Degustação Elos Familiares

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Elos

Familiares

CĂŠlio Alan Kardec de Oliveira


A presentação Existe felicidade pronta ou será algo que se vende, se compra ou se guarda num esconderijo para ser doado ou transmitido a alguém? O que é a felicidade? As pessoas cavam em sua busca com se fosse um tesouro que se pudesse tocar e reter! Outros imaginam ser a felicidade o resultado da conquista e manutenção do estado de saúde e de juventude. Notam-se aqueles entendendo a felicidade ser atingível quando se vive na abastança e no gozo dos prazeres, na forma de entretenimento, estímulo e satisfação proporcionados pela civilização moderna. Para entrar nesses gozos ou prazeres, o indivíduo haverá de transitar no mundo com títulos acadêmicos, exercer influência pessoal na forma de autoridade humana, ter prestígio, empreender para possuir bens e primar-se pela expressão de uma exuberante inteligência. A maioria das criaturas humanas busca momentos felizes e, para tanto, bebe na fonte dos desejos, das ilusões, das ambições e dos sonhos. Umas almejam mais, outras menos, entretanto, nem sempre quem almeja mais tem mais e a recíproca é verdadeira. Não existe uma medida na busca da felicidade. Nesse diapasão, gozar dos bens do mundo, viver emoções compensadoras, ter prestígio, manter inalterado o estado de saúde, arremete o indivíduo a estados emocionais, sugerindo uma vida prazerosa e algo feliz. As pessoas, para


conquistarem isso, comportam-se de maneiras diversas, senão vejamos: uma aspira ter um automóvel, outra simplesmente desejaria se locomover; uma anseia vazar os céus em bólidos supersônicos para se deliciar em passeios turísticos inusitados, outra se satisfaria visitando a mãe no sítio onde viveu sua infância; uma ambiciona os dons da oratória, outra gostaria de falar ou simplesmente emitir pequenos vocábulos verbais; uma quer possuir sapatos ricamente trabalhados compondo com vestes de rara beleza estética, outra exultaria com cobertores protegendo o corpo e pantufas aquecendo os pés. Quando se atendem a essas realizações, o indivíduo terá logrado a conquista da felicidade? Quantas criaturas lamentam a fuga ou ausência da felicidade dos seus caminhos e as explicações são assentadas em causas como: abuso e desperdício do tempo, do humor e das forças vitais; amor não liberado na direção de pessoas próximas, muito importantes e de alguma maneira interferentes nas suas vidas; filhos abortados propositadamente ou filhos sonhados que não lograram nascer; euforias sufocadas represando emoções, sorrisos, gritos e abraços de enorme significação no cenário vivo das relações humanas; horas livres não planejadas ou vazias, nas quais se deixou de conversar com amigos, de falar ao telefone, de nadar, de correr, de ir ao cinema, de ir as festas, de viajar, de dar atenção e dialogar com outrem, ou até mesmo fazer coisa nenhuma; prudência egoísta e teimosa de não arriscar ver ou fazer coisas novas, deixando prevalecer o medo e a acomodação; sentir-se e deixar-se envelhecer, não permitindo novas aventuras acontecerem. Luminares do pensamento e do coração deixaram afirmações como: se alguém não encontra a felicidade em si


mesmo, é inútil que a procure noutro lugar (La Rochefoucauld); a felicidade não é uma estação de chegada, mas um modo de viagem (M. Ruberck); sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos (W. Shakespeare). Há quem assevere existir felicidade somente para quem acorda cada dia com a sensação do dever cumprido ou ainda, para muitos, a conquista da felicidade pede uma visão diferenciada de mundo e a procura de um estado de harmonia interior ou da própria paz! Atinge-se esse estado quando as coisas são feitas corretamente, sem atritos com os outros, prevalecendo uma sensação interior de harmonia. Muitos são os negadores da felicidade, baseados na assertiva do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo!”. Poder-se-ia afirmar ser a felicidade uma sensação dimanada do amor, nas suas multiplicadas expressões, sendo uma resposta a Deus da obediência e compreensão dos seus desígnios? Qual é o seu caminho? O venerável místico Sai Baba aduz: reduza suas necessidades e viva com simplicidade – tal é o caminho da felicidade! Os conflitos e as incertezas da vida cotidiana auxiliam ou dificultam a descoberta desses caminhos? Ah, eis aí um desafio, pois a felicidade não é matéria-prima ou bem de consumo que se pode mercadejar; ela pede movimento e ideal, permuta e doação – é essência cultivada na natureza íntima de cada criatura! A felicidade não entra em portas trancadas e tampouco permanece junto a quem não se decide a abri-las! A felicidade é, então, um estado de harmonia íntima e só atinge a plenitude de tal êxito a criatura verdadeiramente educada e sintonizada com a vida! A obediência às leis da vida é, pois, o caminho para a conquista da felicidade; derro-


gá-las ou fazer-lhes objeção é transitar sem rumo certo, contrariando a suprema destinação dos filhos de Deus! As leis da vida são leis naturais, muitas das quais gravadas na consciência de cada um, e estas não precisam ser descobertas nem demonstradas por fórmulas ou experiências laboratoriais. As singelas anotações que virão a frente pretendem refletir sobre roteiros e comportamentos ensejadores de vida operosa, altiva e sobremodo revestida da moral contida no evangelho ensinado por Jesus, guardando a singela intenção de mostrar uma faceta da felicidade naturalmente edificada no mundo onde nos encontramos. Elegemos o lar como ponto de partida ou, por outra, quem almejar a conquista da felicidade situe o lar como laboratório e desenvolva fórmulas de convívio, misture substâncias de ideias divergentes, agite frascos de ressentimentos, ligue a estufa para a assepsia dos pensamentos odientos, enfim, aprenda a química do amor! Johann Heinrich Pestalozzi proclamou o lar como o alicerce para a educação natural da humanidade, e nós afirmamos, convictos, ser o lar uma escola abençoada onde todos os membros, na convivência estreita, no esforço contínuo e na forja do exemplo, constroem valores educativos de real valia para a existência. Implementando-se um programa de convivência pacífica e solidária a partir dos pais, a sociedade receberá valores exportados de real grandeza e os membros fruirão sensações extrapolando as pontuais alegrias e emoções características do mundo – a felicidade! A felicidade só pode ser edificada com base em sentimentos e ações altruístas, e os fundamentos disso nascem, quase sempre, do solo áspero e pedregoso que é a família. Falemos, pois, de família, de educação, de um novo de modo


de viver e se relacionar para tecer em nossas vidas a felicidade sonhada, aparentemente perdida, o farol escondido em nós mesmos e que convém acender de maneira a brilhar a luz a nosso próprio favor e em benefício dos situados no nosso campo de convivência!


Índice 1 - DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA SEVERO, O HANSENIANO

19 27

2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA

35

3 - EVOLUÇÃO SOCIOLÓGICA DA FAMÍLIA

43

4 - VISÃO ESPÍRITA DA FAMÍLIA ANÁLISE ESPIRITUAL DA FAMÍLIA TIPOS DE FAMÍLIA A SOLIDARIEDADE NA FAMÍLIA

51 52 56 60

5 - O CASAMENTO CONCEITO DE CASAMENTO O PRÍNCIPE E A BRUXA TIPOS DE CASAMENTO PROVACIONAL EXPIATÓRIO SACRIFICIAL CIRCUNSTANCIAL POR AFINIDADE MANDAMENTOS PARA O CASAMENTO 6 - A PATERNIDADE E MATERNIDADE

69 69 72 80 80 81 82 83 86 87 89

7 - Convívio em família

97


8 - Estar perto ou estar longe 9 -SEPARAÇÕES CONJUGAIS VISÃO DAS SEPARAÇÕES NA ÓTICA ESPÍRITA CASAMENTO À BEIRA DO CAOS

103 109 109 115

10 - A CRIANÇA O QUE É A CRIANÇA O SABER EDUCAR SENSOS PARA EDUCAR A CRIANÇA ADOÇÃO DE CRIANÇAS ADOÇÃO COM AMOR APELO DA CRIANÇA AOS PAIS

123 123 125 127 137 139 144

11 - O ADOLESCENTE CONCEITUANDO O ADOLESCENTE CRISES NA ADOLESCÊNCIA CAUSA E EFEITO APELO DO JOVEM AOS PAIS

147 147 150 155 159

12 - OS PAIS ESTILOS DE PAIS PAIS CONTROLADORES PAIS PROVEDORES EU NÃO MATEI O MEU FILHO PAIS INDIFERENTES PAIS PROTETORES PAIS PERMISSIVOS ENTENDER A DOR DOS OUTROS É DIFÍCIL PAIS PERFECCIONISTAS PAIS EDUCADORES O NÓ DO AFETO

163 163 165 166 168 173 174 176 177 179 181 184


PAIS ORFÃOS DE FILHOS 3 - O IDOSO SOBRE O ENVELHECER ENXERGANDO O IDOSO LUZIA, UMA VIDA DE TESTEMUNHOS PANORAMA ESPÍRITA SOBRE O IDOSO MENSAGEM DO IDOSO

185 189 189 194 197 203 204

14 - O LAR CONCEITUANDO O LAR LAR, ESCOLA DA VIDA LAR, OFICINA DE TRABALHO LAR, TEMPLO DO AMOR

207 207 209 214 218

15 - CULTO CRISTÃO NO LAR

223

16 - EDUCANDO PARA A PAZ O QUE É A PAZ RECEITAS DE PAZ BUSCANDO A PAZ

229 229 235 237

Referências bibliográficas

243


Capítulo 1 Definição de família São inúmeras as definições de família e, naturalmente, cada autor se atém a determinadas particularidades, situando-se em um contexto compatível com sua visão e maneira de compreender as pessoas e a vida. Incontestavelmente, sobre essa instituição se levanta o edifício básico da humanidade. A família é a unidade básica da sociedade, sua célula primeira. A família é um pequeno núcleo humano, fundamental para o equilíbrio e a ascensão do núcleo maior denominado sociedade, ou, por outra, a família é o órgão mais importante do corpo da sociedade. Se a família cai, a sociedade sucumbe com ela; se a família sofre, a sociedade se estertora com ela; e se a família galga os montes da prosperidade e da harmonia, a sociedade agita-se com dias de progresso e de paz! Do ponto de vista espiritual, a família é o instituto abençoado onde as criaturas se encontram para a realização de um programa de provas, expiações e conquistas, visando ao bem-estar no amanhã. Muitos dos seres que compõem


a célula familiar têm compromissos recíprocos a cumprir, atendendo a metas traçadas ainda no mundo espiritual, qual seja, antes do nascimento físico. De um lado, para a reparação de equívocos cometidos em existências pretéritas, com maior ou menor gravidade e, de outro, para avançar no quadro de realizações de natureza moral e intelectual, em que um auxilia o outro em demonstrações de solidariedade e compartilhamento. Sem isso os seres que constituem uma constelação familiar estarão juntos, sim, porém fruto de encontros desprovidos de substância, eivados de injunções casuísticas, resvalando nos interesses circunstanciais da vida de relação. Prevalecendo esta última consideração, não haveria a tendência para uma desordem de natureza crônica? (...)



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