Boletim Expresso nº 1701 - Pastoral Familiar

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22/FEV/2016

Edição

1701

À Cúria romana o Papa recordou a necessidade de conjugar fidelidade e misericórdia e pediu que ninguém se sinta desamparado nem maltratado Comunidade de serviço Cidade do Vaticano (RV), 22/fev/2016 –

Os funcionários do Vaticano chegaram às 8h30 à sala Paulo VI onde, na presença do Pontífice, se reuniram para a oração da Hora terceira e para ouvir a meditação sobre o tema «A misericórdia na vida diária», pronunciada pelo jesuíta Marko Ivan Rupnik.

No meio dos fiéis, como um simples peregrino, em procissão rumo à porta santa. Assim o Papa Francisco participou na celebração do jubileu da Cúria romana, na segunda-feira 22 de fevereiro, festa litúrgica da Cátedra de São Pedro.

No final da meditação, os fiéis deixaram a sala e, seguindo a cruz, dirigiram-se para a basílica, onde o Pontífice celebrou a missa. A Cúria romana, o Governatorato e as instituições ligadas à Santa Sé, disse o Papa Francisco na homilia, constituem uma «comunidade de serviço» na qual devem ser conjugadas «fidelidade e misericórdia» e na qual ninguém deveria sentir-se «desamparado nem maltratado».


Mulher com vírus Zika dá à luz bebê saudável O fato aconteceu no México. Testes em duas outras mulheres grávidas, monitoradas e com o mesmo vírus, não demonstraram sinais de anomalias nos fetos Segunda-feira, 22/fev/2016 –

mulher tinha dado à luz. O mesmo chefe do departamento anunciou que outras 5 mulheres que contraíram o vírus na gestação foram “submetidas a cuidados especializados e a testes periódicos”: para duas delas, que já chegaram na 28ª semana, os testes não mostram sinais de anomalias nos fetos, para as outras três será preciso esperar mais. A ligação entre o vírus Zika contraído na gestação e nascimento de bebês com microcefalia não é um dado científico. Um fato acontecido no México nos últimos dias demonstra isso. Uma mulher de Pijijiapan (Chiapas), que contraiu o vírus Zika deu à luz uma criança “clinicamente saudável”. A notícia foi divulgada pelo ministro da saúde do México depois de ter sido confirmada pelas autoridades sanitárias do hospital na cidade de Tuxtla Gutierrez, onde a

Dos 80 casos no México, 45 foram registrados em Chiapas, dentre as quais 3 mulheres gestantes. Até agora, o México não encontrou aumento no número de casos de microcefalia, ao contrário do Brasil, onde desde outubro foram registrados 508 casos, contra os 150 anuais, embora o próprio ministério da saúde do Brasil tenha declarado que a mudança nos números deve-se também à mudança de compreensão do conceito com relação aos casos.


Adquira o Documento do Sínodo dos Bispos Domingo, 21/fev/2016 –

do papa Francisco, além de Vigília de Oração. O Relatório sublinha a beleza da família, Igreja doméstica baseada no casamento entre homem e mulher, "porto seguro dos sentimentos mais profundos, único ponto de conexão numa época fragmentada, parte integrante da ecologia humana. Deve ser protegida, apoiada e encorajada". O bispo de Osasco (SP) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, dom João Bosco Barbosa, diz que o resultado do Sínodo é apelo a todos os envolvidos na evangelização das famílias. "Para nós, da Pastoral Familiar, isso soa como uma responsabilidade missionária. É fazer chegar a todos o Evangelho da Família. Temos, como Comissão Episcopal, e como Pastoral Familiar, uma grande e estruturada ação que chega aos regionais, às dioceses, às paróquias e comunidades" disse o bispo. Com 94 pontos de reflexão, acaba de ser publicado o relatório final da 14ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família. O Documento n. 26 – "A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo", está disponível na Loja Virtual da Pastoral Familiar, por preço bem acessível. Ao todo, são 115 páginas, divididas em três partes: "A Igreja à escuta da família"; "A família no plano de Deus" e "A missão da família". O Documento impresso, também, contém homilias de abertura e de encerramento da Assembleia Geral e discursos

Adquira O Documento n. 26 trata-se de um instrumento precioso para os trabalhos de evangelização da Pastoral Familiar e demais pastorais da Igreja. Acesse:

www.lojacnpf.org.br se: www.lojacnpf.or g.br ou

(61) 3443-2900


Comissão Nacional prepara 8ª Peregrinação e 6º Simpósio Nacional da Família Domingo, 21/fev/2016 –

grinos no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, ao lado da Praça de Alimentação do Santuário Nacional.

Dioceses, paróquias e comunidades já começaram a organizar suas caravanas, rumo ao Santuário Nacional, para celebrar a vida e a família. A 8ª Peregrinação e 6º Simpósio Nacional da Família acontecerão dias 21 e 22 de maio, em Aparecida (SP), com organização da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB (CEPVF) e Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF). No sábado, o Simpósio terá início às 8h, com recepção e credenciamento dos pere-

Durante o 6º Simpósio diferentes assuntos serão debatidos, com presença de especialistas, bispos, padres e casais. Já à tarde, a programação contará com testemunhos de casais e animação musical, com show. Haverá, ainda procissão luminosa, marcando o encerramento do Simpósio e o início da Peregrinação Nacional da Família, na Basílica. Celebre você, também, a beleza da família. Convide seus amigos para esse momento de festa na casa da Mãe Aparecida. Em breve, mais informações:

www.cnpf.org.br

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Vaticano recebe Conferência Internacional para debater fim da pena de morte O papa Francisco pediu aos governantes que não autorizem nenhuma sentença durante o Ano da Misericórdia

Segunda-feira, 22/fev/2016 –

“Por um mundo sem pena de morte” é tema da Conferência Internacional promovida pela Comunidade de Santo Egídio. O evento ocorre hoje, 22 de janeiro, no Vaticano, com proposta de estabelecer compromisso com a abolição da pena capital. Participam representantes de diversos países e lideranças internacionais. Durante a oração do Ângelus, no domingo, 21, o papa Francisco disse ter esperança no fim da pena de morte, recordando que as sociedades modernas têm a capacidade de lidar com o crime sem remover permanentemente a quem o tenha cometido uma chance de se redimir. “Um problema deve ser visto no contexto de um sistema de justiça penal cada vez mais em linha com a dignidade humana e ao plano de Deus para o homem e a sociedade. O mandamento „não matarás‟ tem um valor absoluto e abrange tanto os inocentes como o culpado”, pontuou Francisco. Na ocasião, fez apelo aos governantes para um consenso internacional sobre a abolição da pena de morte. Pediu, em particular, aos governantes católicos, para não autorizarem nenhuma sentença durante este Ano Santo da Misericórdia. “O Jubileu especial da Misericórdia é uma ocasião propícia para promover no mundo formas sempre mais maduras de respeito pela vida e pela dignidade de cada pessoa. Mesmo o criminoso mantém o direito inviolável à vida, dom de Deus. Faço um apelo à consciência dos governantes, de modo que se possa alcançar um consenso internacional para a abolição da pena de morte. E proponho àqueles que de entre esses sejam católicos a cumprirem um gesto corajoso e exemplar: que nenhuma sentença seja executada neste Ano Santo da Misericórdia”, desejou o papa. CNBB com informações do News.va.


Compreenda por que a família é sagrada –

Ninguém jamais destruirá a força da família por ser ela uma instituição divina Concílio Vaticano II chamou a família de “a Igreja doméstica” (LG, 11) onde Deus reside, é reconhecido, amado, adorado e servido; e ensinou que: “A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47). Jesus habita com a família cristã, nascida no Sacramento do Matrimônio. A sua presença nas Bodas de Caná da Galiléia significa que o Senhor “quer estar no meio da família”, ajudando-a a vencer todos os seus desafios. Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26), Ele os quis “em família”. Tal qual o próprio Deus que é uma Família em três Pessoas Divinas, assim também o homem, criado à imagem do seu Criador, deveria viver numa família, numa comunidade de amor, já que „Deus é amor‟ (1Jo 4,8) e o homem lhe é semelhante. Quem não experimentou amor em casa terá dificuldade para conhecê-lo fora A família é o eixo da humanidade, é a sua pedra angular. O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar terá dificuldade para conhecê-lo fora dele. “A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC, 2207). Depois de ter criado a mulher “da costela do homem” (Gn 1, 21), a levou para ele. Este, ao vê-la, suspirou de alegria: “Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher…” (Gn 1, 23). Após esta declaração de amor tão profunda – a primeira na história da humanidade – Deus, então, mostra-lhes toda a profundidade da vida conjugal: “Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 1, 24). Depois de criar o homem e a mulher, Deus lhes disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai…” (Gn 1, 28). Este é o desígnio de Deus para o homem e para a mulher, juntos, em família: crescer, multiplicar, encher a terra, submetê-la. E para isso Deus deu ao homem a inteligência para projetar e as mãos para construir o seu projeto.


Deus vive no lar nascido de um matrimônio Nestas palavras de Deus: “crescei e multiplicai-vos” encerra-se todo o sentido da vida conjugal e familiar. Desta forma, Deus constituiu a família humana, a partir do casal, para durar para sempre, por isso, A FAMÍLIA É SAGRADA! Vemos aí também a dignidade, baseada no amor mútuo, que levam o homem e a mulher a deixarem a própria casa paterna, para se dedicarem um ao outro totalmente. Este amor é tão profundo que dos dois faz-se um só, “uma só carne”, para que possam juntos realizar um grande projeto comum: a família. Daí podemos ver que sem o matrimônio forte e santo, não é possível termos uma família forte e santa, segundo o desejo do coração de Deus. Tudo isto mostra como Deus está implicado nesta união absoluta do homem com a mulher, de onde vai surgir, então, a família. Por isso não há poder humano que possa eliminar a presença de Deus no matrimônio e na família. Deus vive no lar nascido de um matrimônio. Isto nos faz entender que a celebração do Sacramento do Matrimônio é garantia da presença de Jesus no lar ali nascente. Como é doloroso perceber hoje que muitos jovens, nascidos em famílias católicas, já não valorizam mais este sacramento e acham, por ignorância religiosa, que já não é importante subir ao altar para começar uma família! Toda esta reflexão nos leva a concluir que cada homem e cada mulher que deixam o pai e a mãe para se unirem em matrimônio e constituir uma nova família não o podem fazer levianamente, mas devem fazê-lo somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total, até a morte. Marcada pelo sinete divino, a família, em todos os povos, atravessou todos os tempos e chegou inteira até nós, no século XXI. Só uma instituição de Deus tem esta força. Ninguém jamais destruirá a força da família por ser ela uma instituição divina.

Felipe Aquino Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino

Uma nova primavera eclesial na Igreja? Segunda-feira, 22/fev/2016 –

Em entrevista exclusiva à Adital, o teólogo espanhol Victor Codina, especialista em Pneumatologia, explica a relevância desta reflexão teológica sobre o Espírito, que a ajuda as pessoas a se abrirem ao amor, à justiça e à dignidade humana. Sobre os caminhos futuros da Igreja, o teólogo destaca que o Papa Francisco retoma o Concílio Vaticano II e, mesmo com forte oposição dentro da Igreja, desperta uma nova primavera eclesial. O jesuíta espanhol, radicado há mais de 30 anos na Bolívia, avalia também o governo de Evo Morales, destacando que não é bom que um líder esteja permanentemente no poder. Codina diz ter a impressão de que Morales se considera um salvador.


A entrevista foi realizada por Cristina Fontenele, publicada por Adital, 19-02-2016. Adital: Como o senhor avalia o contexto sociopolítico da Bolívia? Victor Codina: Creio que Evo Morales representa um processo com muitos elementos positivos, como parte também a partir de baixo, dos movimentos populares, indígenas. Ele conseguiu nacionalizar algumas empresas transnacionais, a preocupação com a terra, a preocupação pelas autonomias e as línguas das diferentes etnias ou grupos. A Bolívia se define como um Estado Plurinacional, na qual se respeitam as diferentes nações e existe também o [conceito do] Bem Viver (Buen Vivir), que é uma tradição andina que significa que o bem viver não é viver sempre cada vez melhor, à custa dos demais, e sim ter uma vida digna para todos. Ter comida, saúde para todos. O Papa falou sobre os 3 Ts – teto, trabalho e terra –, pois é algo similar. Ele [Morales] conseguiu, claramente, um país melhor em muitos aspectos econômicos; nos últimos anos, houve um crescimento [econômico] de 5%, a pobreza extrema foi reduzida, foram feitas muitas obras de infraestrutura, estradas, as escolas melhoraram, a saúde, no entanto, falta muitíssimo por fazer. Porém, com o tempo, Evo, que está em seu terceiro mandato, mesmo que tenha respaldo popular, porque já esteve com 60%, tenho a impressão de que se considerou um pouco como o líder, o salvador. E, agora, será realizado um referendo [neste domingo, 21 de fevereiro] para permitir que a Constituição mude e que possa candidatar-se não somente uma, mas duas vezes mais, até o ano de 2025, que é o ano de aniversário da independência da Bolívia. Então, existe uma espécie de ânsia, de concentração de poder. Há, muitas vezes, contradições entre a linguagem oficial e a realidade, linguagem oficial de Evo como líder dos movimentos indígenas. Na prática, houve agressão a estes movimentos, a exemplo de uma agressão há três anos, em Chaparina, e ainda ninguém foi punido. Defende a terra, mas queria entrar pelo território indígena, sem, no fundo, pedir permissão aos indígenas para explorar petróleo. Fala-se também de um centro nuclear na Bolívia, que dizem que será para a saúde e coisas do tipo humanas, mas, realmente, também, quando os países civilizados como a Alemanha estão fechando as centrais nucleares, a Bolívia, que lidera esses movimentos em favor da Mãe Terra, criar um centro nuclear é contraditório. Junto a isso, tem havido uma centralismo muito grande. A Justiça está corrompida totalmente e é dirigida quase toda pelo governo; há pressão sobre a liberdade de imprensa, processos contra jornalistas e, sobretudo, qualquer crítica ao governo é vista como fruto da Embaixada dos Estados Unidos. Ou seja, é uma espécie de dualismo – se somos bons, ninguém pode nos atacar, os que nos atacam são do Império. Então, claro que isso gera descontentamento em muitos setores, como nas classes altas e médias, que são um pouco mais críticas, mas também em setores populares, que se sentem, muitas vezes, não compreendidos, não respeitados. Assim, me parece um caso muito claro, no qual o Espírito, que atua nesse processo de mudança, em muitos aspectos positivos, de justiça, igualdade, respeito á terra, aos indígenas, mas está misturado. Não podemos ser tão ingênuos de pensar que esse é o reino de Deus na Terra e que Evo é o Messias, nem podemos pensar que Evo é o demônio, e que, portanto, tudo o que fez foi uma coisa demoníaca e que é preciso aboli-lo. O ideal seria que esse movimento, o que tem de positivo, fosse levado por outras pessoas, porque não é bom que um líder esteja permanentemente no poder; por outras pessoas que sigam o mais profundo e o melhor desse movimento, de justiça, etc, mas evitando a corrupção, o narcotráfico, com maior liberdade de expressão, eleições totalmente livres e imparciais, e que saibam dialogar. O governo de Evo também já teve, muitas vezes, enfrentamento com setores da Igreja, não tanto com a Igreja de base, mas com os bispos. Com a vinda do Papa Francisco, eu creio que as coisas suavizaram. Evo disse que o Papa é seu papa, se abraçaram, mas creio que ele também manipulou a vinda do Papa como uma espécie de bênção para o seu governo, mas o Papa tampouco quer benzer governos. Creio que, no fundo, houve pelo menos uma diminuição da tensão e uma certa aproximação, mas é preciso ver como isso se desenvolverá. Adital: Existem outras lideranças fortes para suceder Evo?


Codina: Lamentavelmente, a oposição responde mais a um modelo neoliberal. Portanto, estão divididos. Além disso, responde a outro modelo anterior. Creio que aqueles sujeitos que seriam dentro do movimento de Evo, podemos dizer, que poderiam ser continuadores, foram marginalizados, de maneira que há um ou outro. Vejo como uma das coisas graves, tanto que os camponeses, os cocaleiros, que são do mundo de Evo, porque ele é um sindicalista cocaleiro, disseram: "temos que pensar pós Evo. Evo não é eterno, temos que buscar um „Evito‟, que continue as coisas positivas que fez Evo, porque ele não pode ser eterno”. Ele leva um ritmo de vida, de trabalho, viagens, inaugurações, que eu creio que, por mais saúde que tenha, nos seus 50 e poucos anos, isto não pode se manter porque pode levar ao esgotamento total. Creio que é necessário buscar outras alternativas. Dentro do mesmo Movimento para o Socialismo [MAS], que é o partido que Evo lidera, é necessário buscar outras personalidades que sejam capazes de conduzir. O que ocorre é que Evo realmente é um líder carismático, o que não é fácil de encontrar. Um líder carismático, indígena. Claro, mas Evo aproveitou tudo para se considerar um pouco chefe dos indígenas de toda a América Latina. Nesse sentido, eu penso que a imagem que Evo tem no exterior é mais positiva da que tem, muitas vezes, no interior, por essas contradições que apontamos. Adital: O senhor já declarou que "temos um Papa realmente cristão”. O que isto representa? Codina: Creio que, para compreender o Papa atual, é preciso levar em conta duas coisas. Primeiro, que o Papa atual retoma o espírito do Concílio [Vaticano II], que suscitou João XXIII, e que foi um ato realmente pentecostal, uma irrupção do Espírito, que corta com toda uma tradição de milhares de anos, após a Igreja como unidade de Estado, a separação com o Oriente, com os protestantes, de negação da modernidade e que quer fazer outra imagem de Igreja, mais próxima dos pobres. Este é o espírito que se deu no Concílio, ouvindo as fontes autênticas e abrindo-se aos sinais dos tempos. Após o Concílio, por uma série de motivos, essa relação de uns e, por medo, de outros foi se fechando. Praticamente, no final do pontificado de Paulo VI e, sobretudo, nos pontificados de João Paulo II e de Bento XVI, este espírito do Concílio, mesmo que citado com muita frequência, na prática, foi sendo freado. Mais adiante, um bispo questionou se o Concílio havia de fato trazido algo de novo. Isto foi gerando uma época que se chama „inverno eclesial‟, que contrasta com a „primavera conciliar‟ de João XXIII. Este „inverno eclesial‟ alcançou sua máxima expressão negativa ao final do pontificado de Bento XVI, quando ele comparou a situação da Igreja à dos discípulos que estão em uma barca no lago, em plena tempestade, quando parece que a barca é inundada. Ele disse que também parece que a Igreja é inundada, com os escândalos sexuais, os escândalos na banca do Vaticano, e, ao final, vem esse gesto admirável e profético de renúncia. Creio que [Bento XVI] entrou para a história, sobretudo, por esse gesto valente, sábio e prudente de renúncia. Então, temos que saber como está a situação da Igreja, nos últimos dois anos, pois a eleição de Francisco, vindo do fim do mundo e que traz a herança da Igreja latino-americana, está despertando uma nova primavera na Igreja, porque, no fundo, retoma o Concílio. Com suas expressões próprias, porque não é igual a João XXIII e os tempos mudaram, retoma o Concílio e vemos todos os seus gestos de amor, de justiça, de suas palavras, de alegria do Evangelho, da Carta sobre a Terra, está abrindo ao mundo outra imagem de Igreja, outra imagem de Deus, misericordioso, uma Igreja de portas abertas, hospital de campanha, Igreja que sai às ruas. Isto está despertando uma alegria e esperança, não só da Igreja, como também de muita gente de boa vontade, que descobre outra imagem diferente da Igreja que havia conhecido até agora. Adital: Para onde vai a Igreja? Quais os caminhos possíveis? Codina: Em primeiro lugar, temos que evitar pensar que a Igreja é o Papa. Creio que o Papa quer que a Igreja vá por caminhos realmente novos, em torno do Evangelho, da misericórdia, de saída às ruas. Porém, o problema é que a Igreja não é o Papa, portanto, nem todos os bispos estão nesta lógica, nem muito menos os cristãos, que, muitas vezes, vivem com tradições muito antigas. Creio


que são grupos minoritários que, com o tempo, vão crescendo, que sintonizam com essa linha do Vaticano II. O Papa tem seus conflitos, como apareceu neste Sínodo [dos Bispos sobre a Família, em outubro de 2015], nunca se havia visto na Igreja cardeais que enfrentassem o Papa. Portanto, há uma oposição na Igreja, forte. Os que cremos no Espírito pensamos que este [o Papa] trabalha por dentro e esperamos que essas linhas do Papa possam ser assumidas pelas pessoas da paz. Creio que a responsabilidade, agora, é ver como os grupos, paróquias, comunidades podem viver essa abertura que o Papa propõe. O Papa escreveu uma encíclica sobre a Terra – a Laudato Si‟, magnífica, mas, se continuarmos abusando da água e de outras coisas, por melhor que seja a Encíclica, as coisas não vão mudar. Se os governos não se engajam, tampouco. Portanto, se trata de que as pessoas tomem consciência de que tudo que há no fundo e que possam seguir esses caminhos abertos pelo Papa. Adital: O que é a Pneumatologia e qual sua relevância? Codina: É preciso explicar porque as pessoas pensam que é um estudo sobre os pulmões, confundem com a Pneumologia. Na realidade, a palavra vem do grego „neuma‟, que significa ar, respiração, espírito. Então, Pneumatologia significa uma reflexão teológica, a partir da fé, sobre o espírito, sobre o que os cristãos chamamos de Espírito Santo. Não é tampouco uma novidade porque as pessoas estão acostumadas à Eclesiologia, sobre a Igreja, Cristologia, sobre Cristo, Mariologia, sobre Maria. Porém, a Pneumatologia não é tão conhecida. Para entender a relevância da Pneumatologia, temos que entender que existem duas missões do Pai. Deus se dirige à humanidade com duas missões – a do Filho e a do Espírito. Há um escritor, padre da Igreja, no século II, Irineu, que explica dizendo que o Pai Eterno, Deus, tem duas mãos, a do Filho e a do Espírito. Com estas duas mãos, nos cria, nos conserva e nos leva ao reino. Então, todos sabemos sobre a mão do Filho, que se encarnou Jesus de Nazaré, e que, no seu tempo, puderam conhecê-lo, tocar, escutar. Mas a mão do Espírito é muito diferente, é invisível e sequer tem um nome próprio. Usam-se nomes de imagens, como o ar, o fogo, a água, a pomba, mas a mão do Espírito não se encarna em ninguém. Assim, podemos dizer que o Espírito prepara a obra de Jesus, desde a hora da criação até chegar à encarnação de Maria, e guia a obra de Jesus, sobretudo, a partir do batismo, e será também o que ressuscitará Jesus. Por outra parte, Jesus, depois da ressurreição, já na cruz, em São João, dá o Espírito aos discípulos, para que eles sigam sua obra. E como atua o Espírito? Atua de dentro das pessoas, dos grupos, das comunidades, de dentro dos movimentos, dos acontecimentos históricos. Portanto, o Espírito, embora não o vejamos, está presente na criação, nas pessoas, não somente dentro da Igreja, mas, sim, em todo o lugar. O Espírito preenche o Universo. E o que faz o Espírito? Ajuda a nos abrir ao mistério de Jesus, ao mistério do reino e, portanto, a tudo que seja amor, justiça, verdade, luta pela dignidade humana, superação da morte, defesa da vida. Cuidado da criação, o amor, a alegria, tudo isto é fruto do Espírito. Porém, a dificuldade está em que a mão do Filho não tem ambiguidades. Mesmo que as pessoas não o tenham reconhecido, Jesus era transparente, nos refletia o mistério do Pai e do Filho. Em contrapartida, o Espírito, como atua sem encarnar em ninguém e sim em cada uma das pessoas e grupos, está misturado com os erros, pecados, limitações humanas. Portanto, às vezes, não é fácil discernir o Espírito. A pergunta é – como sabemos que um Espírito é Espírito Santo ou qualquer outro espírito? Diríamos que a mão do Espírito tem que confrontar-se com a mão do Filho e ver se está de acordo com o que Jesus disse e viveu. Assim, um espírito que vive no ódio, na violência, na morte, na destruição das pessoas, na humilhação, a não respeitar a igualdade dos gêneros, a não respeitar as culturas, as religiões, a não respeitar a Terra, este não é um Espírito Santo, não é o Espírito de Jesus. E, por sua vez, tudo aquilo que fomente o amor, a justiça, a fraternidade, a alegria autêntica, a comunhão, a solidariedade, o respeito à Terra, aos mais pobres, a misericórdia, isto é o Espírito de Jesus, e prolonga o que ele fez na sua vida. Adital: Então, se não é o espírito de Jesus, que outros espíritos seriam? Codina: Pois diríamos que são espíritos maus. Estes são considerados os que trabalham em forma de demônio, com chifres e caudas, mas creio é preciso superar essa imaginação. Os espíritos maus


são uma estrutura machista, guerra, armamento, tráfico de pessoas, a destruição da natureza, o sistema neoliberal que mata tudo, que está ocorrendo na Europa com os pobres imigrantes que ficam excluídos, tudo isto não é o Espírito de Jesus. Os espíritos maus são estruturas de mal e pecado contrárias à vida. Portanto, um critério para saber se é um Espírito de Jesus ou espírito mau é se leva à vida ou à morte. Narcotráfico e feminicídio já se vê que isto não pode ser o Espírito de Jesus.

Comunhão e integração “em caminho”. Resposta de Francisco sobre os divorciados recasados. Artigo de Andrea Grillo Segunda-feira, 22/fev/2016 –

"Então, olhando para a frente, para a Exortação chegando, já podemos dizer que Francisco, respondendo à pergunta direta – “mas os divorciados recasados poderão receber a comunhão?" – indica na ampliação do conceito de comunhão a estrada da resposta", escreve Andrea Grillo, teólogo, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, em artigo publicado no seu blog Come Se Non, 19-02-2016. A tradução é de Ramiro Mincato. Eis o artigo. Na já familiar entrevista coletiva “em voo”, em sua volta do México, o Papa Francisco encantou a todos com respostas surpreendentes e corajosas. Vou concentrar-me somente na resposta sobre a questão da comunhão aos “divorciados recasados”. Aqui, tanto o Papa como os interlocutores eram obrigados, inevitavelmente, a reenviar ao texto, agora iminente, da Exortação pós-sinodal. Até a Páscoa, confirmou o Papa, vamos têlo. Mas ainda assim é interessante ver em que direção foi a resposta de Francisco. E é significativo que as reações imediatamente "polarizaram" as perspectivas. Por um lado se diz: "Francisco disse que eles não podem comungar"; por outro, se diz: "não, ele disse que podem". Parece-me que a novidade da resposta do papa – em certa continuidade com os resultados do Sínodo - está no "método". Aborda a questão de modo "dinâmico" e não "estático". Eu diria que o conceito de comunhão é que deve ser questionado. Nós, na verdade, de tradição latina, pensamos a comunhão antes como "pontual regularidade". O solteiro e o casal estão "em comunhão" - e podem tomar a comunhão - se não violam alguma norma. Enquanto a regra for violada, não podem; se não há mais violação, podem. Este modelo determina a "impossibilidade ontológica" à comunhão para os divorciados recasados. E esse modelo ainda é, em essência, a do direito canônico. É um modelo


plausível, com base, mas muito unilateral, uma vez que é "digital" e não "analógico". Está aceso ou apagado, como um "bit" do computador, e não conhece meias medidas. Francisco introduz, junto com esse modelo, aquele pastoral, que não é construído assim, e que sabe que a comunhão está “em caminho”. E que é preciso trabalhar para honrar, não a oposição entre o bem e o mal, mas também as porções de bem em crescimento e as porções de mal em declínio. Este modelo propõe uma "outra estrada". Para este modelo a comunhão é "o lugar de preparação" não só "lugar de prazer", não só prêmio, mas remédio. Por isso, poderíamos dizer, a condição dos "divorciados e recasados" não é apenas "pontual", mas "dinâmica". Mesmo aqueles que hoje "não podem", amanhã, talvez, "poderão". Esta resposta de Francisco, que corresponde a muitas outras dadas nesta coletiva de imprensa e em outras anteriores, indica uma "leitura da comunhão", que é mais ampla e que se reflete também sobre as relações intra-eclesiais. Até mesmo a "família episcopal" que também carrega suas "feridas" e as suas "separações" - deve redescobrir esta forma diferente de comunhão. A comunhão que não é feita principalmente de "unanimidade formal", mas de "diálogo e debate aberto"; uma comunhão que "se torna" difícil, e não que se "pressupõe" como óbvia. Então, olhando para a frente, para a Exortação chegando, já podemos dizer que Francisco, respondendo à pergunta direta – “mas os divorciados recasados poderão receber a comunhão?" – indica a ampliação do conceito de comunhão como a estrada da resposta. Não será simplesmente uma "técnica pastoral" a ser inventada: será uma forma de "comunhão eclesial" a ser colocada em jogo, com a aceitação das diferenças e da gradualidade como “caminho", não apenas "para uma possível nova comunhão futura", mas também como "novo rosto da comunhão já presente".

Evangelii Gaudium promove a liturgia autêntica. Um ponto de inflexão em direção à sexta Instrução sobre a Reforma da Liturgia? Artigo de Andrea Grillo Segunda-feira, 22/fev/2016 –

"É preciso que se ponha em prática a Sacrae Liturgiae Gaudium! Para isso é preciso pôr um fim às contorções disciplinares e institucionais que apenas resultam em paralisia e perda de tempo, e que não se baseiam na alegria, mas no medo; elas não se fundamentam na esperança, mas na resignação", destaca Andrea Grillo, teólogo italiano, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua, em artigo publicado por Blog Pray Tell, 09-02-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa. Eis o artigo.


Na estrutura do pontificado do Papa Francisco – conforme já se disse várias vezes –, a liturgia tem um lugar, não de um “discurso direto”, mas de uma “prática indireta”. Isso porque o papa é um “filho do Concílio”, o que ele incorpora de modo flexível e concreto Em suas missas na Casa Santa Marta, em suas audiências gerais às quartas-feiras e em suas homilias de domingo, bem como em seus principais discursos e medidas litúrgicas específicas (por exemplo, a modificação das rubricas para o Lava-pés da Quinta-Feira Santa), fica claro que Francisco celebra a liturgia com “a alegria do Evangelho”. E tem mais: o texto “programático” de Francisco, Evangelii Gaudium, apresenta uma visão eclesial de uma Igreja em missão – como um “hospital de campanha” – de um jeito que atrai uma renovada atenção à relação entre liturgia e vida, e entre liturgia e cultura. Essa visão se manifesta na intenção do papa em descentralizar o poder curial, confiando uma competência aos episcopados regionais que é até mesmo doutrinal em seu caráter. A apropriação de uma tal descentralização dentro do ensino da própria Evangelii Gaudium já é algo altamente significativo. Tudo isso está em contrariedade fundamental com o que vem acontecendo na área da liturgia dos últimos 15 anos, desde a promulgação da Quinta Instrução “Para a correta implementação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia”,Liturgiam Authenticam (2001). Esse documento estagnou com eficácia no nível universal todo o esforço na inculturação autêntica da liturgia. A Liturgiam Authenticam convidou a uma reconstrução universal da liturgia baseada em seu protótipo latino – inevitavelmente estático e fechado – favorecendo uma tradição obstinada e escolasticamente literal e fingindo que as línguas vernáculas carregam a mesma estrutura e os mesmos elementos retóricos que o latim. Ele tem sido, desde o início, um projeto que carece de qualquer fundamentação sólida, não só na simples experiência humana, mas também na tradição da Igreja. Nunca os “idiomas de chegada” foram tratados com tal desconsideração. É como se o conhecimento do texto original fosse essencial para se compreender a sua tradução! Mas quando um idioma que não mais é ensinado por nenhuma mãe ao seu filho se torna a medida basilar e decisiva das línguas vivas, quem pode continuar vivendo dentro de uma tal “Laranja Mecânica”? Quem poderia ter concebido um tal sistema abstruso e autorreferencial? Se a estrutura inteira é determinada por um idioma que “não tem futuro” – o que é o caso do latim, uma língua sem a capacidade de renovação, qualidade que alguns acham tranquilizadora, pois significa que ela também é privada de uma história –, quanto tempo vai ter de passar antes que a tradição seja reduzida a nada mais que um “museu de cera”? Depois de um reinado conturbado de quinze anos, a Liturgiam Authenticam chegou ao final da linha. Ele não só tem críticas legítimas feitas desde o começo, seja do ponto de vista doutrinal, seja do ponto de vista pastoral, mas também os fatos o demonstraram ser, ao longo dos anos, simultaneamente falho na teoria e praticamente inaplicável na prática. E onde o seu conteúdo foi forçado apesar desses problemas, o resultado foram textos litúrgicos que são documentos tecnicamente “corretos” – isto é, coerentes com normas pobremente concebidas –, mas que carecem, consequentemente, de qualquer relação com a língua viva, com a vida real, com a fé vivida daqueles para os quais o uso dos textos se destina. A raiz de tudo não reside em algum problema filosófico, mas em um problema teológico e antropológico: uma tradição rígida e a pressuposição de que a experiência do sujeito litúrgico não é importante. Os bispos hoje, ao redor do mundo, encontram-se numa situação difícil: eles querem continuar a “obedecer o que vem de Roma”, é claro; mas também querem e devem servir à


fé das pessoas. Eles sabem muito bem que a obediência em Roma significa produzir textos inutilizáveis. Mas também sabem que promover um verdadeiro crescimento de suas igrejas significa que precisam se desviar substancialmente dos “critérios romanos”. A única solução possível é “parar tudo”. Não pedir nada a Roma, a fim de evitar tropeçar num processo de controle central distorcido, pelo medo de que a evolução venha a se tornar uma involução e de que a obediência venha gerar ainda mais confusão, encorajando apenas os espíritos mais sectários. O radicalismo literalista do documento Liturgiam Authenticam vem gerando divisão e desespero, e isso era facilmente previsível quinze anos atrás. Está claro agora que o sentimento mais generalizado entre as lideranças das conferências episcopais em todo o mundo é o medo. Em quinze anos, a Liturgiam Authenticam produziu – pelo menos entre a hierarquia – um verdadeiro “angor liturgicus”, uma ansiedade e um sofrimento que, agora, alcançou níveis intoleráveis. A “alegria do evangelho” não pode coexistir com o “medo da liturgia”. E se começarmos, em questão litúrgica, com “luctus et angor” – frase incluída no título original do que acabou se tornando a constituição conciliar Gaudium et Spes –, como poderíamos assumir o verdadeiro e grande reavivamento da gaudium e da spes conciliares a que o Papa Francisco nos chama? O documento Evangelii Gaudium visualiza uma Igreja em missão, capaz de uma liturgia autêntica. Mas não pode haver uma liturgia autêntica até que rejeitemos a postura sem vida e defensiva do Liturgiam Authenticam, que somente nos dará uma Igreja fechada e trancada em seu próprio passado, onde a liturgia se torna um “museu diocesano”, com arcondicionado e vidros à prova de balas. Eis a atual conditio sine qua non: ou se escreve uma nova, sexta instrução sobre a reforma litúrgica, ou seremos cada vez mais dominados pelo medo, pela paralisia e imobilidade. E as boas autoridades romanas, trancadas em seus departamentos, continuarão gastando o seu tempo aprovando juízos sobre palavras particulares, sinais de paz, formas diferentes de cantar, as estruturas latinas ignoradas... o olhar deles dirigido apenas em direção ao passado, sem alegria, tementes do menor abuso litúrgico, ignorando os costumes e a grande e inexaurível experiência dos homens e mulheres. Mas até mesmo estas autoridades estão entre as vítimas: a Liturgiam Authenticam os tem “forçado” a trabalhar desse modo! Como é possível que recebam uma carta do papa explicitamente pedindo pela reforma de uma rubrica a fim de que eles “abram os seus olhos” e respirem? Com certeza, a tarefa da Congregação deveria ser a de incentivar, propor aberturas. Como pode haver, numa Igreja que se vê essencialmente em missão, uma congregação que se especializa somente em sistemas de fechaduras e alarmes? Creio que uma redescoberta da nossa “vocação à alegria” só pode acontecer se essa congregação for capaz de adotar, finalmente, uma nova instrução. Muito tempo e energia já foram gastos ao longo dos últimos quinze anos em esforços para se evitar aplicar princípios que são inaplicáveis, tanto em teoria como na prática. No estágio atual da nossa história, não precisamos de lamentações litúrgicas; precisamos de canções à alegria. Sei que muitos especialistas, teólogos e pastores estariam prontos e dispostos a colaborar na preparação de uma instrução que traduza a Evangelii Gaudium em orientações práticas para uma área tão importante como a liturgia. Em resumo, precisamos de um texto que ponha em prática a Sacrae Liturgiae Gaudium! E precisamos pôr um fim a essas contorções disciplinares e institucionais que apenas re-


sultam em paralisia e perda de tempo, e que não se baseiam na alegria, mas no medo; elas não se fundamentam na esperança, mas na resignação. Em vez de criarmos “irrealidades” – como línguas artificiais baseadas no latim que não existe e que jamais existirá, mesmo por decreto de uma congregação romana –, ouçamos o convite a dar primazia à realidade, a verdadeiramente darmos um passo para o lado de fora dos muros que construímos ao nosso redor, a respirarmos um ar puro, falar línguas vivas, estarmos entre os nossos irmãos e irmãs, inalar o cheiro: escrevamos, agora, uma nova instrução. Essa é a única maneira em que seremos capazes de restaurar um pouco de senso comum.

O vírus Zika e a “pílula congolesa” Segunda-feira, 22/fev/2016 –

No voo de retorno do México, no diálogo com os jornalistas, Francisco, respondendo a uma pergunta sobre o vírus Zika e sobre as ações que se querem ativar para freá-lo, falou de aborto e contracepção O Papa distinguiu o aborto, que “não é um mal menor”, mas “um crime”, do evitar a gravidez, que “não é um mal absoluto”. E citou o caso da admissibilidade da pílula anticoncepcional estabelecida nos anos Sessenta para as irmãs em risco de violência A reportagem de Andrea Tornielli, publicado por Vatican Insider, 21-02-2016. A tradução é de Benno Dischinger. A querela da Humanae vitae Como é sabido, aos 25 de julho de 1968, em pleno verão, no ano que marcará a história do século vinte e será recordado para o início da contestação estudantil, o Papa Montini tornava conhecida a “Humanae vitae” a encíclica com a qual reafirmava a doutrina tradicional da Igreja sobre o controle dos nascimentos, declarando ilícito o uso dos meios anticoncepcionais. Será sua última encíclica. Nos dez anos subsequentes de pontificado não publicará mais, após a onda de críticas, contestações e ataques pessoais aos quais foi submetido também em muitíssimos ambientes católicos. O problema da planificação demográfica e da eventual abertura para a utilização dos contraceptivos da parte dos esposos cristãos já tinha levado João XXIII a instituir, em março de 1963, uma comissão de estudo. La "pílula congolesa" A questão já tinha sido debatida pelos teólogos em 1961, quando explodiu o caso da assim dita “pílula congolesa”. No decurso das desordens e das violências da guerra no ex Congo belga, muitas religiosas católicas tinham sido violentadas. Naqueles casos de estupro era lícito ou não o uso da pílula anticoncepcional? O tema foi enfrentado por “Estudos Católicos”, a revista próxima ao Opus Dei, que confiou a resposta a três estudiosos de teologia moral: monsenhor Pietro Palazzini, então secretário da Sagrada Congregação do Concílio e futuro cardeal; Francisco Hürt, professor de Moral na Gregoriana e Ferdinando Lambruschini, docente da mesma disciplina na Lateranense. Todos os três religiosos justificaram a utilização da pílula contraceptiva no caso das Irmãs que haviam sofrido violência. Aquela discussão, ligada a um episódio específico,


marcou de certo modo um divisor de águas: os moralistas de fato tinham recorrido a princípios e distinções (o princípio de totalidade, para o qual uma mutilação é lícita para o bem total da pessoa, ou o princípio do conflito entre dois males) que depois se teriam tornado argumentos para os defensores do abandono da tradicional posição católica. Os argumentos usados para o caso-limite foram imediatamente estendidos a outras situações e, de caso em caso, se começou a por em discussão o princípio da intrínseca negatividade da prática anticoncepcional. O efeito dominó O debate é muito bem narrado por dom Ambrogio Valsechi, teólogo moralista que foi afastado de sua cátedra no seminário de Venegono, no livro “Regolazione delle nascite” [Regulação dos nascimentos] (Queriniana, 1967): os argumentos usados para a pílula congolesa “abriam também a estrada ao emprego de pílulas para regular a fecundidade. Pode-se perguntar: por que o que era lícito para uma Irmã do Congo em vista do seu bem pessoal-espiritual, não podia ser permitido também à mulher desposada, quando a inibição ovulatória mirava um bem igualmente grande (regulação dos nascimentos) sem as graves dificuldades e riscos de uma completa abstinência? E não era possível que se restringisse também na família o direito-dever de procriar e, por isso, também neste caso a “esterilização” tivesse significado simplesmente biológico?”. Dois anos após o debate sobre a pílula congolesa por primeira vez um católico, o ginecologista inglês John Rock, negava num livro seu o caráter da ilícita esterilização ao emprego da pílula para o controle dos nascimentos. “Começou tudo dali, foi o caso congolês que abriu a questão – recordará Guido Gatti, docente de Moral no Pontifício Ateneu Salesiano – Começou-se a falar de legítima defesa, depois outros ampliaram a novos casos, sempre mais distantes, até que se chegou àquela que foi chamada a pílula católica. Depois se acenou ao Concílio e, enfim, se chegou ao pronunciamento do Papa”. A “Humanae vitae” não se pronuncia sobre os casos-limite. O Magistério da Igreja não se pronunciará sobre o caso específico da violência e do estupro. “A Humanae vitae não entrou no mérito destes casos – explicou Palazzini – A encíclica proibia o uso da pílula, mas no caso que temos enfrentado se tratava de pessoas que eram constrangidas contra a própria vontade a uniões sexuais. A diferença com respeito aos casos aos quais a encíclica se referia é evidente”. Palazzini desmentirá também a quantos afirmam que aquele parecer de 1961 sobre a “pílula congolesa” tenha lesado a posição tradicional da Igreja sobre os anticoncepcionais. “Contrariamente a quanto pensam muitos, a pílula não é condenada pela Igreja em absoluto. Ela o é somente em relação à intenção com que é assumida. No caso por nós considerado, a intenção é a “legítima defesa”, e não vejo como não deva ser considerado lícito o recurso à pílula da parte da mulher em perigo iminente de ser agredida... A Humanae vitae, ao invés, se refere à intenção de ter relações sexuais artificialmente fechadas à hipótese da procriação em âmbito conjugal. É bem outra coisa...”. Zika e o precedente da AIDS Algumas das motivações postas em campo pelos teólogos moralistas no caso da “pílula congolesa” podem ser aplicadas ao caso do vírus Zika e da concreta ameaça de graves malformações para o bebê? O Papa, citando o exemplo africano, após ter rebatido que aborto e contracepção não podem ser postos no mesmo plano, deixou entender que sim. Em novembro passado, no voo de retorno da África Central, tinha sido perguntado a Francisco se ante a difusão epidêmica da AIDS não seria o caso para a Igreja mudar de posição sobre o não ao preservativo.


O Papa tinha definido a pergunta como “parcial”, comparando-a àquelas que eram postas por Jesus aos doutores da lei: “É lícito ou não curar num sábado?” Francisco havia recordado que sim, o condon “é um dos métodos” para limitar a difusão da infecção e que “a moral” da Igreja se encontra sobre este ponto ante uma perplexidade”, devendo ter presente tanto a necessidade de preservar a vida das pessoas evitando que sejam infectadas, como de defender o exercício de uma sexualidade aberta à transmissão da vida. “Mas, este não é o problema – acrescentou o Papa – o problema é maior”. „É obrigatório curar”, explicou, tornando própria a resposta de Jesus que curou o doente de hidropisia não obstante fosse sábado, convidando porém a olhar aos grandes problemas da África: “A desnutrição, a exploração, o trabalho em escravidão, a falta de água potável, estes são os problemas. Não falamos se se pode usar tal emplastro para tal ferida. A grande injustiça é uma injustiça social, a grande injustiça é a desnutrição. Não me agrada descer a reflexões casuísticas quando o povo morre pela falta de água e pela fome”. A resposta de Bento XVI As aberturas à utilização do profilático, em particular para categorias em risco ou nas relações de casal em caso de um cônjuge soropositivo, não são novas na Igreja: neste sentido tinham se expressado, nas últimas décadas, os cardeais Carlo Maria Martini, Dionigi Tettamanzi, Javier Lozano Barragán, Georges Cottier. A dizer o mesmo, provocando reações variadas e também alguma dor de barriga, em 2010 tinha sido também Bento XVI, no livro-entrevista com Peter Seewald “Luz do mundo”. “Concentrando-nos somente no profilático – havia respondido o Papa Ratzinger – quer dizer banalizar a sexualidade, e esta banalização representa precisamente a perigosa razão pela qual tantas e tantas pessoas não vêm mais na sexualidade a expressão do seu amor, mas somente uma espécie de droga, que se subministram por si.” O Papa, porém, acrescentava: “Podem existir casos singulares justificados, por exemplo quando” quem se prostitui “utiliza um profilático, e isto pode ser o primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver de novo a consciência do fato de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer”. Neste caso se estava falando da responsabilidade de não infectar e, portanto, de não por em risco a vida do outro. No caso do vírus Zika se trata de evitar a concepção de bebês com gravíssimas malformações cerebrais. Aquelas palavras sobre a "Humanae vitae" De resto, Bento XVI, precisamente no livro-entrevista “Luz do mundo” havia falado em termos muito realistas da contracepção, confirmando-se uma vez mais como teólogo e pastor fora dos clichês nos quais tantos “ratzingerianos” procuraram e procuram enquadrá-lo. “As perspectivas da “Humanae vitae” continuam válidas, mas outra coisa é encontrar caminhos humanamente percorríveis. Creio que sempre haverá minorias intimamente persuadidas da justeza daquelas perspectivas e que, vivendo-as, ficarão plenamente apagadas, assim, de se tornar para outros um fascinante modelo a seguir. Somos pecadores. Mas não deveremos assumir este fato como instância contra a verdade, quando não é vivenciada aquela alta moral. Deveremos procurar fazer todo o bem possível, e apoiar-nos e suportar-nos mutuamente”.


Entenda como o declínio da natalidade prolonga a crise econômica As consequências da drástica diminuição no número de nascimentos ainda é subestimada pelos governos, mas seus efeitos negativos já são inegáveis Quarta-feira, 06/jan/2016 – Susan Yoshihara –

Autora: Susan Yoshihara, Vice Presidente de Pesquisa do C-Fam (Center dor Family & Human Rights) Especialistas se esforçam para entender por que a economia global ainda fraqueja anos após a crise econômica mundial de 2008. The Wall Street Journal dedicou uma semana de primeiras páginas abordando uma grande e subestimada causa: o declínio da natalidade e o envelhecimento médio da população. Eles descobriram que, em uma economia globalizada, os índices demográficos de um país afetam o resto do mundo. Em 2016, a população em idade produtiva das maiores economias vai cair pela primeira vez desde 1950, incluindo a Rússia e a China. Enquanto isso, o número de pessoas com 65 anos ou mais vai subir. A necessidade de bens duráveis produzidos em países em desenvolvimento vai diminuir, deixando em dúvida as perspectivas da próxima geração. Um em cada cinco idosos no Japão ainda está empregado, o dobro da média dos países desenvolvidos. Uma saúde relativamente boa permite que o Japão direcione apenas 10% de sua economia à saúde, enquanto nos Estados Unidos o gasto é de 17%. Com exoesqueletos flexíveis, os trabalhadores idosos do Japão têm a mesma capacidade de levantar peso de pessoas trinta anos mais novas. Um robô chamado Pepper ajuda os idosos com algumas de suas necessidades de saúde. Na nova cesta de itens para o índice de preço do consumidor, o governo japonês reduziu refeições escolares e acrescentou aparelhos auditivos. Aproximadamente um de cada quatro idosos japoneses vive abaixo da linha da pobreza – 40% a mais do que entre toda a população. Como não haverá pessoas suficientes para cuidar dos túmulos das famílias no futuro, idosos espalham “cinzas falsas” de casas flutuantes em Tóquio para se preparar para essa alternativa. Uma empresa de balões vai jogá-las do céu por cerca de dois mil dólares. Em contraste, um quarto do mundo será africano até 2050 e 1,3 bilhão de pessoas com uma idade média de apenas 28 anos serão então a força de trabalho do mundo. Entretanto, a Europa, com carência de mão de obra, está pagando a governos africanos para levar de volta seus cidadãos que vivem ilegalmente na Europa. A África fica para trás do Leste Asiático na geração de empregos e na infraestrutura – escolas e estradas, por exemplo. Apenas 9% dos adultos da Nigéria estão estavelmente empregados, diz The Wall Street Journal, um panorama típico para a região. A Índia provê um bom exemplo para aqueles que esperam que a indústria levará a África a um rápido desenvolvimento. Como outras nações em desenvolvimento, a Índia enfrenta “desindustrialização prematura” e um alto índice de desemprego. Como os países desen-


volvidos estão envelhecendo, a demanda pelo que a indústria produz, de carros a mobiliário, está se estabilizando, com pouca possibilidade de aumentar. A China capitalizou a sua imensa população em idade produtiva para se tornar a segunda maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos. Mas depois de três décadas de planejamento familiar forçado pelo Estado, as fábricas estão enfrentando a escassez de mão de obra, já que os filhos únicos estão deixando o trabalho para cuidar de seus velhos pais. Os salários chineses subiram por uma década com base em aumentos de mais de 10%, o que fez com que as corporações buscassem mão de obra barata em outros lugares. Os executivos da Levi Strauss consideraram uma mudança para a África, onde os salários são baixos e a geração mais nova é numerosa. De acordo com The Wall Street Journal, o dividendo demográfico da China se tornou um “peso demográfico”. Uma das razões é que décadas de matança de bebês meninas na China, como na Índia, “eliminou o casamento universal, o fundamento da organização socioeconômica durante séculos.” Na metade do nosso século, haverá 186 homens solteiros para cada 100 mulheres na China; na Índia, a proporção será de 191 para 100. Mesmo que a média de nascimentos por sexo se corrigisse da noite para o dia, 21% dos homens chineses e 15% dos indianos estariam ainda solteiros aos 50 anos. Os Estados Unidos emergiram como um vencedor nessa comparação. Em média, a força de trabalho dos países desenvolvidos vai encolher 26% até 2050. A dos Estados Unidos vai crescer até 10% no mesmo período, perfazendo 60% da população total – ainda assim, abaixo dos atuais 66%. The Wall Street Journal prevê que o déficit do comércio americano com a China vai se tornar positivo até 2042, em boa parte devido à vantagem demográfica dos Estados Unidos sobre a China. Acesse a versão original do artigo na página do C-Fam. Tradução: Felipe Koller


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