Boletim Pastoral Familiar - Agosto 2016

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IX

AGOSTO/2016

Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina e Bispo Referencial da Pastoral Familiar do Regional Sul 2/ CNBB

 Nesta Edição  01 – Ser Pai 03 – Catequeses 59 a 62 do Papa João Paulo II – Teologia do Corpo 09 – Vocação Sacerdotal e Família 15 – Os Dez Mandamentos do eleitor 16 – Encontro no Setor 2 aborda o acompanhamento dos recémcasados em S.J.Pinhais

17 – O começo da vida 18 – 7 perguntas p/o pediatra Daniel Becker: “Seu filho deve aprender que não é o centro do mundoi” 22 – Fim da “reforma da reforma” o que isso significa? 29 – Amor & Relação

Saudação e parabéns aos pais pelo seu dia. Nunca foi fácil ser pai. Pelo contrário, cada vez mais se clama pela presença do pai, seu abraço, seu carinho, seu elogio, seu exemplo, sua fé. O pai é indispensável para o equilíbrio da família e da sociedade. Não é figura descartável. Pai ausente, filho carente. Pai autoritário, filho revoltado. Pai fraco, filho efeminado. Pai ateu, filho

incrédulo. Pai profissional, filho consumista. A depreciação do pai leva à depreciação de nós mesmos. Isso gera a desordem interna e depois a social.

A experiência paterna positiva impulsiona os filhos à abertura para o mundo, à segurança sexual e afetiva, à objetividade e afirmação de si, à fascinação pela vida. "Quero ser como o pai".


Eis o resultado da experiência paterna positiva. Sim, o pai positivo, é fonte de identificação, energia, criatividade, racionalidade. Eis aí o pai modelo, herói, fascinante, verdadeiro suporte das tendências progressivas e do relacionamento sadio com Deus, nosso pai. Quanto medo de Deus, por causa do patriarcalismo e machismo dos pais. Hoje, os pais estão sendo consumidos pelo trabalho. Não lhes sobra tempo para a família. Crescem como profissionais e fracassam como pais, sofrendo com a rebeldia dos filhos e a separação conjugal. O sucesso profissional, não garante a felicidade dos filhos. É preciso preparar-se para a missão de ser pai. Não basta ter maturidade física. Pai não é apenas um reprodutor. Dar carinho é um aprendizado. Ser pai-presença, paitemura, pai-colo, pai de joelhos, pai ao lado da mãe, para dar identidade e equilíbrio aos filhos. Muitos pais falham no relacionamento com os filhos, não por falta de amor, mas por "erros de amor", sufocando os filhos com presentes, com superproteção, com falta de disciplina, com ausência de limites. Ser bom pai, não é ser perfeito, nem ser permissivo, muito menos ser árbitro de tudo. Mas, ter auto-estima e expressar ternura, dar orientação, ter tempo, seguir a religião, valorizar a família. O que alimenta o ser humano é o afeto e a fé. O consumismo esvazia, empobrece, adoece, enlouquece. A maior empresa de um pai é a família. Ele não pode abdicar dessa missão. Nossos pais não são deuses, são

pessoas de carne e osso que também precisam de afeto, compreensão, ajuda e perdão. O comportamento dos filhos afeta profundamente a seus pais. Eles precisam de apoio, porém devem aceitar receber ajuda. Quem não fica fascinado vendo o pai de mãos dadas com a mãe? O pai com o filho no colo? O pai de joelhos? O pai presente na comunidade civil e religiosa? É doloroso e frustrante porém, ver o pai desempregado, saindo com mulheres, bebendo no bar, chegando de madrugada das farras, grudado na televisão, jornal; alisando seu automóvel sem nunca tocar afetivamente seus filhos e esposa. Não podemos exigir que nossos pais sejam onipotentes. Não é aconselhável que eles abdiquem de sua missão, nem se refugiem na culpa. É possível recomeçar, reaprender, regenerar. Aos nossos pais demos cinco presentes: perdão, reconhecimento, aceitação, confirmação e amor.

Dom Orlando Brandes Arcebispo de Londrina


59ª. Catequese Pedagogia do corpo, ordem moral e manifestações afetivas

Convém-nos agora concluir as reflexões e as análises baseadas nas palavras ditas por Cristo no Sermão da Montanha, com que se referiu ao coração humano, exortando-o à pureza: “Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração”i. Dissemos repetidamente que estas palavras, escutadas uma vez pelos ouvintes, em número limitado, daquele Sermão, se referem ao homem de todos os tempos e lugares, e fazem apelo ao coração humano, em que se inscreve a mais interior e, em certo sentido, a mais essencial trama da história. É a história do bem e do mal (cujo início está ligado, no Livro do Génesis, com a misteriosa árvore do conhecimento do bem e do mal) e, ao mesmo tempo, é a história da salvação, cuja palavra é o Evangelho e cuja força é o Espírito Santo, dado àqueles que recebem o Evangelho com o coração sincero.

Se o apelo de Cristo ao “coração” humano e, ainda antes, a sua referência ao “princípio” nos consentem construir ou pelo menos esboçar uma antropologia, que podemos chamar “teologia do corpo”, tal teologia é, ao mesmo tempo, pedagogia. A pedagogia tende a educar o homem, pondo diante dele as exigências, motivando-as, e indicando os caminhos que levam às realizações delas. Os enunciados de Cristo têm também este fim: são enunciados “pedagógicos”. Contêm uma pedadogia do corpo, expressa de modo conciso e, ao mesmo tempo, o mais possível completo. Quer a resposta dada aos fariseus quanto à indissolubilidade do matrimónio, quer as palavras do Sermão da Montanha a respeito do domínio da concupiscência, demonstram — pelo menos indiretamente — ter o Criador assinalado como característica do homem o corpo, a sua masculinidade e feminilidade; e que na masculinidade e feminilidade lhe assinalou em certo sentido como característica a sua humanidade, a dignidade da pessoa, e também o sinal transparente da “comunhão” interpessoal, em que o homem mesmo se realiza através do autêntico dom de si. Pondo diante do homem as inteligências conformes às características a ele confiadas, o Criador indica simultaneamente ao homem,

varão e mulher, os caminhos que levam a assumi-las e a realizá-las.

Analisando estes textos-chaves da Bíblia, até à raiz mesma dos significados que encerram, descobrimos precisamente aquela antropologia que pode ser denominada “teologia do corpo”. E é esta teologia do corpo que funda depois o mais apropriado método da pedagogia do corpo, isto é, da educação (melhor, da autoeducação) do homem. O que adquire particular atualidade para o homem contemporâneo, cuja ciência no campo da biofisiologia e da biomedicina muito progrediu. Todavia, esta ciência trata o homem sob determinado “aspecto” e, portanto, é mais parcial que global. Conhecemos bem as funções do corpo como organismo, as funções ligadas com a masculinidade e a feminilidade da pessoa humana. Mas tal ciência, de per si, não desenvolve ainda a consciência do corpo como sinal da pessoa, como manifestação de espírito. Todo o desenvolvimento da ciência contemporânea, relativo ao corpo como organismo, tem sobretudo o caráter do conhecimento biológico, porque é baseado na separação, no interior do homem, entre aquilo que é nele corpóreo e aquilo que é espiritual. Quem se serve de um conhecimento tão unilateral das funções do corpo como organismo, não é difícil que chegue a tratar o corpo, de modo mais ou menos sistemático, como objeto de manipulações; em tal caso o homem cessa, por assim dizer, de identificar-se subjetivamente com o próprio corpo, porque privado do significado e da dignidade derivantes de este corpo ser próprio da pessoa. Encontramo-nos aqui no limite de problemas, que muitas vezes exigem soluções fundamentais, impossíveis sem uma visão integral do homem.

Precisamente aqui vê-se claro que a teologia do corpo, como a deduzimos desses textos-chaves das palavras de Cristo, se torna o método fundamental da pedagogia, ou seja, da educação do homem do ponto de vista do corpo, na plena consideração da sua masculinidade e feminilidade. Aquela pedagogia pode ser entendida sob o aspecto de uma própria “espiritualidade do corpo“; o corpo, de facto, na sua masculinidade ou feminilidade, é dado como encargo ao espírito humano (o que de maneira estupenda foi expresso por São Paulo na linguagem que lhe é própria) e por meio de uma adequada maturidade do espírito torna-se, também ele, sinal da pessoa, de que a pessoa está consciente, e autêntica “matéria” na comunhão das pessoas. Por outras palavras: o homem, através da sua maturidade espiritual, descobre o significado esponsal, próprio do corpo. As palavras de Cristo no Sermão da Montanha


indicam que a concupiscência, de per si, não desvela ao homem aquele significado, antes pelo contrário, o ofusca e obscurece. O conhecimento puramente “biológico” das funções do corpo como organismo, relacionadas com a masculinidade e feminilidade da pessoa humana, só é capaz de ajudar a descobrir o autêntico significado esponsal do corpo se caminha a par e passo com uma adequada maturidade espiritual da pessoa humana. Sem isto, tal conhecimento pode ter efeitos absolutamente opostos; isto é confirmado por múltiplas experiências do nosso tempo.

Deste ponto de vista, é necessário considerar com perspicácia as enunciações da Igreja contemporânea. Uma adequada compreensão e interpretação delas, como também a sua aplicação prática (isto é, precisamente, a pedagogia), requer aquela aprofundada teologia do corpo que, afinal, deduzimos sobretudo das palavras-chaves de Cristo. Quanto às enunciações contemporâneas da Igreja, é necessário tomar conhecimento do capítulo entitulado “Dignidade do Matrimónio e da Família e sua valorização”, da Constituição pastoral do Concílio Vaticano II (Gaudium et spes, parte II, c. I) e, em seguida, da Encíclica Humanae vitae de Paulo VI. Sem qualquer dúvida, as palavras de Cristo, a cuja análise dedicamos muito espaço, tinham como fim, apenas, a valorização da dignidade do matrimónio e da família; daí a fundamental convergência entre elas e o conteúdo de ambas as enunciações mencionadas, da Igreja contemporânea. Cristo falava ao homem de todos os tempos e lugares; as enunciações da Igreja tendem a atualizar as palavras de Cristo, e por isso devem ser relidas segundo os princípios daquela teologia e daquela pedagogia que nas palavras de Cristo encontram raiz e apoio. É difícil realizar aqui uma análise global das citadas enunciações do magistério supremo da Igreja. Limitar-nos-emos a referir algumas passagens. Eis de que modo o Vaticano II — pondo entre os mais urgentes problemas da Igreja no mundo contemporâneo “a valorização da dignidade do matrimónio e da família” — caracteriza a situação existente neste campo: “A dignidade desta instituição (isto é, do matrimónio e da família) não resplandece em toda a parte com igual brilho. Encontra-se obscurecida pela poligamia, pela epidemia do divórcio, pelo chamado amor livre e por outras deformações. Além disso, o amor conjugal é muitas vezes profanado pelo egoísmo, pelo amor do prazer e pelas práticas ilícitas contra a geração”ii. Paulo VI, expondo na Encíclica Humanae vitae este último problema, escreve entre outras coisas: “Pode-se ainda temer que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito da mulher e (…) chegue a considerá-la como simples instrumento de gozo egoísta e não já como sua companheira respeitada e amada” iii. Não nos encontramos, porventura, aqui na órbita da mesma solicitude, que uma vez ditara as palavras de Cristo sobre a unidade e a indissolubilidade do matrimónio, como também as do Sermão da Montanha, relativas à pureza do coração e ao domínio da concupiscência da carne, palavras desenvolvidas mais tarde com tanta perspicácia pelo Apóstolo Paulo?

No mesmo espírito, o Autor da Encíclica Humanae vitae, falando das exigências próprias da moral cristã, apresenta, ao mesmo tempo, a possibilidade de cumpri-las, quando escreve: “O domínio do instinto, mediante a razão e a vontade

livre, impõe indubitavelmente uma ascese — Paulo VI usa este termo — para que as manifestações afetivas da vida conjugal sejam segundo a reta ordem e em particular para que se observe a continência periódica. Mas esta disciplina, própria da pureza dos esposos, bem longe de prejudicar o amor conjugal, confere-lhe, pelo contrário, mais alto valor humano. Exige contínuo esforço (precisamente esse esforço foi chamado acima “ascese”), mas graças ao seu benéfico influxo os cônjuges desenvolvem integralmente a sua personalidade enriquecendo-se de valores espirituais. Ela… favorece a atenção para com o outro cônjuge, ajuda os esposos a banir o egoísmo, inimigo do verdadeiro amor, e aprofunda o seu sentido de responsabilidade…”iv.

Contentemo-nos com estas poucas passagens. Elas — particularmente a última — demonstram de maneira clara quanto é indispensável, para uma adequada compreensão do magistério da Igreja contemporânea, aquela teologia do corpo, cuja base procuramos sobretudo nas palavras do próprio Cristo. É exatamente esta — como já dissemos — que se torna o método fundamental de toda a pedagogia cristã do corpo. Fazendo referência às palavras citadas, pode-se afirmar que o fim da pedagogia do corpo está precisamente em fazer que “as manifestações afetivas” — sobretudo as “próprias da vida conjugal” — sejam conformes à ordem moral, numa palavra, à dignidade das pessoas. Nestas palavras volta o problema da recíproca relação entre o eros e o ethos, de que já tratamos. A teologia, entendida como método da pedagogia, prepara-nos também para as novas reflexões sobre a sacramentalidade da vida humana e, em particular, da vida matrimonial. O Evangelho da pureza do coração, ontem e hoje: concluindo nós com esta frase o presente ciclo das nossas considerações — antes de passar ao ciclo sucessivo, em que a base das análises serão as palavras de Cristo sobre a ressurreição do corpo — , desejamos ainda dedicar um pouco de atenção à “necessidade de criar clima favorável para a educação da castidade”, de que trata a Encíclica de Paulo VIv, e queremos centrar estas observações sobre o problema do ethos do corpo nas obras da cultura artística, com particular referência às situações que encontramos na vida contemporânea. _______________________________________ i Mt 5, 27-28. ii Gaudium et spes, 47. iii Humanae vitae, 17. iv Humanae vitae, 21. v Cf. Humanae vitae, 22.

60ª. Catequese O corpo humano “tema” das obras de arte

Nas nossas precedentes reflexões — quer relativamente às palavras de Cristo, em que Ele faz referência ao “princípio”, quer relativamente ao Sermão da Montanha, isto é, quando Ele se refere ao “coração” humano — procuramos, de modo sistemático, levar a que se veja


como a dimensão da subjetividade pessoal do homem é elemento indispensável presente na hermenêutica teológica, que devemos descobrir e pressupor nas bases do problema do corpo humano. Portanto, não só a realidade objetiva do corpo, mas ainda muito mais, segundo parece, a consciência subjetiva e também a “experiência” subjetiva do corpo entram, a cada passo, na estrutura dos textos bíblicos, e por isso requerem ser tomados em consideração e encontrarem reflexo na teologia. Por conseguinte, a hermenêutica teológica deve ter sempre em conta estes dois aspectos. Não podemos considerar o corpo como realidade objetiva fora da subjetividade pessoal do homem, dos seres humanos: homens e mulheres. Quase todos os problemas do “ethos do corpo” estão ligados ao mesmo tempo à sua identificação ontológica como corpo da pessoa, e ao conteúdo e qualidade da experiência subjetiva, isto é, ao mesmo tempo, do “viver” quer do próprio corpo quer nas relações interhumanas, e em particular nesta perene relação “homemmulher”. Também as palavras da primeira Epístola aos Tessalonicenses, em que o Autor exorta a “manter o próprio corpo com santidade e respeito” (isto é, todo o problema da “pureza de coração”) indicam, sem qualquer dúvida, estas duas dimensões.

São dimensões que dizem respeito diretamente aos homens concretos, vivos, às suas atitudes e aos seus comportamentos. As obras da cultura, especialmente da arte, fazem que aquelas dimensões, de “ser corpo” e de “experimentar o corpo”, se escondam, em certo sentido, para fora destes homens vivos. O homem encontra-se com a “realidade do corpo” e “experimenta o corpo” também quando este se torna tema da atividade criativa, obra de arte e conteúdo da cultura. Em princípio, é necessário reconhecer que este contato se dá no plano da experiência estética, em que se trata de contemplar a obra de arte (em grego aisthánomai: olho, observo). E é necessário reconhecer, portanto, no caso determinado, que se trata do corpo objetivado, fora da sua identidade ontológica, de modo diverso e segundo os critérios próprios da atividade artística. Todavia, o homem, que é admitido a ter esta visão, está a priori demasiado profundamente ligado ao significado do protótipo, ou modelo, que neste caso é ele próprio — o homem vivo e o vivo corpo humano. Está demasiado profundamente ligado para poder arrancar e separar completamente aquele ato, substancialmente estético, da obra em si e da sua contemplação, arrancando-a e separando-a daqueles dinamismos ou reações de comportamento e das valorizações, que dirigem aquela primeira experiência e aquele modo de viver. Este olhar, por sua natureza, “estético“, não pode, na consciência subjetiva do homem, ser totalmente isolado daquele “olhar” de que fala Cristo no Sermão da Montanha: pondo em guarda contra a concupiscência.

Assim, pois, a esfera inteira das experiências estéticas encontra-se, ao mesmo tempo, no âmbito do ethos do corpo. Justamente, portanto, é necessário pensar também aqui nas necessidades de criar clima favorável à pureza; este clima pode, de facto, ser ameaçado não só no modo mesmo em que decorrem as relações e convivência dos homens vivos, mas também no âmbito das objetivações próprias das obras de cultura, no âmbito das comunicações sociais: quando se trata da palavra viva ou escrita; no âmbito da imagem, isto é, da representação e da visão, quer no significado tradicional deste termo quer no contemporâneo. Deste modo, atingimos os diversos campos e produtos da cultura artística, plástica, de espetáculo, também a que se baseia nas técnicas audiovisuais contemporâneas. Neste campo, vasto e bem diferenciado, é necessário que nos ponhamos uma pergunta à luz do ethos do corpo, delineado nas análises até agora realizadas, sobre o corpo humano como objeto da cultura.

Antes de tudo, observa-se que o corpo humano é perene objeto de cultura, no mais vasto significado do termo, pela simples razão de o homem mesmo ser sujeito de cultura e, na sua atividade cultural e criativa, empenhar a sua humanidade, incluindo por isso nesta atividade também o seu corpo. Nas presentes reflexões, devemos, porém, restringir o conceito de “objeto de cultura”, limitando-nos ao conceito entendido como “tema” das obras de cultura e em particular das obras de arte. Trata-se, numa palavra, da tematização, ou da “objetivação”, do corpo em tais obras. Todavia, é necessário fazer aqui desde já algumas distinções, mesmo que seja à maneira de exemplo. Uma coisa é o corpo vivo humano: do homem e da mulher, que de per si cria o objeto de arte e a obra de arte (como, por exemplo, no teatro, no bailado e, até certo ponto, também durante um concerto), e outra coisa é o corpo como modelo da obra de arte, como nas artes plásticas, escultura ou pintura. É possível colocar ao mesmo nível também o filme ou a arte fotográfica em sentido lato? Parece que sim, embora do ponto de vista do corpo, qual objeto-tema, se verifique nesse caso uma diferença bastante essencial. Na pintura ou escultura, o homem-corpo continua sempre a ser modelo, submetido à específica elaboração por parte do artista. No filme, e ainda mais na arte fotográfica, não é o modelo que é transfigurado, mas é reproduzido o homem vivo: e em tal caso o homem, o corpo humano, não é modelo da obra de arte, mas objeto de uma reprodução obtida mediante técnicas apropriadas.

É necessário notar, desde já, que a mencionada distinção é importante do ponto de vista do ethos do corpo, nas obras de cultura. E acrescenta-se imediatamente que a reprodução artística, quando se torna conteúdo da representação e da transmissão (televisiva ou cinematográfi-


ca), perde, em certo sentido, o seu contato fundamental com o homem-corpo, de que é reprodução, e muitas vezes torna-se objeto “anónimo”, assim como é, por exemplo, um anonimato fotografado, publicado nas revistas ilustradas, ou uma imagem difundida nos alvos de todo o mundo. Tal anonimato é o efeito da “propagação” da imagem-reprodução do corpo humano, objetivizado primeiro com a ajuda das técnicas de reprodução, que — como foi acima recordado — parece diferenciar-se essencialmente da transfiguração do modelo típico da obra de arte, sobretudo nas artes plásticas. Ora, tal anonimato (que, por outro lado, é modo de “velar” ou “esconder” a identidade da pessoa reproduzida), constitui também um problema específico do ponto de vista do ethos do corpo humano nas obras de cultura e particularmente nas obras contemporâneas da chamada cultura de massa. Limitemo-nos, hoje, a estas considerações preliminares, que têm significado fundamental para o ethos do corpo humano nas obras da cultura artística. Em seguida, estas considerações tornar-nos-ão conscientes de quanto elas estão intimamente ligadas às palavras, que pronunciou Cristo no Sermão da Montanha, comparando o “olhar desejando” com o “adultério cometido no coração”. A extensão destas palavras ao âmbito da cultura artística é de particular importância, pois se trata de “criar um clima favorável à castidade” de que fala Paulo VI na Encíclica Humanae vitae. Procuremos compreender este assunto de modo muito apropriado e essencial. 61ª. Catequese A obra de arte deve sempre observar a normatividade do dom e do recíproco dar-se

Reflitamos agora — em relação com as palavras de Cristo pronunciadas no Sermão da Montanha — sobre o problema do ethos do corpo humano nas obras da cultura artística. Este problema tem raízes muito profundas. Convém aqui recordar a série de análises operadas em relação com o apelo de Cristo para o “princípio”, e sucessivamente para o apelo por Ele feito ao “coração” humano, no Sermão da Montanha. O corpo humano — o nu corpo humano em toda a verdade da sua masculinidade e feminilidade — tem um significado de dom da pessoa à pessoa. O ethos do corpo, isto é, a regularidade ética da sua nudez, está por motivo da dignidade do sujeito pessoal, intimamente ligado àquele sistema de referência, entendido como sistema esponsal. Neste, o dar de uma parte encontra-se com a apropriada e adequada resposta da outra ao dom. Esta resposta decide da reciprocidade do dom. A objetivação artística do corpo humano na sua nudez masculina e feminina, com o fim de fazer dele, primeiro, o modelo e, depois, tema da obra de arte, é sempre certa transferência para fora desta configuração original e para ele específica da doação

interpessoal. Isto constitui, em certo sentido, um desenraizar do corpo humano para fora desta configuração e um transferi-lo para a medida da objetivação artística; dimensão específica da obra de arte ou da reprodução típica das técnicas cinematográficas e fotográficas do nosso tempo. Em cada uma destas dimensões — e em cada uma de modo diverso — o corpo humano perde aquele significado profundamente subjetivo do dom, e torna-se objeto destinado a um múltiplo conhecimento, mediante o qual os que olham para ele, assimilam ou mesmo, em certo sentido, se assenhoreiam do que evidentemente existe — mais, deve existir essencialmente a nível de dom, feito de pessoa a pessoa — não já na imagem mas no homem vivo. Para dizer a verdade, aquele “assenhorear-se” realiza-se já a outro nível — isto é, ao nível do objeto da transfiguração ou reprodução artística. Todavia, é impossível não reparar em que, do ponto de vista do ethos do corpo, profundamente entendido, surge aqui um problema. Problema muito delicado, que tem os seus níveis de intensidade conforme os vários motivos e circunstâncias, quer por parte da atividade artística, quer por parte do conhecimento da obra de arte ou da sua reprodução. De que se ponha este problema não resulta, de facto, que o corpo humano, na sua nudez, não possa tornar-se tema da obra de arte, mas só que este problema não é puramente estético nem moralmente indiferente.

Nas nossas precedentes análises (sobretudo em relação com apelar Cristo para o “princípio”), dedicamos muito espaço ao significado da vergonha, esforçando-nos por compreender a diferença entre a situação — e o estado — da inocência original, em que “estavam ambos nus… mas não sentiam vergonha”i e, sucessivamente, entre a situação — e o estado — da pecaminosidade em que entre o homem e a mulher nasceu, juntamente com a vergonha, a específica necessidade da intimidade para com o próprio corpo. No coração do homem sujeito à concupiscência, serve esta necessidade, também indiretamente, para assegurar o dom e a possibilidade do darse recíproco. Tal necessidade forma também o modo de operar do homem como “objeto da cultura”, no mais amplo significado do termo. Se a cultura mostra tendência explícita para cobrir a nudez do corpo humano, certamente fá-lo não só por motivos climáticos, mas também em relação com o processo de crescimento da sensibilidade pessoal do homem. A anónima nudez do homem-objeto contrasta com o progresso da cultura autenticamente humana dos costumes. Provavelmente é possível confirmar isto, mesmo na vida das populações chamadas primitivas. O processo de aperfeiçoar a pessoal sensibilidade humana é certamente fator e fruto da cultura. Por trás da necessidade da vergonha, isto é, da intimidade do próprio corpo (sobre o qual informam com tanta


precisão as fontes bíblicas em Gn 3), esconde-se uma norma mais profunda: a do dom, orientada para as profundidades mesmas do sujeito pessoal e para a outra pessoa — especialmente na relação homem-mulher segundo a perene regularidade do dar-se recíproco. De tal modo, nos processos da cultura humana, entendida em sentido lato, verificamos — mesmo no estado da pecaminosidade hereditária do homem — uma continuidade bastante explícita do significado esponsal do corpo na sua masculinidade e feminilidade. Aquela vergonha original, conhecida já pelos primeiros capítulos da Bíblia, é elemento permanente da cultura e dos costumes. Pertence à gênese do ethos do corpo humano.

O homem de sensibilidade desenvolvida ultrapassa, com dificuldade e resistência interior, o limite daquela vergonha. O que se evidencia mesmo nas situações, que por outro lado são justificadas pela necessidade de despir o corpo, como, por exemplo, no caso dos exames ou das intervenções médicas. Em particular, é necessário também recordar outras circunstâncias, como por exemplo as dos campos de concentração ou dos locais de extermínio, onde a violação do pudor corpóreo é método conscientemente usado para destruir a sensibilidade pessoal e o sentimento da dignidade humana. Em toda a parte — embora de maneiras diversas — reconfirma-se a mesma linha de regularidade. Seguindo a sensibilidade pessoal, o homem não quer tornar-se objeto para os outros por meio da própria nudez anónima, nem quer que o outro se torne para ele objeto de maneira semelhante. Evidentemente, tanto “não quer” quanto se deixa guiar pelo sentimento da dignidade do corpo humano. Vários, de facto, são os motivos que podem induzir, incitar e mesmo constranger o homem a proceder contrariamente àquilo que exige a dignidade do corpo humano, ligada com a sensibilidade pessoal. Não se pode esquecer que a fundamental “situação” interior do homem “histórico” é o estado da tríplice concupiscência ii. Este estado — e em particular a concupiscência da carne — faz-se sentir em diversos modos, quer nos impulsos interiores do coração humano quer em todo o clima das relações inter-humanas e nos costumes sociais.

Não podemos esquecer isto, nem sequer quando se trata da ampla esfera da cultura artística, sobretudo a de caráter visual e espetacular, como também quando se trata da cultura de “massa”, tão significativa para os nossos tempos e ligada com o uso das técnicas divulgativas da comunicação audiovisual. Apresenta-se uma pergunta: quando e em que caso esta esfera de atividade do homem — do ponto de vista do ethos do corpo — é posta sob a acusação de “pornovisão“, assim como a atividade literária, que era e é muitas vezes, acusada de “pornografia” (este segundo termo é mais antigo)? Uma e outra coisa verificam-se quando é ultrapassado o limite da

vergonha, ou seja, da sensibilidade pessoal a respeito do que se liga com o corpo humano, com a sua nudez, quando, na obra artística ou mediante as técnicas de reprodução audiovisual, é violado o direito à intimidade do corpo na sua masculinidade ou feminilidade — e em última análise — quando é violada aquela profunda regularidade do dom e do recíproco dar-se, que está inscrito nesta feminilidade e masculinidade através da inteira estrutura de ser homem. Esta profunda inscrição — mesmo incisão — decide do significado esponsal do corpo humano, isto é, da fundamental chamada que ele recebe para formar a “comunhão das pessoas” e para nela participar. Interrompendo neste ponto a nossa consideração, que desejamos continuar na quarta-feira próxima, convém verificar que a observância ou a não-observância destas regularidades, tão profundamente ligadas com a sensibilidade pessoal do homem, não pode ser indiferente para o problema de “criar clima favorável à castidade” na vida e na educação social. _______________________________________ i Gn 2, 25. ii Cf. 1Jo 2, 16.

62ª. Catequese Os limites éticos nas obras de arte e na produção audiovisual

Já dedicamos uma série de reflexões ao significado das palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da Montanha, em que exorta à pureza de coração, fazendo notar o “olhar concupiscente”. Não podemos esquecer estas palavras de Cristo, mesmo quando se trata da vasta esfera da cultura artística, sobretudo a de caráter visual e espetacular, como também quando se trata da esfera da cultura de “massa” — tão significativa para os nossos tempos — , ligada com o uso das técnicas divulgativas da comunicação audiovisual. Dissemos ultimamente que a referida esfera da atividade do homem é às vezes acusada de “pornovisão”, assim como no referente à literatura é apresentada a acusação de “pornografia”. Um e outro facto realizam-se quando se ultrapassa o limite da vergonha, ou seja, da sensibilidade pessoal a respeito do que se liga com o corpo humano, com a sua nudez, quando na obra artística, mediante as técnicas de produção audiovisual, é violado o direito à intimidade do corpo na sua masculinidade ou feminilidade, e — em última análise — quando é violado aquele íntimo e constante destino para o dom e o recíproco dar-se, que está inscrito naquela feminilidade e masculinidade através da inteira estrutura de “ser homem”. Aquela profunda inscrição, melhor, incisão, decide do significado esponsal do corpo, isto é, da fundamental chamada que


ele recebe para formar uma “comunhão de pessoas” e a participar nela.

É óbvio que nas obras de arte, ou nos produtos da reprodução artística audiovisual, o sobredito destino constante para o dom, isto é, aquela profunda inscrição do significado do corpo humano, pode ser violada só na ordem intencional da reprodução e da representação; trata-se, de fato — como já precedentemente foi dito — do corpo humano como modelo ou tema. Todavia, se o sentimento da vergonha e a sensibilidade pessoal são em tais casos ofendidos, isto acontece por causa da transferência delas para o campo da “comunicação social”, portanto por causa de se tornar, por assim dizer, pública propriedade aquilo que, no justo sentir do homem, pertence e deve pertencer estritamente à relação interpessoal, aquilo que está ligado — como já antes se notou — à “comunhão mesma das pessoas“, e no seu âmbito correspondente à verdade interior do homem, portanto também à verdade integral sobre o homem. Neste ponto não é possível concordar com os representantes do chamado naturalismo, que alegam o direito a “tudo aquilo que é humano”, nas obras de arte e nos produtos da reprodução artística, afirmando operarem de tal modo em nome da verdade realista acerca do homem. É mesmo esta verdade sobre o homem — a verdade inteira sobre o homem — que exige tomar-se em consideração que o sentimento da intimidade do corpo quer a coerência do dom conexo com a masculinidade e feminilidade do corpo mesmo, no qual se reflete o mistério do homem, próprio da estrutura interior da pessoa. Tal verdade sobre o homem deve ser tomada em consideração também na ordem artística, se queremos falar de um pleno realismo.

Neste caso, constata-se, portanto, que a regularidade, própria da “comunhão das pessoas”, concorda profundamente com a área vasta e diferenciada da “comunicação”. O corpo humano na sua nudez — como afirmamos nas precedentes análises (em que nos referimos a Gn 2, 25) — entendido como manifestação da pessoa e como o seu dom, ou seja, sinal de confiança e de doação à outra pessoa, consciente do dom, escolhida e decidida a responder a ele de modo igualmente pessoal, torna-se fonte de particular “comunicação” interpessoal. Como já foi dito, esta é uma particular comunicação na humanidade mesma. Essa comunicação interpessoal penetra profundamente no sistema da comunhão (communio personarum), ao mesmo tempo cresce a partir dele e desenvolve-se corretamente no seu âmbito. Precisamente por causa do grande valor do corpo em tal sistema de “comunhão” interpessoal, fazer do corpo na sua nudez — que exprime exatamente “o elemento” do dom — o objeto-tema da obra de arte ou da reprodução audiovisual, é problema não só de natureza estética, mas, ao

mesmo tempo, também de natureza ética. De facto, aquele “elemento do dom” é, por assim dizer, suspenso na dimensão de uma recepção desconhecida e de uma resposta imprevista, e com isto está de algum modo intencionalmente “ameaçado”, no sentido de que pode tornar-se objeto anônimo de “apropriação”, objeto de abuso. Exatamente por isso, a verdade integral sobre o homem constitui, neste caso, a base da norma segundo a qual se modela o bem ou o mal das ações determinadas, dos comportamentos, dos costumes e das situações. A verdade sobre o homem, sobre aquilo que nele — precisamente por motivo do seu corpo e do seu sexo (feminilidade-masculinidade) — é particularmente pessoal e interior, cria aqui limites precisos que não é lícito ultrapassar.

Estes limites devem ser reconhecidos e observados pelo artista que faz do corpo humano objeto, modelo ou tema da obra de arte ou da reprodução audiovisual. Nem ele nem outros responsáveis neste campo têm o direito de exigir, propor ou fazer que outros homens — convidados, exortados ou admitidos a ver, a contemplar a imagem — violem aqueles limites juntamente com eles, ou por causa deles. Trata-se da imagem, na qual o que em si mesmo forma o conteúdo e o valor profundamente pessoal, o que pertence à ordem do dom e do mútuo darse de pessoa a pessoa, é, como tema, desenraizado pelo próprio substrato autêntico, para se tornar, por meio da “comunicação social”, objeto, e para mais, em certo sentido, objeto anónimo.

Todo o problema da “pornovisão” e da “pornografia”, como resulta do que está dito acima, não é efeito de mentalidade puritana nem de um moralismo apertado, como também não é produto de um pensamento carregado de maniqueísmo. Trata-se nele de uma importantíssima, fundamental, esfera de valores, diante dos quais o homem não pode ficar indiferente por motivo da dignidade da humanidade, do caráter pessoal e da eloquência do corpo humano. Todos aqueles conteúdos e valores, através das obras de arte e da atividade dos meios audiovisuais, podem ser modelados e aprofundados, mas também ser deformados e destruídos “no coração” do homem. Como se vê, encontramo-nos continuamente na órbita das palavras pronunciadas por Cristo no Sermão da Montanha. Também os problemas, que estamos aqui a tratar, devem examinar-se à luz daquelas palavras, que tomam o “olhar”, vindo da concupiscência, como um “adultério cometido no coração”. E por isso dir-se-ia que a reflexão sobre estes problemas, importantes para “criar um clima favorável à educação da castidade”, constitui um anexo indispensável a todas as precedentes análises, como as que, no curso dos numerosos encontros das quartas-feiras, dedicamos a este tema.


Juares Celso Krum Diácono Permanente, Bacharel e Mestre em Teologia pela PUCPR

Assessor Eclesiásti-

co da Pastoral Familiar do Regional Sul 2

A Conferência Nacio-

No terceiro, a vocação re-

Jesus para segui-lo. É uma

nal dos Bispos do Brasil

ligiosa – dia da vida religi-

escolha dirigida a cada

(CNBB), em 1981, em sua

osa, e, no quarto, a voca-

pessoa, que pode ou não

19ª Assembleia Geral, ins-

ção laical – dia dos minis-

aceitá-la, de acordo com a

tituiu agosto como o mês

térios leigos. Quando no

percepção desse chama-

vocacional. Desde então,

mês de agosto há cinco

do. Isso foi destacado em

cada domingo deste mês

domingos, no quinto cele-

Aparecida, com relação à

é dedicado à celebração de

bra-se o dia do catequista.

vocação

sacerdotal

ao

Sem entrar em muitos

afirmar que: “Diante da

No primeiro, celebra-se a

detalhes, vale lembrar que

escassez de pessoas que

vocação sacerdotal – dia do

vocação significa chamar.

respondam à vocação ao

No âmbito eclesial é um

sacerdócio e à vida consa-

chamado, um convite de

grada na América Latina e

uma determinada vocação.

padre. No segundo, a vocação familiar – dia dos pais.

vv


no Caribe, é urgente dedi-

gem para o 53º Dia Mundial

sões,

car cuidado especial à pro-

de Oração pelas Vocações

missa ou, a visita de religi-

moção vocacional, cultivan-

fala que a Igreja “é mãe das

osos, é na família que os

do os ambientes onde nas-

vocações

contínuo

primeiros lampejos vocaci-

cem as vocações ao sacer-

apoio daqueles que consa-

onais surgem, antes mes-

dócio e à vida consagrada,

graram a vida ao serviço dos

mo de qualquer fato con-

com a certeza de que Jesus

outros”.

Igreja

creto que indique ou con-

continua chamando discípu-

sendo mãe, na verdade, a

firme o desejo de ser pa-

los e missionários para es-

vocação sacerdotal nasce

dre.

tar com Ele e para enviá-los

no seio de uma família.

a pregar o Reino de Deus”. (DAp 315)

pelo

Mesmo

a

Apesar de se constatar

retiros,

encontros,

Mais uma vez o Documento

de

Aparecida

que o “despertar da vocação

confirma a importância da

Quais são os ambientes

sacerdotal” acontece muitas

família ao dizer que: “além

em que nascem as voca-

vezes em momentos espe-

disso, é dever dos pais,

ções sacerdotais? O papa

ciais na vivência eclesial:

especialmente através de

Francisco em sua mensa-

primeira eucaristia, procis-

seu exemplo de vida, a


educação dos filhos para o

e bons padres, e até bons

amor

bispos e alguns cardeais.

como

dom de

si

mesmos e a ajuda que eles

prestam para descobrir sua vocação de serviço, seja na vida leiga como na vida consagrada” (DAp 303). Se

a família têm essa vivência de fé e um bom testemunho cristão, se é Igreja doméstica, dá para se pensar numa fala de São João Bosco, educador da juventude, que disse que 75% dos jovens cristãos educados na fé, têm uma vocação sacerdotal, mesmo que não cheguem todos a ordenar-se.

conversão, a partir da acei-

critérios dos chamados de

tação na resposta ao cha-

Deus para que o Reino

mado.

aconteça são permeados de

nova vida, voltada ao bem

mistério que nos levam à

do próximo, na vivência

reflexão. Basta lembrar do

plena de sua vocação.

chamado dos Doze. Entre eles havia pescadores, um publicano e um zelota, ou

seja, pessoas com origem e mentalidades distintas. Consideremos também o chamado do apóstolo Paulo, perseguidor implacável da Igreja, que invadia as casas dos cristãos e os lançava na prisão e que assistiu com

é que de uma forma geral, é

satisfação à horrível execu-

das famílias numerosas – e

ção de Estêvão (At 8,1; cf.

mais vocações sacerdotais e religiosas, pelo menos é o

que se verificava até os anos 1970, sem que isso seja algo exclusivo. O que chama a atenção é o pro-

cesso

do

chamado

de

Deus, pois há vocacionados que vieram de famílias não numerosas e até de famílias desestruturadas.

Famílias

com pais separados também deram à Igreja padres

A diferença está na

Os tempos, momentos e

Outro dado Interessante

no meio rural – que surgem

22,20).

Novas atitudes,

Que as famílias tenham como prioridade a transmissão da fé aos fi-

lhos, para que existam e aumentem as vocações ao sacerdócio ministerial. Sabemos que ainda há famí-

lias cristãs que têm esta preocupação, elas existem, e têm frutos.




A abertura da SFN deste ano contará com o evento tão esperado por todos, a Caminhada das Famílias, que retorna trazendo novidades: será realizada de forma ecumênica, em unidade com as igrejas associadas ao CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil). A Abertura será no dia 12/08, à partir das 19h30 no Calçadão de Londrina. Este ano a Arquidiocese de Londrina, através do Âmbito Família, (do qual também faz parte a Pastoral Familiar) , se organizou de uma forma diferente, sugerindo várias opções para colaborar com as atividades a serem realizadas nas paróquias.

 Cerco de Jericó e consagração dos lares  Vivência para o casal  Visitação às famílias, vizinhos e parentes  Terço para as famílias  Pedalada das famílias  Hora da Família (CNPF)  Noite do diálogo/ descontração entre a família  Filmes e palestras nas igrejas e Estudo da Exortação Apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco  Via Sacra das famílias  Celebrações eucarísticas


Os Dez Mandamentos do eleitor "O voto do cidadão equivale a um vocábulo; não encerra a mínima fração de soberania, porém unicamente um símbolo. Muitas vezes sucede que longe de exprimir o pensamento especial e próprio do votante, ele traduz a opinião geral sob cuja influência é proferido."

José de Alencar.

A escolha de um bom governante ou legislador depende também do empenho do eleitor. Por isso, repassamos os mandamentos básicos para quem um eleitor cumpra o seu dever de cidadão. I - Não deixe de votar

A sua ausência enfraquece a democracia, motivo pelo qual, neste ano, alguns eleitores poderão votar em trânsito. Porém, se estiver fora do seu domicílio e não for mesmo possível votar, não esqueça de justificar em qualquer local de votação. II - Não vote contrariando a sua opinião

Não mude seu voto por influência da mídia ou deixando-se enganar por armadilhas publicitária das campanhas eleitorais. Nem sempre o candidato mais simpático é o mais competente. III - Não venda seu voto nem o troque por favores

Não só a compra de votos é crime eleitoral, pois o eleitor que vende o voto ou apenassolicita algo em troca do voto está sujeito a pena de 4 anos de detenção. IV - Não vote para contentar amigos ou parentes

O candidato que é bom para os outros eleitores, nem sempre será bom para você, principalmente se os parentes e amigos “trabalharem” para algum político. V - Não vote sem conhecer o programa do candidato e do partido dele

Os candidatos e partidos devem conhecer os problemas da população e ter a capacidade para solucioná-los. Analise se têm condições de cumprir o que prometem. VI - Não vote sem conhecer o passado do candidato

Com a nova lei da “ficha limpa”, a Justiça Eleitoral tem sido mais efetiva em afastar os maus candidatos. No entanto, é prudente que o próprio eleitor bus-

que melhores informações acerca da vida pregressa dos políticos. A internet auxilia muito nesta busca. VII - Não vote sem conhecer o caráter do candidato

Tem bom caráter é a viver com moralidade, o que envolve a honestidade, sinceridade, a integridade, a confiança e o comprometimento. Não eleja ou reeleja candidatos sem caráter. VIII - Não deixe nenhuma pesquisa mudar o seu voto

As pesquisas podem influenciar quando é muito grande a margem entre o primeiro e o segundo colocado, mas muito pouco entre os tecnicamente empatados. Neste último caso, o que pesa é o índice de rejeição. IX - Não anule seu voto

No voto nulo, diferentemente, a abstenção é inconsciente, isto é, o eleitor quer votar, tem candidato, mas erra por não saber votar. Isto ocorre quando confirma o número de candidato inexistente ou abandona a urna após iniciar a votação. Ao contrário do que se pensa, se nulidade de mais de 50% dos votos não anula uma eleição. X - Não vote em branco

O voto em branco é a abstenção consciente, ou seja, o eleitor sabe votar, mas não quer votar ou não tem candidato. É o famoso voto de protesto. O voto branco não vai para o candidato ou partido mais votado. Autor: Rogério Carlos Born

(Artigo publicado em 1º de outubro de 2010).

Mestre em Direito Constitucional na linha de Direitos Fundamentais e Democracia, especialista em Direito Eleitoral, Militar, Tributário e Público. Membro da Comissão de Direito Internacional da OAB-PR. Professor de Ciência Política, Teoria do Estado, Direito Eleitoral, Direito Militar, Direito Constitucional, Tributário e Financeiro. Docente do Curso de Direito da Faculdade Dom Bosco de Curitiba e de Ciência Política da Uninter; Pós-Graduação de Direito Eleitoral e Partidário da Universidade Positivo, Uninter e Facibra e nos cursos de aperfeiçoamento da Escola Superior da Advocacia da OAB-PR. Servidor da Justiça Eleitoral. Membro de bancas de concursos públicos para magistratura. Autor das obras "Ação Rescisória no Direito Eleitoral", "Direito Eleitoral Internacional e Comunitário", Direito Eleitoral Militar", "Objeção de consciência: restrições aos direitos políticos", "Sentença no Direito Penal Militar : teoria e prática"; "Direito Eleitoral para Concursos"; "Direito Penal Militar para Concursos"; "Direito Processual Penal Militar para Concursos", "Assédio Sexual na Relações de Trabalho" e, no prelo, "Ciência Política: Valores Cívicos e Culturais". Membro da cadeira nº 3 - Patrono D. Pedro Filipak da Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná. Diretor-Secretário da Associação Musical Mafrense - Banda Padre José Maurício de Mafra-SC. Conferencista. (www.rogerioborn.com.br)


Encontro no Setor 2 aborda o acompanhamento dos recémcasados em São José dos Pinhais No dia 3 de julho, no salão da paróquia Quitandinha, Mandirituba e Fazenda Rio Senhor Bom Jesus da Cana Verde em Grande. Quitandinha foi realizado o 4º encontro de agentes de pastoral familiar do Setor 2. O encontro abordou o tema relacionado ao acompanhamento dos novos casais. Estatísticas indicam que a maior parte dos divórcios ocorre na primeira década do casamento. Este fato exige que a Pastoral Familiar acompanhe os casais especialmente nesta fase do seu desenvolvimento matrimonial . Em nosso tempo é notória a fragilidade do vínculo conjugal. Mesmo entre católicos, observasse que muitos estão em segunda ou terceira união, com todos os problemas inerentes a esses novos O acompanhamento dos recém-casacomeços. dos foi uma das prioridades eleita na Participaram deste encontro 88 agentes última assembleia diocesana da Pastoral de pastoral familiar vindos das cidades Familiar. de Pien, Rio Negro, Campo do Tenente,


O Começo da Vida é um filme que percorre os quatro cantos do mundo para mostrar a importância dos primeiros anos de vida na formação de cada pessoa. Lançado no dia 05 de maio, o filme está em exibição nos cinemas e na plataforma VideoCamp.

Investir no desenvolvimento infantil é investir na sociedade, fazendo do mundo um lugar melhor. É nisso que a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, o Instituto Alana, a Fundação Bernard Van Leer e a Maria Farinha Filmes acreditam.

Queremos criar um movimento em prol da “Os seres humanos aprendem mais – e mais Primeira Infância (período que vai da gestação rápido – da gestação aos três anos do que em aos seis anos), pois a Ciência nos traz evidên- todo o resto de suas vidas”. cias de que o pleno desenvolvimento no coAndrew Meltzoff meço da vida é essencial para a construção de Pesquisador e PhD da Universidade de uma sociedade mais justa”, diz Eduardo C. Washington Queiroz, diretor-presidente da FMCSV.

MOMENTOS ÚNICOS PARA TODA A VIDA A Primeira Infância (período que vai da gestação aos seis anos) é uma janela de oportunidade que, se bem cuidada, contribui para o pleno desenvolvimento do indivíduo e gera impactos positivos para toda a vida.

UM MOVIMENTO GLOBAL A estratégia de distribuição do filme combina distribuição tradicional com campanhas de ação social para mobilizar cidadãos, organizações, empresas, instituições e governos na reflexão e entregar a mensagem amplamente.

UMA VISÃO DE FUTURO

ASSISTA O TRAILER OFICIAL “O Começo da Vida” nos convida a refletir juntos, enquanto sociedade: será que estamos cuidando bem deste momento único da vida que determina tanto o presente quanto o futuro da humanidade?

Confira em: http://www.fmcsv.org.br/pt-br/o-que-fazemos/filme-o-comeco-da-vida/Paginas/filme-o-comeco-da-vida.aspx


7 Perguntas para o pediatra Daniel Becker: “SEU FILHO DEVE APRENDER QUE NÃO É O CENTRO DO MUNDO”

O pediatra Daniel Becker é o criador da Pediatria Integral: um conceito de que a criança precisa ser vista de forma mais abrangente. Não é apenas tratar e prevenir doenças, mas cuidar do bem estar emocional, social e até espiritual da criança e da família. São 20 anos de experiência de consultório no Rio de Janeiro. Formado pela UFRJ, ele é especialista em Homeopatia e mestre em Saúde Pública. Médico do Instituto de Pediatria da UFRJ, ele foi pediatra da Médicos sem Fronteira em campos de refugiados na Ásia e fundador de uma ONG, o CEDAPS, Centro de Promoção da Saúde, com atuação em comunidades carentes.

Becker é um apaixonado pela profissão e conta que ao olhar sua trajetória se diz satisfeito pelas escolhas que fez. Ele é separado, pai de dois filhos, um menino de 17 anos, roqueiro, e uma menina de 20 anos, psicóloga. “Eles são muito bacanas. Tenho muito orgulho deles”, diz o médico. Com tantos compromissos, entre palestras e consultas, ele abriu gentilmente um espaço na agenda para responder às minhas perguntas.

1. Na sua palestra no Ted, você diz que um dos pecados contra a infância é a “entronização”. O que isso significa?


Estamos colocando nossas crianças em um trono? A gente vive em tempos de hipervalorização da infância tanto pela mídia quanto pretensamente pela família e pela sociedade. Mas na verdade a infância é desvalorizada naquilo que ela tem de real, na sua essência. Um dos fatores que explica esse paradoxo é a falta de intimidade e de convivência entre pais e filhos por causa das questões da vida moderna. E quando estão juntos, os pais não conhecem essas crianças, não sabem lidar com elas. Estão estressados com os seus trabalhos, estão viciados nos seus telefones e não querem também se submeter à desaprovação social de uma criança que chora ou se comporta mal. Acaba que essa criança não tem direito de se manifestar de forma negativa, que faz parte do comportamento infantil. Ela não pode fazer uma birra, dizer “não”, chorar, explorar seus limites de atuação no mundo. Como os pais não sabem lidar com essas situações, a criança acaba tendo todos os seus desejos realizados, não lhe colocam limites, não lhe dizem que ela tem que lidar com a frustração. A gente quer calar a qualquer custo o mal estar. Então para parar com o chilique, a gente acaba cedendo. Ao invés de aprender as regras de convivência, a criança passa a ser uma rainha que dita as normas, os programas, os horários.

2. E o pecado que você chama de “superproteção da infância”? A superproteção é impedir que as crianças tenham suas próprias experiências. A gente está presente o tempo todo, aquilo que os americanos chamam de “helicopter parent”, pais que ficam flutuando em torno das crianças fazendo com que elas não tenham a experiência do mundo, justamente porque os pais se interpõem entre o mundo e a criança. Elas ficam impedidas de lidar com o risco, com a aventura, com as rela-

ções interpessoais, com os problemas da escola, com a dor, com os machucados. Se a criança tem um problema com uma outra criança, os pais se interpõem para resolver a questão, no playground não deixam ela se arriscar a subir mais alto no trepa-trepa. É claro que ninguém quer que o filho quebre um dedo ou receba um ponto, mas são experiências da infância. A criança tem que ter a experiência do risco, do machucadinho e da frustração. Outra coisa muito grave é que para evitar os perigos do mundo, as famílias ficam muito em casa, se expõem pouco à natureza, as praças e as praias. Os riscos desses lugares existem e temos que lidar com eles, pois fazem parte da vida.

3. Qual o prejuízo real para crianças que não sabem ouvir a palavra “não”? O que vai ser (ou já está sendo) dessa geração sem limites? Eu já vi criança dormindo às duas da manhã, já vi criança de dois anos que comanda o que tem na geladeira e no armário da despensa. Outras que determinam o programa da família nos fins de semana, se elas não querem sair, ninguém sai. Pais que deixam a criança de 3 anos ficar horas na televisão porque não sabem desligar o aparelho e deixar ela ficar frustrada. Criança que come o biscoito ao invés da comida, que ganha o presente depois de ter se jogado no chão do shopping. Isso tudo causa um prejuízo enorme, tanto na qualidade de vida dessa família, quanto na psiquê, na emocionalidade dessa criança. Ela precisa saber que a sua vida tem limites, que a sua influencia tem limites, que o mundo não gira em função do seu umbigo. Muitos meninos e meninas dessa geração vão levar isso para a vida adulta e não só terão dificuldades de convívio como vão quebrar a cara nos seus ambientes de trabalho e em relacionamentos interpessoais. Porque nem sempre a vida vai acolher esse tipo de onipotência


que é resultado de uma educação cheia de falhas nesse sentido.

4. A culpa que os pais carregam é a grande vilã nessa história? Eu tenho muito medo da gente restringir a questão à responsabilidade da família. A família é responsável sim, tem que saber lidar com a frustração, o choro, as emoções negativas da criança, tem que saber mostrar a ela que esses momentos passam, que estas situações vão deixar ensinamentos importantes. Os pais sentem culpa porque não estão presentes na vida dela e quando estão juntos querem dar coisas demais. A gente briga com essa história de dar presente, ao invés de dar presença. Muitas vezes o tal “deficit de atenção” é deficit de atenção de pai e mãe que a criança sofre. Mas a gente tem que justamente tomar muito cuidado para não piorar isso dizendo que os pais são os culpados porque o que leva a tudo isso é a vida moderna, é a perda de referências, é a falta de capacidade de aprender com as gerações anteriores, com a experiência dos outros, é a invasão do tempo de trabalho e do tempo de entretenimento no tempo em família, é o vício do smartphones. Tudo isso tem que ser pesado na compreensão desse fenômeno da entronização e da superproteção da infância, a gente não pode restringir a responsabilidade e nem as soluções apenas a nível familiar.

5. A justificativa sincera de muitos pais é de que eles fazem o melhor que podem, trabalham o dia todo, batalham para dar conforto aos filhos, chegam exaustos em casa. É até mesmo controverso: as pessoas querem ter filhos mas não conseguem ter tempo de conviver com eles. Como resolver este impasse? As pessoas querem ter filhos e imaginam que tudo vai ser um mar de rosas. Elas têm

que ter consciência de que vão ter filhos neste mundo em que vivem: nas grandes cidades, muitas vezes com a falta de presença de familiares, com trabalhos que demandam excessivamente, com transporte que fazem elas chegarem tarde em casa, isso tudo tem que ser incorporado por um casal quando eles planejam filhos. Planejar ter filho é ver o futuro. Claro que a maioria das pessoas não faz isso, a gente quer ter filho, a gente quer reproduzir a nossa própria genética, isso faz parte de um mandato biológico. Mas hoje em dia a gente tem que pensar nas condições de vida que essa criança vai nascer e como nós vamos dedicar o nosso tempo a ela. Isso faz parte da responsabilidade de um casal. É preciso planejar a carreira, o local de trabalho para que a convivência familiar seja maximizada, para que a criança cresça com a presença dos pais, dos avós, tios, primos. Escolher um lugar para morar com natureza por perto. De novo a gente não pode reduzir a solução deste impasse a nível da família, a gente tem que tentar pensar na sociedade como um todo. A sociedade brasileira é insegura, desigual e cheia de problemas e isso influencia nas condições de vida das famílias.

6. O video americano “Childhood is not a mental disorder” já deu o que falar sobre o uso exagerado de remédios em crianças para controlar “doenças do comportamento”? Você concorda que é preciso ter muito cuidado com os diagnósticos?cuidadoos? Eu gosto muito desse vídeo e ele traz mesmo uma dimensão terrível do que a sociedade está fazendo com a infância. O mercado pressiona a família por soluções fáceis, todo mundo quer resolver os problemas imediatamente. A energia da criança está sendo reprimida. É claro que o comportamento dela vai ser muito afetado por todas as questões que eu já citei, podendo se re-


belar, ter insônia, desatenção, brigar na escola, ser impulsiva. Em vez da gente repensar como oferecer a estas crianças uma infância melhor, mais saudável, mais verdadeira, o que o mercado propõe é que elas sejam medicalizadas. A indústria de diagnósticos e de remédios é monstruosa e crescente. No Brasil, a Ritalina é o principal remédio usado para criança. Em 10 anos a venda de Ritalina subiu de 75 mil caixas para 2 milhões de caixas. O Ministério da Saúde agora está estabelecendo uma regulação para a venda do remédio. A gente não pode negar que essas doenças existem, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma doença grave, mas ela atinge um pequeno número de crianças. A grande maioria desses diagnósticos está sendo feita de forma arbitrária, sem critério suficiente, eu diria até perversa. É preciso mudar o comportamento da família ou ir para psicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, que são benéficas para este tipo de problemas e poderiam ser tentadas antes e de forma mais eficaz. Porque o remédio vai ter efeitos colaterais, vai rotular esta criança, como o video expõe muito bem, vai colocar na cabecinha dela que ela é apenas um transtorno e não uma criança que tem potencialidades múltiplas e possibilidades infinitas para o seu futuro. Tem a historia de uma mãe que levou a filha ao pediatra porque achava que ela tinha problemas e o pediatra deixou a criança com uma música e saiu da sala por alguns minutos com a mãe. Eles ficaram observando a criança do lado de fora, enquanto ela dançava o tempo todo. E o pediatra disse: “Sua filha não tem um problema, sua filha é uma bailarina, leve-a para uma aula de bal-

let e vão ser felizes”. Gillian Barbara Pyrke, a menina da historia, se tornou uma famosa coreógrafa da Broadway. Quantos gênios, artistas, cientistas nós não estamos perdendo medicando e rotulando essas crianças?

7. Quais as suas dicas para criarmos “crianças como crianças”? Acolher as crianças nas suas emoções. Especialmente as crianças pequenas têm uma racionalidade limitada e uma emocionalidade muito grande. Se ela está com raiva, você pode dizer pra ela “você está com muita raiva”. E mostrar de forma teatral o que está acontecendo com ela, fazê-la entender o sentimento que ela está tendo e dar permissão para ela sentir essas emoções, tanto negativas quanto positivas. Acolher também os desejos: “você quer esse brinquedo, eu sei que você quer muito ele, eu te entendo, mas a mamãe não pode comprar ele agora”. Isso quebra um pouco esse mecanismo da birra. Ter convivência com os nossos filhos, oferecer a eles oportunidades de conversa, de refeições em família, de sair na rua juntos, brincar nos parques, subir no trepa-trepa, ralar o joelho no chão, cair do skate (com capacete!), subir numa árvore, levar um zero, aprender com a frustração. Tudo isso é importante para formar uma criança mais feliz e um adulto mais íntegro, preparado para conviver com o outro. Pra saber respeitar o outro a primeira coisa que a criança tem que entender é que ela não é o centro do mundo. Ela é um membro da família e ter relações igualitárias com os outros membros da família vai fazê-la entender que ela vive numa sociedade. Esse é o nosso papel como pais.

Fonte: http://www.psicologiasdobrasil.com.br/


Fim da “reforma da reforma”:

o que isso significa? Márcio Pimentel

"A introdução de “novidades” estranhas à celebração da fé, como muito bem gostam de fazer notar, como a dança ritual, a forma das vestes litúrgicas, o uso de instrumentos de percussão ou outros que não estão previstos na perspectiva litúrgica pré-conciliar, as formas de arquitetura ancoradas nas diversas tradições culturais com as quais a Igreja se depara (e com o próprio desenvolvimento da arte e da sensibilidade humana, como a ecologia), estão legitimamente amparadas pela Constituição Conciliar e não podem ser classificadas simploriamente como abusos. Esta disposição magisterial garante a Liturgia como um organismo vivo, de modo que se possa “conservar a sã tradição e abrir ao mesmo tempo o caminho a um progresso legí-

timo”, como o assegura o número 23 da mesma Sacrosanctum Concilium", escreve Márcio Pimentel, presbítero da Arquidiocese de Belo-Horizonte, especializado em Liturgia pela PUC-SP e música ritual pela FACCAMP, assessor eclesiástico para a Liturgia na mesma Arquidiocese, membro da Equipe de Trabalho para o Espaço Sagrado para a Catedral Cristo Rei. Segundo ele, "este pano de fundo sobre o qual se deu a reforma litúrgica e com ela, a reanimação da própria vida de fé, tem sido desconsiderado e até mesmo negado pelos que decidiram lançar-se à campanha de uma “reforma da reforma”" Eis o artigo.


De maneira aguçada, Andrea Grillo conclui que a “reforma da reforma” chegou seu termo. E com ela, espera-se que a desconstrução sofrida pela Liturgia pós-conciliar, sentida nos últimos vinte anos, marcados por três documentos magisteriais: Liturgia Autenticam, Redemptionis Sacrammentum e Summorum Pontificum, chegue também ao fim. Concordando com ele e tendo averiguado o conteúdo dos três escritos, acrescentando ao seu elenco a Carta Circular sobre o significado ritual do abraço da Paz, da Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, pode-se perceber o quanto se arriscou impedir o normal desenvolvimento da teologia e pastoral litúrgicas, embora, nas palavras do Papa Francisco, não seja possível andar para trás. Não se pode reverter (e com isso perverter) o fenômeno eclesial promovido pelo Concílio Vaticano II, com seus impactos positivos para a vida da Igreja, o que também se aplica à Liturgia, afinal ela exprime e nos faz experimentar esta mesma Igreja, Corpo de Cristo e Povo de Deus.

uma crise pela qual a Liturgia passa, como consequência de uma lenta desconstrução teológico-pastoral. Como resultado de dois processos, um ligado à recepção do Concílio e aplicação de seus princípios e o outro, a deliberada marcha ré patrocinada por alguns setores eclesiásticos, se não causou o caos, deixou muita gente confusa. É preciso recompor o caminho da Liturgia no horizonte da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia. Isso se torna agora uma urgência para a ciência litúrgica e também para as Igrejas Locais, na busca de respeito e impulso à colegialidade repropostos por Francisco. A recepção da reforma litúrgica

A liturgia não pode ser compreendida meramente como mover-se dentro de novas estruturas rituais e moldes simbólicos. O Concílio não “reinventou a roda”, mas recompôs os eixos. Como sói acontecer com qualquer reforma, as coisas mudam de lugar e aquilo que antes estava enterrado e oculto por debaixo dos inúmeros acréscimos e ornatos, novaAté chegarmos ao ponto no qual o Vatica- mente pode vir à tona. Em condizente contino explicitamente se posicionou sobre a ques- nuidade criativa, a reforma litúrgica foi fiel às tão da “reforma da reforma”, vale dizer de fontes mais antigas da fé celebrada. Para que


isto surtisse efeito foi necessário romper com alguns esquemas e padrões com os quais estávamos habituados. Embora poucos, houve quem não suportasse este processo e tenha preferido a dissidência.

qualidade, e que passa por melhoramentos e ampliações. É certo, que há lugares em que ainda se insiste numa perspectiva musical para a Liturgia que destoa completamente daquilo que a reforma propõe. Basta verificar o quanto ainda se mantêm em uso composições com conteúdos exteriores à celebração – o que fez parte de um período das experimentações, como as missas temáticas. Esses funcionaram como ruídos não apenas na celebração, mas na recepção e aplicação da reforma no que diz respeito à musica ritual. Entretanto, pensando a Liturgia como uma metáfora musical, os ruídos fazem parte de sua paisagem sonora, sobretudo em um contexto de recepção de uma reforma tão profunda quanto aquela prevista e realizada no pós-concílio. Leva-se um tempo para criar contornos mais Natural, portanto, que houvesse um período satisfatórios. de adaptações às mudanças, para as devidas apropriações. Dada a magnitude e complexi- O mesmo se pode dizer dos espaços sagradade do mundo católico, nem sempre a re- dos que, só mais ultimamente tem recebido a cepção do Concílio foi bem entendida, aco- atenção que merecem. Quantos lugares de lhida, preparada e efetuada. Não sempre o culto foram construídos mantendo a lógica efeito é o esperado e torna-se necessário ava- longitudinal, apenas “arredando” o altar da liar e recompor os passos. A recepção de um parede, agregando uma estante que funcioConcílio sempre foi um esforço complexo, nasse como Ambão para proclamação dos demorado e às vezes penoso, sobretudo textos bíblico-litúrgicas ao seu lado? Imagiquando este se exprime em perspectiva dialó- nemos o quanto, estas duas artes, música e gica, sem ignorar a história mas assumindo-a. arquitetura sacras, condicionam uma celebraA reforma litúrgica, parte deste itinerário de ção. renovação da Igreja deve ser lida também assim. Pensemos, a modo de exemplo, na dimensão da música ritual e da arquitetura litúrgica. Passamos da impossibilidade de compor em vernáculo para a missa, porque era proibido mexer nos textos litúrgicos que compunham os ritos (o que ocasionou a inserção de cantos com paráfrases ou o uso de música religiosa popular em alguns momentos), para a necessária busca de um repertório, agora na língua local, praticamente inexistente em muitos lugares. Não bastava – e nem daria certo – simplesmente “traduzir” peças gregorianas e muito menos as polifonias. Era preciso algo novo e, agora, ancorado na tradição pós- A “marcha à ré” conciliar que se iniciava. É evidente que foram O outro processo, parece apenas uma reação necessárias experimentações e avaliações impaciente da recepção da reforma litúrgicontínuas para se chegar em algo qualitativa- ca e sua aplicação. Mostra-se, porém, como mente de acordo com aquilo que a reforma mescla de elementos que provém de uma ala propunha. de insatisfeitos com aquilo que designam “inoNo Brasil, depois de cinquenta anos, temos à vações” do Concílio. A atuação destes grupos disposição um repertório utilizável, de boa tem se mostrado bastante prejudicial à Pasto-


ral Litúrgica. A palavra de ordem desse grupo é “abuso”. Precisa-se corrigir e coibi-los, no velho estilo pré-conciliar. E o melhor caminho que encontraram parece ser uma volta à segurança de antes, como bem afirma um colega liturgista: “pois é insuportável pensar, fazer teologia, colaborar com a reflexão. Angústia é tarefa para poucos e demanda equilíbrio e bom senso. Melhor que alguém defina e decida, que a lei dite e os súditos cumpram, mas sem o Espírito, como alerta o apóstolo Paulo, pois esse anda à solta, circulando em todo o corpo eclesial, onde lateja vida...” Esta história é velha; tão antiga quanto o êxodo bíblico e a páscoa cristã, contextos nos quais se “choram as cebolas” e se firma o medo das novidades do Espírito, respectivamente. Este itinerário foi batizado de “reforma da reforma”, um título que o Vaticano, expressamente, desaprovou recentemente. Alguns elementos desta postura neoconservadora podem ser colhidos em variadas publicações, receituários de retrocesso, meios, mídias e aplicativos, de fontes não muito autorizadas, mas outrossim, autoritárias, com estilo debochado e fascista, juízos severos e inquisitoriais... A compreensão que se tem para uma liturgia bem celebrada é o cumprimento rígido das normas e rubricas dos livros litúrgicos, como se a Ars Celebrandi se restringisse à dimensão cerimonial e canônica, desconsiderando-se uma hermenêutica adequada destas mesmas normas e rubricas, pautada sobretudo na letra e espírito conciliares. Aparentemente amparados pela documentação litúrgica em vigor, desconhecem o caráter dinâmico da Liturgia como algo inerente à sua condição orgânica à experiência da fé. A partir daí, criticam as impostações que tendem a um desenvolvimento natural e progressivo exigidos, uma vez que a Liturgia da Igreja realiza a fé em um ambiente vivo e dialógico com a cultura. Costumam concentrar sua atenção numa hermenêutica restrita a obediência às regras, condicionada por uma mentalidade que não acompanha a lógica da reforma, que é de abertura ao mundo e àquilo que a cultura pode oferecer para dignificar o culto divino, pois desconhecem o influxo da lei da encarnação na compreensão sacramental da Igreja, da liturgia e dos sacramentos. Na verdade, as publicações recolhem o que é perti-

nente para retroceder, com a desculpa de recuperar a sacralidade e aplicar os princípios da Sacrosanctum Concilium, segundo pensam “verdadeiramente”. Eis alguns elementos do proposto retrocesso que vemos já acontecer: A comunhão na língua e de joelhos, lida muitas vezes em oposição à comunhão na mão; a imposição do latim; a diminuição dos ministérios leigos; a reintrodução da possibilidade de participar da Oração Eucarística de joelhos, do início ao fim, prevista apenas “onde for costume”, mas aos apegados à tradição litúrgica pré-conciliar, entendida como lei universal; a volta dos paramentos pré-conciliares; a disposição do lugar de culto desajustada daquilo que o próprio Missal prevê (lugar para velas, flores, tornar a pôr sobre o Altar o crucifixo, mesmo quando este já está previsto no espaço sagrado); o uso do véu proposto em campanhas por certos movimentos – inclusive juvenis, e por fim, a recente proposta de se celebrar a Eucaristia versus Orientem, cujo desenlace conhecemos.

Não há, portanto, como negar a desconstrução. Entretanto, com o fim daquilo que nem mesmo teve seu start oficial, a “reforma da reforma”, ao menos explicitamente, é preciso retomar o caminho. O Papa tem feito isso com relação à sinodalidade e colegialidade episcopal, à autonomia das Igrejas Locais para que se encaminhem os assuntos que merecem um olhar pastoral cuidadoso e atento, em seu diálogo franco e aberto com o mundo e suas demandas culturais contemporâneas. O mesmo é preciso fazer com a Liturgia. Esperar que este processo seja desencadeado apenas pelas vias dicasteriais é bastante complexo.


Sabemos o quanto demorou para se implementar oficialmente as novas rubricas do rito do Lava-pés solicitadas pessoalmente por Francisco: um ano! Urge que os Bispos em suas Igrejas Locais, amparados por suas Comissões Diocesanas de Liturgia deem passos para recuperar o tempo perdido e avançar nas perspectivas abertas pela Sacrosanctum Concilium e implementadas oficialmente nos livros litúrgicos pós-conciliares. Há muito a ser descoberto e também desenvolvido. Retornar – de fato – ao Concílio: a marcha “à frente” Dentre as primeiras coisas a serem retomadas é o processo formativo do povo de Deus e seus ministros, a constituição de Equipes de Pastoral Litúrgica e a capacitação de fiéis e clérigos para conduzir um processo sadio e coerente nas comunidades. Não que se tenha deixado de oferecer estudos e aprofundamentos em matéria litúrgica, mas, de um tempo para cá, multiplicaram-se os supostos entendidos na área e, verdade seja dita, os aplicativos, blogs e mídias têm sido mais eficientes e rápidos. Oferecem catequeses ditas “litúrgicas”, mas são pura doutrinação, sem uma hermenêutica adequada aos textos normativos e também litúrgicos, tudo via mídias sociais. Com isso, desrespeita-se os caminhos e histórias próprias das Igrejas Locais, contradizendo, inclusive, a própria dinâmica pontifícia atual, como dissemos acima.

da. Estabeleceu-se um clima de “desautorização” generalizado. O padre fulano de tal, o bispo da Diocese outra, o pregador fulano e por aí vai, parecem ter mais autoridade do que as Conferências, os Bispos locais e suas Comissões de Liturgia. Os teólogos especialistas da área, isto é, os liturgistas, são vistos com desconfiança e agressividade. Quem padece são os fiéis e, sobretudo os mais jovens que não conseguem mais acolher aquilo que se tem a comunicar, não somente com a reforma litúrgica, mas com o próprio Concílio. E sabemos o quanto a Liturgia tornou-se emblemática da perspectiva de renovação requerida e suscitada pelo Concílio Vaticano II. É assustador verificar pessoas que estão temporalmente distantes do que foi, de fato, a época pré-conciliar, insuflando umas às outras a retornar costumes com pouco ou nenhum sentido para os nossos dias. Isso é sintomático. Não se trata apenas da folclorização de um hábito. Indica que algo se rompeu no processo de transmissão da beleza eclesiológica e pastoral do Concílio Vaticano II, e que se vê outra rota consolidando-se publicamente pela perspectiva litúrgica insurgente destes grupos.

Ligada ainda ao aspecto da formação, mas extrapolando-o, é preciso garantir que não se retorne a uma compreensão da Liturgia meramente cerimonial, canônica ou devocional. Estas três perspectivas, embora importantes, não podem ser tomadas como eixo epistemológico. Trocando em miúdos, é inadmissível, após a Sacrosanctum Concilium, tratar da Liturgia apenas como um programa ritual e um código de rubricas a ser respeitado minunciosamente, ou permanecer na segurança do permitido, lícito e válido, próprio do viés puramente normativo e também relativizar a ritualidade ao cultivo subjetivo da espiritualidade, onde importa mais o interior em detrimento da exterioridade ou em contraposição a esta, o que deixa as celebrações da Igreja à mercê do gosto pessoal de quem julga ter poder souem é pároco ou membro da Pastoral Litúrgi- bre ela. ca em nível comunitário, paroquial, diocesano A Constituição Conciliar sobre a Sagrada e até nacional, sabe o quanto tem sido sofrido Liturgia Sacrosanctum Concilium é exemempreender o caminho do Concílio. Parece plar, também, no quesito da epistemologia. que estamos vivendo, ainda, o fim da década Antes de oferecer uma definição teológica e de sessenta e início da década de setenta, uma compreensão pastoral do culto divino, os quando a reforma começou a ser recepciona- padres conciliares optaram por expor a Histó-


ria da Salvação na qual as celebrações ocupam um lugar privilegiado. A própria Revelação é o eixo. As celebrações litúrgicas devem ser concebidas, celebradas e interpretadas pelo viés da ação autocomunicante de Deus que vem ao encontro do ser humano em Jesus de Nazaré, cuja presença permanece sacramentalmente, após sua morte e ressurreição, no corpo eclesial pela ação do Espírito Santo.

A reforma litúrgica foi levada adiante a partir deste escopo, objetivando enraizar a espiritualidade dos discípulos e discípulas do Senhor nesta perspectiva teológica, uma vez que fazia tempo que o mundo devocional havia sequestrado da Liturgia o lugar matricial da vida cristã. E os motivos eram variados, incluindo a impermeabilidade dos ritos por parte de uma assembleia cada vez menos partícipe do Mistério Pascal celebrado. A língua latina, se não impedia, dificultava; a complexidade exaustiva das rubricas e as repetições ruidosas desnecessárias atrapalhava; o desaparecimento de elementos preciosos da tradição como a Oração dos Fiéis e o Salmo Responsorial; a homilia reduzida a um sermão puramente parenético, quando muito; a pobreza do Lecionário; a excessiva centralização do culto na pessoa do ministro ordenado, de modo que os demais ministros e membros da assembleia era reduzido a assistentes, etc. Tudo isso contribuiu para que os fiéis não mais tomassem a Liturgia como fonte de espiritualidade, e tão somente como obrigação, sobretudo a Missa Dominical respeitada como preceito, mas sem grande impacto objetivo para a vida de fé das comunidades.

ra mais sóbria, as formulações rituais de então. Este é um argumento muito repetido pelos que se opõem à reforma litúrgica pósconciliar, atacando seus artífices, como se estes tivessem ido longe demais, inserindo elementos estranhos aos ritos e promovendo o que não fora solicitado. Ora, acaso, talvez, estes tenham começado a leitura da Sacrosanctum Concilim pelo número dois do Proêmio, esquecendo-se do primeiro artigo. Ali, lê-se em bom latim: suum esse arbitratur peculiar ratione etiam instaurandam atque fovendam Liturgiam curare.

A tradução oficial vaticana para o português lê: [Julga, portanto] dever também interessarse de modo particular pela reforma e incremento (fovendam) da Liturgia. O nosso grifo para a palavra incremento faz reconhecer a intenção conciliar de, para além da reforma propriamente dita, oportunizar os desenvolvimentos necessários para tornar a Liturgia, de fato, raiz da espiritualidade dos cristãos, estejam onde estiverem, conforme as diversas épocas e sensibilidades que passam por modificações. As várias línguas para os quais o binômio “instaurandam-fovendam” foi traduzido reiteram este sentido de renovação, progresso e desenvolvimento. De maneira figurada, instam a tornarmos as celebrações da fé mais “calorosas” e, o que equivale à evangélica constatação de Emaús, de permitir aos fiéis a percepção da presença de Jesus mediante os ritos, como oportunidade para fazer “arder” o coração. Numa palavra, em matéria litúrgica, sair da frieza ritual que condiciona um estado de tibieza da fé.

Por fim, é necessário recordar que os padres Este incremento é querido e sua introdução – conciliares não quiseram, apenas, reformar a desde que não destoe do verdadeiro espírito liturgia no intuito de reeditar, quiçá de manei- da fé cristã – é legítimo e natural no processo


de inculturação, que não é mero “batismo” de uma cultura, está, sobretudo sob a responsabilidade da autoridade eclesiástica territorial, a saber, a Conferência dos Bispos e o próprio Ordinário Local. A introdução de “novidades” estranhas à celebração da fé, como muito bem gostam de fazer notar, como a dança ritual, a forma das vestes litúrgicas, o uso de instrumentos de percussão ou outros que não estão previstos na perspectiva litúrgica pré-conciliar, as formas de arquitetura ancoradas nas diversas tradições culturais com as quais a Igreja se depara (e com o próprio desenvolvimento da arte e da sensibilidade humana, como a ecologia), estão legitimamente amparadas pela Constituição Conciliar e não podem ser classificadas simploriamente como abusos. Esta disposição magisterial garante a Liturgia como um organismo vivo, de modo que se possa “conservar a sã tradição e abrir ao mesmo tempo o caminho a um progresso legítimo”, como o assegura o número 23 da mesma Sacrosanctum Concilium.

irretocável, a “reforma da reforma” tentou se impor. Por meio dela, alguns setores eclesiais quiseram negar a história, como bem alerta Grillo. Quiseram transformar a Liturgia viva das comunidades em um teorema, mas, como bem nos lembra Dom Piero Marini, ela é a própria vida do Filho, a vida da Igreja, a vida de cada cristão, sendo, portanto, maior e mais dinâmica do que prováveis conceitos. Embora semper reformanda, a reforma litúrgica pósconciliar chegou ao seu cumprimento com o último ritual revisto e promulgado. A “reforma da reforma” não aconteceu simplesmente porque é um contrassenso.

E o grande desafio que instaurou em relação a reforma litúrgica não se limita a aplicação das normas e respeito às rubricas ou ao conhecimento dos livros, os textos, os gestos recuperados ou revistos, mas a mentalidade da Igreja que deve levá-los ao cumprimento. Temos um novo cânon, mas com uma linguagem que não o acompanha. Neste ponto, abre-se o debate sobre a necessidade de, reconhecer que a liturgia é o lugar de deixarPara concluir mos que o nosso interior seja moldado pelo Este pano de fundo sobre o qual se deu exterior simbólico e ritual da fé; lançarmos a reforma litúrgica e com ela, a reanimação mão daquilo que o próprio Concílio deu como da própria vida de fé, tem sido desconsidera- chave para a formação de nossa inteligência do e até mesmo negado pelos que decidiram celebrativa: per ritus et preces. lançar-se à campanha de uma “reforma da reforma”. Miseravelmente, espalhou-se uma falácia sobre a reforma litúrgica pós-conciliar, Fonte: transformando-a em resultado de um motim http://www.ihu.unisinos.br/noticias/558401-fimmodernista no interior da instituição católica, da-reforma-da-reforma-o-que-isso-significa tornando-a primeira responsável pela deterioração da fé cristã. Com um artifício psicológico próprio do romantismo, ao reaver costumes e Ilustrações e fotos capturadas da Internet práticas que em nada ou muito pouco condizem com a contemporaneidade da Igreja, mas respondem às carências subjetivas, muitas delas fantasiosas de um passado perfeito e


Pe. Zezinho

Mãe não faz filho e o entrega a si mesmo. Cuida! Cuidar é mais do que entregar. E pode ser um prazer maior do que o sexo. Pergunte à mãe que amamenta seu bebê, se ela o deixaria com fome para se dar ao seu marido! Será um dever, mas é prazer maior!

Eu conversava recentemente com um jovem casal a famosa proposta de discutir a relação. Mulher adora e homem abomina. Ele 27, ela 25, mantinham relações de prazer sexual há quatro anos, mas ainda não se consideravam prontos para começar o prazer da vida a dois. Expliquei-lhes que os seres humanos são relacionais e que o amor vai se fazendo certeza à medida que as relações do casal se ampliam. Se tudo o que um pode oferecer ao outro são os prazeres das relações sexuais, então de fato não estão prontos para começar uma família porque faltarão prazeres ainda maiores do que o sexo. Ela quis saber que prazer maior pode haver do que o do sexo. Lembrei que há valores maiores do que a entrega do corpo. O cuidado, por exemplo. Mãe não faz filho e o entrega a si mesmo. Cuida! Cuidar é mais do que entregar. E pode ser um prazer maior do que o sexo. Pergunte à mãe que amamenta seu bebê, se ela o deixaria com fome para se dar ao seu marido! Será um dever, mas é prazer maior!

Se podem oferecer, um ao outro, relações de amizade, de interesse, de cuidado, de partilhas; se um quer o bem e o sucesso do outro; se um pensa no outro não como objeto de prazer, mas como parceiro de alegrias; se um faz de tudo para ver o outro feliz; se, quando, por alguma séria razão, ele ou ela não podem oferecer o corpo e, mesmo assim, o sentimento não diminui; se, enfim, desenvolvem dez a vinte tipos de relações, então estão prontos para começar uma família, porque é quase certo que haverá amor entre eles. Concordaram comigo. Disseram que, o namoro começou superficial, porque os dois se desejavam fisicamente, mas as coisas foram mudando. Tinham sido formados em ambientes liberais, estando o pai dela já no terceiro casamento e a mãe e o pai dele num segundo relacionamento. Para eles parecia mais do que natural, que, desde as primeiras semanas de namoro mantivessem relações sexuais. Mas, de fato, aconteceu com eles esta coisa chamada cuidado. De repente ela percebeu que queria cuidar dele e ele, dela. O que era superficial e apenas carnal foi se transformando em algo espiritual. Ele encheu-se de cuidados por ela e de receio de forçá-la a qualquer coisa que ela não quisesse; ela sentia o mesmo por ele. Tornou-se mais do que gostar, mais do que se dar prazer, tornou-se alegria de quem está junto, saudade de quem se separou por mais de uma semana, compreensão, apoio e um querer bem que ia muito além do querer sexo. Perguntei-lhes então, porque não estavam tão certos de que poderiam começar uma família e os dois disseram: – Precisamos ter certeza de que não estamos casando só porque gostamos um do outro. Queremos saber se um quer ter um filho com o outro e se nós queremos cuidar do filho ou


da filha que tivermos por toda a vida. Não gostaríamos de como aconteceu com nossas famílias, darmos à luz a um filho ou uma filha e, depois, irmos cada um para o seu lado, cuidar da própria vida. Gostaríamos que fosse para sempre. Ainda não temos certeza desta paternidade e maternidade para sempre; ainda não descobrimos àquilo que o senhor disse no seu sermão: “Venha o que vier, juntos pra valer”. Talvez nos falte esta convicção do “venha o que vier, aconteça o que acontecer”, mas temos amor suficiente para chegar a esta convicção. Ouvi de ambos alternadamente: – “Não me imagino nem agora nem nunca com outra pessoa; já encontrei a pessoa dos meus sonhos; agora preciso começar o lar dos nossos sonhos”. Dentre os empecilhos para começarem de imediato o novo lar, estava a situação econômica dele que tinha muitas dívidas e dela que ainda era arrimo de mãe só e doente. O pai praticamente sumira. Tornei a falar que, por sermos seres relacionais, sentimos necessidade de relações e que as relações corpóreas precisam ser antecedidas e seguidas de outras relações de alma e que, já que há tempos ensaiavam com freqüência ser um só corpo, que ensaiassem ainda mais ser um só coração e uma só alma.

Bispo Referencial Dom Orlando Brandes do.brandes@uol.com.br

Casal coordenador Jorge Luis Bovo e Sandra Regina P.Bovo jorgebovo@gmail.com sandrabovo@gmail.com Assessor Regional Diác. Juares C. Krum jckrum@gmail.com

Isto não se consegue sem diálogo, sem ouvir e deixar falar, coisa que eles faziam. Na minha pregação o que havia mexido com eles, razão pela qual tinham me procurado, foi também algumas sentenças: -“Boas relações, em geral produzem boas reações; más relações, em geral produzem más reações e relações urgentes não são necessariamente relações abrangentes. Quem tem muita pressa em desfrutar, acaba sem frutos”. A meu ver é este um dos problemas da sociedade atual; anda colhendo frutos que não semeou, não plantou, não cultivou e não esperou que amadurecessem. Na maioria das vezes quem morde um fruto verde acaba jogando fora o pedaço que mordeu e o fruto por inteiro. Riram-se da comparação e me prometeram que em menos de um ano eu seria convidado a oficializar o seu matrimônio. Estavam mais prontos do que imaginavam estar!

PRIORIDADE: EVANGELIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS Com seis destaques:

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08 de abril de 2011

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Catequese Grupos de Reflexão Pais e Filhos Espiritualidade Conjugal Juventude Noivos


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