CONSTRUTOR

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Construtor de sonhos

biográfico, ao discorrer sobre a relação direta que existe entre a obra e o homem. Apaixonado por tudo o que fazia, tanto as suas crônicas como a sua palavra oral serviam de paradigma da força do estilo e da ética no cenário cultural pernambucano. Comunicava-se com intensidade, tanto com os leitores como com os amigos, e representava o papel de verdadeiro guru das gerações mais jovens, com seu caráter vibrante, mágico, sonhador e sempre bem-humorado. Valorizava extremamente o Recife, de onde nunca desejou sair na busca de qualquer fama ou reconhecimento literário ou científico. Meu pai, seu irmão, Maximiano Campos, lembrando o filósofo espanhol Unamuno, afirmou, referindo-se a Renato, que há livros que se assemelham a homens e homens que se assemelham a livros. Daí podermos dizer o quanto é forte a presença do homem nas crônicas do escritor, hoje homenageado, caracterizados ambos pela coragem; pela generosidade; pelo amor aos amigos, à família, ao Recife; pela paixão por Dostoiévski, Tolstói, Eça de Queiroz, Machado de Assis; pela solidariedade aos humilhados e ofendidos de todas as épocas; pela busca da liberdade e da justiça. Tempo sem Renato Carneiro Campos: sem o menino de engenho que, ao modo de Sartre, colocou-se contra a sua própria classe de origem, ficando ao lado do povo como escritor e cientista social. Do menino de engenho que gostava dos prazeres da vida com amigos das profissões mais diferentes; na voz ainda de Maximiano Campos: [...] um Renato afirmativo, sem contemporizar com os falsos, os prepotentes, os medíocres, um rebelado contra as injustiças e as vulgaridades tantas vezes acobertadas pelo poder ou pela celebridade… Ele nem cortejava dirigentes e poderosos nem sentia necessidade de por eles ser cortejado: morreu

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