A ascensao do dinheiro niall ferguson

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e depois aquecido para eliminar o mercúrio.12 O ar nos corredores da mina era (e permanece) nocivo, e os mineiros tinham que descer em poços de cerca de 220 metros nas escadas mais primitivas, por onde subiam depois de longas horas escavando, com sacos de minério de prata amarrados nas suas costas. Rochas soltavam e caíam, matavam e aleijavam centenas. Potosí, a nova cidade da corrida da prata era, declarou Domingo de Santo Tomás, “uma boca do inferno, na qual uma grande massa de gente entrava todo ano e era sacrificada pela ganância dos espanhóis ao seu deus”. Rodrigo de Loaisa chamou as minas de “poços infernais”, observando que, “se vinte nativos saudáveis entrassem numa segunda-feira, a metade podia emergir aleijada no sábado”.13 Nas palavras do monge agostiniano frei Antonio de la Calancha, escrevendo em 1638: “Toda moeda de peso cunhada em Potosí custou a vida de dez nativos que morreram nas profundezas das minas”. E quando a força de trabalho nativa foi exaurida, milhares de escravos africanos foram importados para substituí-los como “mulas humanas”. Mesmo hoje, ainda existe algo infernal sobre os poços e os sufocantes túneis de Cerro Rico. Um lugar de morte para aqueles obrigados a trabalhar nele, Potosí foi onde a Espanha ficou rica. Entre 1556 e 1783, a “montanha rica” produziu 45.000 toneladas de prata pura, que foram transformadas em barras e moedas na Casa de Moneda [Casa da moeda] e embarcadas para Sevilha. A despeito do ar rarefeito e do clima hostil, Potosí rapidamente se tornou uma das principais cidades do Império espanhol, com uma população entre 160.000 e 200.000 habitantes, no seu auge, maior do que a maioria das cidades europeias daquela época. Valer un potosí ainda é uma expressão espanhola que significa “valer uma fortuna”. A conquista de Pizarro, ao que parece, fez a coroa espanhola rica além dos sonhos de ganância. É costume dizer que o dinheiro é um meio de troca, que tem a vantagem de eliminar as ineficiências do escambo; uma unidade de valor, que facilita a avaliação e o cálculo; e um recipiente de valor, que permite que as transações econômicas sejam conduzidas durante longos períodos e também a despeito das distâncias geográficas. Para desempenhar todas essas funções da melhor maneira, o dinheiro tem que estar disponível, e ser durável, fungível, portátil e confiável. Como preenchem a maioria desses critérios, ao longo dos milênios os metais, como ouro, prata e bronze foram considerados como a matéria-prima monetária ideal. As moedas mais antigas que se conhecem datam de 600 a.C., e foram encontradas por arqueólogos no Templo de Ártemis em Éfeso (perto de Izmir, na moderna Turquia). Essas moedas ovulares da Lídia, que foram feitas de uma liga de ouro e prata conhecida como eletro, e exibiam a cabeça de um leão, foram as antecessoras da tetradracma ateniense, uma moeda de prata padronizada com a cabeça da deusa Atena de um lado e uma coruja (associada a ela por sua suposta sabedoria) no verso. Nos tempos romanos, as moedas eram produzidas com três metais diferentes: o aureus (ouro), o denarius (prata) e o sestercius (bronze), classificadas nessa ordem de acordo com a relativa escassez dos metais em questão, mas todas exibiam a cabeça do imperador reinante de um lado e as lendárias figuras de Rômulo e


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