TCC arqurbuvv - Da Funcionalidade a Identidade

Page 1

DA FUNCIONALIDADE A IDENTIDADE

A Arquitetura Como Estratégia de Conciliação Entre a Pesca e o Mercado Imobiliário

Trabalho de Conclusão de Curso - Dennys Teixeira Burns

UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

DENNYS TEIXEIRA BURNS

DA FUNCIONALIDADE A IDENTIDADE: A ARQUITETURA COMO ESTRATÉGIA DE CONCILIAÇÃO ENTRE A PESCA E O MERCADO IMOBILIÁRIO

DENNYS TEIXEIRA BURNS

DA FUNCIONALIDADE A IDENTIDADE: A ARQUITETURA COMO ESTRATÉGIA DE CONCILIAÇÃO ENTRE A PESCA E O MERCADO IMOBILIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Arquitetura e Cidade da Universidade Vila Velha como requisito parcial para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista sob a orientação da Prof.ª Ana Paula Rabello Lyra.

Vila Velha 2022

DENNYS TEIXEIRA BURNS

DA FUNCIONALIDADE A IDENTIDADE: A ARQUITETURA COMO ESTRATÉGIA DE CONCILIAÇÃO ENTRE A PESCA E O MERCADO IMOBILIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Vila Velha como pré-requisito do Programa de Graduação em Arquitetura e Urbanismo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha orientadora Profa. Dra. Ana Paula Rabello Lyra, pela paciência e ensinamen tos que transmitiu durante esse ano. Cada orientação foi extremamente valiosa e importante para prosseguir pelos obstáculos encontrados.

À minha família, pelo suporte e compreensão durante todos esses momentos. Sempre dispostos a ajudar e fa zer o necessário para que tudo ocorresse bem. Sei que não foi fácil durante todo esse ano, mas tenho certeza de que todo esse esforço valeu a pena.

Aos participantes da Deriva Urbana, todos foram fundamentais para o complemento dos materiais e confecção desse trabalho.

E por fim, agradeço aos meus amigos que, sempre estiveram ao meu lado, dando suporte e ajudando da melhor maneira possível.

“Nós seremos um ecossistema em miniatura. Seja qual for o sis tema que um animal escolha para sobreviver, deve basear-se num padrão de comunidades interligadas, interdependentes, trabalhando juntas para o objetivo comum que é o sistema.”

RESUMO

A costa espírito-santense possui elementos paisagístico e turísticos com atrativos para diferentes atividades econômicas, mobiliárias e de lazer. Verifica-se, todavia, que o crescimento dessas ocupações demonstra privilegiar os novos empreendimentos lucrativos em detrimento da população tradicional local. Esse caso acontece com as colônias de pescadores semeadas pela costa que, sem a oportunidade e espaço para o próprio crescimento, dissipam-se para outros locais, perdendo seu território e apelo cultural. Este estudo tem como foco o desenvolvimento de uma proposta projetual em nível de estudo preliminar de um mercado para a colônia de pescadores, situada no bairro de Itapuã, Vila Velha – ES. A implementação de uma área comercial para a colônia, no bairro Itapuã, tem o objetivo de preencher uma lacuna espacial e contribuir para um ambiente de trabalho, entretenimento e disseminação da cul tura da pesca com o intuito de valorizar a região. Para tanto, utiliza como metodologia a pesquisa bibliográfica e documental para a fundamentação teórica relacionada ao tema do comércio enquanto atividade de troca essencial à vitalidade urbana. Em relação aos procedimentos técnicos, adota como referência algumas intervenções com temáticas afins e o levantamento de campo para contextualização da área de estudos. Esse estudo identifica na integração entre edifício e espaço público, a estratégia ideal para conectar e valorizar a cultura da pesca às demais atividades do bairro.

Palavras-Chave: mercado; cultura da pesca; atividade comercial; espaço público; Vila Velha; Dignidade urbana.

ABSTRACT

The Espírito Santo coast has attractive landscape and tourist elements, for different economic, furnishing, and leisure activities. It is verified, however, that the growth of these occupations shows to privilege new profitable ventures to the detriment of the traditional local population. This case happens with the fishing colonies along the coast that, without the opportunity and space for their own growth, dissipate to other places, losing their territory and cultural appeal. This study focuses on the development of a project proposal in the level of preliminary study of a market for the fishermen colony, located in the Itapuã district, Vila Velha - ES. The implementation of a commercial area for the colony, in Itapuã, aims to fill a spatial gap and contribute to a working environment, entertainment and dissemination of the fishing culture to enhance the region. To this end, it uses as methodology the bibliographic and documental rese arch for the theoretical foundation related to the theme of commerce as an activity of exchange essential to urban vitality. In relation to the technical procedures, it adopts as reference some interventions with related themes and the field survey for the contextualization of the study area. This study identifies in the integration between building and public space, the ideal strategy to connect and enhance the fishing culture to other neighborhood activities.

KEYWORDS: market; fishing culture; commercial activity; public space; Vila Velha; urban dignity.

Lista de Figuras

Figura 1: Mapa de Situação, do Fisherman’s Wharf na California ................................................................. 28

Figura 2: Fisherman’s Wharf 29

Figura 3: Diagramas de melhoramento das áreas 29

Figura 4: Fisherman’s Wharf, Fotografia de 1952 ............................................................................................ 29

Figura 5: Fisherman’s Wharf, Fotografia de 1972 ............................................................................................ 30

Figura 6: Mapa da região .................................................................................................................................... 30

Figura 7: Parte da proposta de requalificação da Rua Jefferson 30

Figura 8: Outra parte da proposta de qualificação da Rua Jefferson 31

Figura 9: Cruzamento da Beach Street com a Taylor Street ........................................................................... 31

Figura 10: Conexão da Beach Street com a Polk Street e o Park Edge ......................................................... 31

Figura 11: Cruzamento da North Point com a Larkin Street............................................................................ 31

Figura 12: Cruzamento da North Point com a Grant Avenue .......................................................................... 32

Figura 13: Cruzamento da Bay com a Larkin Street 32

Figura 14: Cruzamento da Bay com a Taylor Street 32

Figura 15: Cruzamento da Columbus Avenue e North Point Street ............................................................... 32

Figura 16: Parte 1 da Taylor Street .................................................................................................................... 33

Figura 17: Parte 2 da Taylor Street .................................................................................................................... 33

Figura 18: Segunda fase da requalificação da Jefferson Street 33

Figura 19: Croqui do Ghel Architects para a Praça a beira mar, Jeferson Street 34

Figura 20: Parque Aquático ................................................................................................................................ 34

Figura 21: Santa Caterina Market, Barcelona - Espanha ................................................................................. 35

Figura 22: Telhados Cerâmicos do Santa Caterina Market ............................................................................. 35

Figura 23: Parte interna do Mercado de Santa Caterina .................................................................................. 36

Figura 24: Parte externa do Mercado de Santa Caterina 36

Figura 25: Diagrama de situação do mercado na cidade 36

Figura 26: Eventos no Fisherman’s Wharf ........................................................................................................ 37

Figura 27: Atividades externa do Mercado de Santa Caterina ........................................................................ 37

Figura 28: Mapa da localização do bairro de Itapuã - Vila Velha .................................................................... 40

Figura 29: Gráfico faixa etária da Região Administrativa 01 40

Figura 30: Gráfico habitação condição de ocupação de domicílios 41

Figura 31: Renda Percentual da População...................................................................................................... 41

Figura 32: Jornal - Preocupação com o avanço da urbanização na praia de Itapuã .................................... 41

Figura 33: Entrevista com Prefeito de Vila Velha - Comunidade de Pescadores .......................................... 42

Figura 34: Viela no dia do incêndio ................................................................................................................... 42

Figura 35: Entrada da Viela 42

Figura 36: Mapa Físico Ambiental 43

Figura 37: Mapa de Gabaritos ............................................................................................................................ 43

Figura 38: Elevação da Região da Colônia de Pescadores ............................................................................. 43

Figura 39: Mapa de Uso do Solo ........................................................................................................................ 44

Figura 41: Reboco Pintado Ruim 44

Figura 40: Mapa de Uso do Solo 44

Figura 42: Reboco Pintado Regular................................................................................................................... 44

Figura 43: Reboco Pintado Bom 44

Figura 44: Reboco Pintado Ótimo...................................................................................................................... 45

Figura 47: Revestimento Bom ............................................................................................................................ 45

Figura 50: Reboco s/ Pintura Bom ..................................................................................................................... 45

Figura 45: Revestimento Ruim 45

Figura 48: Revestimento Ótimo 45 Figura 51: Sem Reboco Ruim ............................................................................................................................ 45

Figura 46: Revestimento Regular ...................................................................................................................... 45 Figura 49: Reboco s/ Pintura Ruim .................................................................................................................... 45 Figura 52: Em Construção 45 Figura 54: Foto 01 – Mapa de Fachada das Tipologias 45 Figura 53: Mapa de Fachada da Tipologia ........................................................................................................ 45 Figura 55: Foto 01 – Mapa de Fachada das Tipologias ................................................................................... 45 Figura 56: Foto 03 – Mapa de Fachada das Tipologias ................................................................................... 45 Figura 57: Foto 01 – Mapa de Fachada das Tipologias ................................................................................... 46 Figura 58: Foto 01 – Mapa de Fachada das Tipologias 46 Figura 60: Zoneamento Urbano - PDMVV/2018 47 Figura 59: Tabela de Índices Urbanísticos ........................................................................................................ 47 Figura 61: Mapa fundiário da região que compreende a Colônia de Pescadores ........................................ 47 Figura 62: Mapa de Hierarquia Viária ................................................................................................................ 48 Figura 63: Mapeamento Comportamental – Dia 03/09/2022 48 Figura 64: Programa de Necessidades 52 Figura 65: Área de Intervenção ......................................................................................................................... 53 Figura 66: Implantação ...................................................................................................................................... 54 Figura 67: Quadra 1 ............................................................................................................................................. 55 Figura 68: Quadra 2 ............................................................................................................................................. 56 Figura 69: Edificações Renovadas 57 Figura 70: Diagrama solar 57 Figura 71: Pavimento Tipo das Torres Proa A e B............................................................................................ 59 Figura 72: Fachada das Torres Proa A e B ........................................................................................................ 60 Figura 73: Pavimento Tipo da Torre Convés .................................................................................................... 62 Figura 74: Fachada da Torre Convés 63 Figura 75: Praça em frente a Torre Convés 64 Figura 76: Planta baixa do Mercado .................................................................................................................. 66 Figura 77: Entrada do Mercado .......................................................................................................................... 67 Figura 78: Parte interna do Mercado com detalhe no hortifruti e na peixaria ............................................... 68 Figura 79: Detalhe da corbertura e área destinada aos vendedores.............................................................. 69 Figura 80: Planta baixa da Sede da Colônia de Pescadores 71 Figura 81 : Sede da Colônia de Pescadores, detalhe para a corbertura e a horta em volta da edificação 72 Figura 82: Planta baixa do Restaurante Velejar................................................................................................ 74 Figura 83 :Restaurante Velejar ........................................................................................................................... 75 Figura 84: Parte interna do Restaurante ........................................................................................................... 76

Sumário

1 INTRODUÇÃO 16

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA 16

1.2 OBJETIVOS 16

1.2.1 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................................................................... 16

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 16

1.3 METODOLOGIA 17

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO 17

2 O COMÉRCIO E SUA INSERÇÃO URBANA.................................................................................................... 20

2.1 O MERCADO E A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO SOCIAL ........................................................................... 20

2.2 CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS NO ÂMBITO COMERCIAL 21

2.3 A IDENTIDADE LOCAL VALORIZADA PELO ESPAÇO DE CONSUMO 22 3 REFERENCIAIS TEÓRICOS E PRÁTICOS 27

3.1 A URBANIDADE NO PROCESSO DE REQUALIFICAÇÃO DE ESPAÇOS COMERCIAIS 27

3.2 EXEMPLOS PRÁTICOS DE INTERVENÇÕES 28

3.2.1. FISHERMAN’S WHARF .............................................................................................................................. 28

3.2.2. SANTA CATERINA MARKET 35

3.3 SÍNTESES CONCEITUAIS 37 4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................. 40 4.1 CONDICIONANTES SOCIOCULTURAIS 40 4.2 CONDICIONANTES FÍSICO AMBIENTAIS..................................................................................................... 43

4.3 CONDICIONANTES LEGAIS 46 4.3 CONDICIONANTES LEGAIS 48 4.5 SINTESE DA ÁREA DE ESTUDO 49 5 PROJETO .......................................................................................................................................................... 52 5.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES 52 5.2 CONCEITO E PARTIDO ................................................................................................................................. 52 5.2.1. CONCEITO 52 5.2.2. PARTIDO ARQUITETONICO 52 5.2.3. ÁREA DE INTERVENÇÃO 53 5.3 IMPLANTAÇÃO 53 5.4 ESTUDO PRELIMINAR .................................................................................................................................. 57 5.4.1. VERTICALIZAÇÃO 57 5.4.2. ADJACÊNCIAS 58

5.4.3. TORRES PROA A E PROA B 58 5.4.4. TORRE CONVÉS 61 5.4.5. MERCADO 65 5.4.6. SEDE DA COLÔNIA DE PESCADORES .................................................................................................... 70

5.4.7. RESTAURANTE VELEJAR 73 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 79 7 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 82 8 ANEXO ............................................................................................................................................................... 85 9 APENDICE ......................................................................................................................................................... 93

1 Introdução

Esta monografia busca no entendimento histórico do comércio e sua relação intrínseca com a cidade identificar as bases para compreensão do fenômeno das atividades de troca. Trata-se de um estudo que identifica paralelos nas relações existentes entre as atividades co merciais e as cidades, bem como a sua implicação direta na vitalidade urbana. Compreende, a partir desta premissa, a capacidade de um meio se tornar um marco local, destacado por seu ambiente convidativo e convívio ativo. Estabelece, assim, uma conexão dessas finalidades com o conceito de place branding e sua importância para valorização do setor comercial, em espe cial aqueles de cunho cultural e artesanal.

Nesse contexto, vale destacar a delimitação desse estudo com foco no comercio arte sanal, sobretudo da pesca artesanal, evidenciado pela importância cultural e econômica para a população que vive dessas atividades. Diante desse cenário, questiona-se sobre a forma em que os novos usos e atividades urbanas tem negligenciado tais atividades de troca com raízes culturais e artesanais, principalmente em contextos infraestruturados da cidade. Enfatiza-se as áreas litorâneas que sediam as atividades atreladas a cultura da pesa com destaque para possíveis processos de gentrificação impostos pelo mercado imobiliário dessas regiões (LYRA, 2022).

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

O litoral brasileiro, possui uma importância histórica, cultural e econômica, difundidos nos portos, turismo, no setor imobiliário e sobretudo na pesca. No estado do Espírito Santo, a costa possui grande importância na parte pesqueira, com 48 comunidades pesqueiras na costa capixaba (KNOX, TRIGUEIRO, 2015). Esse número de comunidades já foi mais expressivo até os anos 80 do século XX, quando o crescimento e expansão dos processos de urbanização concentrados nas orlas foram expulsando tais comunidades.

A questão cultural das colônias pesqueiras é riquíssima, onde grande parte do sustento dessas populações, provêm da pesca e das atividades artesanais oriunda de sua cultura. Com o crescimento urbano, e o aumento das especulações imobiliárias, essas populações vêm se esvaindo dos seus locais, onde novos estabelecimentos são implantados, perdendo assim a cultura e economia dessa população (KNOX, TRIGUEIRO, 2015).

Tal realidade é verificada no contexto da orla de Vila Velha, principalmente nas regiões próximas a área central da cidade, concentradas na Regional Administrativa 01 do município. A ocupação ao longo da orla das praias da costa, Itapuã e Itaparica foi intensificada com a con

clusão da construção da terceira ponte que conecta a capital Vitória ao município de Vila Velha. A partir de então, o espaço ocupado pelas colônias de pescadores foram reduzindo e o número de edifícios verticais foram se adensando e privatizando a região.

Esse estudo busca através da arquitetura uma estratégia conciliadora que contribua para valorização da área através da inserção de um mercado a ser idealizado de forma integrada a um espaço livre de uso público. A proposta de um mercado para a colônia de pescadores, visa a reestruturação de uma área já assimilada na região que, entretanto, não possui um apelo convidativo e estruturado para ser chamado de um marco local. Com isso, o projeto tem como desafio o resgate da cultura local, estabelecendo um âmbito que atenda às necessidades da colônia. Definindo uma marca na região, onde o local se torne convidativo tanto para os residen tes, quanto para os visitantes, ascendendo, assim, cultural e economicamente.

1.2 OBJETIVOS 1.2.1 OBJETIVOS GERAIS

Esta pesquisa tem como objetivo a realização de estudos, que fundamentem e complementem a realização de um projeto de requalificação da área da colônia de pescadores, situada no bairro de Itapuã, em Vila Velha, em nível de estudo preliminar e tendo como princípio o de senvolvimento de um mercado dos pescadores, com intuito de reavivar a cultura local e gerar um local de convívio e permanência, estabelecendo um marco na região.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Estudar a relação do mercado com a cidade e a importância da conexão social que é estabelecida nesses locais.

• Identificar a relação dos consumidores com os estabelecimentos comerciais.

• Entender como um local pode se transformar em um marco na região e valorizar o espaço inserido.

• Compreender a convergências e divergências no âmbito comercial

• Estabelecer a importância do comercio artesanal, exaltando sua importância cultural e econômica.

• Elaborar o projeto em nível de estudo preliminar.

16

METODOLOGIA

O projeto será desenvolvido com base em pesquisas teóricas, que serão o pilar para o desdobramento projetual. Com referências bibliográficas, sobretudo de autores como Jen Gehl e Jane Jacobs que, conduziram grande parte da análise relacionadas as funcionalidades da cidade. Somados, as publicações e teses da Doutora Heliana Vargas que, teve grande auxílio no entendimento e funcionamento em relação ao âmbito comercial. Além disso, pesquisas em sites e teses sobre arquitetura comercial e comercio artesanal e pesqueiro que auxiliaram no entendimento das necessidades de cada setor. Além de estudos com base em referenciais pro jetuais que se assemelham ao projeto a ser desenvolvido, angariando conceitos e referencias que poderão ser aplicados no projeto de estudo. Finalizando com as análises e contextualiza ção da área projetual, aprimorando o saber da história local, o entendimento físico ambiental da região e os conceitos legais que outorgam a área. Em seguida, realizar o projeto de inserção de um mercado na área da colônia de pescadores, ressaltando os potenciais locais e a rica cultura pesqueira.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

O primeiro capítulo discorre sobre a metodologia proposta, assim como o contexto e jus tificativa do tema em questão. Apresenta os objetivos gerais e específicos, além da estruturação da tese.

O segundo capítulo aborda de maneira breve a história do comércio e sua relação com a sociedade. Indica as divergências e convergências encontradas nessa relação, apontando as características e tipos de consumidor e mercado. Finalizando com o conceito de place branding, e sua importância para estabelecer a conexão do consumidor e o ambiente comercial, estabe lecendo conceitos visuais e atrativos para esse elo.

O terceiro capítulo estabelece a importância da urbanidade para a cidade e os desafios encontrados para estabelecer a harmonia da população e o meio que habita. Discorrendo com base em ideias de autores consagrados na área e estudando exemplos práticos de projetos semelhantes ao que será aplicado. Por fim analisando os conceitos projetuais e teóricos, a fim de angariar referencias e ideias para o projeto a ser desenvolvido.

O quarto capítulo conceitua o local escolhido para a inserção do projeto, apresentando uma análise territorial, cultural, ambiental e legal.

O quinto capítulo se estreita para a proposta projetual, estabelecendo conceito, partido e o desenvolvimento do projeto, e finaliza com a conclusão obtida em sua concepção.

17
1.3

2 O COMÉRCIO E SUA INSERÇÃO URBANA

Este capítulo apresenta uma breve contextualização da relação entre comércio e cida de, sua importância em congruência ao urbano e como um depende do outro para a evolução. Compreende, também, a dinâmica atual entre o comércio e a sociedade, os conflitos encon trados nesses locais e as suas funcionalidades. Por fim, explora possíveis contribuições dos ambientes destinados às atividades de comércio como valorização de uma identidade própria através da criação de elementos que possuam apelo afetivo e se conectem com o consumidor.

2.1 O MERCADO E A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO

SOCIAL

O mercado e a vida urbana estão atrelados de maneira simbiótica onde um não con segue prosperar sem a influência do outro (VARGAS, 2000). A comercialização e escambo, estão presentes desde os primórdios das civilizações. Os bazaars árabes, ágora grega, fóruns romanos, mercados periódicos e feiras, atividades recorrentes em épocas passadas, que leva vam, não só, as demandas de produtos para sociedade, como, também, agiam como fonte de socialização entre diferentes povos.

A importância dessa ponte social, estabelecida entre comercio e pessoas, atrelam um comportamento natural entre necessidade e produto. Esses reagentes sempre circundam a vida urbana, desde os primórdios comerciais em eras pré-islâmicas, como o caso dos bazaars. (VARGAS,2018). Sua principal característica é heterogeneidade de produtos e atividades presentes nos locais, a mudança de percepção é notória ao adentrar esse espaço, diferentes tipos de odores, barulhos, visuais, uma experiencia sensorial única, como um labirinto de sensações. Weiss e Westermann (Apud VARGAS, 2018, p.82). A arquitetura islâmica ajuda a criar esse cenário de diferentes impactos sensoriais, com uma arquitetura mais fechada e voltada para o interior, onde os bazaars, locais públicos e movimentados são considerados o coração das cidades. (VARGAS, 2018).

A característica mercantil, também se repete nas ágoras gregas, onde a localização es tratégica e a infertilidade das terras, fizeram da Grécia um ponto importantíssimo de comercio e negociações. Sua arquitetura foi evoluindo durante os séculos, até estabelecer-se em uma planta em formato de U, onde o espaço poderia ser mais bem acessado e mais destacado dos demais ambientes das cidades gregas. (VARGAS, 2018). Ao contrário da Grécia, as terras ro manas eram férteis e o estilo mercantil se diferenciava, com um costume agrícola. Os romanos, muito mais conquistadores, do que negociantes, estabeleciam seu comercio de maneira mais

urbana, com pouca troca de produtos internacional (Vargas, 2018). Diferente da ágora grega, os fóruns romanos eram retangulares e mais fechados, as lojas abriam diretamente para a rua, e eram posicionadas entre colunas, que formavam uma espécie de corredor.

Contudo, com a evolução da sociedade, o comércio também evolui e nos países mais desenvolvidos a agricultura começa a tomar um lugar mais secundário, “Apenas em seis países europeus a agricultura empregava menos que a maioria — geralmente uma ampla maioria — da população masculina, mas esses seis eram, caracteristicamente, o núcleo do desenvolvi mento capitalista mais antigo...” (HOBSBAWN, 1988, pág. 24) . Com a Revolução Industrial, ini ciada no fim do século XIX, a tecnologia sofreu um grande avanço, e globalmente as indústrias tomaram conta das cidades. O foco não estava mais nos pequenos comércios e na agricultura, mas sim nas novas invenções que abalariam drasticamente o modo de produzir e comercializar. Ademais, o aprimoramento dos transportes, a maior facilidade de comunicação, entre outros avanços, possibilitou uma crescente social e um novo meio de produção, não se estabelecendo apenas em pequenas quantidades e excedentes de materiais, mas sim em uma produção de grande escala.

O cenário acima descrito demandou por mudanças que se adequassem aos novos mé todos de trabalhos desenvolvidos a partir do processo de fabricação em série. A máxima pro dutividade, defendida por Frederick Taylor e a produção em massa incentivada por Henry Ford, foram essenciais para a mudança do paradigma do mercado, onde de início, acarretou um êxodo avassalador para o meio urbano. As novas oportunidades de emprego e estilo de vida que surgiram desde então, gerou um aumento populacional e de serviços concentrados nas cidades. Com os avanços tecnológicos ainda em vigor, a mecanização e padronagem dos pro dutos foram se estabelecendo de forma a suprir essas demandas, até que passaram a criar necessidades, e não mais saná-las, o povo agora já não demandava o que queria consumir, as indústrias e os comércios criavam mecanismos de vendas e novos produtos, para instigar o consumidor. A esse respeito, Vargas (1992, p.185) lembra que “o sistema industrial passou tam bém a ressaltar a importância do consumo como forma de demonstração de ascensão social.” Verificou-se que não se consumia mais como necessidade, mas sim, para suprir o desejo de possuir aquele determinado produto.

Motivados por essa nova ascensão hedônica de consumo, o sistema varejista evoluiu a forma de se relacionar com cliente, pois não era mais possível atender a larga escala de com pradores em pequenas lojas e vendas, e novas construções foram desenvolvidas para satisfazer as necessidades dos consumidores. Nasce dessa forma as “Grand magazines 1 ” caracteri zadas por grandes obras edificadas. Tais edificações abrigavam as lojas que vendiam produtos não perecíveis, sobretudo roupas, instaladas nos centros das cidades, de modo a alcançar o

20
1

maior número de pessoas possíveis. Além delas, desenvolveu-se as cadeias de lojas ou cha madas filiais e as “Magazine Popular” que diferente das “Grand magazines”, situavam-se fora da centralidade urbana, e era mais apelativa à classe trabalhadora. Com o passar dos anos, novas formas de vender, produzir e angariar novos públicos foram criadas, os supermercados que, com auxílio de novas técnicas de refrigeração advindas para o setor industrial e residen cial, ajudaram na comercialização e armazenagem de produtos perecíveis, além dos centros comerciais, que dava aos consumidores diversidades de produtos e atividades de recreação e lazer (VARGAS, 1992).

Verifica-se na cidade contemporânea que tais meios comerciais foram se aprimorando e atualizado para as novas tecnologias e demandas do cotidiano urbano. Outras estruturas desti nadas ao comércio foram criadas com base nos seus predecessores, como os shoppings, que consistem em ambientes fechados, destinados ao lazer e compras com foco nos consumidores.

Entretanto, a ocorrência da Pandemia iniciada no ano de 2019 transformou as relações de consumo demandas pela população. Os novos empreendimentos globais que encantavam consumidores com o apelo do “progresso” e se multiplicavam pelas cidades para atender as demandas de crescimento populacional já não atendia a nova realidade. Outrossim, o apelo por lugares dinâmicos, com conexão social, para fugir da padronização característica das edifica ções globais e a busca por lugares que resgatam ambientes da memória afetiva das pessoas, surge como prevalentes (LYRA, 2022).

CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS NO ÂMBITO COMERCIAL

Alinhar demanda e oferta, além de, qualidade em atenção as novas experiências que vem sendo demandadas pelo público recente, tornou-se desafiador para o âmbito comercial. Oferecer serviços ao consumidor requer um conhecimento mais apurado e atento do público-alvo e do meio em que este se insere. Esta premissa parte do princípio de que o cenário ideal de consumo derive de uma conexão entre o vendedor, o local e o cliente. Trata-se de uma preocupação identificada como essencial no processo de gestão e administração públicas por conta das dinâmicas que tais atividades provocam no meio urbano. Por este motivo existe esta preocupação com a imagem da cidade que vai além do setor comercial, pois abrange a atividade comercial na relação com o cliente dentro de um dado contexto urbano. (VARGAS, 2000).

Assim sendo, segundo Vargas (1981, 1992 e 2000) para entender o mercado, é necessá rio, entender o consumidor, suas motivações para o consumo em determinado local, os objetivos de vendas a ser estabelecido naquela região e os atrativos a serem expostos para angariar a atenção do cliente.

Neste sentido, Vargas (2000) lembra a primeira motivação que caracteriza o estilo de

compra da população, denominada como necessária ou obrigatória. Essa motivação percorre a humanidade há anos, a compra por necessidade de se alimentar e sobreviver, caracteriza-se por uma atividade que persiste no cotidiano dos moradores da cidade. Dentre estas destacam-se as feiras livres, os mercados artesanais, de pesca e os formais, caracterizados pelos esta belecimentos destinados a vendas de itens alimentícios e de consumo gerais.

As referidas atividades persistem no tempo, seja no consumo de ingredientes para o preparo de alimentos no âmbito doméstico ou no consumo em restaurantes e bares, que agora são frequentados com mais avidez, devido ao tempo restrito da população entre o trabalho e o intervalo destinado à alimentação, e em virtude da distância entre trabalho e moradia (VARGAS, 2000). Esse deslocamento estimulado pelas nossas necessidades diárias de alimentação cria dinâmicas distintas e particulares na cidade. Cada dimensão do referido consumo estabelece relações que vão do estímulo às trocas sociais, atribuídas aos ambientes ativos, aos introspec tivos, atribuídos aos hipermercados e shoppings (LYRA, 2022).

Estes últimos, consequência da evolução e implementação de novas tecnologias em que as necessidades básicas passaram a ser sanadas de formas mais simples, dando brecha para uma nova motivação de compras, relacionadas ao consumo de supérfluos e do conforto. Itens não perecíveis que se relacionariam com a melhora do estilo de vida da população, carros, eletrodomésticos, mobiliários, são alguns desses insumos que além de conforto, consagraria status na vida social dos cidadãos. Surgem assim as novas relações espaciais de lugares com destinações comuns para confecções, mobiliários, comestíveis (food trucks). Cada um destes com atratividades destinadas a seguimentos e horários específicos do dia (LYRA, 2022).

O consumo por satisfação ou hedônico, entra em uma outra vertente de motivação. São consumos relacionados a relações de afeto, onde o comprador tem o intuito de obter o item e o aprazer de dá-lo a outra pessoa ou a si mesmo, como um autorreconhecimento, “o objetivo das compras não é comprar as coisas que as pessoas querem, mas se esforçar para estar em um relacionamento com as pessoas que querem essas coisas1” (Miller, 1998, tradução nossa). Po rém, o presente em si implica em uma condição que vai além do produto, busca-se uma excentricidade e um apelo a visibilidade do item, buscando a satisfação por aquele objeto de cunho único. Há, também, o gastar para economizar, onde o consumidor incentivado por descontos, se acha em vantagem para consumir. Outra forma de consumo seria o de lazer e recreação, o qual fornece além dos produtos comerciais, ambientes e meios recreativos que exercem uma interação e experiencias para o consumidor, uma nova maneira de obter a atenção do cliente. Cada atrativo com um efeito que encoraja diferentes perfis da população a frequentar os espa ços de transição da cidade.

1 “The purpose of shopping is not so much to buy the things people want, but to strive to be in a relationship with subjects that want these things.” (Miller, 1998 em uma tradução livre do autor).

21
2.2

Com tanta diversidade de estilos de consumo, é necessária uma variedade de sistemas comerciais para abastecer essa demanda consumista e elaborar novos meios de conexão com a clientela.

As grandes lojas, como supermercados e lojas de departamentos, originadas das grand magazines, são um exemplo de sistemas que possuem uma grande força comercial, atrelado a produtos perecíveis e não perecíveis, o custo relativamente baixo dos produtos, com variedades e meios de pagamentos, atendendo a todas as classes sociais. Outro setor relevante são os shoppings centers, com espaços climatizados, áreas de estacionamento, praças de alimentação e lojas diversificadas, fazendo com que a atenção dos consumidores se volte a esse ambiente. Espaços caracterizados pela introspecção que ao contrário dos pequenos esta belecimentos comerciais, feiras ou mercados públicos contribuem para evasão das pessoas e da vigilância natural (JACOBS, 2013)

Diferente dos grandes empreendimentos, os estabelecimentos independentes residem em pequenas lojas espelhadas por todas as cidades, geralmente possuindo apenas um dono e sem filiais, com vendas mais objetivas, sem muita diversificação de produtos. Além deles, é possível notar uma crescente, de comerciantes e ambulantes que, apesar de não possuírem um local físico para seus negócios, fazem da cidade seus locais de venda. Tais atividades contribuem para a urbanidade caracterizada pelas relações de trocas sociais estimuladas pelo contato entre público e privado (NETTO et al, 2012)

Entretanto com o avanço tecnológico, a atividade comercial passou a ser realizada de maneira mais prática e sem a necessidade de sair de casa, o e-commerce se notabiliza por um meio de comercialização diversificado e de simples uso, e que foi uma grande auxiliadora de comerciantes e compradores durante a pandemia. Essas atividades estimulam outra forma de apropriação focada no deslocamento para quem transporta o produto entre fornecedor e cliente. Todavia, a pandemia que estimulou o consumo online de alimentos, também estimulou a busca por atividades de consumo de lazer e ao ar livre, com o surgimento de novos espaços que resgatam essa relação mais direta entre o público e privado, cafés com mesinhas que se abrem para as calçadas, novos conceitos de espaços gastronômicos com amplas áreas aber tas, além das feirinhas de comidas e food trucks (LYRA, 2022).

Tendo como base essas informações, é possível traçar um paralelo e entender a dificul dade e preocupações administrativas e de gerenciamento, que passaram a ser evidenciadas entre cidade e comércio. Como já citado, as atividades comerciais estão atreladas às dinâmicas da cidade, onde um cresce e se desenvolve com consequências para a forma de apropriação do outro. Mas para se atingir uma melhor relação entre o comércio e a cidade é necessário uma série de ações de cunho administrativo, que consiga manejar a melhor forma de extrair a máxima eficiência comercial das cidades. O principal ponto norteador para a obtenção do cenário descrito acima é a zona de inserção dessa atividade, pois um setor comercial bem situado com

características que respeitam e atendem à demanda local, já garante uma estrutura basilar para um negócio bem-sucedido.

Além disso, o exercício desta atividade, sua diversidade e a forma como ela manifestam-se fisicamente têm um reflexo direto sobre a imagem física e mental da cidade que se reflete, diretamente, sobre a qualidade am biental urbana para a coletividade local e externa. (VARGAS, 2000, pág.1.).

Além disso como acrescenta PROJECT FOR PUBLIC SPACES (2016), o espaço tem sempre que está em estado de manutenção, e procurar ouvir a comunidade local, para que possa se tornar um pilar para aquela população. E para torná-lo um projeto longevo e capaz de suprir as necessidades dos moradores, além de ter uma boa inserção na cidade, precisa de ati vidades variadas, conexões com os outros locais e as partes mais internas da cidade, sobretu do, ser um local convidativo e comunitário, onde todos possam criar uma conexão e sentirem-se convidados a estarem ali. Dessa forma, o mercado adquire uma grande importância urbana e social, dando chance a novas atividades e a novas áreas comerciais, das pequenas as maio res, aumentando a diversidade e qualidade dos produtos vendidos. Com isso, mais pessoas usufruem do espaço, aumentando o fluxo e a segurança, aumentando a procura por serviço, criando um ciclo de procura e oferta local.

Entretanto, essa não é uma tarefa fácil, a partir do momento em que o uso urbano se torna cada vez mais disputado em um cenário de inserção de estabelecimentos com características impessoais, globais e introspectivas, e as demandas populacionais se tornam cada vez mais veementes por espaços atrativos que resgatem a cultura e identidade local (LYRA, 2022). Essas adversidades exigem políticas para o devido direcionamento dessas disputas por espa ço, instaurando uma zona de equilibro entre os setores varejistas e os demais usos públicos. Onde o processo de acomodação dessas novas estruturas, além de pensar no âmbito coorporativo e econômico, possam interagir com setor social, com ideias que extrapolem a criativida de do hoje, pois em tempos dinâmicos as mudanças ocorrem de maneira rápida. Idealizando, então, formas atrativas de angariar novos públicos e resultar em um meio planejado para uma experiência atual e vindoura.

2.3 A IDENTIDADE LOCAL VALORIZADA PELO ESPAÇO DE CONSUMO

A inserção de novas atividades no setor urbano tem demandado cada vez mais uma sensibilidade às questões inerentes à cultura local, e como visto, apresenta grandes desafios. Alinhar esse novo empreendimento à região inserida, demanda estudo e entendimento da cul

22

tura e das atividades locais já existentes. De antemão, é necessário entender o significado de lugar e o que ele representa como espaço naquela região, para em seguida explorar formas de potencializar o seu uso e desenvolver uma identidade que o expresse ainda mais como um meio endógeno daquele ambiente.

O lugar adquire importância à medida em que “As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental.” (CARLOS, 1996, pág.27). Portanto, são experiências vi vidas por cada indivíduo de maneira, visual, emotiva, sensorial. Estudar o lugar, é perceber os seus usuários e a maneira como se comportam naquele ambiente, como usufruem do local e como culturalmente se moldam naquela porção de espaço. Dessa forma, cada local terá sua própria característica intrínseca definida a partir das apropriações de seus utilizadores.

A identidade cultural de cada região está ligada diretamente aos costumes da sua po pulação e os modos em que se expressam se tornam o alicerce dos parâmetros culturais do local. Um dos meios de propagação e visibilidade desses eixos culturais, está presente no âmbito comercial, onde as trocas culturais e difusão das expressões artísticas dos habitantes se evidenciam. Essas atividades detêm ainda mais importância para as comunidades tradicionais, onde além do cerne cultural ser uma tradição atávica, a venda desses produtos artesanais é de grande valia para a obtenção de renda local.

Nas sociedades industriais, o fazer artesanal, em sua dimensão ar tística, é comumente pensado em termos de oposição entre cultura popular e cultura erudita. E, na mirada econômica, sobretudo em momentos de crise no mercado de trabalho, é reconhecido como trabalho informal, capaz de gerar ocupação e renda. (MORAES, SERAINE, BARBOSA, 2020, pág. 163)

Esse cenário se relaciona diretamente aos pescadores artesanais de Itapuã – ES. Que segundo Alves (2021), desenvolvem suas atividades utilizando o modo tradicional de fazer a pesca, ensinados por seus ancestrais e passado de geração a geração, de maneira oral.

O saber tradicional que envolve a atividade pesqueira tem fatores significativos que surgem por meio da oralidade, ou seja, da fala destes su jeitos. É através da fala que ocorrem trocas de experiências em modos que a oralidade é fator aliado na construção do saber desses indivíduos. Desta maneira, a memória torna-se elemento potente na construção do saber nas relações entre os pescadores e o contato direto com o meio natural em seu dia a dia. (ALVES, 2021, pág. 20).

Esse cerne cultural é presente nas colônias e torna-se uma presença cultural na região, enraizando seus feitos e características, enriquecendo o âmbito em que se situam. As ativida des, são observadas diariamente na orla capixaba, o fazer e restauro das embarcações, manu-

tenção de redes, venda de peixes, todos esses atributos culturais estão expostos para todos e relacionam-se naturalmente no ambiente inserido.

Entretanto, com a globalização e desenvolvimento urbano, o anseio econômico para descoberta de territórios propícios para turismo e especulação imobiliária, tem gerado conflitos entre os habitantes tradicionais e a gestão desses empreendimentos. Isso torna-se notório em zonas com comunidades pesqueiras, onde o ambiente é visto como oportuno a atividades turísticas. E, o conflito se inicia, na medida em que, a falta de recursos e documentação necessária, comprovando a posse da população por aquele território, abre brechas para os empreendedo res assumirem a gerência do local.

As comunidades em casos mais graves, são expulsas para a ins talação de resorts e outros empreendimentos. Também o aumento do valor da terra e dos serviços básicos do entorno, progressivamente, pressiona os pescadores a venderem os seus imóveis e se alocarem em regiões mais periféricas. (DE PAULA, 2020 pág. 192)

É preciso compreender que, o âmbito está associado a sua população e as atividades por elas realizadas, segregar os habitantes do seu ambiente, é extinguir a cultura local. Transigir o interesse de um, não valida extirpar a história do outro, a conexão do que já existe com o novo, deve ser estudada e estabelecida de forma a alavancar os dois processos de maneira igualitária, “Quando a comunidade se mantém, o turismo como atividade de mercado transfor ma a paisagem comunitária em uma mercadoria a ser consumida. Isso interfere nas dinâmicas sociais e nos modos de viver das comunidades.” (DE PAULA, 2020 pág, 192).

Projetar um lugar para o âmbito comercial, deve ter como prerrogativa a demanda dos usuários locais a esse tipo de convenção e a necessidade de um ambiente que sane seus an seios por essa atividade. Porém, não só a instalação dessa zona comercial fará jus ao sucesso do empreendimento, é necessário maneiras de aproximar o cliente para aquele meio, eliminar diferenças e encontrar na arquitetura convergências através da identidade local. Essa aproximação acontece ao se criar mecanismos que fisgue a atenção do público-alvo e a melhor ma neira de alcançar esse resultado é o desenvolvimento de uma identidade local.

Para isso, a utilização do marketing, mais especificamente do place branding1 , é de extrema importância. O desenvolvimento dessa marca local, não entregará apenas o visual e serviço oferecido, mas construirá significados que atuaram como uma ponte entre o comer ciante e o cliente, pois aqui o termo marca, não é o mesmo referenciado na publicidade ou no marketing, ela tem um sentido literal da palavra, “As marcas elas precisam conectar-se com a cultura para alcançar o coração das pessoas” (GOBÉ, 2010, p. 15). Porém essa conexão não é

23
1 Marca do lugar

estabelecida assim que é implantada, como tudo que envolve, sensação, percepção e emoção, leva-se tempo para o público assimilar. É engano pensar que conexões são criadas, apenas se desenvolve artifícios que por consequência possam emular um sentimento nas pessoas, dessa forma havendo um tipo de sintonia com o local, “nem o arquiteto, nem o urbanista, nem o sociólogo, nem o economista, nem o filósofo ou o político podem tirar do nada, por decreto, novas formas e relações. [...] Apenas a vida social (a práxis) na sua capacidade global possui tais poderes.” (Lefebvre, 2006). Para tal, a relevância dos frequentadores do local, sendo ou vidos e explicando suas demandas é imprescindível, pois a articulação desse ambiente com a participação popular, ascendera o desejo de usufruir e desde já criará um laço entre público e ambiente.

Ao perceber esses valores, onde a localização, utilizador e identidade, são os eixos principais para um ambiente equânime e bem usufruído, faz-se necessário entender a importância do visual e design para a identidade do local e como aplicá-lo de maneira a contribuir para o ambiente proposto e o desenho urbano.

A cidade evolui a todo momento, porém sua história ainda está enraizada nos ambientes que a rodeia, praças, edificações, eventos culturais, tornando o processo do design uma linha tênue entre a ressaltar os elementos importantes ou descaracterizar completamente o estilo ali perpetuado. A renovação nesse quesito, entrelaça novas ideias para aquela região, novos traçados, elementos contemporâneos e usos mais condizentes com os dias atuais, realizando conexões com os elementos já existentes, despertando uma nova qualidade para o ambiente. Já no caso de aflorar o material cultural preexistente, deve-se considerar tudo em seu entorno, o estilo de vida da população, a arquitetura que rodeia a região, os fluxos que interligam os am bientes, pois tudo tem uma importância que media o cerne cultural daquele espaço. Estendendo para além dos usos, os materiais devem, também, se comunicar com o recinto, formas, cores, texturas, tudo isso entra em sintonia com o ambiente que está inserido, ressaltando a cultura local, preenchendo o ambiente e criando paisagens urbanas que antes eram desconhecidas. Dessa forma, a presença de um setor dinâmico, como é o comercial, munido das ferramentas propícias para uma inter-relação entre uso e cidade, despertar cultural e uma marcar que objeti ve e ressalte sua localização no espaço inserido, possui um potencial de alavancar uma região, e reavivar uma sintonia entre pessoas, identidade e espaço.

24

REFERENCIAIS TEÓRICOS E PRÁTICOS

Este capítulo teoriza sobre o processo da urbanidade na requalificação dos espaços comerciais, utilizando como referencias, ideias de autores que conjecturam acerca essas dinâ micas. Analisa, também, projetos e exemplos práticos de intervenções cuja dinâmica faz-se em basar diretamente nos conceitos teóricos, afirmando a possibilidade de transpor aos tangíveis tais ideias. Por fim, sintetiza esses conceitos, contemplando as principais ideias discorridas, em uma análise concreta sobre o assunto.

3.1 A URBANIDADE NO PROCESSO DE REQUALIFICAÇÃO DE ESPAÇOS COMERCIAIS

Conceituar urbanidade é uma tarefa complexa, que vai além dos aspetos morfológicos de ruas, parques e construções. O valor das cidades é sobretudo intrínseco, onde a importância do social e cultural as caracterizam de forma única, sem que haja um padrão, “Contudo, carac terísticas espaciais não são homogêneas nem se repetem de cidade para cidade, cultura para cultura.” (NETTO et al, 2012, pág. 36). Essa dinâmica do entorno com os habitantes, fica clara na expressão “a cidade como organismo vivo”, a ação do homem com o local constrói novas estruturas sociais e culturais com os mecanismos oferecidos pela cidade, onde cada nova expressão, singulariza e evolui o meio a todo momento.

Devido a isso, a síntese de urbanidade é difusa em vários âmbitos, onde não há o con senso de sua explicação por diversos autores. Porém, fica claro que o convivo social é um dos aspectos relevantes para que se conceitue a urbanidade, tendo em vista que a arquitetura sozi nha não molda um local de convivo, mas sim os estímulos sociais de seu usufruto, “Arquitetura está sempre relacionada a seres humanos, mas não está sempre relacionada a comportamen tos. ” (NETTO et al, 2012 pág. 164)

Dessa forma, é necessário entender o funcionamento das cidades e sua correlação com seus habitantes, expressas nas estruturas que moldam os eixos funcionais e disfuncionais des se convívio, compreendendo os fatores sociais e projetuais que reivindicam as cidades para o indivíduo. O ressalto da importância da vida urbana em harmonia com a atividade social nela existente, ganhou notoriedade no livro Morte e Vida das Grandes Cidades, lançado em 1961, por Jane Jacobs. Neste Jacobs cria um embate veemente contra o modelo modernista de urbanização, onde a cidade se tornou um meio individual e os espaços públicos foram segregados. O crescimento automotivo fomentou esse novo planejamento urbano, onde projetos pensados exclusivamente para os automóveis, fez com que houvesse a dispersão do ambiente coletivo,

reduzido a densidade dos fluxos nas ruas, desestimulando, então, o convívio social.

Para o desenvolvimento de uma cidade convidativa e segura, é imprescindível um aden samento local, o fluxo de pessoas circulando por ruas, calçadas, utilizando dos equipamentos públicos, faz com que a segurança e o anseio de estar nesse âmbito aumente. Para JACOBS (1961), as formas de interação entre transeuntes e os locais que usufruem, são essenciais para ressaltar a vida no meio urbano. Locais com baixo fluxo, no caso de subúrbios e bairros residenciais, pode dar a impressão de segurança para as pessoas em suas residências, porém a falta de atrativos e circulação do lado de fora, faz com que temor de utilizar as ruas seja ressaltado, diminuindo seu uso e aumentando a insegurança. Dessa forma, o compreendimento de como funciona a interrelação entre os espaços é fundamental para o reavivamento das cidades. Ativar o senso social da população é parte integral para um ambiente seguro e funcional, pois o movimento e circulação dos habitantes por espaços públicos, compreende um âmbito ativo e eles fazem deste local um ambiente seguro.

“à paz nas calçadas e nas ruas – não é mantida basicamente pela polícia, sem com isso negar sua necessidade. É mantida fundamentalmente pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões de compor tamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplica dos.” (JACOBS, 1961)

Garantir a segurança do passeio, se relaciona com a qualidade local oferecida. Os fre quentadores precisam de um chamado para usufruir dos locais, com atividades que evoquem a atenção e se correlacionem com o estilo comportamental expressado no ambiente. Assim como ressalta GEHL (2013), a movimentação de pessoas está correlacionada aos atrativos do âmbi to, estimular o passeio é uma dessas alternativas, alternar a rua que era prioritária para carros, em um ambiente para pessoas, com alargamento de calçadas, arborização e zonas de lazer, possibilita o conforto e novos estímulos para a permanência no local. Entretanto essa crescente deve se espalhar por toda a cidade, não apenas aos centros mais visados, angariando mais movimento e confiabilidade aos transeuntes a usufruírem do local.

Outra partida para o estreitamento da população com a cidade, é a integração e interoperabilidade entre os ambientes públicos e privados. Atividades como, trabalho, escola, super mercados, além das próprias moradias, devem ser levados em conta na organização do meio urbano. Essas variedades de usos, são essenciais para uma cidade bem adensada, criando um fluxo natural entre trabalho, casa e lazer, onde a caminhabilidade torna-se algo comum dentro das urbes. Porém, é preciso se resguardar, pois certas opções que têm a intenção de mesclar essas atividades, acabam transportando as pessoas para um ambiente desconexo das ruas, como o exemplo dos shoppings. Neles a população desgarra do ambiente urbano, encontrando uma saída num ambiente fechado, climatizado e com ofertas de atividades, que geralmente não

27 3

encontram fora.

Com base no que foi discorrido, uma forma de combinar essas atividades e ganhar aten ção do público ao ambiente urbano, são com os espaços comerciais. Alinhando aos conceitos de vitalidade urbana, como o bom aproveitamento do espaço público, fatores atrativos e di versidades de usos, ganha-se um local estratégico e de muito fluxo de pessoas que, usufrui rão dessa área de permanência e movimentaram o espaço. O âmbito comercial, possui essa característica de obter a atenção da população, seja por compras essenciais ou hedônicas. O potencial dessas áreas é enorme, como indaga SABOYA (2010), se bem estabelecido, com lu gares de permanecias, onde possa haver a interação social e com o estabelecimento, fachadas bem articuladas, prendendo a atenção do público e uma grande diversidade de lojas, já se cria um ambiente propicio para pessoas e isso estabelece uma razão essencial, pois quanto mais pessoas utilizam de um ambiente, mas ele atrai novos utilizadores. “a presença de pessoas atrai outras pessoas, é uma coisa que os planejadores e projetistas têm dificuldade em com preender.” (JACOBS, 1961).

3.2 EXEMPLOS PRÁTICOS DE INTERVENÇÕES

Nesta próxima etapa, foram realizados estudos projetuais que, objetivam os textos redigidos nos capítulos anteriores, em busca de referências para o melhor entendimento prático ao que será aplicado no ensaio projetual. Dentre os exemplos selecionados está o projeto Fisher mans’s Wharf de São Francisco, California, pois seu aspecto de requalificação está situado em uma área pesqueira, comercial e turística da cidade de São Francisco, e por aliar o place branding na garantia de uma identidade própria ao local. Além dele, outra fonte de estudo, se deu pelo Santa Caterina Market, onde sua posição estratégica na cidade, rodeado por residên cias e conexões internas, faz com que o mercado ocupe um local importante. Esse exemplo se destaca pela semelhança na ocupação adensada e localizada em uma região residencial com fluxo intenso, cuja proposta reaviva a parte externa e interna do local. A proposta se destaca visualmente em relação ao entorno, nesse caso, o seu contraste em escala e forma evoca atenção dentre as demais edificações locais.

3.2.1. FISHERMAN’S WHARF

O Fisherman’s Wharf é uma área histórica de São Francisco, Califórnia, figura 01, com posta pela terceira geração de comunidade pesqueira da região inserida em uma área turística com restaurantes, hotéis e residências.

A popularidade da região se deu após a ida de imigrantes chineses e italianos, para a costa californiana, em 1900, durante a época chamada Gold Rush1 . O crescimento da cidade, foi um dos principais atrativos que comandaram a vinda dos imigrantes para o local, sendo a costa alvo de pescadores, que começaram a prosperar devido a pesca e venda de mercado rias, o que tornaria o local popular, estabelecendo uma nova cultura e novos costumes2 . Com o passar do tempo, a tecnologia se desenvolveu e a cobiça de navegar por águas mais profundas se apoderou dos pescadores, que com o auxílio tecnológico de novas embarcações, puderam desbravar novos locais e conseguir novos produtos para a venda. Devido a popularidade do cais, novas indústrias se instalaram no local, atraindo novos públicos e popularizando ainda mais a região, que se mantem ativa atualmente, figura 2, sem perder a cultura pesqueira que sempre esteve presente. (GRAYLINEOFSANFRANCISCO, 2019)

1 A Corrida do Ouro, foi um evento que ocorreu na California tendo início em 1848, quando o carpinteiro James Wilson Marshall e seus ajudantes, descobriram o minério na região de Sierra Nevada, no leito do Rio Americano. Dessa forma, a California, que não tinha notoriedade, tornou-se centro de imigração para a busca do ouro, o que impulsionou o crescimento da cidade. (BIGHETTI, 2017)

2 Um dos costumes dos pescadores, eram suas cantigas, eles cantavam sobre o trabalho, a saudade de casa, entre outros temas. Esse fator, além de cultural, auxiliava-os como uma espécie de comunicação, pois devido a região apresentar uma densa neblina, mal se via as embarcações pela manhã, dessa forma, a cantoria dos pescadores, alertavam a sua chegada ao cais. (GRAYLINEOFSANFRANCISCO, 2019)

28
Figura 1: Mapa de Situação, do Fisherman’s Wharf na California Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013

Fonte: https://www.fishermanswharf.org/. Acesso em 24 de abril de 2022

Em 2006, o Departamento de Planejamento de São Francisco, em conjunto com a co munidade local, desenvolveu um projeto de requalificação da região, de forma a garantir um melhor aproveitamento do local, tendo em vista as melhorias para pescadores, turistas e resi dentes. Segundo a proposta do departamento de planejamento da CALIFORNIA (2013), alguns fatores contribuíram para a impulsionar a requalificação da área. Sua parte histórica é riquíssi ma, devido a cultura pesqueira existente e o chamado turístico que o local emana por si só. Po rém, essas características que expunham a área ao lado turístico e paisagístico, não estavam sendo devidamente enaltecidos. Para um melhor entendimento do que se passava na região e visando compreender os lados positivos e negativos que contornavam o local, o escritório de Jan Ghel, Jan Ghel Archtects, foi contratado para fazer a análise de campo.

Nessas análises, o escritório reuniu diversas informações, sobretudo em ilustrações e diagramas, que idealizavam os problemas e os êxitos da região, de maneira clara e direta. Um dos pontos centrais era entender os potenciais que o Warf possuía e o que os impediam de se rem explorados a alavancar ainda mais a região. Um dos pontos fortes do Warf, é a sua marina, parte da história local e de grande importância cultural, porém, pouco explorada e sem uma conexão com o interior dos bairros. Como aponta GEHL (Ghel Architects, 2008) em suas análises, a área possuía poucos acessos e visuais para a parte marítima, onde as rotas não seguiam em conexão com o local, além da baixa quantidade de atrativos. Com base nesses apontamentos, o grupo indicou algumas mudanças que poderiam transformar a área em um convidativo turís tico, como aponta a figura 3.

Outro ponto em destaque, apresenta as poucas mudanças estruturais no Wharf entre décadas, porém, havendo o aumento do fluxo de pessoas e automóveis, figura 4 e 5, pontos relevantes a serem discutidos nas eventuais propostas de requalificação local.

29
Figura 2: Fisherman’s Wharf Figura 3: Diagramas de melhoramento das áreas Figura 4: Fisherman’s Wharf, Fotografia de 1952 Fonte: Public Space & Public Life in Fisherman’s Wharf, 2008 Fonte: https://www.fishermanswharf.org/. Acesso em 24 de abril de 2022

Fonte: https://opensfhistory.org/moreNeighborhoodPhotos.php?n=Fisher mans_Wharf&bn=7&bn=7&bn=7. Acesso em 25 de abril de 2022

A população de São Francisco tinha um apelo em tornar o Wharf o lugar favorito do são franciscano, evidenciando o local para o turismo e criando uma experiência única de se viver e visitar. Para isso, aclamavam pela revitalização de locais abertos, melhor conexão com os bair ros internos, a readequação do local para pedestres e rearranjo do tráfego automotivo, além de explorar mais a cultura local (Califonia, 2013).

Após a análise da região, realizada pelo escritório de Jan Ghel, teve início a primeira fase da requalificação do Wharf em 2010, com a elaboração de documentos que reunião as informa ções obtidas pelo escritório de Ghel, e avaliavam propostas de intervenção local, onde toda a área do Fisherman’s Wharf foi contemplada no processo, figura 6.

Figura

Figura 6: Mapa da região

30
Figura 5: Fisherman’s Wharf, Fotografia de 1972 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 7: Parte da proposta de requalificação da Rua Jefferson Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013

A primeira fase teve sua conclusão em 2013, a visão do departamento de planejamento (Califonia, 2013), era a prioridade da rua para os pedestres, limitando a quantidade de veículos no local e possibilitando o fluxo primário para pedestres e ciclistas. O foco pensado para essas melhorias foi a Rua Jefferson, figura 7 e 8, rua principal do Wharf, onde seu local privilegiado, perto do porto e locais turísticos, serviria de conexão dessa área com outros distritos. Além das melhorias citadas, ocorreu o alargamento de calçadas, mudança da direção do sistema viário e novas sinalizações, sem excluir o bondinho que conecta a outras regiões do Wharf. Possibili tando um maior enfoque para os pedestres e evidenciando o visual da região.

A Beach Street, figura 9 e 10, rua abaixo da Jefferson Street, possui outro caráter impor tante na região, ela engloba a parte comercial e residencial do local. É nesta região que a maior parte dos hotéis estão instalados e é a parte que realiza a conexão com a área do porto, loca lizada na Jefferson Street, com as demais áreas de atrativos, como o Park Edge, figura 8. Foi desenhada para garantir um maior conforto para o pedestre, com mais mobiliário, sinalizações, vegetações. E ao contrário da Jefferson Street onde o pensamento é prioritário ao pedestre, a rua mescla de maneira fluida o pedestre com os veículos.

Figura 11:

Street

Fonte:

31
Figura 8: Outra parte da proposta de qualificação da Rua Jefferson Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Figura 9: Cruzamento da Beach Street com a Taylor Street Figura 10: Conexão da Beach Street com a Polk Street e o Park Edge Cruzamento da North Point com a Larkin Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013

A North Point Street, concentra atividades residenciais e devido a isso o departamento de planejamento CALIFORNIA (2013), pensou nessa rua com um aspecto mais calmo, com tráfego de veículos em baixa velocidade, respeitando os moradores locais. Porém. Promoveram uma melhora nas áreas caminháveis, arborização, e sinalização, aumentando o fluxo de pedestres ao longo de toda a via, além de áreas com estacionamento, promovendo um melhor controle de veículos, a favor dos hotéis presentes no local, como pode ser visto nas figuras 11 e 12.

Entre as melhorias propostas para a Bay Street, está a priorização da segurança do pedestre. Por ser uma rua comercial, o tráfego entre vias é constante, sinalizações foram es tabelecidas, para uma melhor travessia do pedestre, melhoria nas condições de calçamento, arborização. E uma solução eficaz para o controle de velocidade e fluxo de veículos em certos cruzamentos, foi estreitar a via, com vegetação e alargamento das calçadas, como acontece no cruzamento da Larkin Street com a Bay Street, figura 11.

32
Figura 12: Cruzamento da North Point com a Grant Avenue Figura 13: Cruzamento da Bay com a Larkin Street Figura 15: Cruzamento da Columbus Avenue e North Point Street Figura 14: Cruzamento da Bay com a Taylor Street Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013

A Columbus Street, rua perpendicular ao Fisherman’s Wharf, segundo o departamento de planejamento CALIFORNIA (2013), é uma das ruas mais importantes de São Francisco que, conecta a Downtown com a Chinatown. Diferente das outras ruas, essa apresenta um traçado diagonal, terminando na Beach Street, o plano propunha uma rua de espaço compartilhado no final do quarteirão, que conectaria o Park Edge a outras edificações comerciais, como cafés e restaurantes. Outra mudança sugerida, foi a terminação da Lavenworth Street, na North Point, que seguia de encontro a Columbus Avenue, figura 4, para a melhoria da área urbana e a con jectura de um local mais agradável ao pedestre, figura 13.

A principal ideia do departamento de planejamento CALIFORNIA (2013),seria transfor mar a Taylor Street, em um local de permanência, com apostas em mobiliários e arborização, criando uma grande Plaza linear na rua, evocando lugares privados e públicos para se estar, além de ser uma conexão com o bondinho que percorre a Columbus Avenue até o Fishman’s Wharf.

.

Fonte: https://www.sfpublicworks.org/jefferson. Acesso em 25 de abril de 2022

Em 2013, a primeira etapa da requalificação foi concluída, restando ainda na Jefferson Street, um pedaço que vai do cruzamento com a Jones Street até a Powell Street. Essa nova etapa, chamada de fase 2, figura 16, teve início em 2019, e continuou o plano de domínio públi co, estabelecido pelo departamento de planejamento de São Francisco.

As medidas tomadas segundo o departamento de planejamento CALIFORNIA (2013), foram o estreitamento das ruas e com isso o aumento das calçadas, ressaltando o uso do pedestre e diminuindo a quantidade e velocidade de carros nas vias. A proposta ainda incluía a arborização dos locais públicos, iluminação na escala do pedestre e mobiliários, garantindo uma área de permanência. Também foram feitas melhorias do calçamento na parte do porto com acréscimo de grades de proteção, além da inserção de bicicletários. Além das melhorias urbanas que, de fato, possibilitaram um uso mais zoneado e diversificado do Wharf, elas, tam bém, agregaram para uma revitalização da zona turística na região. Esses estudos foram de grande suporte para a melhoria da região. Foi considerado a criação de praças públicas ao logo

33
Figura 16: Parte 1 da Taylor Street Figura 17: Parte 2 da Taylor Street Figura 18: Segunda fase da requalificação da Jefferson Street Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013

da borda d’agua na Jeferson Street, para acomodar os eventos periódicos que existem na re gião e espaços de contemplação e permanecia, garantindo máxima integração do público com a paisagem da baia de São Francisco (Figura 18).

Além da praça outro ponto importante em destaque é o parque aquático, frequentado para nados, banho, canoagem, onde o público tem um contato direto com as águas do wharf. Porém durante os anos seu entorno não teve um uso específico, foi deixado de lado, usado apenas como um ponto de espera do bondinho e espaço de estacionamento. Dessa forma, foi proposto meios de aumentar o uso do local, figura 21, com a melhoria do fluxo das ruas e visu ais, criando uma praça no ambiente, que estimularia a permanecia e atividades, além de uma conexão com a praia. A parte dos estacionamentos seria realocada, mas ainda assim, contemplaria os usuários, dentre eles os pescadores e usuários dos clubes adjacentes, preservando, todavia, uma área generosa exclusiva para o pedestre para melhoria da acessibilidade nas conexões que auxiliariam, inclusive, o acesso de pessoas com deficiência.

O projeto do Fisherman’s Wharf se destaca por apresentar soluções que ultrapassam o enfoque turístico da região. A proposta abrangia também, o interesse de requalificação das regi ões mais internas, onde há atividades residenciais e comerciais que ajudam na vitalidade e uso do local. Ao pensar como um todo, o projeto mostra a população nativa e visitantes, a impor tância de cada ator social local, respeitando e aprimorando as atividades nele existente, além do respeito com a parte histórica, tão importante para a região, quanto para seus moradores.

34
Figura 19: Croqui do Ghel Architects para a Praça a beira mar, Jeferson Street Figura 20: Parque Aquático Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013 Fonte: Draft Fisherman’s Wharf Public Realm Plan, 2013

3.2.2. SANTA CATERINA MARKET

Com a proposta de estabelecer uma conexão do antigo com o contemporâneo, o Santa Caterina Market, figura 20, incorpora um novo ambiente dentro de uma zona residencial. Res peitando a história local, porém integrando um novo estilo ao âmbito, com intuito de estabelecer novos espaços e envolver as atividades já existentes.

Um dos pontos mais marcantes do projeto, acontece em seu telhado, que cobre as edi ficações como se fosse uma espécie de toalha de mesa, figura 21. Segundo o EMBT (2005), o projeto foi desenvolvido, pensando como inspiração principal a sua cobertura, aludindo a um mar de frutas e vegetais, retratados em seus azulejos coloridos. Porém, a estrutura apenas per mite uma vista de toda sua magnitude e essência, por um angulo aéreo, perdendo essa alusão na vista dos pedestres.

Originalmente, no local, se estabelecia o Convento de Santa Caterina, apenas em 1848, após sua demolição, foi estabelecido pelo concelho da cidade a operação de desenvolver um mercado na região. Anos após a sua elaboração, foi previsto em 1997 uma competição para uma nova restruturação, onde o projeto do grupo EMBT foi contemplado. A essência contempo rânea, conceito ousado e respeito histórico, inseridos no projeto contribuiu para sua realização, que teve início em 1997 e foi finalizada em 2005.

A edificação foi desenvolvida com uma definição mais contemporânea, mas ainda relem brando a essência histórica que pertence ao local, quando se mantem uma parte da estrutura do antigo convento, como visto na figura 20. Ainda segundo o EMBT (2005), sua parte interna foi restruturada, sugerindo mais fluidez para quem acessa o local, figura 22. Sua inserção proposital em um espaço cercado por edificações residenciais, permite uma conexão com o mer cado e cria uma ligação com os acessos públicos fora dele, figura 23, além de conexões com as principais ruas, como visto na figura 22.

35
Figura 21: Santa Caterina Market, Barcelona - Espanha Figura 22: Telhados Cerâmicos do Santa Caterina Market Fonte: http://www.mirallestagliabue.com/project/santa-caterina-market-renovation/. Acesso em: 01 de maio de 2022 Fonte: https://arquitecturaviva.com/works/mercado-de-santa-caterina-1. Acesso em: 01 de maio de 2022

Fonte: https://www.barcelonaturisme.com/wv3/en/page/508/santa-caterina-market. html. Acesso em: 07 de maio de 2022

Fonte: https://patrimoni.gencat.cat/en/collection/market-santa-caterina. Acesso em: 07 de maio de 2022em: 01 de maio de 2022

Fonte: https://arquitecturaviva.com/works/mercado-de-santa-caterina-1. Acesso em: 01 de maio 2022

O mercado tem seu proposito definido desde 1848, com a proposta de uma área destina da ao comercio. Porém sua revitalização, reaviva o local, atribuindo novas possibilidades, seja dentro ou fora do ambiente, criando conexões para os moradores locais e usuários externos, explorando sua identidade, integrando sua edificação com visual único e quebrando a barreira do antigo com o novo em uma região tradicional.

36
Figura 23: Parte interna do Mercado de Santa Caterina Figura 24: Parte externa do Mercado de Santa Caterina Figura 25: Diagrama de situação do mercado na cidade

3.3 SÍNTESES CONCEITUAIS

Os referenciais projetuais apresentados anteriormente, têm grande relevância se tratan do de integração com o ambiente em que foram inseridos. Analisando-os, pode-se encontrar característica e preocupações discorridas por diversos autores que, já foram tratados em outros tópicos. A particularidade de cada projeto, será essencial para o estudo e elaboração do ensaio projetual mais à frente. Características positivas e negativas estimularam uma nova visão e contexto para a elaboração do projeto.

O Fisherman’s Wharf, elabora vários estudos em partida de melhoria do fluxo e destino turístico da região. Suas ideias urbanísticas, tem muito a ver com o consultor contratado para realizá-las, o grupo Ghel Architects, tratam da forma urbana em uma ligação direta com as pes soas que a utilizam. Novas formas de conexões, melhorias do uso público, meios de angariar a atenção de turistas e população local, são algumas das diversas preocupações levantadas para a qualificação da região e todas essas atribuições possui o pensamento voltado as pessoas. É notório destacar que, o projeto não foca apenas na parte turística, a reformulação do Wharf acontece em toda a região, algo que foi comentado por Jacobs (1961), onde as restruturações não devem acontecer somente nos ponto de destaque da região, mas, também, nos locais menos procurados, pois são esses que necessitam dessa aproximação e adensamento. Com todas as partes já estruturadas, a eficiência de destacar a região turística é maior, figura 25, caso que acontece no Wharf. Suas ruas internas reformuladas, tem a intenção de melhoria da parte publica, porém, suas novas conexões com a parte marítima são fundamentais, tanto para o destaque turístico, tanto para o fluxo das ruas internas. Todos esses novos elementos estrutu rados, ajudam a destacar ainda mais a identidade que já havia no local, o place branding unido do urbanismo, estabelece essa identidade histórica e visual, já presente na região, aprimorando suas principais características turísticas e evidenciando seus entornos como um todo.

A proposta do Santa Caterina Market, não aborda tanto o urbanismo, quanto o projeto anterior. Seu enfoque se dá na reformulação do mercado já existente no local, porém, cria meios de conexões e fluxo com os outros usos na região. Essa nova identidade estabelece um parâmetro mais contemporâneo, em contraste com as edificações tradicionais. Essa é uma ou tra forma da utilização do place branding, não apenas pelo visual mais alegórico da edificação em contraponto aos outros, mas pela a reformulação de uma atividade já existente, elevando as características e criando uma identidade naquela situação. Um dos pontos chaves para a cone xão do empreendimento com o local situado, se dá a sua reformulação interna, com melhora no fluxo, apresentando várias atividades e criando pontos de encontro e lazer, tanto dentro, quan to fora do mercado. Esses tipos de atividades são importantes, ainda mais em um local com predomínio residencial, seguindo mais um assunto abordado por Jacobs (1961), onde destaca a importância das atividades constantes em um local, para dar vida aquele ambiente. Quanto mais atrativos e mais pessoas circulando, elas por si só tornam o ambiente mais seguro, ao contrário do que acontece em ambiente apenas residenciais. A mescla de atividades, figura 26, faz um convite para as pessoas usufruírem do local e pessoas chamam pessoas, aumentando a densidade e com isso a segurança.

37
Figura 26: Eventos no Fisherman’s Wharf Figura 27: Atividades externa do Mercado de Santa Caterina Fonte: https://www.fishermanswharf.org/events/. Acesso em: 08 de maio de 2022 Fonte: https://www.barcelonacheckin.com/en/r/barcelona_tourism_guide/markets/santa-ca terina-market.php. Acesso em: 08 de maio de 2022

CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Esse capítulo tem como desígnio a apresentação da área de estudo, a qual será utilizada como intento da proposta projetual. Nele será discorrido os condicionantes socioculturais, físico ambientais e legais que, norteiam a região. Abordando sua importância local e cultural, exaltan do sua qualificação mediante a meta projetual a ser desenvolvida.

4.1 CONDICIONANTES SOCIOCULTURAIS

O local escolhido para área de estudo, se localiza no bairro de Itapuã, na cidade de Vila Velha, figura 29, região costeira do estado do Espírito Santo. Sua escolha se deve a importân cia cultural e social da comunidade pesqueira que ali reside. Para a realização desse estudo, foi realizada uma Deriva Urbana na região da Colônia de Pescadores de Itapuã, com alunos de Arquitetura e Urbanismo da UVV, de formar a melhor compreender os parâmetros físicos e comportamentais da região.

O bairro de Itapuã situa-se na região administrativa 01 no município de Vila Velha, Anexo 2. Segundo o Censo demográfico de 2010, possui uma população de 22.808 habitantes, onde a população masculina se dá por 10.688 e a feminina 12.120, estabelecendo também a maior parte da população com a faixa etária entre 15 a 64 anos, como pode ser visto no gráfico da figura 29.

Figura 29: Gráfico faixa etária da Região Administrativa 01

Fonte: SEMPLA a partir do Censo Demográfico 2010

Fonte: Elaborado pelo Autor

O bairro possui um total de 7.899 domicílios particulares permanentes ocupados, onde a maior porcentagem de destaca por domicílios próprios, como pode ser visto no gráfico da figura 30.

A renda populacional média da região é creditada na pesquisa por pessoas com mais de 10 anos, sendo o valor nominal médio do bairro de Itapuã de 3.329,89, sendo o maior dos bairros da Região Administrativa 01, onde a maior porcentagem da população 62,5%, recebe mais de 1 salário-mínimo, como pode ser visto no gráfico a seguir, figura 31

40 4
Figura 28: Mapa da localização do bairro de Itapuã - Vila Velha
ITAPUÃ 4 3 6 3 3 0 4 8 1 6 7 9 1 6 2 7 7 1 6 2 V a Ve h V a Ca c Gua a a V r ¯ Un v rs da e V a Ve ha d d p G S 20 TM Z NA 4 T e d M a o on e MV N EM e G oba e O n A a Pa y Da O gan z o Denn s T x B n A s n A a e 2 0 4 0 0 Km ¯ MAPA DE ITAPUÃ 16/09/2022 LEGENDA Limite da Colônia

Grande parte da orla brasileira, estabelece um elo cultural e econômico, entre as colô nias de pescadores e o ambiente em que se estabelecem. Segundo Trigueiro e Knox (2013), havia de início aproximadamente 200 famílias de pescadores na região, entretanto, com a ur banização e crescimento imobiliário, essa população é afetada, onde a não inserção dessas co munidades nos planos de expansão, as retiram de seus territórios e as realocam em diferentes locais. Extinguindo uma fonte econômica e cultural já estabelecida na região e diminuindo para 30 a quantidade dessas famílias tradicionais na orla. Atualmente, segundo os dados obtidos na Sede da Colônia de pescadores, situado no bairro de Itapuã – VV, estão registrados um total de 352 pescadores, sendo eles respaldados pela colônia nos quesitos legais, jurídicos e sanitários, pagando uma taxa de 150 reais por mês, para esses benefícios.

Com base em jornais antigos, fica claro a insatisfação da população com o descaso pe rante as colônias, figuras 32 e 33. Nessas reportagens de 1981, é possível ver a preocupação dos moradores e a inadimplência dos órgãos públicos, onde as falas do prefeito de Vila Velha, que além de um tom ofensivo e degradante aos pescadores, toma um rumo de desconhecimen to do local e de seus habitantes. Além de sugerir soluções fáceis de realocação dessas pes soas, visando apenas a expansão territorial, sem se importar em apagar uma base tradicional presente na região.

Figura 32: Jornal - Preocupação com o avanço da urbanização na praia de Itapuã

41
Figura 30: Gráfico habitação condição de ocupação de domicílios Figura 31: Renda Percentual da População Fonte: Biblioteca Online IJSN/ Jornal A Gazeta. 1981. Fonte: SEMPLA a partir do Censo Demográfico 2010 Fonte: SEMPLA a partir do Censo Demográfico 2010

Esse descaso ainda acontece atualmente, a região apesar de se situar em um eixo no bre de Vila Velha, aparenta estar a margem dos entornos imediatos, sua relação é desconexa, não evoluindo como as demais regiões do bairro. Se tornando então, alvo fácil de especulação imobiliária, visando a venda das propriedades, além do contínuo descaso por parte da prefeitu ra. Um acontecimento em julho de 2022 caracteriza de certa forma as condições precárias da região, após um incêndio iniciar na casa de uma senhora deficiente, de 79 anos, e que segundo vizinhos e moradores do local, não era a primeira vez que isso ocorria. A casa em questão se situa em uma viela na região da colônia, figura 34 e 35. Segundo relatos, o incêndio iniciou após o filho da senhora, cujos moradores o apontam como usuário de drogas, ateou fogo em fios de cobres.

Fonte: Tribuna Online - https://tribunaonline.com.br/cidades/incendio-assusta-mora dores-em-bairro-de-vila-velha-120625

42
Figura 33: Entrevista com Prefeito de Vila Velha - Comunidade de Pescadores Fonte: Biblioteca Online IJSN/ Jornal A Gazeta. 1981. Figura 34: Viela no dia do incêndio Figura 35: Entrada da Viela Fonte: Acervo Pessoal

4.2 CONDICIONANTES FÍSICO AMBIENTAIS

A região da colônia se localiza na orla de Vila Velha, possui uma visão privilegiada para a praia de Itapuã, figura 36, onde acontece as principais atividades dos pescadores. O local é bem arborizado na região da praia e há uma concentração na Rua Goiânia, porém com pouca arborização nas outras vias. Uma parcela da rua Maj. Nobrega Ulisses de Oliveira, com o cru zamento na Av. Hugo Musso apresenta uma tendencia de alagamento, como pode-se observar no mapa abaixo.

Figura 36: Mapa Físico Ambiental

Figura 37: Mapa de Gabaritos

Fonte: Elaborado pelo Autor

Figura 38: Elevação da Região da Colônia de Pescadores Fonte: Elaborado pelo Autor

Como pode-se notar no mapa da figura 37, o local possui o predomínio de 1 a 4 gaba ritos, compreendendo toda a extensão da colônia, os gabaritos mais altos na extensão da Av. Est. José Júlio de Souza e na Av. Gil veloso, além de um prédio ainda em construção, o qual será destacado no mapa de tipologia, na Rua Guacui. Na figura 38, observa-se a elevação das edificações, caracterizando-as com predomínio de edificações baixas na fachada em frente a orla de Itapuã.

Fonte: Elaborado pelo Autor

A região possui um predomínio residencial, figura 39, em seguida de ocupações de uso misto, com a presença de comércios e restaurantes na orla e nas ruas mais internas. Por se tratar de uma Colônia de Pescadores, certas lojas são destinadas a peixarias, porém, não são associadas a colônia, sendo de uso privativo. Entretanto, certos pescadores credenciados, re alizam a venda dos peixes em barraquinha improvisadas, na areia da praia. Em sua extensão possui algumas instituições de ensino e uma igreja na Rua Guacui, onde se encontra também o centro cultural Chico Chagas, acordeonista e multi-instrumentista acreano. Nota-se também uma região com predomínio de vazios urbanos, destacado de verde no mapa, entre o cruzamento da Av. Antônio Gil Veloso e a Av. Jair de Andrade.

43
3 5 0 3 5 0 6 7 0 6 8 5 2 3 6 0 7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un r d de V Ve ha Co d n d e e ê c a E p S GA 0 0 U M ONA 2 P o e ã T n e a d Me a Font PMVV S N EMA G oba e O en ção A a P u a y a Da a 16 0 /2 22 O g açã D nn s e x a B r s As un o At v d de Mapa Físico Ambiental 0 25 50 7 100 12 M ¯ LEGENDA Rua São Paulo Rua São Paulo Av.Est.JoséJúliodeSouza Av.Est.JoséJúliodeSouza Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso Av. Antônio Gil Veloso Sol nascente Árvore Sol poente Visuais Vento Nordeste Área de alagamento 6 6 0 6 6 0 6 6 3 5 4 3 5 0 6 0 0 7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un ve s dade V a Ve h C o en a de R e n a s a RGA 0 U M ZO A 4 P o Tra s e Me o on e PMVV S N MA e Geob se O n aç o Ana au L r Da a 6/ 9 2022 O an a ão Denny Te e a Bu n A s n o A v dade Mapa de Gabaritos 1 2 3 4 5 7 8 16 17 20 GABARITOS Região da Colônia 0 25 50 75 100 12 5 M ¯ LEGENDA Rua São Paulo Rua São Paulo
Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso Av. Antônio Gil Veloso A Elevação A 0 20 40 60 80 M
Av.Est.JoséJúliodeSouza Av.Est.JoséJúliodeSouza

As tipologias construtivas são bastante diversificadas, como pode-se notar no mapa da figura 40 e nas figuras 41 a 52. Grande parte dos usos são de residências ou mistos, possuin do um padrão de construção simples, algumas possuindo pintura ou somente no reboco, que foram em sua maioria caracterizadas como regular. A maior parte das edificações de gabaritos acima de 8, possuem um padrão construtivo melhor do que as residências mais baixas. Sendo alguns desses edifícios recentes e ainda construindo na região, como o caso da edificação da Rua Guacui. Em certas áreas, é possível notar uma desordem de edificações e tipologias construtivas, um exemplo disso, se dá no cruzamento da rua Goiânia e a Av. Est. José Júlio de Sousa, figura 53, onde as casas estão dispostas de maneira amontoadas, figura 54 a 58.

44
Elaborado pelo
Fonte:
pelo
Fonte:
3 5 0 3 5 0 6 7 0 6 8 5 2 3 6 0 7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un r d de V Ve ha Co d n d e e ê c a E p S GA 0 0 U M ONA 2 P o e ã T n e a d Me a Font PMVV S N EMA G oba e O en ção A a P u a y a Da a 16 0 /2 22 O g açã D nn s e x a B r s As un o At v d de Mapa de Uso do Solo N A Re g o o Re den a Vazios Peixarias C me c a M o Institucional Região da Colônia Sede da Colônia Uso do Solo 0 25 50 7 100 12 M ¯ LEGENDA Rua São Paulo Rua São Paulo Av.Est.JoséJúliodeSouza Av.Est.JoséJúliodeSouza Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso Av. Antônio Gil Veloso 6 6 0 6 6 0 6 6 3 5 4 3 5 0
7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un ve s dade V a Ve h C o en a de R e n a s a RGA 0 U M ZO A 4 P o Tra s e Me o on e PMVV S N MA e Geob se O n aç o Ana au L r Da a 6/ 9 2022 O an a ão Denny Te e a Bu n A s n o A v dade Mapa de Tipologia das Edificações TIPOLOGIA Em Construção Reboco S/ Pintura Ruim Reboco S/ Pintura Bom Sem Reboco Ruim Reboco Pintado Ruim Reboco Pintado Regular Reboco Pintado Bom Reboco Pintado Ótimo Revestimento Ruim Revestimento Regular Revestimento Bom Revestimento Ótimo Região da Colônia 0 25 50 75 100 12 5 M ¯ LEGENDA Rua São Paulo Rua São Paulo
Figura 39: Mapa de Uso do Solo Figura 41: Reboco Pintado Ruim Figura 42: Reboco Pintado Regular Figura 43: Reboco Pintado Bom Fonte:
Autor
Elaborado
Autor
Elaborado pelo Autor Figura 40: Mapa de Uso do Solo Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor
6 0 0
Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso Av. Antônio Gil Veloso
Av.Est.JoséJúliodeSouza Av.Est.JoséJúliodeSouza
45 Figura 44: Reboco Pintado Ótimo Figura 45: Revestimento Ruim Figura 46: Revestimento Regular Figura 47: Revestimento Bom Figura 48: Revestimento Ótimo Figura 49: Reboco s/ Pintura Ruim Figura 50: Reboco s/ Pintura Bom Figura 54: Foto 01 – Mapa de Fa chada das Tipologias Figura 55: Foto 01 – Mapa de Fa chada das Tipologias Figura 56: Foto 03 – Mapa de Fa chada das Tipologias Figura 51: Sem Reboco Ruim Figura 52: Em Construção Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Figura 53: Mapa de Fachada da Tipologia Fonte: Elaborado pelo Autor 6 6 0 6 6 0 6 6 3 5 4 3 5 0 6 0 0 7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un ve s dade V a Ve h C o en a de R e n a s a RGA 0 U M ZO A 4 P o Tra s e Me o on e PMVV S N MA e Geob se O n aç o Ana au L r Da a 6/ 9 2022 O an a ão Denny Te e a Bu n A s n o A v dade Mapa Fachadas da Tipologia 0 25 50 75 100 12 5 M ¯ LEGENDA Rua São Paulo Rua São Paulo Av.Est.JoséJúliodeSouza Av.Est.JoséJúliodeSouza Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso Av. Antônio Gil Veloso 1 2 3 4 5

4.3 CONDICIONANTES LEGAIS

O novo Plano Diretor Municipal de Vila Velha (Lei Complementar nº 65/2018), em sua parte de zoneamento urbano (Anexo 01 e figura 59), classifica a região da colônia como Nú cleo de Desenvolvimento C (ND-C), além de em seu entorno contar com a Zona Especial de Interesse Público (ZEIP) e a Zona Especial de Interesse Ambiental - A (ZEIA – A). O PDM, não apresenta uma característica que destaque que essa é uma área composta por uma colônia de pescadores, mas sim como o setor de pescadores e a destaca como um núcleo de desenvolvimento, deixando claro a ideia de expansão e adensamento do local, não expondo quaisquer idealização ou forma de preservação e manutenção da colônia existente.

“Por fim, nota-se que onde é pontuado sobre o tema ‘pesca’ no ins trumento, é feito de maneira generalizada. O então Núcleo de Desenvolvi mento (ND-C) é definido no corpo da lei na “atual colônia de pescadores da Praia da Costa” (PDM/2018). Apesar de toda a relevância histórica, cultural e econômica que a comunidade de pescadores de Itapuã apresenta, o PDM (2018) nem sequer menciona a comunidade na definição da zona de uso, nos seus objetivos e nas intenções futuras para a qualificação do lugar. Con forme foi tratado nas sessões teóricas desta pesquisa, o reconhecimento das especificidades de cada comunidade é primordial e impacta na relação de pertencimento entre os atores destas comunidades se tornando substan cial para sua sobrevivência.” (BONADIMAN, 2021. Pág. 62)

Art. 129 O Núcleo de Desenvolvimento C - ND-C compreende a atual colônia de pescadores da Praia da Costa, cujas características ím pares devem ser preservadas de forma a resguardar o potencial turístico e cultural da região.

Art. 130 Os objetivos do Núcleo de Desenvolvimento C - ND-C são:

I - Preservação da praia quanto ao sombreamento causado pela verticalização excessiva das edificações;

II - Caracterização e solução da situação fundiária da área; e

III - Estímulo às atividades de uso misto (residencial, comercial e serviços), priorizando as voltadas ao lazer e turismo. (PMVV,2018)

Assim como também caracteriza o zoneamento (ZEIA – A):

Art. 106 As Zonas de Especial Interesse Ambiental - ZEIA classifi cam-se em:

I - ZEIA A - áreas de preservação permanente, ilhas e unidades de conservação instituídas pelo Município, situadas na área urbana, com o ob jetivo de propiciar o equilíbrio ambiental e que deverão ser mantidas como unidades de conservação da natureza, conforme sua finalidade, respeitan do seus respectivos planos de manejo; (PMVV,2018).

Além da caracterização dos zoneamentos ditos como

(ZEIP):

Art. 115 As Zonas de Especial Interesse Público são áreas do terri tório municipal, de propriedade ou interesse público, onde é fundamental a manutenção e qualificação dos espaços livres de uso público ou voltados à implantação de equipamentos públicos.

Art. 116 Os objetivos das Zonas Especiais de Interesse PúblicoZEIP são:

I - Garantir a reserva de áreas de espaço livre de uso público;

II - Fomentar a qualificação dos espaços públicos municipais; e

III - Permitir, em consonância com os desígnios dos moradores, a utilização dos espaços de forma que melhor aprouverem as necessidades da região, desde que cumpridas as finalidades previstas no parcelamento do solo quanto à reserva e destinação de áreas públicas.

Art. 117 Os parâmetros urbanísticos e modelos de parcelamento para aprovação de projetos destinados à implantação de empreendimentos institucionais nas Zonas de Especial Interesse Público - ZEIP, serão defini dos pela Administração Pública, mediante análise e aprovação do Conselho Municipal da Cidade - CMC. (PMVV, 2018)

Informando, também, o índice urbanístico da zona ND-C, figura 59

46
Figura 57: Foto 01 – Mapa de Fa chada das Tipologias Figura 58: Foto 01 – Mapa de Fa chada das Tipologias Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor Segundo o Plano Diretor Municipal de Vila Velha, o zoneamento (ND-C) se caracteriza como:

7 7 4 8 8 0 0

7 7 4 8 8 8 0

Como visto no PDM e citado por Bonadiman (2021), a região não tem uma posição formal que a apresenta como uma colônia de pescadores, apesar do reconhecimento dos moradores e da história local. Destacando essa atual omissão e fatos passados apresentados, fica claro, uma segregação no invólucro urbano que se forma no bairro, sempre afastando a população pesqueira, os retirando de seus locais, para dar outros fins a esses territórios.

A região compreendida como a colônia de pescadores, destaca-se por ser uma área de invasão, segundo as informações da prefeitura municipal de vila velha, a população da colônia já era estabelecida no local, quando foram realizados os estudos e o mapeamento fundiário da região, onde na figura 60, é possível notar uma discrepância entre a região estabelecida para os lotes e as construções da colônia de pesca.

¯

Av. Jair de Andrade Rua Guacui

7 7 4 8 9 6 0 ¯

Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira

Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso

Rua São Paulo Av.Est.JoséJúliodeSouza Av. Hugo Musso Rua Goiânia

Av. Antônio Gil Veloso

LEGENDA ZOR ZOP ND C ZEIA ZEIP Rua São Paulo

Limite a ser respeitado para ampliação da via (19,70 m) Limite da Colônia Edificações que ultrapassam o limite fundiário (Invasões)

¯

0 25 50 75 100 12 5 M

Zoneamento Municipal

C o ena a de R e a E a RGAS 2 0 U M ZON 4 P o Tra s e e Me o

ITAPUÃ Un ve s dade V Ve ha

Fonte: Elaborado pelo Autor 7 7 4 8 7 2 0

Fon e PMVV S N EMA Geoba e O n aç o Ana au Lyr Da a 1 /0 /2 22 O an a ão Denn s Te e a Bu n A sunt At v d de

C o d n d de e n pac a S RGA 0 0 UTM ONA 4S P e ão T n ve a d M c o

Mapa Fundiário ¯ ¯ 10

on e PMVV N EMA e G oba es O ent ção An Pau a L a Da a 1 /0 /2022 O g n ação De ny Te xe a Bu ns A su to At v d des

ITAPUÃ LEGENDA Un ve dade V a Ve ha

Com esses avanços, a faixa destinada as vias foi reduzida, ficando com aproximadamente 12 metros de via, porém foi estabelecido pela prefeitura, uma faixa limite a ser respeitada, de 19,70 metros, para as novas edificações, com o intuito de estender e de certa forma, se aproxi mar do estudo fundiário inicial. O local possui predominância de vias coletoras destacadas no mapa da figura 61, sendo as principais a Av. Est. José Júlio de Souza e a Av. Gil Veloso, com direção a Praia da Costa e a Av. Jair de Andrade. Já as vias arteriais estão nas Av. Hugo Musso com sentido a orla e a Rua São Paulo.

47
Fonte: Elaborado pelo Autor Figura 59: Tabela de Índices Urbanísticos Figura 60: Zoneamento Urbano - PDMVV/2018
Figura 61: Mapa fundiário da região que compreende a Colônia de Pescadores Fonte: Elaborado pelo Autor 3 5 0 3 5 8 5 6 4 6 9 6 0 0 7 7 4 8 6 4 0

Av. Antônio Gil Veloso

7 7 4 8 7 2 0

7 7 4 8 8 0 0

7 7 4 8 8 8 0

4.3 CONDICIONANTES LEGAIS

Durante a Deriva Urbana, foi possível realizar um estudo comportamental, da população que mora e frequenta a região. Mapeando assim, figura 62, a frequência de adultos, jovem e crianças e estabelecendo um quantitativo médio de pessoas que frequentam a região em deter minado horário do dia, Tabela 01.

7 7 4 8 9 6 0 ¯

Av.AntônioGilVeloso

Av.Est.JoséJúliodeSouza

Av.Est.JoséJúliodeSouza

6 6 0 3 5 8 6 7 3 5 0 6 2 3 0 0 7 7 4 8 6 4 0

o e a a d R e n p a

S 2 00 UTM ONA S P ç o a v a d M a

en a o An Pau a y a D

Un ve dad V a V ha

PMVV S N EMA G oba e

A deriva ocorreu em um sábado, entre as nove horas da manhã até o meio-dia. Foi pos sível, assim, perceber, uma quantidade expressiva de pessoas usufruindo do local, principalmente na parte da orla, onde a população geralmente caminha no calçadão, figura 63. Perce be-se também a quantidade inferior no interior da região, acontecendo devido a predominância residencial interna, sem um possível destino ou atrativo, para inflamar a utilização daqueles espaços. Antes e após a deriva, os alunos responderam a questionários sobre o local, o primei ro teve o intuito de observar os conhecimentos prévios dos participantes em relação a colônia. Já o segundo, imbuia os participantes de credibilizar suas respostas anteriores ou esboçar uma nova opinião sobre o local.

De maneira geral, a opinião discorrida pelos alunos em relação a deriva foi positiva, onde destacaram que a observação da região in loco, os ajudou caracterizar novos detalhes antes despercebidos, além de um novo olhar sobre a colônia. Dentre os pontos positivos observados, se destacam o potencial turístico presente no âmbito, a área nobre em que está situada e bom fluxo de pessoas em determinados trechos. Em outra vertente, as vulnerabilidades, também,

48
3 5 0 3 5 0 6 7 0 6 8 5 2 3 6 0 7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un r d de V Ve ha Co d n d e e ê c a E p S GA 0 0 U M ONA 2 P o e ã T n e a d Me a Font PMVV S N EMA G oba e O en ção A a P u a y a Da a 16 0 /2 22 O g açã D nn s e x a B r s As un o At v d de Mapa de Hierarquia Viária e Sentido da Via 0 25 50 7 100 12 M ¯ LEGENDA Via Árterial Via Coletora Via Local Rua São Paulo Rua São Paulo Av.Est.JoséJúliodeSouza Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso
Figura 62: Mapa de Hierarquia Viária Figura 63: Mapeamento Comportamental – Dia 03/09/2022 Fonte: Elaborado pelo Autor Fonte: Elaborado pelo Autor
ITAPUÃ
LEGENDA
C
RG
Fon
O
t 16 09 2 22 Or an a ão Denny T xe r Bu n As un o A d de Mapa Comportamental ! ( ! ! Adulto Comportamental Masculino Criança Jovem " ) " " Comportamental Feminino Adulto Criança Jovem 0 5 75 100 12 5 M ¯
Região da Colônia Rua São Paulo Rua São Paulo
Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso
Av. Antônio Gil Veloso " " " " " " )" ) " " " " " ) " " " " " " " )" ") ) " ) " " " " " " " " " "

foram destacadas, como a presença de fachadas cegas, sem um atrativo em certas regiões da colônia que, gera uma certa insegurança dependendo do horário do dia. O mal cheiro presente, devido a limpeza e venda de peixes, as condições de habitação, com muitos “puxadinhos” e áreas “emboladas”, também, foram destaques nas análises. Outro problema citado, foi a des conexão presente entre a Colônia e o restante do bairro, que se dá através da disparidade da tipologia e da ambientação, que beira uma área marginalizada.

4.5 SINTESE DA ÁREA DE ESTUDO

De maneira geral, a região é compreendida por potenciais e vulnerabilidades, em que o maior destaque ocorre por sua localização privilegiada na qual, abrange o território de um bairro nobre na região de Vila Velha. Porém, aquilo que potencializa sua ocupação, também, a segrega. Sua tipologia construtiva desvirtua das demais construções em seu entorno, em que cada vez mais edifício verticalizados se estabelecem na orla da praia, havendo, não só, uma disparidade de alturas, como nos meios construtivos e nos materiais que compõem as constru ções. Em certas localidades da Colônia, é possível notar residências emaranhadas, compondo um ambiente desordenado, cuja ocupação apresenta características instáveis de moradia, na qual acidentes e incêndios já foram relatados no local.

Dentre os potenciais, a presença da orla é sem dúvidas um dos pontos de destaque. O fluxo de pessoas que compreendem a região do calçadão é notório, como foi estabelecido nas análises comportamentais, porém, a falta de atrativos impede a interação dos pedestres com a orla da praia, onde localiza-se a área da colônia. Como relatado por alguns alunos, sua visão sobre a colônia, compreendia somente o conhecimento das peixarias e as bancas de peixes na areia, a falta de outras atividades e atrativos, impendem o impulsionamento da região, não só na orla, como também nas áreas mais internas. O fator da predominância residencial, afeta a questão dos fluxos internos, pois a falta de atividades diminui o movimento, implicando no baixo índice de transeuntes e concomitantemente a segurança das pessoas.

É evidente, então, a importância de um local polivalente para a cidade e para as pessoas. Sendo esse um desafio a ser empregado na colônia, pois a área possui potenciais ainda inexplorados, os quais contribuiriam para sua impulsão. Reestruturando as áreas com situações mais alarmantes, onde as tipologias e os usos contradizem o potencial a ser explorado, apre sentando novas conexões das partes externas e internas do território. Estabelecendo, então, aos moradores e as pessoas externas a área, um ambiente unificado e integrado com o seu entorno.

49

PROJETO

5.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES

Para o programa de necessidades, figura 64, foram aplicados os estudos realizados nos referenciais teóricos, além das análises efeituadas na contextualização da área de estudo, de maneira a enriquecer a proposta de atividades e âmbitos que, se apliquem de forma objetiva nas necessidades e resoluções do projeto. Para o programa de necessidades, figura 64, foram aplicados os estudos realizados nos referenciais teóricos, além das análises efeituadas na con textualização da área de estudo, de maneira a enriquecer a proposta de atividades e âmbitos que, se apliquem de forma objetiva nas necessidades e resoluções do projeto.

Dessa forma, estudos de layouts, referências e contato com os moradores, tiveram gran de influência para gerar o programa, alinhando com as questões de funcionalidade e fluxo, para melhor aproveitamento e comodidade dos ambientes propostos.

Um dos pontos em destaque na tabela, foi a Sede da Colônia de Pescadores, cujo pro grama visa um melhor dimensionamento dos locais de trabalho. A atual Sede se dá por uma casa comum ressignificada a uma finalidade institucional, com isso não possui uma área destinada ao suporte de materiais dos pescadores. Sendo assim, tal questão entrou em pauta para o pré-dimensionamento da instituição, inserido uma área de deposito.

As edificações residenciais, foram fundamentadas em estudos e elaboração de plantas baixas, com o intuito de melhor disposição dos ambientes e a realização de uma tipologia que atenda às necessidades dos moradores locais, os quais serão reestabelecidos na colônia. Outras tipologias foram implementadas para uma diversificação dos ambientes, estabelecendo variedades para novos moradores.

As demais áreas comerciais, como o mercado, restaurantes e lojas, compreenderam um estudo de fluxo e layout, garantindo um melhor dimensionamento, caminhabilidade e atrativos, proporcionando melhor visibilidade e utilização do público.

5.2 CONCEITO E PARTIDO

5.2.1. CONCEITO 5.2.2. PARTIDO ARQUITETONICO

A idealização do conceito promove o objetivo inicial de transformação de um espaço sem atrativos e atualmente sem conexão com seu entorno, em uma marca local. Promovendo a in teração do público local e externo com um espaço agradável e marcante, além de estabelecer um vínculo entre as ruas internas e a orla em que está ambientado.

Partindo dos estudos bibliográficos e referenciais teóricos, além dos estudos da área de inserção, físico ambientais, gabaritos, usos, tipologias e legislação. Desenvolveu-se uma gama de conhecimento, onde a inserção de um mercado de peixe no ambiente de intervenção, estabeleceria uma conexão sociocultural com a Colônia de Pescadores, além de implicar dire tamente em uma melhor relação com o entorno. Utilizando, dessa forma o programa de necessidades o qual, intervém diretamente nas ocupações inseridas no local, possibilitado a adição de atividades variadas e espaços a serem usufruído pelos moradores, membros da colônia e o público externo. Com tais ampliações, vê-se necessário uma atenção no quesito residencial da área escolhida para a intervenção, ajustando novas moradias para os população afetada, de forma a proporcionar uma residência digna, sem as atuais características tipológicas que, as

52 5
Figura 64: Programa de Necessidades Fonte: Elaborado pelo Autor

5.2.3. ÁREA DE INTERVENÇÃO

Com base nas análises realizadas sobre a área, evidenciou-se a região escolhida, figura 65, como uma das principais projeções de vulnerabilidade da Colônia de Pescadores. Onde as tipologias desordenadas e acidentes ocorridos, tornam o local propicio para uma intervenção, além de sua conexão com as ruas internas e a proximidade com a Sede da Colônia de Pescadores.

5.3 IMPLANTAÇÃO

A implantação, Figura 66, foi determinada para melhor aproveitamento da área e dos visuais da região. O mercado, parte central do projeto, situado na Quadra 1, Figura 67, ganhou lugar de destaque junto a orla da praia, possuindo uma abertura em seu eixo central, assim como as duas torres residenciais, atrás do mercado. Desse modo é possível conceder visuais para o interior do bairro, ganhando uma conexão ativa, com as atividades propostas tanto no mercado, quanto nas lojas abaixo das torres, onde o caminho leva para a Sede da Colônia de Pescadores. Possibilitando assim um elo entre o comercial, residencial e institucional do bairro.

Já na Quadra 2, figura 68, fora instalado um restaurante junto a orla, com o propósito de destacar o ponto comercial para junto da pista com mais movimento no bairro. Logo atrás houve a inserção de uma torre residencial, com intuito de receber novos moradores para a região. Figura 65: Área de Intervenção

53
Fonte: Elaborado pelo Autor 3 5 0 3 5 0 6 7 0 6 8 5 2 3 6 0 7 7 4 8 6 4 0 7 7 4 8 7 2 0 7 7 4 8 8 0 0 7 7 4 8 8 8 0 7 7 4 8 9 6 0 ¯ ITAPUÃ Un r d de V Ve ha Co d n d e e ê c a E p S GA 0 0 U M ONA 2 P o e ã T n e a d Me a Font PMVV S N EMA G oba e O en ção A a P u a y a Da a 16 0 /2 22 O g açã D nn s e x a B r s As un o At v d de Mapa Área de Inteveção 0 25 50 7 100 12 M ¯ LEGENDA Rua São Paulo Rua São Paulo Av.Est.JoséJúliodeSouza Av.Est.JoséJúliodeSouza Av. Hugo Musso Rua Goiânia Rua Goiânia Rua Maj. Nodge Ulisses de Oliveira Av. Jair de Andrade Rua Guacui Av. Hugo Musso Av.AntônioGilVeloso Av. Antônio Gil Veloso Área de intervenção
casas
a intenção
valorizá-las
tornam um emaranhado de
sobrepostas. Com
de
e inclui-las nos programas inseridos, para que façam parte e contribuam para a valorização e socialização da região.

Figura 66: Implantação Fonte: Elaborado pelo Autor

54 Loja 01 A: 36 m² Loja 02 A: 36 m² Loja 03 A: 31 m² Loja 04 A: 31 m² Loja 05 A: 35 m² Loja 06 A: 35 m² Loja 07 A: 35 m² Loja 08 A: 35 m² Loja 09 A: 35 m²
55 OrladaPraia
Lojas
Entrada das Torres Proa A e B Mercado
0 5 15 25 35 m
Sede da Colônia dos Pescadores
Figura 67: Quadra 1 Fonte: Elaborado pelo Autor
OrladaPraia Lojas Entrada da Torre Convés Restaurante 0 5 15 25 35 m Figura 68: Quadra 2 Fonte: Elaborado pelo Autor

5.4 ESTUDO PRELIMINAR

Para a realização desse estudo, foi preciso a retirada das edificações existentes no local, figura 69 e foi de enorme importância a relocação dos antigos moradores para a nova área da colônia. Com isso foram renovados 25 edifícios, com um total de 49 famílias. E para o realoja mento desses moradores, foram pensadas as Torres A e B, presentes na quadra 1, exercendo um papel fundamental de acolhimento e de inserção para as novas atividades.

Figura 69: Edificações Renovadas

Fonte: Elaborado pelo Autor

5.4.1.

VERTICALIZAÇÃO

As duas torres da quadra 1, Proa A e Proa B, foram pensadas para abrigar aos morado res afetados pela renovação da região. Possuem 8 pavimentos, sendo o térreo comercial e os outros 7 residenciais. A torre da quadra 2, Convés, possui 11 pavimentos, diferente das outras, o térreo possui vagas de estacionamento e uma loja e os outros pavimentos são destinados a residências. As alturas foram estabelecidas de acordo com sua inserção no terreno e utilizando de estudos de simulação solar, figura 70, tentando conter ao máximo o sombreamento na orla da praia.

Figura 70: Diagrama solar

Equinócio de Primavera - 16h

Solstício de Inverno - 16h

Equinócio de Outono - 16h

Fonte: Elaborado pelo Autor

Solstício de Verão - 18h

Com base nessas imagens é possível inferir que, a orla já possui grande parte do calça dão e da faixa de areia sombreada pelos prédios ao redor, segundo o PDM de Vila Velha, toda a nova edificação deverá obedecer às regras de sombreamento imposta no PDM:

Art. 70 Quanto aos critérios de análise e limite máximo permitido para o sombreamento, não será permitida, em nenhuma hipótese, a proje ção de sombra proveniente das edificações, a serem construídas na orla, sobre a faixa de areia das praias, incluindo o calçadão, quando houver ou constar projeções nas referências dos seguintes períodos: (Dispositivo pro

57

mulgado pela Câmara Municipal de Vila Velha)

I - Equinócio de outono a partir das 16:00 h (dezesseis horas); (Dis positivo promulgado pela Câmara Municipal de Vila Velha)

II - Solstício de inverno a partir das 16:00 h (dezesseis horas); (Dis positivo promulgado pela Câmara Municipal de Vila Velha)

III - Equinócio de primavera a partir das 16:00 h (dezesseis horas); e (Dispositivo promulgado pela Câmara Municipal de Vila Velha)

IV - Solstício de verão a partir das 18:00 h (dezoito horas). (Disposi tivo promulgado pela Câmara Municipal de Vila Velha). (PMVV, 2018).

5.4.3. TORRES PROA A E PROA B

Dessa forma, foi possível analisar e inserir os prédios de modo a não atrapalhar a pro jeção na orla, colocando-os entre os prédios existentes, como no caso da torre convés e diminuindo o gabarito, como no caso das Torres Proa A e B

5.4.2. ADJACÊNCIAS

No térreo, os arredores das construções foram pensados para manter um fluxo funcional e conectados com os serviços oferecidos no local. Na quadra 1, figura 67, o caminho principal é estabelecido para dentro do mercado, em direção ao meio das torres e a lateral onde acon tecem outras atividades e lugares de permanência. Todo esse caminho leva a Sede da Colônia de Pescadores, realizando o encontro do comercio, residencial e institucional, perto da colônia resolve-se com uma área de permanência.

Na quadra 2, o edifício residencial e o restaurante, são divididos por meio de uma praça, figura 68, com contato direto a loja do térreo da Torre Convés, estabelecendo um lugar de per manência, tendo em paralelo as Torres Proa A e B.

A paginação, figura 66, foi desenhada de modo a imitar a fluidez da água, adotando o conceito de um espaço ativo, sempre é movimento e fluido, do mesmo modo segue o mobiliário e os canteiros, com os bancos em formatos circulares, ondas e retos, sempre ligados a questão do movimento. E todos esses elementos ligados com a vegetação, tornam o ambiente fluido, mas ao mesmo tempo agradável de se estar.

O pavimento tipo, figura 71, possui 67,42m², com 2 quartos, sala/sala de jantar, cozi nha e área de serviço, a sacada possui um formato arredondado, com detalhes em madeira, lembrando o convés de um navio. Os apartamentos foram pensados mediante a acomodar os moradores já existentes, com conforto e estabilidade, diferente das antigas moradias. Para as torres Proa A e B, foram propostas cores com predomínio do branco e os detalhes em madeira (peroba-rosa), propiciando um conjunto claro e neutro, remetendo a tranquilidade à beira mar, figura 72. Outro detalhe a se destacar, são os brises na fachada, possibilitado um melhor conforto na temperatura devido a insolação, além dos painéis em madeira que, faz menção ao reflexo da água, baseando-se no conceito de fluidez já presente no paisagismo e na paginação. A garagem das torres se encontra no subsolo, evitando o aglomerado de carros no térreo e possibilitando a inserção das lojas no mesmo.

58
60
Figura 72: Fachada das Torres Proa A e B Fonte: Elaborado pelo Autor

5.4.4. TORRE CONVÉS

O pavimento tipo, figura 73, se divide em duas tipologias, um menor de 39,22 m², com um quarto, sala/jantar e cozinha, com intuito de ser um apartamento estúdio e o outro com 59,56 m², com 2 quartos, sala/ jantar, banheiro, cozinha, área de serviço. Os dois possuem sacadas que assim como as das outras torres, possui um formato arredondado, lembrando um convés de navio, figura 74. A torre Convés, segue o mesmo estilo das torres Proa A e B, figura 74, utilizando o branco como cor principal e os detalhes em madeira (peroba-rosa). Os detalhes do painel também estão presentes aqui, assim como os brises. Sua principal diferença se dá na garagem do térreo, com portões com detalhes em madeira e uma divisória, também em madeira, ao lado da praça, figura 75, com intuito de não obter um fechamento extenso nessa região, criando um ripado vasado. A garagem se divide em uma parte no térreo e no subsolo, possibili tando a inserção de uma loja voltada ao parque.

61
Figura 74: Fachada da Torre Convés Fonte: Elaborado pelo Autor Figura 75: Praça em frente a Torre Convés Fonte: Elaborado pelo Autor

5.4.5. MERCADO

O mercado se notabiliza por sua cobertura, figura 77 assim como acontece na Sede e no restaurante, onde o formato que remete as ondas e redes lançadas pelos pescadores cobre a área das lojas e um pergolado fica acima da área externa do deck. Essa forma tem o intuito de criar um destaque na região, estabelecendo uma marca morfológica, onde os moradores tenham o interesse de usufruir do local, adquirindo dessa maneira uma afetividade visual e de uso, de modo a estabelecer uma marca local. Ele está inserido sobre um deck e é composto por uma peixaria, uma loja de temperos e outra de artigos artesanais, figura 76, além de uma área externa, onde fica disponível os produtos de hortifruti, figura 78. Os expositores, foram pensados para ter o formato de barcos, relacionando com a ideia central do mercado, as de mais edificações possuem a cor predominante em branco com detalhes em madeira, além de acessórios em palhinha, luminárias e cordas, que ajudam a caracterizar mais o local. Adjacente a essa área, está inserido um ambiente disponível para vendedores transitórios, figura 79, onde pode-se inserir mesas e cadeira e realizar suas vendas. Notabilizando-se por um local com bom fluxo, atividades diversas, chamando atenção dos compradores locais e externos, relacionan do-se tanto com clientes diários e frequentadores externos e turistas.

65

Área Externa A: 78,30 m²

W.C. A: 23,00 m²

Figura 76: Planta baixa do Mercado

Circ. A: 3,87 m²

Depósito A: 5,71 m²

Loja A: 23,00 m²

Depósito A: 5,71 m² Loja A: 23,00 m²

Circ. A: 3,87 m²

0 1 3 5 7 m

Depósito A: 10,45 m²

Projeção da Cobertura

W.C. A: 2,58 m²

Cic. A: 2,58 m²

Fonte: Elaborado pelo Autor

Loja A: 53,57 m²

GSPublisherVersion 258.88.96.7 GSEducationalVersion
Figura 77: Entrada do Mercado Fonte: Elaborado pelo Autor Figura 78: Parte interna do Mercado com detalhe no hortifruti e na peixaria Fonte: Elaborado pelo Autor Figura 79: Detalhe da corbertura e área destinada aos vendedores Fonte: Elaborado pelo Autor

5.4.6. SEDE DA COLÔNIA DE PESCADORES

A Sede, assim como o mercado, também, possui uma cobertura que se destaca na re gião, como as outras edificações do local, tem sua cor predominante em branco e os detalhes em madeira, figura 81, trazendo um ar tropical. Possui uma planta simples e funcional, figura 80, com um hall de entrada, escritório, um depósito e cozinha. Na Sede original, tinha a presença de uma horta, a qual foi realocada ao lado de fora da nova edificação, onde fica aos cuidados dos coordenadores. Para a questão das festividades e reuniões que acontecem periodicamente no local, foi estabelecido uma sala na Torre Proa A, para acomodar essas atividades.

70

Figura 80: Planta baixa da Sede da Colônia de Pescadores

W.C. A: 2,55 m² 0 1 3 5 7 m

Ref. Ref. Deposito A: 18,33 m²

Cozinha A: 12,19 m² Hall A: 16,39 m² Escritório A: 19,99 m²

Projeção da Cobertura Horta Horta Horta Horta

Fonte: Elaborado pelo Autor

71 GSPublisherVersion 258.90.98.7 GSEducationalVersion
72
Figura 81 : Sede da Colônia de Pescadores, detalhe para a corbertura e a horta em volta da edificação Fonte: Elaborado pelo Autor

5.4.7. RESTAURANTE VELEJAR

Como pode ser visto na planta, figura 82, o restaurante possui uma varanda externa e um salão interno mais intimista. Assim como nos outros edifícios, tem a predominância na cor branca e os detalhes em madeira, porém a varanda possui detalhes em azul, lembrando o mar, onde os acessórios e mobília ajudam ainda mais no clima tropical. A cobertura do restaurante se diferencia da sede e do mercado, com uma parte mais elevada na área interna da varanda, figura 83, tirando partido do paredão que faz divisa com o edifício adjacente, criando uma pare de verde e um local agradável para se estar, figura 84.

73

W.C. A: 2,55 m² W.C. A: 2,55 m²

Figura 82: Planta baixa do Restaurante Velejar

Projeção da Cobertura

Circ. A: 2,55 m²

Triagem A: 10,65 m²

Circ. A: 4,26 m²

Cozinha A: 14,20 m²

Serviço A: 9,48 m² Salão A: 67,31 m²

Ref.

Varanda A: 52,72 m²

Ref. Ref. FG 0 1 3 5 7 m

Fonte: Elaborado pelo Autor

74 GSPublisherVersion 258.89.97.7 GSEducationalVersio
75
Figura 83 :Restaurante Velejar Fonte: Elaborado pelo Autor
76
Figura 84: Parte interna do Restaurante Fonte: Elaborado pelo Autor
77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades comerciais exprimem uma atuação importante dentro de uma sociedade, onde crescimento urbano e o comercial são aliados e dependentes um do outro. Ao estudar sobre o mercado, desde sua origem, até atualmente, é perceptível a transição de modelos e meios de vendas, onde as mudanças sociais afetam drasticamente o comercio. Tendo em vista essa mutação expressa que segue o cerne social, é preciso estar atento aos novos paradigmas e desafios que consistem em pensar na arquitetura comercial.

Este estudo tem como objetivo constatar a influência significativa que um meio comercial pode ter sobre uma região. Identificando as problemáticas do entorno analisado, seus potenciais e ativos escondidos por um mal planejamento, cujo crescimento ao redor da região escon de e os segregam a uma área sem atrativos.

Para isso, é preciso o conhecimento do âmbito e a participação significativa que ele pode ostentar naquela região. Para a requalificação de uma área é apropriado avaliar, não somente naquele pedaço a ser renovado, mas observar todo o seu entorno, nas características a serem potencializadas que tenham atrativos a convidar os demais moradores e os externos da região. A qualidade do espaço começa pela conexão dele com os demais lugares da cidade, pois quan to mais intrínseco está o local no meio urbano, mais movimento, conhecimento e fluidez será alcançado.

Todos esses argumentos ditos anteriormente, foram essenciais ao pensar no mercado em Itapuã. A segregação do espaço o tornava inóspito, sem qualidade, onde o potencial que clama uma área culturalmente rica era desperdiçado. Para isso, foi preciso pensar em um novo meio de se conectar com o bairro, longe dos emaranhados de casas que situavam o local, das fachadas cegas e insegurança por parte dos moradores.

Dessa forma, foi preciso adicionar novos eixos visuais que, potencialize a riqueza da orla, mas ainda sim conecte com o interior dos bairros. Em conjunto com esse eixo, foram inseri das atividades comerciais, as quais auxiliam no movimento do novo âmbito. O mercado é parte fundamental para esse auxílio, pois resgata o fluxo de compras já existente, nas peixarias, mas entrega um local com novos atrativos, programas, lojas, assim como a conexão com a Sede da colônia e o restaurante ao lado. Dispondo de uma arquitetura mais arrojada e única, marcando aquela região como um ambiente que se difere das construções monótonas adjacentes.

Entretanto, para desfrutar desses novos elementos, fora necessário a renovação das an tigas edificações que se tinham como aglomerados de casas e comércios na região. Portanto, foi de vital importância a instalação de novas moradias paras as famílias que foram retiradas com a renovação do local. A implantação das torres ao centro do mercado e da Sede, tem a pro eminência de destacar essa população a um novo grau de importância na região, os colocando no meio das atividades.

Por fim, o projeto mostra que, há sim, a possibilidade de transformação de um local, dan

do suas devidas importâncias, reconhecendo sua cultura e seu entorno, de modo a implantar da melhor forma possível as atividades necessárias que ajudarão aquele ambiente a prevalecer.

Concluindo então que para se tornar uma marca local, elevando as capacidades comerciais e de usufruto social, é preciso não só conhecer o espaço que será planejado, mas entender o que aquele espaço precisa, estudar o que não deu certo no passado, promovendo questões que na prática construirá locais simbólicos e sociais.

79 6

REFERÊNCIAS

ALVES. Alike. Da. S. A Comunidade De Pescadores E Marisqueiras De Itapuã, Vila Velha-Es: Configurações E Sujeitos. Dissertação de Pós-graduação. Vila Velha: UVV. 2021.

BIGHETTI, Carlos. A corrida do ouro da Califórnia. Aventuras na História, 2017. Dispo nível em: < https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/era-industrial/a-corrida-do-ouro-da -california-backup.phtml >. Acesso em: 05/08/2022

BONADIMAN, Nathalia N. A Invisibilidade Das Comunidades De Pesca Artesanal Nas Políticas Urbanas Do Litoral Norte Do Es: O Caso De Vila Velha E Aracruz. Dissertação de Pós-graduação. Universidade Vila Velha. 2021

CALIFORNIA, Projecto de Plano do Domínio Público do Cais do Pescador, San Francisco, California, 2013

CARLOS, Ana F. A. O lugar no/do mundo. Brasil, Hucitec, 1996.

DE PAULA, Cristiano Quaresma. Conflitos por território na pesca artesanal brasileira. Revista NERA, v. 23, n. 51, p. 180-204, jan.-abr., 2020.

EMBT. Santa Caterina Market. Miralles Tagliabue EMBT, 2005. Disponível em: http:// www.mirallestagliabue.com/project/santa-caterina-market-renovation/. Acesso em 25 de maio de 2022.

GEHL, jan. Cidade para Pessoas. Reino Unido, Island Press, 2013.

GOBÉ, Marc. Brandjam: o design emocional na humanização das marcas. Trad. Ma ria Clara de Biase. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

GRAYLINEOFSANFRANCISCO. A História do Fisherman’s Wharf. Gray Line Of San Francisco, 2019. Disponível em: < https://graylineofsanfrancisco.com/blog/history-fishermans-wharf/>. Acesso em: 05/08/2022

HOBSBAWM, ERIC.J. A Era dos Impérios. 1875-1914. Tradução por Sieni Maria Cam pos. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1988.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo, SP: WMF Martins Fontes, 2013.

Jefferson Streetscape Improvements Project - Phase II. São Francisco Public Works. Disponível em: https://www.sfpublicworks.org/jefferson. Acesso em: 25 de abril de 2022

JULIER, Guy. La cultura del diseño. Trad. Marcos Muslera. Barcelona: GG Disenõ, 2008.

LEFEBVRE, Henri. Direito à cidade. 4. ed. São Paulo: Centauro, 2006.

LYRA, Ana Paula R. O direito de se viver com dignidade. Contradições na materializa ção das funções sociais da cidade. (Rupturas por Enclaves Fortificados). Relatório de Pesquisa, Universidade Vila Velha, 2022

MILLER, Daniel. A Theory of Shopping.Ithaca, New York: Cornell University Press.1998. MICHALKÓ, G & TIMOTHY, D.J. Cross-border shopping in Hungary: causes and effects. Visions

in Leisure and Business20 (1), 4-22. 2001

MORAES, M. D. C. de; SERAINE, A. B. M. dos S.; BARBOSA, C. Artesanato e políticas públicas no Brasil: uma trajetória entre economia e cultura. Conhecer: debate entre o público e o privado, [S. l.], v. 10, n. 25, p. 159–182, 2020. DOI: 10.32335/2238-0426.2020.10.25.3499. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/revistaconhecer/article/view/3499. Acesso em: 15 abr. 2022.

PROJECT FOR PUBLIC SPACES. Fazendo Seu Mercado Um Local Dinâmico E Comunitário. 2016

Rheingantz, Paulo, et al. Urbanidades. Brasil, Folio Digital, 2012.

SABOYA. Fatores de vitalidade urbana em ruas comerciais. Disponível em: https:// urbanidades.arq.br/2010/09/23/fatores-de-vitalidade-urbana-em-ruas-comerciais/. Acesso em: 23 de abril de 2022

VARGAS, Heliana Comin. Espaço terciário: o lugar, a arquitetura e a imagem do comér cio. . Barueri: Manole. . Acesso em: 08 ago. 2022. , 2018

VARGAS, Heliana. C. Comércio e cidade: uma relação de origem. Eleições 2000. www. Estadao.com.br/ext/eleicoes/artigos. 30 de agosto 2000. Portal do Jornal Estado de São Paulo.

VARGAS, Heliana. C. Comércio: Localização estratégica ou estratégia na localização. Tese de doutoramento. São Paulo: FAUUSP. 1992

VARGAS, Heliana. C. Formação dos Centros Comerciais e Estruturação Da Rede Urbana. Tese de mestrado. São Paulo: FAUUSP. 1981

Winifred Knox e Aline Trigueiro (org.), “Saberes, narrativas e conflitos na pesca artesanal (e-book),” EDUFES, acesso em 16 de maio de 2022, https://edufes.ufes.br/items/show/321.

82 7
83

Anexo

Fonte: Elaborado pelo Autor

Fonte: Elaborado pelo Autor

85 8 ANEXO
Anexo 1: Zoneamento Municipal de Vila Velha - 2018 2: Mapa da Região 01 onde se estabelece o bairro de Itapuã

Anexo 7: Planta Técnica Restaurante Velejar

Fonte: Elaborado pelo Autor

88 GSPublisherVersion 258.89.97.7 GSEducationalVersio
Ref. Ref. Ref. FG 15 790 2 15 11 0 15 170 15 170 15 108 522 522 522 108 15 580 15 140 10 385 15 65 1.300 65 265 403 15 389 15 11 0 15 355 15 1.317 15 150 15 100 15 300 15 120 15 400 15 1.160 1.782 1.430 Projeção Cobertur a Triagem A: 10,65 m2 Cozinha A: 14,20 m2 Serviço A: 9,48 m2 W.C A: 2,55 m2 W.C A: 2,55 m2 Externo A: 52,72 m2 Salão A: 67,31 m2 Circ. A: 4,26 m2 Circ. A: 6,62 m2

Projeção Telhad o

Área Externa A: 78,30 m²

Deposito A: 5,71 m2 W.C A: 2,55 m

Depósito A: 10,45 m2 Circ. A: 3,87 m2 Loja A: 53,57 m Loja A: 21,57 m

Circ. A: 2,58 m

W.C A: 2,55 m W.C A: 2,55 m Loja A: 23,00 m Deposito A: 5,71 m Circ. A: 3,87 m

89 GSPublisherVersion 258.88.96.70 GSEducationalVersio
30 15 150 8 462 15 817 15 442 8 170 15 369 3.212 160 15 170 8 150 8 222 15 222 8 150 8 170 15 160 108 422 422 422 108 15 150 8 462 15 817 15 196 2 10 162 10 240 15 2.117 15 290 10 562 2 8 100 8 150 15 1.160 554 15 1.032 1.180 1.481 90 51 1 309 74 475 90
Anexo 6: Planta Técnica do Mercado Fonte: Elaborado pelo Autor

W.C A: 2,55 m2

Anexo 5: Planta Técnica Sede da Colônia dos Pescadores

Projeção Cobertur a

Horta

Escritório A: 19,99 m2

Hall A: 16,39 m2

Cozinha A: 12,19 m2

Fonte: Elaborado pelo Autor

Depósito A: 18,33 m2

Horta Horta Horta

90 GSPublisherVersion 258.90.98.7 GSEducationalVersion
Ref. Ref. 11 5 15 354 8 100 8 150 15 11 5 48 68 650 68 48 15 370 15 301 15 499 15 1.230 11 5 15 368 8 245 15 11 5 650 72 15 170 8 192 8 315 8 499 15 84 57 15 1.230 84 11 2 340 11 2 340 880 1.386
91

Tabela 1: Tabelamento Comportamental - Dia 03/09/2022

93 9 APENDICE
Fonte: Elaborado pelo Autor
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.