zine oficina de repente n.1

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A baleia gigante cachalote é produzida para emprestar sensações reais, apesar de ser um objeto sintético. Sua porta de entrada, costurada em pelúcia rosa, recebe o usuário com nível 01 de maciez. Uma antessala com nível 03 de maciez tem tapete felpudo branco que se estende até o hall principal - interior da baleia - onde o som de cachalote envolve o usuário para a FUGA (objetivo do objeto).




Réplica quase real de um teste de gravidez positivo que foi jogado fora e/ou tratado com displicência e sumiu. A imagem que foi registrada do teste verdadeiro será sobreposta a um teste real, mas não o original, formando então uma réplica quase real. O objeto guardará dentro dele a sensação da descoberta de uma vida dentro da outra.




Cor marrom, pesada mas delicada, entalhada de folhres. Talvez um modelo tão comum naquele tempo, naquela casa, em todas as casas. Foi o conforto de todas as conversas à distância feitas ali. Era o suporte de longas conversas, de boas e más notícias. Foi a primeira a ouvir minhas conversas curtas com desconhecidos da lista telefônica de quando eu era criança. Era o que não deixava meu vô se cansar das longas palavras ditas com tanta saudade. Não atendia a nenhuma chamada, ouvia tocar até cansar. Ficava ali, à espera dele.



Meu objeto do desejo não tem nome. Só o vi uma única vez, dezenas de anos atrás. Maravilhada, vi a irmã mais velha mostrar sobre uma folha de papel uma pequena semente vermelha, de uma planta africana cujo nome desconhecíamos. O pai de um amigo trouxera da África. A semente era oca, sua boca fechada perfeitamente por uma tampa feita a mão: um elefante esculpido num pedacinho de marfim. Impressionava ver que alguém conseguira esculpir em algo t˜åo pequeno. Mas o grande espanto acontecia ao se desencaixar a tampa: dentro da semente havia uma série de elefantinhos esculpidos em lascas de marfim, finas como folhas de papel. Era preciso cuidado ao manuseá-las, t˜åo delicadas, possíveis de se quebrar. Quem teria realizado tal obra de arte, minuciosa, delicada, difícil? Diziam ter sido feito por uma tribo, como um preparativo emocional para guerras ou situação de igual dificuldade. Era maneira de se encentrarem, de prepararem mente/espírito. Objeto raro, carregado de força. Fascinante.



Anotações a mão do meu pai para falas em seu programa de rádio.


Um aro de borracha flexível, tinha o diâmetro de um pulso delicado, as bordas um tanto gastas em falhas denteadas que poderiam provocar o rompimento de sua ligação se manuseado de maneira bruta. Na cor azul clara semelhante a um céu de outono, passara por diferentes caminhos antes de pertencer a ela. Do escritório onde chegou ainda novo, dentro de caixinhas abarrotadas de outros iguais a ele, envolveu documentos e manteve tubos de projetos arquitetônicos e plantas de casas nunca construídas. Deixou o trabalho pelas mãos de um funcionário que ganhara na loteria um prêmio suficiente para tirá-lo da repartição e enrolou as primeiras cédulas que ele levaria no bolso em uma viagem de comemoração ao Rio de Janeiro. Esquecido no lobby de um hotel no arpoador, foi visto e apanhado por ela, que descia do quarto 121 para tomar seu banho de mar. Foi então que ele enrolou os cabelos molhados de água salgada com que ela chegou em casa na última vez que me visitou. Esquecido no criado mudo, ainda úmido, com um fio de cabelo encaracolado que se desprendeu dela.



Um lindo anel de diamante com pedrinhas de esmeraldas em volta. Que brilha muito e ofusca o meu olhar de tanto brilhar. O fato de querer não significa que vou comprar ou ganhar. Posso conquistar através do meu esforço, peo meu reconhecimento, sem pedir a ninguém. Porque eu pensei nesse objeto de desejo? momento de reflexão, de conquistass, de beleza, de auto estima, de desejo e de valor infinito. Na verdade esse objeto é representativo!


Lápis preto Germany. O primeiro lápis que ela não perdeu em 20 anos de vida. Dela, não do lápis. Perde os lápis por aí, mas o amadurecimento a fez não perder esse específico. Lápis preto, escreve preto no branco, desenha nos cadernos, suja os dedos e escreve cartas de amor. Usado por todo o segundo semestre de 2016. Ainda mora em seu estojo como algo vitorioso. Forma retangular tem agora o comprimento menor que os dedos. Não é confortável para escrever, mas escreve e está apontado.


ilustração tamanho real


Quadro da Santa Ceia Esculpido em madeira Parede da cozinha Metade de baixo azulejo azul Separação com retalhos de azulejo laranja Metade de cima tinta/cal branca Piso de chão em ladrilho vermelho Cortina com tiras de plástico na porta Janela no canto lateral ao lado da pia Armário de metal e panelas brilhando Cheiro contínuo de café passado na hora Luz da tarde - mistura de aconchego com melancolia Gemada todo dia Rua Valquiria, 35



As coisas A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento O museu da inocência A vida modo de usar Espécies de espaços O infraordinário Tentativa de esgotar um lugar parisiense A câmara obscura - 24 sonhos Pensar/classificar


souncloud.com/derepente



de repente é bom ter um objetivo

ana pacheco andréa d’amato carlos rosa carolina sinhorelli gabriela bucalo grasiela mattioli ivan marsiglia juliana marsiglia lucas delfino maria accacio lúcia rosa maysa ribeiro mitiko nakamura uma proposição de

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