Os desafios de viver da música na era digital

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Jornal do Comércio - Porto Alegre

Segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

& Negócios

EMPREENDEDORISMO

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Os desafios de viver da música na era digital Pirataria, download gratuito e direito autoral estão entre as questões que precisam ser enfrentadas por músicos que querem fazer carreira no século XXI

No romantismo, viver de mú� sica, poesia e literatura era mais do que uma opção profissional, era um estilo de vida. No século XXI, com a introdução das tecnologias e a facilidade de disseminação dos mais diversos conteúdos, ficou cada vez mais difícil e caro viver da produção cultural e artística, principalmente na área musical. Jovens ainda investem nessa tra� jetória em busca do sucesso, mas tropeçam na questão da pirataria, do download gratuito e do direito autoral na internet. Luciana Pegorer, presidente da Associação Brasileira de Mú� sica Independente (ABMI), é uma das principais interessadas nessa jornada, que novos empreende� dores têm feito para alcançar um lugar privilegiado no mercado de trabalho. “Hoje é possível ao artista sem gravadora atingir seu público e dar início a um trabalho remunerado. Da mesma forma, uma pessoa pode trabalhar com

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Deborah Cattani

Dias lamenta que ainda não consiga se sustentar só da venda online e merchandising

música sem estar empregada em uma grande gravadora, emissora de rádio ou agência de artistas”, conta. Ela explica que, atual� mente, a prestação de serviço no espaço musical abre um leque de oportunidades, como produtores e designers, entre outras. É o caso de Felipe Martil, 32 anos, conhecido como o DJ Yog Kaiser Mars. Formado em teleco�

municações, ele decidiu se dedicar ao ramo da vida noturna e entrou no nicho como amador. “Virei produtor de tanto observar e me envolver com os processos gerais das festas”, brinca. Para ele, um dos facilitadores foi a internet: “É a base de todo nosso trabalho. Cap� tação de público e a interação com eles se dão no cruzamento diário de relações públicas e marketing,

focado na linguagem das pessoas que queremos frequentando nos� sas festas.” Aos 23 anos, o cantor e compo� sitor Pablo Dias viu na música uma oportunidade de sobreviver e mu� dar o mundo. Desde pequeno, ele sonhava com essa possibilidade e teve apoio da família para buscar esse caminho. “Ouço as pessoas falando que os jovens de hoje não

têm motivo para rebeldia e, então, não têm inspiração. Discordo, acho que o mundo está longe de ser perfeito. Cresci aprendendo sobre como nosso modo de vida não é sustentável e minhas músicas fa� lam sobre isso”, afirma. No entanto, Dias lamenta que ainda não consiga se sustentar só da venda online e merchandising. “Em termos financeiros? Não, não valeu. Em termos de portas que me foram abertas, sim. Ganho muito pouco dinheiro através de vendas com essas ferramentas, a maior parte da minha receita vem de CDs vendidos pessoalmente”, explica. Martil também concorda que, apesar dos diversos meca� nismos disponíveis pela rede, eles ainda não oferecem um sistema de renda estável. O produtor vê vantagens, como a fragmentação da música e a independência do álbum. “O processo em si eu considero mui� to válido, sem apego ao conceito de que a pessoa precisa escutar o álbum na sua totalidade, na ordem que o artista estipula que deva ser a audição, como aconte� cia até a década passada. A frag� mentação da música, despida de um pacote álbum, existe desde o início da indústria fonográfica, através dos singles. E eu, como DJ, que toco seleções de músicas, e não audições de álbuns, racio� cino justamente dessa forma.”

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Artistas investem nas plataformas virtuais, que crescem apoiadas em um público ávido por novidades O mercado físico ainda li� dera as vendas de música no Brasil, mas, como os meios di� gitais ocupam cada vez mais lugar de destaque no consumo cultural, artistas e produtores buscam tirar vantagens das no� vas plataformas. “O Youtube já representa um ganho signifi significa� ca� tivo para muitos”, reconhece Para Luciana, um dos empecilhos é a alta carga tributária

Luciana Pegorer, presidente da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI). Já outros canais ainda precisam aumen� tar a base de usuários. No caso do iTunes, diz Luciana, isso pode ser conquistado quando for pos� sível comprar música em reais com cartão de crédito nacional. Para a presidente da ABMI, o iTunes é um caso específico em que não há empenho e interesse da Apple em investir na moeda brasileira. Sem falar na mecani� zação do sistema, como coloca o cantor e compositor Pablo Dias: “Acredito que essas ferramentas

passam a ser úteis quando o artis� ta não consegue mais suprir a de� manda de pedidos. Por enquanto, ainda consigo dar atenção para quase todas as pessoas que se interessam e se comunicam co� migo pela internet. É muito mais legal comprar um álbum que será enviado diretamente pelo artista do que comprar uma cópia digital em um site famoso”. Em 2013, a Federação Inter� nacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês) divulgou um estudo no qual o mercado di� gital de música teve um aumento de 9% em relação ao ano ante�

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rior. A carga tributária, segundo Luciana, é um dos responsáveis pelo tímido acréscimo. “Inúmeros impostos em cascata nos tornam pouco competitivos no ramo inter� nacional e, internamente, deixam o produto caro, dando espaço para a pirataria. Tivemos uma grande vitória, ano passado, reduzindo os impostos em cima do produto de música brasileira”, revela. Ape� sar das dificuldades, o mercado musical tem um público especí� fico e que cresce conforme seu ritmo, apoiado em novidades e cada vez mais focado no empre� endedorismo online.


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