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CMY Canoinhas (SC), Sexta-feira, 01 de Julho de 2016

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Canoinhense fundador do PGC Nelson de Lima, o Setenta, é acusado de dar ordens de dentro de uma penitenciária federal no MS e é o fundador da facção criminosa

ARQUIVO

Assaltos, furtos, receptação e adulteração de veículos aparecem como outros crimes envoltos na organização criminosa que comanda o tráfico de drogas com a conexão catarinense e os outros estados até o Paraguai. Nas conversas grampeadas, policiais verificaram que criminosos livres e presos buscam contatos que transportem a compra e venda de droga, principal fonte de renda da facção e dos membros, assim como todo e qualquer crime que possa trazer lucro. Das cadeias, saem ordens para delitos como o roubo em residência, ao comércio, de veículos, a bancos, sequestros, além de crimes contra a vida.

www.jmais.com.br Canoinhas Há seis anos atrás das grades, cumprindo pena em uma Penitenciária Federal em Mato Grosso do Sul, o canoinhense Nelson de Lima, o Setenta, 42 anos, continua comandando o crime de dentro da cadeia. É o que concluiu órgãos de segurança pública catarinenses ao abrir várias frentes de investigação após a última onda de ataques a ônibus, a órgãos de segurança pública e a policiais nas ruas de Santa Catarina, no final de 2014. Segundo reportagem do jornal Diário Catarinense, policiais civis conseguiram identificar, mapear e prender uma extensa rede de traficantes que abastece o Estado e turbina uma série de outros crimes a partir da fronteira com mais três Estados e o Paraguai.

Além de desmantelar em uma nova ofensiva a estrutura financeira da facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC), fundado por Setenta, o trabalho revela a continuidade da intensa associação entre bandidos que estão presos e em liberdade numa conexão interestadual que envolve criminosos no Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, além do Paraguai. A apuração sobre negócios ilícitos na região fronteiriça, cujos comandos demonstram nascer e se permear nas cadeias sob os olhos do Estado, está em mais de 3 mil páginas que levaram o juiz da unidade de apuração de crimes praticados por organização criminosas em Florianópolis, Rafael Brüning, a decretar 17 prisões preventivas — ao total são 21 envolvidos. Policiais afirmam que foram identificados dois núcleos distintos aliados ao PGC encarregados do trans-

porte de maconha, cocaína e crack das regiões da fronteira para SC. Os principais personagens apontados e incriminados são dois homens, um deles é Setenta. Um dos fundadores do PGC no começo dos anos 2000 na Grande Florianópolis, Setenta usa a intensa rede de contatos que possui nas regiões fronteiriças com o Paraguai. Ele também seria elo entre os criminosos da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, que amplia os crimes e busca avançar em SC e no próprio Paraguai. Policiais da Divisão Especializada de Combate ao Narcotráfico (Denarc) da Deic monitoraram dezenas de suspeitos pela movimentação de drogas entre SC e a fronteira com o Paraguai e a Bolívia. Na investigação surgiram confissões de crimes como homicídio, combinações para roubo de carros, sequestros e negociações de fuzis.

Setenta chegou a passar meses em Canoinhas em 2010 Em 2013, o Diário do Planalto publicou reportagem traçando um perfil de Setenta a partir do que relatou sua irmã mais velha, Soedeli Jungles de Lima, que, divorciada, vive com duas filhas no bairro Piedade, em Canoinhas. Setenta – simplesmente a soma de anos de cadeia que ele deveria cumprir – nasceu e cresceu em Canoinhas, no bairro Campo d’Água Verde, mais precisamente na Vila Zaniolo, conjunto habitacional criado para moradia dos funcionários da empresa. Os pais de Nelson trabalhavam na empresa que fechou na década de 1990. Antes dos dois anos de idade perdeu o pai, vítima de derrame. A mãe morreu quando ele tinha seis anos por causa de um câncer. Dos seis irmãos, sobrou para a irmã mais velha cuidar do

caçula Nelson. Quando Setenta tinha 17 anos, foi embora para Caçador com Soedeli e sua família. “Ele era um piá muito tranquilo”, contou a irmã em 2013. Em Caçador, arrumou emprego de garçom, conheceu uma cozinheira com quem teve um caso e acabou indo morar com ela, enquanto Soedeli voltou com a família para Canoinhas. Com a namorada, Setenta iniciou um negócio – representação de lojas de confecções. O negócio foi mais promissor do que o restaurante. Ele fazia representação por toda a região, inclusive em Canoinhas. Foi justamente na sua terra natal que pegou sua primeira pena. Segundo Soedeli, ele emprestou dinheiro a um amigo que trabalhava como garçom no Clube Laffayette. No dia de cobrir uma série de cheques para a empresa que representava, não conseguiu reaver o dinheiro com o suposto amigo. Dias depois teria recebido um recado de que o garçom teria dito que quando ele viesse cobrar o dinheiro, seria recebido à bala. Na linha de raciocínio ‘é ele ou eu’, teria ido armado cobrar o colega. Os dois discutiram e ele matou o garçom. Para a Polícia, foi latrocínio (matar para roubar). Acabou sendo julgado e condenado. DO HOMICÍDIO AO ROUBO Há 18 anos Setenta foi preso pelo primeiro homicídio. Mas não esquentou muito o banco na cadeia. Acabou fugindo e foi parar no Paraguai, onde, segundo Soedeli, seguia a filosofia de Robin Hood – roubava caminhões de grandes frotas do Brasil e vendia no Paraguai. Nessa rotina, ele passou dois anos, até ser pego visitando familiares


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