Bahia Análise & Dados - Biodiversidade

Page 92

Diversidade vegetal e etnoconhecimento: a etnobotânica da aldeia Trevo do Parque, Itamaraju-BA

INTRODUÇÃO

resultando em alta riqueza no conhecimento da flora brasileira quanto aos bens e serviços

O Brasil é considerado um país hotspot que abriga 12% de toda a biodiversidade do planeta. As espécies vegetais representam 22% das existentes no mundo, sendo que muitas delas são endêmicas (MYERS et al., 2000). Toda essa riqueza desperta o interesse de pesquisadores em diversas áreas da ciência, proporcionando novas descobertas e contribuindo para o desenvolvimento ao disponibilizar informações sobre os recursos naturais. O interesse pelos vegetais, bem como a investigação acerca das aplicações das plantas, especialmente no que se refere às propriedades medicinais, é conhecido desde a antiguidade e transmitido oralmente para os parentes mais próximos ou através de manuscritos por antigas civilizações (COSTA et al., 2006). As primitivas civilizações marcaram a história do desenvolvimento humano através da troca de conhecimentos. Diversos povos e comunidades tradicionais contribuíram para a construção de um acervo de informações sobre a utilização de espécies vegetais como matéria-prima para produtos medicinais (DI STASI, 1996). Com a industrialização provocada pela revolução tecnológica, associada à evolução do conhecimento científico, produtos sintéticos foram disponibilizados, marcando uma substituição gradual do conhecimento tradicional a partir do uso de espécies vegetais (FOREY; LINDSAY, 1997). No entanto, novas tendências de conservação biológica, associadas às diferentes formas de desenvolvimento sustentável, contribuíram para o renascimento da fitoterapia e a participação de novos adeptos da medicina popular (LORENZI et al., 2002). Rodrigues e Carlini (2003) afirmam que: o país deveria ser um foco de descobertas de novos produtos fitoterápicos em virtude das altas taxas de biodiversidade e endemismo presentes nos seus biomas, associadas à diversidade cultural revelada em mais de 220 etnias indígenas e inúmeros grupos quilombolas distribuídos ao longo do território nacional,

552

associados e seu potencial fitoterapêutico.

O etnoconhecimento destaca-se por ter essa estreita cumplicidade e interdisciplinaridade com todas as áreas da ciência, destacando-se a Antropologia, a Biologia, a Química, a Farmacologia e a Física (DI STASI, 1996). O estudo que envolve conhecimento de plantas relacionadas a diferentes culturas é denominado etnobotânica (ALBUQUERQUE, 2005; COUTINHO; TRAVESSOS; AMARAL, 2002). Rodrigues e Carvalho (2001) afirmam que a etnobotânica, como subárea do etnoconhecimento, é o primeiro passo para a interdisciplinaridade envolvendo botânicos, agrônomos, antropólogos, médicos, químicos e físicos, a fim de estabelecer quais são as espécies vegetais promissoras para pesquisas agrícolas, florestais e medicinais. À medida que a relação com o território transforma-se pela modernização no campo, a rede de transmissão do conhecimento sobre as plantas passa a sofrer alterações (ZUCHIWSCHI et al., 2010). Amorozo (1996) afirma que a degradação ambiental e a intrusão de novos elementos culturais nos sistemas de vida tradicionais ameaçam o amplo acervo de conhecimento empírico assimilado por essa população ao longo das centenas de anos. Diante disso, Zuchiwschi e outros (2010) e Pilla, Amorozo e Furlan (2006) ressaltam que, o resgate do conhecimento popular das técnicas terapêuticas estará, de certa forma, resgatando o modo de aprendizado que contribuiu para a valorização da medicina popular local, como também subsidiando com informações os programas de saúde pública e conservação da biodiversidade. Nesse sentido, considerando a importância dos estudos etnobotânicos, do resgate da medicina popular, bem como do conhecimento dos benefícios que a flora oferece para o ser humano, essa pesquisa tem como objetivo central apresentar o etnoconhecimento das espécies vegetais utilizadas com fins medicinais por uma comunidade indígena na aldeia Trevo do Parque, localizada próximo ao ParBahia anál. dados, Salvador, v. 22, n. 3, p.551-560, jul./set. 2012


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.