A Profecia de Miqueias

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Equipe Missionária, SDN

A profecia de Miqueias “Praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar com Deus” (cf. Mq 6,8)

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Ficha Técnica: Organização e diagramação: Denilson Mariano Baseado no texto de Cássio Murilo - CNBB Imagens: reprodução Capa: Imagem reprodução; Montagem: Valdinei do Carmo Impressão: Gráfica e Editora O LUTADOR - BH - 2016

Breve esquema do Livro de Miqueias Segundo a Bíblia da CNBB: 1,1 : 1,2–3,12: 4,1–5,14: 6,1–7,7: 7,8-20:

título ameaças promessas ameaças promessas

* AL = Exortação Apostólica do Papa Francisco: Amores Laetitia = Sobre a Alegria do Amor na família. Visite nosso site: www.mobon.org.br

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Apresentação A Igreja no Brasil, desde 1947, celebra o Dia da Bíblia, no último domingo de setembro, por ser o domingo mais próximo de 30 de setembro, dia da Festa de São Jerônimo, o doutor máximo das Escrituras. Em 1971, a Arquidiocese de Belo Horizonte dedicou à Bíblia Sagrada todo o mês de setembro, chamando-o Mês da Bíblia. O Regional Leste II da CNBB (Minas e Espírito Santo), em 1978, acolheu a ideia e iniciou também a celebração do Mês da Bíblia, que, em 1985, se estendeu para todo o Brasil. Desde então, cada ano, a CNBB escolhe um livro da Bíblia, ou trechos, para serem estudados. Modo fácil e didático de tornar a Bíblia Sagrada mais conhecida, mais amada e mais praticada por todo o nosso bom Povo de Deus. Por exemplo, em 2001, estudamos os Atos dos Apóstolos, capítulos 1 a 15; e, em 2002, os capítulos 16 a 28. Ano passado, foi o Evangelho de João. Este ano, o livro escolhido foi o do profeta Miqueias. O corajoso Profeta chama a atenção das autoridades corruptas de seu tempo e as convida a praticar a justiça e amar a misericórdia. O que é de máxima atualidade. O lema do Mês da Bíblia 2016 foi tirado de Mq 6, 8, que sintetiza toda a ação do Profeta Miqueias e tudo o que ele propõe para as autoridades e para todo o povo daquele tempo, como também para nós hoje: “Já te foi indicado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor exige de ti.

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É só praticar o direito, amar a misericórdia e caminhar humildemente com teu Deus” (Cf. tradução da CNBB). Nosso caro irmão Denílson Mariano, SDN, em sete encontros, comenta os textos básicos do Profeta Miqueias e consegue, de maneira maravilhosa, ligá-los com a novíssima Exortação Apostólica Pós-Sinodal do querido Papa Francisco, sobre a Família, intitulada: “A Alegria do Amor”. Assim, cada dia, meditamos também a palavra do Papa: “O enfraquecimento da fé e da prática religiosa, nalgumas sociedades, afeta as famílias”. “A família tem direito a uma habitação condigna”. “O caminho da Igreja é derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero”. Os divorciados, que vivem uma nova união, podem participar na vida da Comunidade. “Convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, a ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja”... Deixo aqui o nosso incentivo e a nossa Bênção para todos os que irão participar desses cursos do Mês da Bíblia 2016, bem como para seus dirigentes e para o nosso querido irmão Mariano. Caratinga, 15 de maio de 2015, Festa de Pentecostes. + Dom Emanuel Messias de Oliveira Bispo Diocesano de Caratinga

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Introdução: Mais uma vez temos a oportunidade aprofundar um pouco mais um livro da Bíblia. Este ano é o livro de Miqueias. A definição do tema e do lema para o mês da Bíblia de cada ano cabe à CNBB através de sua comissão bíblico-catequética. Nos últimos quatro anos, estudamos os Evangelhos sob a perspectiva de “Discípulos Missionários” que correspondia à primeira parte do tema da Conferência de Aparecida. Para os anos que se seguem, optou-se por desenvolver a segunda parte do Tema de Aparecida: “Para que n´Ele nossos povos tenham vida.” Nesta oportunidade, vamos buscar conhecer melhor a Palavra de Deus e através dela iluminar as situações onde a vida está mais ameaçada. Eis o projeto de estudo já definido pela CNBB: Em 2016: a vida em família (Miqueias); em 2017: a vida em comunidade (I Tessalonicenses); em 2018: a vida em sociedade (Sabedoria); e em 2019: a vida em Deus (I João). Assim, nos ocupamos de Miqueias com o lema: “Praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar com Deus” (cf. Mq 6,8). Que, em certo sentido se aproxima da Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a “Alegria do Amor” – Amoris Laetitia (AL) – que reúne os resultados do Sínodo da Família que ocorreu em duas etapas, uma em 2014 e outra em 2015 e trouxe a questão da família para o coração da Igreja e do mundo. É com a ajuda de alguns textos desta Exortação que vamos direcionar o

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estudo do Miquéias para que seja uma luz para nossas famílias diante da situação atual em que vivemos. Miqueias é um profeta de origem rural. Foi marcado pelos conflitos da vida no campo onde pequenos agricultores eram pressionados e prejudicados por latifundiários. Sua região foi invadida e saqueada pelos assírios (cf. Mq 1,10-15; 2Rs 18,13) e isso o obrigou a migrar para Jerusalém. Mesmo assim, não faz disso uma oposição à cidade, ambiente em que ele desenvolve sua missão. A terra de Miqueias era também uma zona militarizada, com fortalezas dos judeus e, possivelmente, postos avançados do Império Assírio. Isso gerava um clima de forte insegurança para a população. Miqueias viveu num período de três reis importantes: Joatão (que reinou de 740 a 735), Acaz (de 735 até 716) e Ezequias (de 716 até 687). Mas sua ação se desenvolve unicamente durante o reinado de Ezequias, entre 727-701 a.C., sendo contemporâneo de Isaías. Sobre o livro de Miqueias, há um consenso de que os capítulos 1–3 são dele mesmo e que os capítulos 4–7, seriam de um discípulo de Miqueias, ou até mesmo de um profeta anônimo. Vamos buscar uma compreensão da mensagem do texto no seu conjunto. Deus dirige sua Palavra para defender a vida, a família e a justiça para o seu povo. É nesta perspectiva que devemos ler o livro de Miqueias, no seu todo, buscando uma luz para ajudar nossas famílias em tempos de crise e dificuldades variadas.

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1º Encontro:

Quem como Deus?

Chave de Leitura: Miqueias 1,1-7. 1. O que faz o Senhor descer e andar sobre a terra? 2. O que acontecerá com a Samaria? 3. O que este texto tem a dizer para nós, hoje? O nome “Miqueias” vem do hebraico e significa “Quem como Deus”, indica a grandeza do Deus de Israel. A vida e a missão de Miqueias serão uma revelação da grandeza de Deus diante da situação sofrida do povo. O profeta vem de Morasti, região fértil e produtiva na época, uma aldeia a 35 km de Jerusalém, hoje, região da faixa de Gaza. É preciso atenção para não confundir este profeta com outro Miqueias, filho de Jemla (cf. 1Rs 22,8-9.13-28), que viveu um século antes, época do rei Acab (874-853 a.C.). Miqueias tem um olhar profundo sobre os acontecimentos de seu tempo e neles descobre a ação de Deus. Ele “viu” a Palavra. Para ele, a Palavra de Deus não é algo

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só para ser escutado, mas para ser visto (cf. Is 2,1 e Am 1,1). Ela é tão concreta que o profeta pode vê-la! Miqueias nos aponta outro modo de olhar para a Palavra de Deus. Trata-se de uma Palavra viva, presente em nossa vida, na vida de nossa família e de nossa comunidade. Uma Palavra que toca a nossa realidade concreta e que deve ser colocada em prática. Uma Palavra que nos conduz a uma espiritualidade sadia. Que nos faz capazes de ter um olhar mais profundo sobre a realidade e nela descobrir a ação de Deus. Uma Palavra viva que devolve a esperança para seu povo. Para entender melhor o tempo de Miquéias, é preciso lembrar que após a morte de Salomão (em 933 a.C), aconteceu a divisão do povo de Deus em dois reinos (cf. 1Rs 12,1-24). A Samaria tornou-se a capital do Reino do Norte (Israel ou Jacó) e Jerusalém (ou Judá), a capital do Reino do Sul. O povo dividido se desviou do projeto de Deus cedendo à injustiça, à violência e passaram a adorar outros deuses. A Samaria tornou-se o símbolo da cidade que se afastou do Senhor e onde acontecia todo tipo de crime. O tempo de Miqueias foi muito difícil. O povo perde sua terra, perde a sua casa. A família perde o seu espaço fundamental de vida. Os reis são obrigados a pagar pesados impostos à Assíria e essa cobrança recai diretamente sobre os camponeses pobres. Com a queda da Samaria, o povo desce para Jerusalém. Há uma corrida por terra e casas. Os pobres novamente são expulsos de suas terras e suas casas, maior sofrimento para as famílias. Por isso vemos que o Senhor desce à terra e instaura um tribunal para julgar as cidades. Miqueias usa perguntas que não precisam de resposta em voz alta, mas fazem

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pensar e levam a uma conclusão: Qual é o crime de Jacó? Não é Samaria? E quais os lugares altos de Judá? Não é Jerusalém? (Mq 1,5). Jerusalém é acusada por não praticar a justiça. Até mesmo o culto ao Senhor virou idolatria e é usado para tentar manipular a Deus. Miqueias chama de “pagas de prostituta” às ofertas (moedas ou objetos de ouro e prata) que eram deixados para as sacerdotisas (prostitutas sagradas) e que depois eram fundidas e usadas para modelar estátuas dos deuses. Por isso, “a desgraça desceu de Javé até as portas de Jerusalém” (Mq 1,12). Infelizmente ainda hoje, muitos cultos falam de Deus e sobre Deus, mas estão longe da justiça, abusam da boa fé do povo e muitas vezes exploram as pessoas. Ao invés de luz, terminam por ser um peso para as famílias. Fazem verdadeiro comércio de milagres e de “coisas sagradas”. Miqueias deixa claro que se o culto e a oração não são acompanhados da prática da justiça e da misericórdia, eles não agradam a Deus. Palavra do Papa Francisco: “O enfraquecimento da fé e da prática religiosa, nalgumas sociedades, afeta as famílias, deixando-as ainda mais sós com as suas dificuldades. Os Padres disseram que ‘uma das maiores pobrezas da cultura atual é a solidão, fruto da ausência de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das relações. Há também uma sensação geral de impotência face à realidade socioeconômica que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias.’ (...) Frequentemente as famílias sentem-se abandonadas pelo desinteresse e a pouca atenção das instituições.” (AL 43) Para aprofundamento: Nossa participação nos cultos e missas têm nos levado a ser mais praticantes da justiça e da misericórdia em nossas familias? Dê exemplos.

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2º Encontro:

Ai dos que tramam a maldade

Chave de Leitura: Miqueias 2,1-13. 1. O que fazem os exploradores? 2. O que Deus vai fazer? 3. O que Deus denuncia na ação dos profetas? 4. Que caminhos segue o profetismo de nossa liderança, hoje? De dia e de noite, os exploradores não faziam outra coisa a não ser arquitetar diferentes modos de prejudicar alguém. Em vez de ocuparem a mente, o coração e o tempo para praticar a Lei de Deus (Torah), eles se buscavam somente “maldade” e “golpes”. Miqueias pronuncia um oráculo de juízo. Ele levanta a voz para denunciar e até condenar para os que acumulam terras. O profeta denuncia que o poder está nas mãos dos usurpadores ou de seus aliados. Concretamente, eles agem assim: é só querer, e já vão tomando posse! Este comportamento é exatamente o contrário do que diz a Lei de Deus (cf. Ex 20,17; Dt 5,21). Em Miqueias 2,3 diz que os iníquos pertencem todos à mesma “família”. Na verdade, trata-se do que chamaría-

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mos hoje de uma “gang”, “mafiosos”, “crime organizado”. Entre eles há uma artimanha bem organizada para praticar a desonestidade e continuar mandando na sociedade. Mas o Senhor promete punir os maldosos com um castigo do qual não poderão “afastar o pescoço” nem “andar de cabeça erguida”, porque, para eles, será um tempo de acontecimentos ruins. A desgraça, portanto, cairá somente sobre os que acumularam terras por meio da injustiça. A expressão “meu povo” significa as vítimas das injustiças, as famílias prejudicadas pelos desmandos e arbitrariedades da parte dos governantes. Mas as terras roubadas não serão devolvidas aos antigos proprietários, elas serão entregues a invasores. Talvez uma referência aos assírios, que já tinham invadido e destruído a Samaria, em 722: o reino do Sul, Judá, terá o mesmo destino do reino do Norte. Os falsos profetas são os verdadeiros inimigos do povo. Eles tomam como fundamento as promessas do Senhor a Jacó (Gn 32,26; Nm 23,7) para assegurar que as ameaças dos vv. 3-5 nunca acontecerão. É uma “falsa segurança religiosa”. Usam as promessas da Aliança para afirmar que tudo será bom. E ainda ordenam aos verdadeiros profetas que não anunciem nenhuma desgraça (v. 6)! Rebatem as críticas de Miqueias e deixam os poderosos e iníquos livres para continuar esfolando o povo humilde. Miqueias demonstra como os falsos profetas violam a Aliança e impedem o Senhor de cumprir as promessas. A Lei de Deus distingue entre o estrangeiro e quem pertence ao povo eleito. Mas Miqueias vai além: quem cumpre a Aliança é povo de Deus; quem não a cumpre é estranho a Deus. Ou seja, quem não a cumpre a Palavra de Deus não pertenceu ao seu povo. “Vós agis como quem é inimigo

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do meu povo”: arrancam as roupas e infernizam a vida de quem é manso e pacífico, expulsam mulheres de suas casas e tiram a dignidade dos filhos delas (cf. Mq. 2,8b-9). Fica claro que não basta ter a Bíblia nas mãos e falar em nome de Deus para, de fato, ser de Deus. Quem não vive a Palavra de Deus é inimigo do povo e é falso com Deus. Após o debate entre Miqueias e os falsos profetas (vv. 6-11), há uma promessa de restauração, (vv. 12-13). O Senhor, como pastor, vai recolher, vai unir de novo seu povo, seu rebanho, sua família, para lhe dar paz e segurança. O Senhor não está indiferente ao que acontece ao seu povo e vem marchar à frente deles para a libertação e a vida. Ele quer dias melhores para a família, que ela tenha terra, casa, paz e dignidade para viver. E que seja respeitada em seus direitos. Palavra do Papa Francisco: “É preciso lembrar que ‘a família tem direito a uma habitação condigna, apropriada para a vida familiar e proporcional ao número dos seus membros, num ambiente fisicamente sadio que proporcione os serviços básicos para a vida da família e da comunidade’. Uma família e uma casa são duas realidades que se reclamam mutuamente. (...) A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa de ser protegida. A defesa destes direitos é ‘um apelo profético a favor da instituição familiar, que deve ser respeitada e defendida contra toda a agressão’, sobretudo no contexto atual em que habitualmente ocupa pouco espaço nos projetos políticos.”(AL 44) Para aprofundamento: Em que Miqueias nos ajuda na busca de garantia dos direitos da família nos dias de hoje? Em que podemos avançar?

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3º Encontro:

Ai dos que enganam o povo

Chave de Leitura: Miqueias 3,1-12. 1. O que os dirigentes fazem contra o povo? 2. O que Deus diz para os profetas? 3. Qual o recado final para os governantes? 4. O que este texto tem a dizer para o povo de nossas comunidades, hoje? Todo o capítulo 3º de Miqueias é uma série de três oráculos de ameaça e condenação: primeiro contra os dirigentes (vv. 1-4), depois contra os falsos profetas (vv. 5-8) e por fim, contra a cidade de Jerusalém (vv. 9-12). O profeta fala diretamente às autoridades, fala com firmeza. “Ouvi bem! Prestai bastante atenção”. O profeta vai começar novo processo para julgar os culpados. No tempo de Miqueias, o reino do Norte já tinha sido destruído pela Assíria, em 722 a.C.; por isso, os termos “Jacó” e “casa de Israel” só podem se referir ao reino do Sul, Judá, ou seja, Jerusalém.

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Miqueias profere fortes acusações. Para que a vontade de Deus se realize é necessário que os chefes do povo cumpram sua função de ser os primeiros a conhecer e a praticar a Lei de Deus. Mas não é isso o que acontece. “Vós sois inimigos do bem e apaixonados pelo mal”. Em hebraico, o verbo “saber, conhecer” implica também “amar, respeitar, cuidar, preocupar-se com”. Como, então, podem os chefes “saber” e não “amar, não respeitar, não cumprir”? Miqueias deixa claro que as autoridades não tratam o povo como gente, mas como animal levado ao matadouro: elas arrancam e rasgam o couro, também descarnam e trituram os ossos, e ainda arrancam e retalham a carne e a jogam na panela. Miqueias enfatiza a violência que impera na sociedade e destrói o povo pobre e explorado (cf. 2,8-9). O pior é que autoridades maldosas são também pessoas aparentemente muito religiosas e usam o nome de Deus para legitimar a injustiça. Mas o Senhor não é insensível a esta perversão da sociedade. Quando a religião é usada só para mascarar a maldade e tentar fugir do castigo divino, o Senhor não ouve a oração e afasta o seu rosto. Ele é um Deus de misericórdia e de perdão; mas o clamor a Deus deve ser acompanhado de solidariedade para com o mais fraco e motivado por um arrependimento sincero. O carisma da profecia estava sendo usado para buscar somente os próprios interesses e não para devolver a esperança ao povo. Miqueias é firme diante dos falsos profetas que enganavam o povo aproveitando-se do dom da profecia. Ele denuncia os profetas que apoiavam os maus governantes como “enganadores do meu povo” (3,5-8) O castigo de Deus será retirar desses profetas o dom da profecia. Eles ficarão sem os instrumentos para profetizar: não terão mais visões nem revelações, ficarão

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totalmente na escuridão, na noite e nas trevas (v. 6a), e até sem mesmo a luz do dia (v. 6b). Perderão a capacidade de discernimento até para as coisas mais simples. Serão cobertos de vergonha e confusão. Miqueias se apresenta como alguém impulsionado pela coragem, pela decisão e pela força. É o espírito do Senhor que move Miqueias, não o espírito da vantagem e do lucro. Miqueias tem força moral, seu julgamento é imparcial e sua coragem inabalável para denunciar os crimes e os pecados da sociedade. É como se Miqueias dissesse que é profeta “com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças” (cf. Dt 6,5) ele está entusiasmado pela missão, mesmo que tenha de assumir as consequências. Neste jeito de Miqueias está o exemplo e o modelo para toda verdadeira liderança no meio do povo. Palavra do Papa Francisco: “Por isso exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas. ‘A pastoral familiar ‘deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana. (...) De igual modo ‘sublinhou-se a necessidade duma evangelização que denuncie, com desassombro, os condicionalismos culturais, sociais, políticos e econômicos, bem como o espaço excessivo dado à lógica do mercado, que impedem uma vida familiar autêntica, gerando discriminação, pobreza, exclusão e violência. Para isso, temos de (...) apoiar os leigos que se comprometem, como cristãos, no âmbito cultural e sociopolítico” (AL 201) Para aprofundamento: O que tem roubado a profecia no meio de nossa liderança de Igreja? O que fazer para recuperá-la?

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4º Encontro:

Há uma esperança

Chave de Leitura: Miqueias 4,1-8. 1. Quais os sinais de esperança neste texto? 2. Qual a promessa de Deus? 3. Que imagem de Deus aparece neste texto? 4. Em que este texto nos anima, hoje?

O capítulo 4 de Miqueias inicia com um canto no qual todos os povos se converterão ao Senhor e virão cultuá-lo em Jerusalém. O poema fala da glória da cidade após o Exílio da Babilônia. Assim, Jerusalém ressurge das próprias cinzas e se torna sinal de esperança para a comunidade judaica humilhada. “Acontecerá nos últimos dias”. Aqui o significado é mais imediato: o fim de um tempo ruim, que abre lugar

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para o início de um tempo de felicidade e salvação. Até os pagãos, espontaneamente, se incentivam uns aos outros a ir a Jerusalém e apresentar-se diante do “Deus de Jacó”, para aprender dele quais são “a sua estrada” e os “seus caminhos”; para ouvir “seu ensinamento” e “sua palavra”. Sião-Jerusalém torna-se não só o centro de atração para todos os povos, mas também a fonte da luz para toda a humanidade (cf. Is 61,3-4), até mesmo para as nações mais potentes da época, como a Assíria e o Egito. No v. 3, o Senhor decreta o fim da guerra e das armas de destruição. Todavia, a paz internacional deve ter seu reflexo na vida interna da sociedade. Vem a promessa de que haverá na sociedade bem-estar e paz entre as pessoas, segurança e tranquilidade, para afirmar que o próprio Senhor assume o compromisso de realizar todas as suas promessas. Três momentos importantes: a) O Senhor, pastor e rei (4,6-8). A restauração após o Exílio: o Senhor apresenta-se como o pastor que ajuntará as ovelhas – as famílias – estropiadas e expulsas, para que elas sejam o novo começo de uma nação forte. A cidade de Jerusalém será novamente grande e politicamente importante, com paz, segurança e prosperidade. Para isso é necessário que as autoridades exerçam o poder seguindo os passos de Davi e governem na fidelidade a Deus. b) Angústia e redenção (4,9-10); Jerusalém é comparada a uma mulher em trabalho de parto. Passa por um sofrimento inevitável que, uma vez superado, produzirá um fruto de felicidade e salvação. Jerusalém está sem rei e sem conselheiros, isto é, totalmente sem governo e, por isso, presa fácil para invasores, o sofrimento era inevitável. A volta da Babilônia é um “novo êxodo” e, portanto, fundamento de esperança para um novo começo.

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c) Nova comunidade depois da provação (4,11-14). Em 701 a.C., Jerusalém foi cercada pelo rei Senaquerib (cf. Is 36–37) e por pouco não foi destruída. Os inimigos de Jerusalém a cercam para destruí-la, mas serão eles os derrotados. Os planos do Senhor são totalmente diferentes dos planos humanos (cf. Is 55,8; e também Jr 29,11; 49,20; 50,45). A vitória de Jerusalém é inevitável, pois ela será revestida da força invencível que vem de Deus. Eis aí um grande motivo de esperança para nossas famílias e nossas comunidades. O Senhor é nosso pastor, Ele nos guia, cuida de nós. Ele nos fortalece para enfrentarmos as dificuldades e angústias. Ele nos devolve a esperança e nos faz sempre ver que para além da cruz tem vida nova, tem ressurreição. Há uma esperança para nós, para nossas famílias, para nossa Igreja e para nossa sociedade. Palavra do Papa Francisco:“Embora não cesse jamais de propor a perfeição e convidar a uma resposta mais plena a Deus, a Igreja deve acompanhar, com atenção e solicitude, os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e extraviado, dando-lhes de novo confiança e esperança, como a luz do farol dum porto ou duma tocha acesa no meio do povo para iluminar aqueles que perderam a rota ou estão no meio da tempestade. Não esqueçamos que, muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha.” (AL 291). Para aprofundamento: Nosso modo de viver a fé tem sido uma luz para ajudar a converter a quem anda no caminho da injustiça, violência e corrupção? Em que precisamos nos converter?

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5º Encontro:

Novo governo para o povo

Chave de Leitura: Miqueias 5,1-6. 1. De onde virá o novo líder e como governará? 2. Como será a vida do povo? 3. O que este texto tem a dizer para as eleições deste ano? Após a descrição de uma situação desesperadora para Jerusalém (4,14), um novo oráculo, com uma enfática promessa de salvação. Miqueias vê os desmandos na política e renova a esperança de que este governante ideal será verdadeiro pastor a conduzir o povo de Deus. Agora já diz, “de ti sairá aquele que há de ser o governante de Israel” (5,3). Talvez isto nos ajude muito diante do momento político que vivemos em nosso país. Miqueias 5,3 retoma a descrição do rei ideal, agora enfocando a sua ação libertadora. Ele está sempre disposto

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e repleto de carinho pelo rebanho (cf. Is 11,10). A principal qualidade deste rei-pastor ideal é governar em função do bem-estar e da felicidade do povo. A “força do Senhor” indica que ele cumprirá sua função baseando-se não no poder das armas e da política, mas no temor de Deus, a fim de garantir que toda população habite tranquila e segura, sem medo de invasões, de guerras ou de qualquer outra tragédia. Mais uma luz para iluminar a escolha de nossos candidatos nas eleições. Miqueias ainda volta-se para a ameaça assíria (vv. 4b-5). Ela tem poder suficiente para invadir Judá; mesmo assim, a presença do rei-pastor é fonte de coragem para o povo rechaçar a invasão. É curiosa a expressão “pastorear com a espada e com lanças” que trata não de verdadeiro pastoreio, mas de domar pela força das armas. A Assíria é um país violento e entende somente a linguagem da violência. Não obstante este cenário violento, a obra do rei ideal é a paz para o povo de Deus. Fica claro que o povo de Deus é, de algum modo, visto como superior a outros povos. Tem-se a consciência de ser escolhido por Deus. É orvalho e chuva (v.6). Símbolos da bênção celeste. Sem eles, a terra de Israel seria absolutamente deserta. Assim, como a chuva e o orvalho não esperam nem dependem de ninguém, o novo povo guiado pelo rei-pastor espera unicamente no Senhor. No v. 7, Israel é leão e filhote de leão. O leão impõe sua superioridade; igualmente, o filhote de leão em meio aos cordeiros. Não haverá inimigos que possam resistir a Israel. Não se trata de uma propaganda para empreender uma guerra “santa”, e sim um convite à confiança, o resto de Jacó está destinado a um grande futuro, pois é um povo formado, não pelo poderio militar, mas pelo próprio Senhor, que lhe suscita o rei que trará a paz (vv. 1-4a).

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Supressão dos ídolos e purificação do povo. É o próprio Senhor quem profere uma promessa que tem o tom de ameaça: Ele destruirá tudo o que possa ser idolatrado e, portanto, constituir uma tentação para Israel se afastar da Aliança: cavalos e carros de guerra (v. 9), cidades fortificadas e fortalezas (v. 10), instrumentos de adivinhação e adivinhos (v. 11), imagens e troncos sagrados ou estelas e ídolos em geral (vv. 12-13). O Senhor destruirá tudo isso para que o novo povo aprenda a confiar somente nele. E nosso país onde a corrupção virou um lamaçal onde muitos estão enlameados dos pés à cabeça e ninguém ou quase ninguém deixou de ser respingado, temos de firmar nossa confiança no Senhor. Não podemos ceder à pressão de que isso é normal. Nosso testemunho, como o de Miqueias, é buscar caminhar na retidão: “Praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar com Deus” (cf. Mq 6,8) Palavra do Papa Francisco: “Duas lógicas percorrem toda a história da Igreja: marginalizar e reintegrar. (...) O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração. (...) O caminho da Igreja é o de não condenar eternamente ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero (...). Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida, incondicional e gratuita’.326 Por isso, « temos de evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição” (AL 296). Para aprofundamento: Como temos colaborado para a melhoria da nossa comunidade, do nosso município? Em que podemos avançar?

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6º Encontro:

Praticar a justiça, amar a misericórdia

Chave de Leitura: Miqueias 6,6-16 1. Qual a exigência de Deus? 2. O que Deus não tolera? 3. O que acontecerá aos injustos? 4. Como este texto pode fortalecer nossa prática da justiça?

Em Mq 6,1-8, em nome do Senhor, o profeta atua como juiz e como advogado de acusação contra o povo, incriminado de desrespeitar a Aliança. Devemos imaginar a constituição de um julgamento com juiz, advogado de acusação, testemunhas, interrogatório, juízo e sentença. “Escutai!”. O Senhor nomeia o profeta como juiz substituto em seu lugar. Miqueias acorda a memória do povo de Israel. O povo deve recordar que o Senhor cumpriu inteiramente a sua parte na Aliança (cf. Ex 20,1). E o processo não tem o objetivo de condenar Israel, e sim, educá-lo e reconduzi-lo ao verdadeiro

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sentido da Aliança (cf. vv. 3 e 5) que é a prática da justiça, do amor e da Misericórdia. O povo pensa que precisa melhorar o culto e fazer mais sacrifícios. No entanto, a verdadeira resposta que Deus espera é a “Torah de Miqueias” (v.8). Não é algo novo: já tinha sido indicado, anunciado e insistido pelos profetas Amós, Oseias e Isaías, que denunciaram o erro de achar que o culto vazio e a religião de aparência substituem a prática dos preceitos da Aliança. A Palavra de Miqueias convoca cada pessoa em particular. “Já foi anunciado a ti, ó homem”. Cada um deve assumir pessoalmente as três atitudes que o Senhor exige: Praticar a justiça: O texto hebraico de Mq 6,8 literalmente diz: “praticar o direito”. Indica um agir com retidão, de acordo com a Palavra de Deus, com a justiça divina. Amar a misericórdia: Implica uma atitude de solidariedade, benevolência e ternura. O Senhor quer misericórdia e não sacrifícios (culto, celebrações etc.). Não se trata de um sentimento – “ter dó de alguém” –, mas de uma prática concreta que faz alguém recuperar a esperança. Miqueias diz “amar a misericórdia”. É necessário ter gosto, ter prazer em praticá-la. Isto é o que agrada ao Senhor. Caminhar humildemente com Deus: o verbo “caminhar” refere-se à conduta de uma pessoa, o modo como concretamente ela se comporta na vida. Este comportamento deve ser marcado pela humildade, e não pelo orgulho, que, para os profetas, sempre foi a causa dos pecados de Israel, um povo de “cabeça dura”, isto é, teimoso, orgulhoso). Como o Senhor não quer condenar Israel, e sim corrigí-lo, o veredito do juiz divino é que cada pessoa se responsabilize em praticar a Aliança. A sequência dos capítulos trata do Castigo de Jerusalém pela injustiça social (Mq 6,9-16) Miqueias torna a denunciar

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crimes contra a justiça e contra a caridade e que fazem prosperar as classes altas da sociedade: violência, mentira e língua traiçoeira. Os castigos com os quais o Senhor irá golpear os opressores formam uma série de “maldições”. Tudo aquilo que foi conseguido não servirá para nada, será uma enorme frustração (6, 14-15). Eles vão comer sem se saciar; esconder-se, mas não escapar; tentar salvar, mas perder para a espada; plantar mas não colher; fabricar azeite mas não aproveitar dele; fazer vinho mas não beber dele... Isto muito nos anima e fortalece diante da realidade de nossos dias. Deus não nos abandona em nossa história. Ele caminha com o seu povo. Nós precisamos aprender a caminhar humildemente com Ele, guiando-nos sempre pela misericórdia. Palavra do Papa Francisco: “Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho! Não me refiro só aos divorciados que vivem numa nova união, mas a todos seja qual for a situação em que se encontrem. Obviamente, se alguém ostenta um pecado objetivo como se fizesse parte do ideal cristão ou quer impor algo diferente do que a Igreja ensina, não pode pretender dar catequese ou pregar e, neste sentido, há algo que o separa da comunidade (cf. Mt 18, 17). Precisa de voltar a ouvir o anúncio do Evangelho e o convite à conversão. Mas, mesmo para esta pessoa, pode haver alguma maneira de participar na vida da comunidade, quer em tarefas sociais, quer em reuniões de oração, quer na forma que lhe possa sugerir a sua própria iniciativa discernida juntamente com o pastor.” (AL 297). Para aprofundamento: O que podemos fazer para crescer na prática da justiça, no amor à misericórdia e no caminhar humildemente com nosso Deus?

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7º Encontro:

Manter viva a esperança

Chave de Leitura: Miqueias 7,14-20. 1. O que se pede a Deus neste texto? 2. Como se manifesta a misericórdia de Deus? 3. O que este texto tem a dizer para nossas comunidades?

O capítulo 7 inicia-se com uma lamentação individual, “Ai de mim!”. Com estas palavras, o profeta resume toda a sua crise. Os vv. 1 e 7 falam do profeta e de sua fé no Senhor; os vv. 2-6 descrevem o caos social que circunda o profeta: todos são corruptos e ninguém conservou o espírito da Aliança. O profeta fala de si mesmo como uma pessoa pobre e faminta, que vai ao campo pegar as sobras da colheita. Segundo Dt 24,19-21; Lv 19,9-10 e 23,22, quem fazia a colheita não deveria retornar para buscar as sobras dos frutos, para que os mais pobres pudessem vir e se alimentar delas. Miqueias usa esta imagem como pano de fundo para descrever sua frustração: não sobrou nada, nem uva nem figo temporões!

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Israel é a vinha do Senhor, mas a iniquidade retirou tudo de bom da sociedade e não deixou nada para os que buscam a fidelidade ao Senhor. Na sociedade em que Miqueias vive, não há pessoas nem instituições que lhe deem algum gosto de viver. O que desapareceu não foi a piedade religiosa, e sim a retidão moral. As pessoas que detêm o poder na sociedade, nenhuma delas cumpre adequadamente sua função; ao contrário, agem conforme seus interesses e por suborno. “Ai dos corruptos!”. “Eles tentam esconder tudo isso”, isto é, as autoridades fazem o mal “por debaixo dos panos”. O v. 4b, porém, é uma nota de esperança, virá o merecido castigo. Miqueias recomenda não confiar nem mesmo nas pessoas mais caras e íntimas. A única atitude positiva em todo este trecho é a esperança do profeta (v. 7). “Mas eu”, “quanto a mim”. O profeta se reconhece como pertencente àquela sociedade corrupta e desagregada. Apesar disso, seu agir é diferente. Ele não perde a esperança. O profeta renova sua confiança no Senhor, com três afirmações crescentes de fé: “volto meu olhar ... espero ... me atenderá”. Este versículo insiste na relação pessoal de Miqueias com o Senhor: “meu Salvador” e “meu Deus”. O profeta pode chamá-lo assim porque permanece fiel à Aliança. Este é caminho para toda boa liderança. No fim, uma Liturgia da esperança. Miqueias renova a esperança após uma situação social totalmente desesperadora. O livro se encerra mostrando uma porta que permanece aberta para a esperança. Vai-se das trevas à luz (7,8-10). A comunidade, ridicularizada por sua fidelidade ao Senhor, professa sua fé em seu próprio reerguimento e na queda do inimigo. Quem decide o destino de Judá não são seus inimigos, mas o próprio Senhor, que ilumina seu povo e

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lhe faz justiça. O dia da restauração (7,11-13) pode ser uma referência implícita ao “dia do Senhor”, no qual acontecerá a salvação de Israel e a condenação dos inimigos. Assim como na saída do Egito, Deus está do lado de seu povo e o conduz para dias melhores. Há uma oração pela restauração (7,1417). Uma súplica para que o Senhor cumpra as promessas feitas aos patriarcas. Miqueias termina com uma palavra de encorjamento para a comunidade. Devemos esperar nas promessas do Senhor, pois a Sua misericórdia é maior do que tudo! A última palavra é de Esperança. Caminhemos com o Senhor praticando a justiça e amando a misericórdia... Mantenhamos viva a nossa esperança e alimentemos a esperança do povo de nossas comunidades. Os Miqueias de hoje somos nós. Deus nos convoca para sermos profetas da esperança onde nós vivemos e atuamos. Palavra do Papa Francisco: “Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia (...) Esta é a lógica que deve prevalecer na Igreja, para « fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais (...). Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximar-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos que vivem entregues ao Senhor. (...) E convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja.” (AL 310 e 312) Para aprofundamento: Como temos alimentado a nossa esperança no Senhor da história?Como comunicamos essa esperança às novas gerações?

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Amoris Laetitia: A alegria do Amor na Família

No dia 08 de abril o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica sobre a família. “Amoris laetitia”, sobre a “Alegria do Amor”, que reúne os resultados do Sínodo da Família que ocorreu em duas etapas, uma em 2014 e outra em 2015 e trouxe a questão da família para o coração da Igreja e do mundo.

Um cuidado especial O documento situa a família “À luz da Palavra” (Cap.I) e depois aborda a “A realidade e os desafios das famílias” (Cap. II). Acena para as situações concretas das famílias como elas são. “Nas situações difíceis em que vivem as pessoas mais necessitadas, a Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e integrar.” (AL 49). Depois, com “O olhar fixo em Jesus: a vocação da família” (Cap. III), que se ocupa dos ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio e a família. Destaca que “O amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja.” (Al 88). Depois trata do “Amor no matrimônio” (Cap IV) retomando cada atitude expressa no hino ao amor presente na Carta aos Coríntios (1Cor 13, 4-7) e termina reforçando que “a alegria matrimonial, que se pode viver mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas (AL 126). E ainda, “Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade” (AL 163).

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Fecundidade no amor “O amor que se torna fecundo” (Cap. V) “A família é lugar do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus.” (AL 166). Alarga-se o horizonte de compreensão da família olhando para o matrimônio em seu caráter social e a necessidade de um contínuo crescimento na relação para com os outros. A Exortação Apostólica debruça-se também em “Algumas perspectivas pastorais” (Cap. VI) onde as famílias, pela graça sacramental, são apresentadas como os “sujeitos principais da pastoral familiar” (AL 200). E a pastoral familiar “deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana” (AL 201). Aborda-se com clareza a necessidade da preparação para o matrimônio, o acompanhamento dos casais nos primeiros anos de vida matrimonial e a ajuda para os momentos de crise. Cada matrimônio é uma « história de salvação.” (AL 221). Recomenda ainda o acompanhamento depois das rupturas e divórcios. E quanto às pessoas às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, salienta que “é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungadas’ nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial.” ( AL 243) e reafirma a necessidade de “tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos todos os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade” (...) e de “colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à pastoral familiar.” (AL 244).

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Acompanhar, discernir e integrar “Reforçar a educação dos filhos” este é o assunto do Cap. VII e desta a necessidade da formação ética, o valor da sanção como estímulo, o realismo paciente, a educação sexual, a transmissão da fé. Trata da educação sexual de uma forma positiva “Sim à educação sexual”. Seguida do tripé “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade” O Cap. VII explicita o exercício da misericórdia para tratar pastoralmente as situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor propõe. “Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial. Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho!” (AL 297). Escutar com carinho O Papa assim expressa: “Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximarem-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos. (...) E convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja” (AL 312). A Exortação termina tratando da “Espiritualidade conjugal e familiar” na qual tudo, “os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição” (AL 317). E,”não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AL 325).

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Cânticos para animar o Estudo 01. Na casa do Senhor (Acolhida) Ré+ Rock L. e M.: Pe. Roberto Carlos

Que bom, que bom, que bom participar, / na casa do Senhor, você tem o seu lugar. (bis) / Essa casa é a casa do Senhor / onde estamos reunidos em nome do amor (bis) 02. Fonte e luz. (Abertura) Ré- Pop L e M: Milton Rosa – Caratinga MG.

1. Reunidos ao redor de teu altar, / com os irmãos nós queremos partilhar, / a Palavra que iremos escutar / é fonte, é luz em todo o nosso caminhar. Como é bom estar em tua casa, / para louvar e também proclamar :// Jesus Cristo vem nos ensinar, / em família, juntos vamos celebrar. (bis) 2. Bendizemos a Deus Pai com alegria, /que nos ensina viver em comunidade, / alimentados pelo pão da Eucaristia, / assim teremos vida plena, unidade. 03. Tua Palavra Ré+ balada L. e M.: Pe. Orione Silva e Solange Maria do Carmo

Tua Palavra, Senhor, / é luz que ilumina os meus passos, / luz que me guia e orienta / ao longo da caminhada. / Ela é um clarão, ela é um farol, // ela é uma ajuda importante, que me faz viver Melhor. (BIS) 04. Deus Javé - Lá+ Baião

L. e M.: João Bento – Belo Horizonte – MG

Eu vi muito bem a aflição do meu povo / que sofria no Egito. / Eu ouvi muito bem o clamor do meu povo / e desci pra livrá-lo, / pois eu sou Deus-Javé, libertador.

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1. Chamei Moisés pra reunir o povo meu / e com ele caminhar. / Eu fiz o mar se dividir em duas partes, / fiz o povo atravessar. 2. Dei a meu povo uma terra espaçosa / onde corre leite e mel. / Livrei meu povo da opressão do faraó, / pois eu sou o Deus Javé. 05. Tua Palavra nos seduz (Comunhão) Re- Pop L. e M.: Crisógono Sabino – Aracui – Castelo – ES

Tua Palavra nos seduz e aquece o coração. / Jesus Cristo é a Palavra encarnada e celebrada, / Pão da vida e comunhão. (bis) 1. A Palavra, a Eucaristia, / em duas mesas o mesmo pão. / Na Palavra anunciada, Deus nos fala ao coração / e nos convida a fazer comunhão. 2. A Palavra proclamada / faz arder o nosso coração. / Todo aquele que a acolhe vive a Nova Criação / que se reflete no partir do pão. 3. Na Palavra, no pão e vinho, / nesse encontro, se consagrou: / Corpo e Sangue de Jesus, toda graça, todo amor. / Comei e bebei da Ceia do Senhor. 4. Eis o Cristo, Verbo encarnado / que se faz pão pra nos alimentar / na missão que nos foi dada de ir ao mundo e anunciar / a Boa Nova que nos vai salvar. 06. Convite (Envio) Fá+ Pop L. e M.: João Bento – BH Jesus fez um convite pra partir para a missão, / evangelizar lá no campo e na cidade. / Logo respondi: eu não sei falar direito, / eu não tenho tempo, não tenho capacidade. Veja só o que o mestre me falou: (bis) :// Não escolho os capacitados, / eu preparo os que eu convido. / Não escolho os desocupados, / eu ocupo os meus escolhidos. (bis) Visite nossso site: 34 www.mobon.org.br


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