.5-7.13 1Cor 6,13c-15a.17-20 1Cor 12, 31 – 13,8a Ef 4, 1-6 Ef 5, 2a. 21-33 (mais longa) Ef 5, 2a.25-32 (mais breve) Fl 4,4-9 Cl 3, 12-17 Hb 13, 1-4a.5-6b 1Pd 3, 1-9 1Jo 3, 18-24 1Jo 4, 7-12 Ap 19, 1.5-9ª

e) Evangelhos (n. 213-222):  Mt 5, 1-12a  Mt 5, 13-16  Mt 7, 21.24-29 (mais longa)  Mt 7, 21.24-25 (mais breve)  Mt 19, 3-6  Mt 22, 35-40  Mc 10, 6-9  Jo 2, 1-11  Jo 15, 9-12  Jo 15, 12-16  Jo 17, 20-26 (mais longo)  Jo 17, 20-23 (mais breve) Esse é o momento ideal para que os noivos tomem conhecimento de cada uma das leituras, leiam com calma e escolham com base naquilo que gostariam que lhes fosse dito no momento da homilia. Essa escolha será confirmada na conversa com quem vai presidir a celebração. É a próxima etapa.

NA ETAPA DA PREPARAÇÃO IMEDIATA

c) Salmos responsoriais (n. 202-208):  Sl 32 (33), 12 e 18.20-21-22  Sl 33 (34), 2-3,4-5.6-7.8-9  Sl 102 (103), 1-2.8 e 13.17-18 a  Sl 111 (112), 1-2.3-4.5-7bc-8.9  Sl 127 (128), 1-2.3.4-5  Sl 144 (145), 8-9.10 e 15.17-18  Sl 148, 1-2.3-4.9-10.11-13ab.13c14a d) Aleluia e versículos antes do Evangelho (n. 209-212):  1Jo 4, 7b  Cf. 1Jo 4, 8b e 11  1 Jo 4, 12  1Jo 4, 16

Nesta etapa, o pároco, ou aquele que irá presidir a celebração do matrimônio, além de definir se será dentro ou fora da missa, combinará com os noivos os detalhes já apontados acima. Relembra que o próprio Ritual do Matrimônio recomenda que os noivos escolham as leituras, como irão expressar o consentimento, a fórmula para a bênção e


a fala para a entrega das alianças, a bênção nupcial e as intenções da prece dos fiéis. OPÇÕES DE CELEBRAÇÃO Há no Ritual algumas opções para a cele bração:

As fórmulas estão nos números 251252. Bênção nupcial N. 72, 104-105, 241-244

1. Capítulo I – Celebração do matrimônio dentro da Missa 2. Capítulo II – Celebração do Matrimônio sem Missa Acolhida e saudação a. O presidente da celebração (PR), devidamente paramentado acolhe os noivos à porta da Igreja e os saúda. b. O PR devidamente paramentado dirige-se ao lugar preparado para os noivos. Quando os noivos chegarem ao seu lugar o PR os acolhe e saúda. Consentimento Para manifestar o vosso consentimento em selar a sagrada aliança do Matrimônio, diante de Deus e de sua Igreja, aqui reunida, dai um ao outro a mão direita. (Há duas opções) a. Eu, (N.), te recebo (N.), por minha esposa e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. (Em seguida a noiva) b. N., queres receber N., por tua esposa e lhe prometes ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da tua vida? O noivo responde: Quero. (Depois é a vez da noiva). Entrega das Alianças a. N., recebe esta aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. (Em seguida a esposa) Oração dos fiéis

3. Apêndice IV – Rito Adaptado da celebração do Matrimônio dentro da Missa 4. Apêndice V – Rito Adaptado da celebração do Matrimônio sem Missa Acolhida e saudação a. O (PR) devidamente paramentado dirige-se com a equipe de celebração ao altar, onde aguarda a entrada dos noivos, ou dirige-se até a entrada da Igreja e acolhe os noivos aí.

Entrada dos noivos a. Faz-se a entrada solene do noivo e da noiva, de acordo com o costume do lugar e as circunstâncias. b. Terminado o comentário inicial, entram o noivo, sua mãe e seu pai, precedidos das testemunhas


c. Quando o noivo tiver chegado junto ao altar, a assembleia acolhe a noiva, conduzida pelo pai e pela mãe, precedidos pelas testemunhas. d. Quando a noiva chega perto do altar, o noivo vai ao seu encontro e a acolhe de acordo com as tradições locais. e. Pode-se também fazer a entrada dos noivos na Igreja em conjunto. O PR dirige-se até a porta da Igreja, onde já se encontram os noivos com seus familiares e as testemunhas. O PR saúda a todos cordialmente. O comentarista convida a todos a acolher os noivos. Em seguida organiza-se a procissão com o canto de entrada. Consentimento Agora convido vocês, caros noivos N. e N., a se darem as mãos e firmarem a sagrada aliança do Matrimônio, manifestando publicamente o seu consentimento. (Há duas opções) a. Eu, N., recebo você N., por minha esposa e lhe prometo ser fiel, amar e respeitar a você, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. (Em seguida a noiva) b. N., você quer receber N., por sua esposa e lhe promete ser fiel, amar e respeitar a ela, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da sua vida? O noivo responde: Quero. (Depois a noiva).

a. Acredito na força do amor santificado pelo sacramento do Matrimônio! (Ou) Aceito as exigências do Matrimônio como Sacramento. N., esta aliança é sinal de que amo você e lhe serei fiel. Que Deus me ajude a viver e a cumprir esta promessa. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. (Em seguida a esposa) Oração dos fiéis Há duas opções no número 29 do Rito Adaptado com cinco e nove preces respectivamente. Bênção Nupcial N. 34 (Adaptado com missa), 30-31 (Adaptado sem missa). Finalizando, destaco a riqueza que há para celebrar o matrimônio. Sem esquecer a questão dos cantos e músicas a serem utilizados com coerência litúrgica.

Entrega das Alianças Enquanto os nubentes trocam as alianças, convido a vocês, prezados casais aqui presentes, a renovarem o compromisso matrimonial. Se for oportuno, o esposo beija a aliança e diz (Ou diz e depois coloca a aliança e a beija já colocada):

Boa celebração!


História Trento, 1944, festa de Cristo Rei. Terminada a Missa, Chiara e as suas primeiras companheiras reúnem-se ao redor do altar, e quase sem entender o alcance do que estão fazendo, pedem a Deus que seja atuada, também através delas, uma frase que tinham escutado durante a liturgia: «Pede-me e eu te darei as nações por herança e estenderei o teu domínio até as extremidades da terra» (Sal 2,8). «Tu sabes como realizar a unidade – elas dizem –. Nós estamos aqui. Se queres, usa de nós». Para um ideal vasto como é a unidade, aquela que Jesus pediu ao Pai, “que todos sejam um” (Jo 17,21), o horizonte não poderia deixar de ser o mundo e, olhando em retrospectiva, entende-se porque desde os primeiros balbucios do Movimento que nascia, os desejos do coração mirassem longe. Naquela época ninguém podia imaginar que aqueles «últimos confins da Terra» teriam sido alcançados, e com uma certa rapidez. Não uma programação feita em prancheta, mas seguir um caminho que Alguém estava traçando. «O Movimento se desenvolveu segundo um desígnio de Deus preciso, que nós sempre ignoramos, mas que se revelava no seu tempo», dirá Chiara Lubich, ao narrar a sua história no XIX Congresso Eucarístico Nacional italiano, em Pescara, no ano de 1977. Naquela ocasião ela salientou como «a caneta não sabe o que deverá escrever, o pincel não sabe o que deverá pintar, o cinzel não sabe o que deverá esculpir. Assim, quando Deus toma uma criatura entre as mãos, para fazer surgir uma obra sua na Igreja, ela não sabe o que deverá fazer. É um instrumento. Quando tudo começou, em Trento, eu não tinha um programa, não sabia nada. A ideia da Obra estava em Deus, o projeto no Céu. Foi assim no início, e foi assim durante os 34 anos de desenvolvimento do Movimento dos Focolares». E foi assim, acrescentamos nós, nos anos sucessivos, até hoje. Evidentemente, aquele primeiro núcleo de moças estava destinado a não ficar fechado dentro da pequena capital da região trentina, onde, depois de apenas alguns meses já

eram 500 as pessoas que partilhavam o ideal da unidade, de todas as idades e condições sociais. E logo ele superou as fronteiras regionais. Quando a guerra terminou as primeiras focolarinas se transferiram para algumas cidades da Itália, por motivos de estudo e de trabalho. E não faltaram convites de pessoas que desejavam conhecer e difundir a outros a experiência delas. A primeira etapa foi Roma, para aonde a própria Chiara se transferiu, em 1948, e depois Florença, Milão, Siracusa, etc. Em 1956 iniciou a difusão na Europa, em 1958 na América Latina, em 1961 na América do Norte. No ano de 1963 chegou a vez da África, 1966 da Ásia e 1967 da Austrália. Hoje o Movimento dos Focolares está presente em 182 países, conta com cerca de dois milhões de aderentes e simpatizantes, predominantemente católicos, mas não só. De maneiras variadas, participam dele milhares de cristãos de 350 Igrejas e comunidades eclesiais, muitos seguidores de outras religiões, entre os quais judeus, muçulmanos, budistas, hindus, sikhs… e pessoas de convicções não religiosas. O núcleo central do Movimento é constituído por mais de 140 mil animadores, das várias ramificações. Em breve, esta é, até hoje, a história de um povo que nasceu do Evangelho. «Naquele dia nós pedimos com fé – escreveu Chiara em 2000 –. O Movimento chegou realmente até os últimos confins. E neste “novo povo” estão representados os povos de toda a Terra».

Projeto «Nem com as melhores previsões, eu jamais poderia ter pensado, no dia 7 de dezembro de 1943, naquilo que vejo hoje», disse Chiara Lubich ao recordar os primeiros trinta anos do seu “sim” a Deus, data que é considerada o início do Movimento dos Focolares. Desposava Deus, e isso era tudo para ela. Da mesma forma como não pensava em fundar um movimento nem uma associação, Chiara certamente não


imaginava que daria início a um projeto que passaria da cidade às nações, na direção de um mundo unido. E, no entanto, ela mesma conta: «Um dia, estava em um ponto alto da cidade e, contemplando aquele panorama, senti no coração um desejo forte: ver Trento toda incendiada pelo amor, pelo amor verdadeiro, que liga irmão a irmão, aquele amor que o carisma da unidade teria podido realizar. E esta ideia dava plenitude ao meu coração». Foi numa cidade, Trento, que o ideal da unidade tomou forma, e é nas cidades, nos bairros, nas vilas, que as comunidades do Movimento operam. E não era menos o que Chiara sentia interiormente quando escreveu: «Eis a grande atrativa do tempo moderno: penetrar na mais alta contemplação e permanecer misturado entre todos, ombro a ombro. Diria mais: perder-se na multidão para impregnála de divino, como se ensopa um pedaço de pão no vinho. E diria ainda mais: feitos partícipes dos desígnios de Deus sobre a humanidade, traçar sobre a multidão desenhos de luz, e, ao mesmo tempo, dividir com o próximo a vergonha, a fome, os ultrajes, as alegrias fugazes». A fraternidade universal, um projeto global que passa através da dimensão local. E não por acaso, com o passar dos anos, sob o impulso da fundadora, nasceram verdadeiras “operações urbanas”, começando justamente de Trento ardente, Roma amor, Praga de ouro, Fontem real. E o mesmo aconteceu em Londres, Washington, Gênova, onde, em diversos momentos, Chiara indicou quase uma “vocação” típica daquela cidade, uma maneira diferente e específica para os membros do Movimento, de realizar a unidade.

Significativo um “sonho”, que Chiara mesma confidenciou aos mais próximos, durante uma viagem a Fontem, em maio de 2000. Os que estavam presentes recordam a emoção da fundadora dos Focolares – o que acontecia raramente – ao exprimi-lo: «E qual o meu último desejo agora e por enquanto? Gostaria que a Obra de Maria, no final dos tempos, quando estiver à espera de comparecer diante de Jesus Abandonado-Ressuscitado, em bloco, pudesse repetir-lhe – fazendo eco às palavras do teólogo belga Jacques Leclercq, que sempre me comovem: “No teu dia, meu Deus, caminharei em tua direção… Caminharei em tua direção, meu Deus (…) e com o meu sonho mais desvairado: levar para ti o mundo em meus braços. «Pai que todos sejam um!».

Um povo Respondendo a uma jornalista que lhe perguntou como o Movimento era articulado, Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, fez questão de precisar: «Antes de falar da estrutura do Movimento, dos seus setores, etc., gostaria de dizer que todos nós o vemos, antes de tudo, como uma entidade única, uma coisa só, uma realidade que atua em si mesma a mensagem que, depois, deve levar ao mundo: a unidade. Nós nos sentimos realmente nós mesmos quando somos vistos assim. Porque somos uma coisa só. João Paulo II nos vê desse modo, quando diz (considerando também o número de pessoas): “Vocês são um povo”. É isto, é exatamente assim o Movimento, um povo ou uma porção de Igreja. As diferenças vêm depois. Elas consistem em vocações diferentes uma da outra, em funções diferentes, para chegar ao mesmo fim».

Nas Mariápolis de 1959, com participantes dos cinco continentes, Chiara exprimiu-se assim: «Se um dia os povos souberem pospor a si mesmos, a ideia que tem da sua pátria, os seus reinados, e oferecê-los como incenso ao Senhor, rei de um reino que não é deste mundo, guia da história, (…) aquele dia será o início de uma era nova ».

Se é difícil quantificar o número de pessoas tocadas pelo ideal da unidade, inclusive através dos meios de comunicação, é verdade também que, com o passar dos anos, ao redor dos membros diretamente envolvidos, foram se desenvolvendo movimentos com uma larga difusão. Chiara Lubich explicava assim: «Sendo que cada pessoa, cada categoria no Movimento, possui um impulso a difundir essa vida, com a própria vida, espontaneamente, eu diria, formou-se um vasto circulo de pessoas ao redor dos membros mais empenhados, atraídas pelo seu testemunho». Foi assim que, ao redor dos focolarinos casados nasceu o Movimento Famílias Novas; ao redor dos voluntários e das voluntárias desenvolveu-se Humanidade Nova; dos gen surgiram os Jovens por um Mundo Unido e o Movimento Juvenil pela Unidade. Dos sacerdotes diocesanos, membros dos Focolares, nasceu um amplo Movimento Sacerdotal; ao redor da vida das paróquias e das dioceses floresceram o Movimento Paroquial e o Movimento diocesano, animados por sacerdotes, seminaristas, religiosos e leigos, das várias ramificações do Movimento dos Focolares; enquanto os religiosos, movidos pelo ideal da unidade, suscitaram o Movimento dos religiosos e das religiosas, também no setor juvenil, com os gen-re.

Chiara Lubich e o seu Movimento continuam a operar pelo advento desta nova hora da humanidade, em caminho rumo à fraternidade.

“Parte essencial da nossa Obra – Chiara escreveu em 1979 – são os aderentes”. São cerca de dois milhões de pessoas que, embora não chamadas a uma particular vocação,

«Se numa cidade se ateasse o fogo em vários pontos – escrevia – mesmo um fogo brando, mas que resistisse a todas as intempéries, em pouco tempo a cidade seria incendiada». Um fogo sobrenatural, «triunfo de Deus» em almas «unidas entre si», que «são uma potência divina no mundo». Uma possibilidade ao alcance de todos: «Em cada cidade essas pessoas podem surgir nas famílias: pai e mãe, filho e pai, nora e sogra; podem se achar nas paróquias, nas associações, nas agremiações humanas, nas escolas, nos escritórios, em toda parte. Não é necessário que já sejam santas, porque Jesus o teria dito». Mas, «uma cidade não basta», escreverá mais tarde: «Ele é quem fez as estrelas, que dirige os destinos dos séculos. Concilia-te com Ele e mira mais longe: à tua pátria, à pátria de todos, ao mundo. Cada respiro teu seja para isto, para isto, cada gesto teu; para isto o teu repouso e o teu caminhar».


procuram realizar o ideal da unidade em seu próprio ambiente. Partilham o espírito e as finalidades do Movimento e participam de suas atividades. Enfim, os simpatizantes estimam e amam ainda que somente algum aspecto do Movimento, sustentando-o com a oração e ajudas e todo tipo. Este povo, difundido no mundo inteiro, ultrapassou os confins da Igreja católica e conta, no seu interno, com cristãos de outras Igrejas e comunidades eclesiais, seguidores de outras religiões e pessoas sem um referencial religioso. Cada um adere ao Movimento, partilhando o seu objetivo e espírito, na fidelidade à própria Igreja, fé e consciência. Para explicar a composição multiforme desse povo, Chiara usava uma comparação eficaz. Recordava uma imagem de Nossa Senhora presente em muitas igrejas medievais. Com o seu manto Ela «envolve e protege castelos e igrejas, artesãos e monges, bispos e mães de família, ricos e pobres, enfim, uma cidade com todos os seus habitantes», e apresentando tal imagem como um modo de representar a maternidade universal de Maria, Chiara completava: «Pois bem, aqui existe algo semelhante. Ao invés de um grande afresco, o Movimento é uma cópia vivente daquela imagem, daquela realidade. De modo semelhante à Maria, esta Sua Obra é como um manto que reúne porções de Igreja e de humanidade, porque recebeu de Deus o dom de fazer deles uma família. É um dom, um carisma, que, como foi dito, faz com que a Obra se assemelhe a Maria, na sua função materna e unificadora».

Escolhas e Compromisso Um povo com uma história, uma organização, uma composição. E um coração, que constitui o órgão central do corpo inteiro, assim como acontece nos organismos humanos, No coração do Movimento dos Focolares estão aqueles que o fizeram nascer, os focolarinos e as focolarinas, que em várias ocasiões foram definidos pela própria fundadora «guardiães da chama do amor de Deus e do próximo». Vivem em pequenas comunidades, masculinas ou femininas, os chamados «focolares», deixaram «pai, mãe, filhos e campos» para seguir Deus e colocar-se completamente à disposição do Movimento, no mundo inteiro. Segundo as próprias possibilidades, mas em igual dignidade, fazem parte do focolare também pessoas casadas, chamadas a uma doação total a Deus, embora conservando todos os empenhos e deveres do próprio estado. Num Movimento de natureza leiga não podiam faltar vocações que exprimem essa característica. Leigos são os focolarinos, pessoas consagradas que também trabalham e vivem imersas no mundo, enquanto que os voluntários e as voluntárias são homens e mulheres que assumiram o chamado à santidade e se empenham em animar e renovar evangelicamente o tecido social, com o próprio testemunho no mundo familiar, profissional, político.

Parte ativa do Movimento dos Focolares são os gen, jovens, adolescentes e crianças, aos quais Chiara Lubich jamais hesitou em apresentar o ideal da unidade integralmente, solicitando e suscitando uma resposta totalitária. Presentes desde os primórdios, em Trento, religiosos e religiosas das mais diferentes ordens, contemplativas e de vida ativa, dos mais antigos aos mais recentes carismas, acolheram e fizeram própria a espiritualidade da unidade, recebendo dela uma nova compreensão do próprio fundador e tornando-se instrumentos de unidade e, amiúde, de renovação, dentro das comunidades às quais pertencem. Também sacerdotes, diáconos e seminaristas diocesanos assumiram a espiritualidade que anima o Movimento dos Focolares e tornaram-se promotores dela, das mais variadas formas. Homens a serviço de todos – foram definidos por Chiara Lubich – indicando o lava-pés como modelo de seus ministérios. Desde 1977, bispos tocados pela espiritualidade de comunhão empreenderam um caminho espiritual, concorrendo na realização da «colegialidade efetiva e afetiva», com o Papa, entre eles e com outros bispos, auspiciada pelo Concílio Vaticano II e solicitada pelos pontífices.

Organização «A mútua e continua caridade que torna possível a unidade e traz a presença de Jesus na coletividade, é, para as pessoas que fazem parte da Obra de Maria, a base de suas vidas em todos os seus aspectos: é a norma das normas, a premissa de qualquer outra regra». Chiara Lubich Esta premissa encontra-se na primeira página dos Estatutos e dos Regulamentos que delineiam a vida do Movimento no seu conjunto e em suas várias ramificações. Na «mútua e contínua caridade», portanto, vivida e alimentada, está o sentido e o estilo do governo no Movimento dos Focolares. O Movimento, difundido no mundo inteiro, possui uma articulação territorial, organizada em “regiões”. A Assembleia geral reúne-se a cada seis anos para a eleição da presidente, do copresidente e dos conselheiros do Centro da Obra. A este órgão compete a deliberação sobre modificações nos Estatutos gerais, nos Regulamentos dos setores e sobre a aprovação de outros regulamentos que se façam necessários. O Centro da Obra compreende a presidente, o copresidente, os conselheiros eleitos pela Assembleia geral. Tem a responsabilidade de garantir e incrementar a unidade em toda a Obra, direcionando-a à realização de seus objetivos e cuidando da coordenação entre as suas partes.

A presidente. Como fixado nos Estatutos, o Movimento será sempre presidido por uma mulher. Isto para sublinhar o seu perfil mariano e a sua conotação prevalentemente leiga, e deste modo “conservar o desígnio que Deus teve sobre ele, por ter confiado seu início e desenvolvimento a uma mulher”. Como está escrito nos Estatutos, “a sua será acima de tudo uma


presidência da caridade, porque deverá ser a primeira a amar, isto é, a servir os próprios irmãos, recordando as palavras de Jesus: “… aquele de quiser ser o primeiro dentre vós seja o servo de todos” (Mc 10,44). A presidente atual é Maria Voce, eleita pela Assembleia geral em julho de 2008 e novamente confirmada, dia 12 de setembro de 2014, para o segundo mandato consecutivo. Copresidente. Os Estatutos estabelecem que o copresidente seja escolhido entre os sacerdotes membros da seção dos focolarinos. Faz parte de seus encargos “garantir que a vida interna e as atividades da Obra de Maria estejam em confor-midade com a fé, a moral e a disciplina da Igreja”. Acompanha também, com uma atenção especial, o setor dos sacerdotes e diáconos diocesanos, dos jovens que se preparam ao sacerdócio e o setor dos membros masculinos dos institutos de vida consagrada. O copresidente atual é Jesús Morán Cepedano, eleito pela Assembleia Geral no dia 13 de setembro de 2014. Conselho geral. Fazem parte do Conselho geral os membros do Centro da Obra aos quais acrescentam-se os responsáveis centrais das secretarias para os objetivos específicos, os responsáveis centrais dos setores e dos movimentos de amplo alcance. Tem funções consultivas e deliberativas regularizadas pelos Estatutos gerais, mas sua principal incumbência é voltada à manutenção e incremento do espírito de unidade, em todos e entre todos os componentes do Movimento. Território. O Movimento possui uma própria configuração geográfica, a qual permite que seu desenvolvimento seja adequado às características e possibilidades de cada território. Presente atualmente em 182 países, articula-se em “regiões”, entendidas como “locais” (em alguns casos, determinadas áreas geográficas, em outros, nações inteiras) nos quais o Movimento encontra-se estruturado no seu conjunto. Para cada “região” a presidente nomeia como seus delegados uma focolarina e um focolarino, que tem a responsabilidade pela vida e as atividades daquele território, com um conselho regional. Cada região é forma-da por diversos centros ou focolares (femininos e masculinos), os quais, com um conselho local, promovem a difusão de todos os aspectos e obras existentes no Movimento. Coligada a eles, e presente em todo o território, existe enfim uma rede de comunidades locais, compostas por pessoas de todas as idades, que atuam nos vários âmbitos da sociedade, para testemunhar, no lugar onde estão, a unidade e os valores do Evangelho. Fonte: http://www.focolare.org/pt/movimento-dei-focolari/organizzazione/

REGIONAL SUL 2

Bispo Referencial Dom Antônio Braz Benevente dombenevente@hotmail.com

Casal coordenador José Lafaete Fernandes dos Santos e

Maria Aparecida Vasco dos Santos pastoral.familiar2009@hotmail.com

Assessor Regional Diác.Juares Celso Krum jckrum@gmail.com

PRIORIDADE

Realizar a preparação para o matrimonio de forma personalizada, com agentes previamente preparados nos temas a serem trabalhados com os noivos, seguido de acompanhamento de casais recém-casados até 5(cinco) anos


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