Livro-Reportagem: Não Duvide Dessa Força

Nรฃo duvide dessa forรงa

Histรณrias de paratletas

Daniella Elize Machado

NÃO DUVIDE DESSA FORÇA Histórias de paratletas Livro-reportagem Textos: Daniella Elize Machado Orientação: Gustavo Zonta Projeto gráfico e diagramação: Gustavo Zonta e Daniella Elize Machado Capa: Arte sobre foto de Washington Alves do paratleta itajaiense Flávio Reitz Ano: 2017/I UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI Centro de Ciências Sociais Aplicadas Comunicação Turismo e Lazer - Ceciesa Curso de Jornalismo Trabalho de Conclusão de Curso

Acompanha este livro impresso um CD em áudio com a narração dos textos que compõem esta obra. O objetivo é permitir o acesso dos deficientes visuais ao conteúdo das reportagens. O áudio também pode ser baixado pela Internet no link: goo.gl/tm6ACA

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a Deus, por meio da fé este momento se tornou possível. À minha família, por sempre acreditar no meu potencial e sempre me apoiar em minhas escolhas, especialmente no profissional. Agradeço aos professores do curso de jornalismo da Univali, por sempre me fazerem querer mais, e minhas colegas Bianca e Andressa por estarem ao meu lado nesta caminhada. Ao meu namorado, Guilherme Lemos de Lima, junto contigo me senti ainda mais segura durante essa fase e processo de trabalho de conclusão de curso. E agradeço especialmente ao meu orientador, Gustavo Paulo Zonta, por aceitar e acreditar neste projeto de TCC. Sem vocês, nada disso seria possível. Muito obrigada.

O PARATLETA Um mundo de vencedores e heróis. O paratleta existe como prova de diversos tipos de forças, a de viver e a vontade de quebrar barreiras impostas por suas limitações. Ao juntar as duas forças, se tornam incríveis.

Além dos resultados vitoriosos conquistados em competições, os paratletas têm histórias de vida e estas são as suas maiores e melhores vitórias. Os heróis da vida nos ensinam mais do que a importância de competir, cada um deles nos mostra a importância de seguir vivendo e de vencer seus próprios obstáculos.

Em “Não Duvide Dessa Força”, as histórias são distintas, porém há um único ideal entre cada personagem: a reconquista do que é viver.

SUMÁRIO O arco e flecha: a capacidade de recomeçar

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Sobre duas rodas (Re)aprender

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A força das águas Salto para vida A resistência

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Foto: Arquivo pessoal

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O arco e flecha: a capacidade de recomeçar Em sua ficha de primeiros socorros, as palavras indigente e extremamente agressivo chamam a atenção. Paulo Roberto Germano jamais fora agressivo com ninguém e pequenos detalhes como aquele lhe causavam estranheza e graça. Como uma pessoa que jamais levantou a mão para bater em alguém é descrita como agressiva? Paulo não se lembrava de absolutamente nada, mas as palavras estavam ali: indigente e extremamente agressivo.

Os olhos azuis de Paulo demonstram o quanto o episódio, apesar de trágico, se tornou cômico. Com o olhar divertido, o rapaz conta que a socorrista saiu machucada e por isso a palavra agressivo está ali, destacada em sua ficha médica. Em seu estado de consciência normal, ele jamais teria feito isso.

– Hoje, quando eu pego a minha ficha e leio o que escreveram ali, eu dou risada, até porque não sou nada daquilo e me pergunto como eu estava para tudo isso acontecer.

Paulo sempre foi o tipo de jovem apaixonado pela liberdade e a encontrou com facilidade em cima de uma moto. O vento no rosto e a velocidade traziam a sensação total daquilo que ele mais gostava, ainda mais no auge de sua juventude.

Andar pelas ruas de Itajaí e ir às praias jogar vôlei com seus amigos fazia parte de seu dia a dia. Os passeios eram feitos sempre na companhia de sua moto. Essa rotina mudou completamente em 2010.

Aos 22 anos de idade, Paulo sofreu um acidente grave enquanto pilotava sua motocicleta.

Nenhum registro da colisão com a moto dourada, modelo CB 300, ficou guardado em sua memória. Não há detalhes do ocorrido e Paulo não se lembra de nada.

O que ele realmente sabe é que a partir daquele dia, tudo em sua vida mudou. A velocidade já não foi mais sua aliada e a parceira de duas rodas teve que ser substituída.

– Me perguntam se eu estava andando muito rápido na moto no dia do acidente e eu não me lembro. Então, eu sempre digo que sim, afinal se não tivesse andando muito rápido isso não teria acontecido, né? – Indaga mostrando a cadeira de rodas em que está sentado.

O acidente deixou graves sequelas. Paulo perdeu os movimentos das pernas e sua recuperação foi bem lenta. Desde o coma induzido até a internação, foram um ano e oito meses no hospital. Saía apenas de ambulância para fazer exames em outra unidade hospitalar.

A recuperação de Paulo foi difícil não só para ele, mas também para aqueles que sempre estiveram ao seu lado, como sua prima Patrícia Lessa. Inseparáveis desde criança, Patrícia e Paulo eram “irmãos” e sempre foram muito apegados. Ela ficou durante todo tempo ao lado do primo no hospital.

– Ver o Paulo na UTI, no estado que eu vi, foi difícil demais – Lamenta Patrícia, relembrando os momentos difíceis.

O quadro de Paulo mudava a cada dia e as incertezas batiam à porta da família. Ninguém sabia ao certo se ele sobreviveria. Um dia, o médico dizia que ele não passaria daquela noite, no outro, que era um milagre ele ainda estar vivo.

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Com a instabilidade no estado de saúde de Paulo, a família se apegou a Deus e as orações.

– Foram muitas orações e dias de sofrimento – conta Patrícia.

A prima de Paulo lembra que não só as orações da família fizeram parte da corrente para ajudá-lo espiritualmente. Havia muito apoio por parte de amigos pelas redes sociais, o que para ela foi importante e emocionante.

– Quando eu entrava no Facebook dele, chorava ao ler tantas mensagens de apoio dos amigos e vendo a luta dele pela vida.

A partir disso, Patrícia teve a ideia de começar a escrever um diário sobre os dias de Paulo no hospital. Ali ela colocou pensamentos dela, escreveu sobre os dias do primo e toda sua recuperação no período em que esteve em estado grave. O diário foi como uma forma de desabafo, em que era possível colocar todos os seus lamentos em forma de texto.

– Eu ia quase todas as noites na UTI para revezar com a minha tia, ela ia durante a tarde porque o médico conversava com ela e eu ficava durante a noite.

Já acordado do coma, Paulo recebia visitas constantes no hospital. Mas havia um detalhe intrigante. Patrícia, que sempre esteve ao seu lado e passava por lá diariamente, era a única que não se fixava em sua memória. Paulo sabia quem era ela, mas nunca se lembrava que ela havia ido visitá-lo.

– Eu brincava bastante com ele, perguntava se ele sabia quem eu era e no outro dia pegava no pé dele – conta Patrícia – Na verdade eu sabia que era questão de tempo e que isso acontecia devido aos medicamentos fortes.

Um outro fato intrigante aconteceu enquanto Paulo esteve internado. Ele se esquecia da prima sempre que ela deixava o quarto em que ele estava, mas a memória de Paulo continuava ativa, mesmo depois do grave acidente e do tempo que passou em coma.

– Teve um dia que minha internet deu pane, eu não lembrava a senha. Chegando na UTI eu perguntei para minha tia se ela sabia qual era, ela não sabia e o Paulo ouviu, na mesma hora ele disse qual era – Relembra – A senha era o nome da minha filha, nós tínhamos feito juntos e ele conseguiu lembrar com facilidade.

Patrícia se lembra também do dia que Paulo recebeu alta do hospital. Dia de festa, com direito a surpresa de familiares e amigos. Havia muito a ser comemorado.

– Foi quando entreguei o diário que escrevi para ele, como um presente para que pudesse ler e saber tudo o que tinha acontecido.

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Desde o dia que soube do acidente do filho até sua total recuperação, a vida de dona Kátia mudou totalmente. Ela foi chamada ao hospital. O recado era que seu filho havia sofrido um acidente de trânsito, mas ela desconhecia a gravidade.

– Somente a mãe entra – Disse o médico no primeiro contato com os familiares de Paulo, que aguardavam na recepção.

Na sala onde Paulo se encontrava, muitos médicos. Rostos preocupados revelavam a gravidade do caso. Foi neste momento que dona Kátia soube que a notícia não era nada boa.

– Tinham vários médicos em volta de mim para me segurar caso acontecesse alguma coisa.

Eu não tive reação nenhuma, foi só um estado de choque – Relata – Eu vi o Paulo e eu sabia que ele não estava nada bem ali.

Dona Kátia jamais desistiu de seu filho. Foi muitas vezes tachada de não ter sentimentos, por se demonstrar uma pessoa fria diante da situação vivida com o filho. Ia constantemente ao hospital. Ficar em casa não era uma opção.

– Se eu ficasse em casa seria pior porque a cabeça da gente fica cheia de coisa. Então, eu ia trabalhar e depois vinha e ficava o resto do dia no hospital, mesmo com o Paulo na UTI. À noite, voltava para casa.

E mesmo com o caso de seu filho se agravando, dona Kátia não desistia. Ela estava ali por ele.

– Tinha dia que vinha aqui e ele estava respirando 80% por aparelho, os rins não estavam funcionando e um dos lados do pulmão também não. Os médicos não diziam que ele ia morrer, nem que ele ia sobreviver, mas a situação era difícil.

Mulher de fé, se apegou a Deus. Sabia que nele encontraria refúgio ou até mesmo a cura que seu filho precisava.

– Sempre fui de ir muito na igreja, às vezes saia do hospital e ia direto para lá. Me apeguei muito a Deus enquanto o Paulo esteve mal – dona Kátia sorri ao falar – Nós ficamos nessa luta por dois meses, foi quando os médicos começaram e tirar ele do coma.

Após a saída do coma, veio a recuperação lenta de Paulo. Ela sempre esteve junto dele em todos os momentos e em cada vitória que o filho conquistava. Após um ano e oito meses internado, recebeu alta. Hora de voltar para casa e seguir o tratamento com o apoio de dona Kátia.

– Quando soube que o Paulo não ia mais andar, eu mandei quebrar tudo em casa. Quebramos calçada, a porta de entrada, adaptamos o banheiro com barra de ferro e o quarto dele também – dona Kátia fala com orgulho. Era o mínimo que eu podia fazer, afinal, ele é meu filho e nada nele mudou, ele continua sendo a mesma pessoa de sempre.

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Com o passar do tempo, Paulo seguia na fisioterapia em casa. Seu quadro de paralisia era irreversível. O fato de estar vivo era a alegria que o inspirava a seguir em frente.

Na cadeira de rodas e precisando de ajuda para fazer algumas funções básicas, Paulo seguia sua vida normalmente. Não queria ficar abalado, não podia ficar abalado. Até que um dia, Paulo retomou sua liberdade.

– O dia que eu voltei a dirigir foi como se eu tivesse conquistado toda minha liberdade de volta, sabe? Eu podia sair sozinho, fazer o que queria, senti que estava livre.

O único processo que gerava dificuldade era guardar a cadeira de rodas no carro quando ele se deslocava para o banco do motorista.

– Eu demorava horas para dobrar a cadeira e guardar no carro. Hoje faço isso em uns dois minutos, no máximo – comemora.

Um outro rumo que mudou a vida de Paulo completamente foi se encontrar no esporte. Antes de sofrer o acidente, o pouco que fazia era apenas ir até as praias bater uma bolinha com os amigos, mas jamais havia pensado na prática esportiva como algo a se dedicar.

Incentivado por amigos, Paulo iniciou no handebol em cadeira de rodas. Ficou por três anos, mas não se identificou tanto com o esporte e procurou a modalidade de arremesso, no atletismo.

Ficou algum tempo e depois experimentou o tênis de mesa, modalidade pela qual chegou a participar de competições. Até que um dia, conheceu o tiro ao arco, também conhecido como arco e flecha, e se interessou muito pelo esporte.

– Eu sempre gostei de arco e flecha, porque via nos filmes medievais, então quando vi a modalidade e a conheci através do Antônio, fiquei muito interessado em praticar.

Por meio do gosto despertado pelos filmes, Paulo passou a participar da modalidade e foi onde se encontrou no paradesporto. Agora, não pretende mais sair dela.

– Nós precisamos disso para se provar capaz de novo – confessa.

Há dois anos praticando a modalidade de tiro com arco, Paulo é apaixonado pelo que faz e se sente cada vez mais motivado a continuar e seguir em frente na prática esportiva. Além dos treinos na pista de atletismo de Itajaí, Paulo também frequenta a academia para fazer treinamentos adaptados. O fato de praticar esporte e ir malhar na academia, sempre pega algumas pessoas de surpresa.

– Quando falo que vou na academia, existem algumas pessoas que me olham espantadas, de início isso era algo que afetava, mas hoje é uma coisa que só me motiva ainda mais, porque sei do que sou capaz.

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E para Paulo, praticar esporte se tornou motivação em sua vida, não só pelos benefícios que isso trouxe para ele, como também o ânimo em voltar a fazer as coisas.

– Saber que ainda podia fazer algo que sempre gostei que era praticar esportes, foi uma motivação e tanto – Afirma – Com o arco e flecha foi paixão à primeira vista.

O arqueiro ainda se lembra de sua primeira aula de arco e flecha e qual foram as primeiras sensações ao iniciar na modalidade que tanto admirava ao ver nos filmes ainda quando era jovem.

– Desde a primeira aula, a calma, a sensação do tiro, acertar o alvo, foi tudo muito bom! E desde então não parei mais, fazem dois anos que prático e a evolução no próprio esporte foi muito gratificante.

Além da evolução esportiva, há também a evolução pessoal.

– Já no lado pessoal, a postura, a resistência, é uma nova evolução a cada mês como atleta.

Já como atleta oficial da modalidade, Paulo também se recorda de sua primeira competição disputada com a equipe de Itajaí, para ele tudo foi muito tenso por ser a primeira vez competindo oficialmente, mas tudo funcionou bem.

– Na minha primeira competição eu não pude atirar como iniciante, pois já possuía equipamento próprio, então fui atirar como competidor normal – Explica Paulo – Eu era o único cadeirante na competição com pessoas que atiravam a mais tempo que eu, meus adversários não tinham nenhuma deficiência física aparente, então meu nervosismo foi nas alturas – Relembra.

Mas Paulo estava ali para fazer o que vinha treinando: atirar! E por ser novato na competição, foi muito bem recebido pelos seus adversários.

– Logo nas primeiras rodadas de tiros, todos próximos foram solícitos e ficaram agradados pela presença de mais um competidor – Se recorda ¬– No final da competição, mesmo com um resultado muito abaixo do esperado, sai com muita alegria de ter conseguido completar a prova e das amizades que foram feitas.

O arqueiro ainda não possui medalhas das cinco competições oficiais que já participou, mas carrega para si a responsabilidade de ser o único competidor cadeirante masculino da modalidade, o fato deu a Paulo o recorde estadual de pontuação.

Das competições que Paulo participou, todas foram dentro de ginásios fechados e indoor, ou seja, com o alvo a 18 metros de distância do atirador.

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– Agora queremos ir para o outdoor, que é em campo aberto e com o alvo a 70 metros de distância – Explica.

Paulo carrega para si apenas experiências positivas das competições em que esteve presente e também de representar a modalidade de arco e flecha.

– Poder competir é a satisfação de saber que você pode muito mais do que você pensa, é sem igual.

A MODALIDADE Na modalidade de tiro com arco, popularmente chamada de arco e flecha, existem três classes diferentes. São elas: O tiro com arco em pé, chamada de ARST, para atletas que não possuem deficiência nos braços, mas tem algum grau de perda muscular nas pernas, de coordenação ou mobilidade articular. Na classe ARST, os atletas têm a opção de competir sentados em uma cadeira normal ou em pé.

Outra classe da modalidade é a ARW1, ou seja, tiro com arco em cadeira de rodas 1, são exclusivas para atletas tetraplégicos e que possuem alcance limitado dos movimentos, da força e também do controle dos braços e pouco ou nenhum controle do tronco.

A terceira e última classe do esporte é o tiro com arco em cadeira de rodas 2 A ARW2 é para atletas paraplégicos e mobilidade articular limitada dos membros inferiores.

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Foto: Pedro Homrich

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Sobre duas rodas As rodas anguladas da cadeira causam estranhamento. Logo entendo que o diferencial é necessário para o que será feito com ela. Antes da ação, há todo um ritual. A cadeira, que está desmontada e guardada no almoxarifado, ganha um par de rodas, rapidamente encaixadas pelo seu dono. A montagem é feita de forma rápida e simples. Ele já está mais do que acostumado com isso.

– Por que as rodas são diferentes? – Pergunto em voz alta o que estava só em pensamento para o rapaz de cabelos de corte baixo e barba por fazer.

– Ah! São diferentes mesmo, elas são assim inclinadas porque desliza com mais facilidade e dá mais velocidade na quadra – responde o homem, já sentado na cadeira – Olha só, é bem mais rápido – Ele sai pelo pequeno espaço deslizando na cadeira de rodas – Se quiser tentar, pode sentar.

A sensação de sentar na cadeira de rodas é diferente de tudo que já imaginei. Seu acento, um pouco mais estreito que o comum, causa um aperto na região do quadril. Tento dar impulso nas rodas, mas minha falta de coordenação motora não me permite fazer muita coisa. Para mim é difícil me locomover sobre duas rodas.

– Os pneus estão um pouco murchos – Avisa o dono da cadeira enquanto me observa – Mas para fazer algumas coisas não atrapalha muito.

Sem muito sucesso em conseguir tirar a cadeira do lugar, decido me levantar e ficar apenas observando. Na parte da frente do equipamento, há uma espécie de quadro, que impede a cadeira de bater em objetos a sua frente.

– Isso aqui serve para não bater um nos outros? – Pergunto – É, isso serve para suavizar o impacto da batida durante o jogo, mas sempre há batidas e tombos na quadra.

Além do quadro de ferro e das rodas anguladas, a cadeira adaptada para o esporte também tem quatro rodinhas menores, que auxiliam no equilíbrio, e um acento com um pequeno apoio nas costas. Uma cinta é passada em volta da cintura de quem senta para jogar. A cinta de Fernando está no conserto.

Fernando de Borba, mais conhecido como Gaúcho, é um daqueles que se enche de orgulho para falar do esporte que pratica e de sua vida de atleta. No basquete em cadeira de rodas, aprendeu a ser competitivo e se reencontrou na vida após uma mudança inesperada. De início, pensar em sentar em uma cadeira de rodas e praticar um esporte parecia loucura, mas mesmo contrariado e um tanto desconfiado, Fernando aceitou o desafio.

– Vamos jogar basquete em cadeira de rodas – disse o homem que abordou Fernando na rua.

– Estás louco? – Fernando retrucou – Basquete em cadeira de rodas? Não, não. Obrigado!

– É sério, cara! Vamos jogar basquete em cadeira de rodas ou pelo menos me passa seu telefone de contato.

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– Tudo bem, te passo meu telefone – Fernando respondeu, ainda contrariado pelo homem que o abordou.

Após a abordagem, Fernando achava loucura praticar um esporte sentado em uma cadeira de rodas. O homem ficou atrás de Fernando, ligava todos os dias.

– Naquela época não existia Whatsapp, então ele me ligava e mandava mensagem todos os dias – Relembra dando uma risada leve – Até que um dia eu me cansei de insistência e da chatice dele e resolvi ir até a Universidade de Santa Cruz do Sul ver do que se tratava.

Chegando na Universidade, Fernando se deparou com diversos cadeirantes tocando suas cadeiras e praticando o esporte. Foi ali, vendo aquilo de perto, que ele sentiu a vontade de provar um pouco mais daquilo e conhecer de fato o que era o basquete em cadeira de rodas.

O que parecia loucura tornou-se motivação. Nas quadras, nasceu o Fernando competitivo, que antes não existia. O esporte trouxe para ele uma nova vida e um novo rumo.

Muito antes de se imaginar em uma cadeira de rodas e até mesmo se tornando atleta, Gaúcho sequer praticava um esporte profissional e nem se interessava por eles. A mudança veio em 2008, quando na saída de uma festa no Rio Grande do Sul, Fernando levou um tiro que atingiu suas costas, trazendo graves sequelas. Fernando não havia se envolvido em brigas na saída na festa, muito menos tinha inimigos, o tiro que o atingiu era de uma bala perdida.

– Fiquei duas semanas na UTI e outras duas no hospital em observação – Conta – Em casa foram mais dois meses sem mexer as pernas, eu estava totalmente paraplégico.

A recuperação veio por conta do incentivo dado por seus pais e seus irmãos. Relutando em fazer os tratamentos, eles motivaram Fernando a frequentar as sessões de fisioterapia após o trauma sofrido. Se tratava por eles.

– O médico dizia que eu não ia caminhar mais, ele dizia que eu até podia fazer a fisioterapia, mas somente para o músculo da perna não atrofiar – Relembra – E eu pensava: cara, eu não vou fazer isso, o médico já disse que eu não vou caminhar mais.

Mesmo com a falta de esperança, Fernando continuou com o tratamento de fisioterapia. As sessões aconteciam em sua casa. Foram seis meses ininterruptos. “E era sempre com meus pais e meus irmãos dizendo: vamos, vamos!”.

O quadro de Fernando evoluiu após os seis meses de cuidados. Durante quatro meses, seu deslocamento era feito por meio de uma cadeira de rodas e era necessária ajuda para toda e qualquer atividade simples, desde comer até tomar banho.

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– Eu comecei a sentir que a força estava voltando com o tratamento e comecei a caminhar bem devagar dentro de casa.

Onde antes não havia perspectiva de recuperação, como previsto pelo médico, aconteceu uma evolução e tanto. Após os quatro meses se locomovendo de cadeira de rodas, Fernando passou a usar muletas. No início, com muita dificuldade. Mas, ali foi sua primeira conquista.

Para Dona Noeli, mãe de Fernando, assistir e acompanhar toda a fase de recuperação do filho foi uma tarefa difícil e desafiadora. Lembrar dos anos e do acontecido é bem complicado.

– Eu fico muito revoltada quando tenho que falar sobre isso – Desabafa – Meu filho quase perdeu a vida por causa de uma bala perdida, por causa de pessoas sem noção que não sabem se divertir sem uma arma.

Noeli lembra que Fernando não aceitava ser cuidado no início do tratamento.

– O tempo de recuperação foi bem difícil devido à situação em que ele estava e também porque ele não aceitava – Relembra dona Noeli.

A ajuda de enfermeiras e fisioterapeutas foi essencial, mas a revolta do filho era o que assustava e também dificultava o caso.

– Graças a Deus e ao pai dele, que não deixou ele se acomodar, tudo deu certo. Para quem não iria mais caminhar, ele está muito bem e nós todos ajudamos muito para ele se recuperar.

Após as dificuldades, a rapidez na recuperação de Fernando foi surpreendente. Em 2008, era certo que ele não andaria mais. No final de 2009, Gaúcho já estava andando de muletas e à procura de emprego.

– Eu levava horas para conseguir andar 100 metros com a muleta. Mesmo assim, eu ia, tentava, me esforçava.

O resultado de todo o esforço de Fernando foi apresentado ao médico que havia dado como certo que ele jamais voltaria a andar. Ainda na cadeira de rodas, ele decidiu ir ao consultório do doutor para uma consulta.

Assim que entrou no escritório, o médico cumprimentou Fernando.

– Como tu estás? – Perguntou.

– Estou ótimo – Respondeu Fernando.

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Para o doutor era muito bom ver seu paciente respondendo que se sentia ótimo, ainda mais em tais condições.

– Fico feliz que você esteja se sentindo bem, Fernando.

Com a resposta do médico, Fernando, por impulso, decidiu mostrar ao seu médico o motivo de estar ótimo. Com os braços apoiados na cadeira, ele se esforçou e conseguiu ficar em pé na frente do doutor que, um dia, havia dito que ele não voltaria mais a andar.

A atitude de Fernando surpreendeu o médico, que não entendia como aquilo estava acontecendo daquela forma. Foi quando seu paciente decidiu falar.

– Eu acho que o senhor deveria voltar a estudar medicina porque de medicina o senhor não sabe nada.

De lá para cá, a vida de Fernando começou a melhorar. Empregado na área administrativa e com a vida estável, ele também fazia parte do time de basquete em cadeira de rodas no Rio Grande do Sul, onde iniciou a carreira. No time de lá, foram dois anos disputando sem ganhar títulos.

– No Rio Grande do Sul, jogando basquete em quadra, não cheguei a ganhar títulos, mas fui bicampeão do Street Ball, que é o basquete de rua, jogado três contra três.

A dedicação de Fernando ao esporte começou a mudar e ele passou a gostar cada vez mais do que praticava. Até que um dia seu irmão se mudou do Rio Grande do Sul para a cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina e, através dele, Fernando ficou sabendo da existência da Associação de Apoio às Famílias de Deficientes Físicos (Afadefi). Curioso, procurou pela Afadefi no Facebook e fez contato.

– Eu perguntei pelo Facebook se eles tinham um time de basquete na associação e disseram que sim. Me passaram o contato do Marcos, que era diretor na Afadefi na época – Conta Fernando.

Em contato com Marcos e prestes a disputar os Jogos Abertos do Rio Grande do Sul, Fernando soube que o diretor da Afadefi estaria naquela semana em Porto Alegre. Mas sequer sabia quem era Marcos, apenas tinha seu contato.

Marcos, sabendo que Fernando teria jogo por aqueles dias, foi assistir a uma das disputas do Jogos Abertos do Rio Grande do Sul e ali acreditou que o atleta era diferente.

– Você que é o Fernando? – Perguntou Marcos ao se aproximar dele ao final da partida.

– Sim, sou eu – Respondeu Fernando.

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– Sou o Marcos da Afadefi, estava vendo seu jogo – Falou – Você tem interesse em ir jogar em Balneário Camboriú?

A pergunta de Marcos foi inesperada, mas Fernando já tinha sua resposta.

– Sim, tenho interesse sim.

– Então você tem uma semana para mudar para Balneário e começar a jogar com a gente – Respondeu.

A proposta de Marcos foi acatada por Fernando. Ele se demitiu do trabalho, avisou para família que se mudaria para outro estado para jogar basquete em cadeira de rodas, arrumou suas coisas e partiu.

– Eu não estava nem aí se ia dar certo ou não, eu só fui – Conta.

Com as malas prontas, no ano de 2012, Fernando rumou de Santa Cruz do Sul para Balneário Camboriú. Tinha um único objetivo: ganhar espaço no esporte e seguir sua vida de atleta.

O desafio às cegas deu certo. Em Balneário Camboriú, Fernando se apaixonou pelo paradesporto e passou a se considerar um atleta de verdade. Foi pelo time da Afadefi que teve a oportunidade de viajar para vários cantos do Brasil para competir e teve o prazer de conquistar um título.

– Hoje já tenho quatorze títulos pela Afadefi e é um prazer imenso – Declara Fernando, sorrindo orgulhoso.

Fernando, é o tipo de atleta que sabe levantar e motivar sua equipe. Seu primeiro técnico da modalidade em Balneário Camboriú, Juliano Barros de Souza, conhecia muito bem seu atleta e quais suas características principais.

– O Gaúcho sempre foi um cara bem motivado, que sempre treinou sério e forte – Afirma o ex-técnico de Fernando – Nos jogos, ele sempre tenta colocar o pessoal para cima e está sempre incentivando os outros.

Mesmo com o alto número de títulos em pouco mais de quatro anos de time, Fernando busca mais e pensa em mudar de esporte. A ideia é sair do coletivo e ir para o individual.

– Quero ir para handbike – Confessa, com um brilho no olhar – É um esporte de velocidade, eu gosto e é individual. Como sou competitivo, acredito que combina comigo.

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Fernando ainda não sabe se realmente vai mudar sua modalidade esportiva. Quando olha para trás e enxerga as mudanças de sua vida, reconhece que deve muito ao esporte, especialmente ao basquete em cadeira de rodas. O que um dia ele cogitou ser uma loucura de um homem passando na rua, mudou totalmente o seu destino e deu a ele uma nova perspectiva.

A MODALIDADE O Basquete em Cadeira de Rodas é uma modalidade adaptada, nela existem classes funcionais que vão de 1.0 a 4.5. As classes representam o grau de deficiência e dificuldade de cada atleta. Quanto maior a deficiência, menor é a classe funcional do atleta.

Para se montar um time de basquete adaptado, é necessário que a equipe some 14 pontos, para isso é somado os pontos de cada um dos atletas do time, chegando ao total necessário.

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Foto: Daniella Elize Machado

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(Re)aprender No galpão com mesas espalhadas, o barulho constante da pequena bolinha quicando mostra que se trata de um jogo rápido. É ali onde está Silvana Aparecida Rodrigues, de 38 anos, uma mulher que entende dos imprevistos da vida. A passos lentos, Sil, como gosta de ser chamada, larga sua raquete, abandona o treino por um tempo e se aproxima. A mulher de cabelos curtos e escuros é sorridente e é nítido o quanto ela gosta de estar naquele galpão junto aos seus colegas.

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– Boa tarde – Cumprimenta com a voz um tanto enrolada – Pode perguntar o que quiser.

Sil pratica tênis de mesa e é uma atleta consagrada em Itajaí. Apesar de morar em Joinville, não falta em nenhum de seus treinos que acontecem na cidade do Litoral Norte catarinense. O amor pelo esporte fala mais alto que os quilômetros de distância a serem percorridos para chegar aos treinos.

– Não tenho problema em vir para cá, eu gosto muito de estar aqui – Conta.

Ela entrou para o mundo das minis raquetes há cinco anos, quando foi convidada por uma amiga para conhecer o tênis de mesa e participar ativamente da modalidade. Sem hesitar nem um pouco, Silvana aceitou o convite.

– A Regina, que me convidou, não tem um braço e uma perna, então eu me perguntei: se ela consegue, porque eu não conseguiria? – Conta, se esforçando para se recordar do momento.

Silvana e Regina se conheceram em Joinville e é a ela que a paratenista agradece por ter mudado sua vida para melhor.

– A Gina era especial como eu, então eu aprendi muito com ela, sabe? – Sil abre um sorriso ao citar a amiga.

São cinco anos de ganhos com o tênis de mesa. Antes, não havia tantas perspectivas, agora há mais esperança, fé e também força de vontade para continuar.

– Eu não tinha interesse em nada e então a minha vida mudou da água para o vinho aos 19 anos de idade quando eu tive um AVC. Apesar da pouca idade para sofrer um acidente vascular cerebral, Silvana foi vítima de um mal que poderia ter sido fatal. Era um dia comum quando, aos 19 anos, estava ajudando a mãe nos afazeres de casa e começou a passar mal. Os sinais eram do AVC. – Eu estava varrendo a casa e foi de repente, deu! Eu fiquei um mês na UTI e mais 20 dias internada no quarto.

Silvana se esforça para conseguir puxar da memória o que aconteceu com ela um pouco antes disso e relembrar detalhes do dia que passou mal, mas o AVC deixou sequelas e uma delas afeta a parte das lembranças.

– É um pouco difícil conseguir lembrar do passado, se eu fico pensando – Silvana fala com dificuldade – Eu até consigo me lembrar das coisas do passado, mas eu demoro e as atuais, se me falar muito rápido, eu não consigo assimilar tudo. Tem que ir falando devagar, para o meu cérebro conseguir captar.

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Uma outra sequela que o AVC deixou em Silvana foi a paralisia parcial do lado direito, os braços e as pernas não funcionam mais. A mulher, que antes era destra, precisou retomar a vida e aprender a fazer tudo outra vez com o lado esquerdo.

– A minha vida mudou bastante, antes eu fazia tudo com essa mão aqui – Silvana aponta para a mão direita – Eu passava, cozinhava, era tudo com a mão direita e eu fui reaprendendo a usar a mão esquerda.

A paralisia parcial traz para Silvana dificuldades até mesmo para andar. Seus passos são um pouco mais lentos e suas pernas não dobram como deveriam, mas não é algo que ela dê importância.

A fala de Silvana também é um pouco mais lenta e, em alguns momentos, a paratenista tem dificuldade para lembrar de algumas palavras ou elaborar uma frase com o raciocínio completo.

– Quando eu conto a minha história de ter tido um AVC ainda nova, as pessoas se surpreendem por ter sido na flor da idade. Algumas chegam a me perguntar se eu tinha algum problema e o que aconteceu.

Sem saber ou lembrar direito as causas, Silvana se recorda que passava por dificuldades familiares antes de ter problemas de saúde. Em sua casa, era ela quem cuidava da mãe, que precisava de uma atenção especial, e ainda precisava lidar com as brigas constantes entre seus irmãos mais novos.

– Aconteceram muitas coisas e eu acho que até um pouco disso pode ter influenciado para eu ter o acidente. Meus irmãos brigavam muito e eu não podia falar nada, porque aí acabava sobrando para mim, entende? – Silvana relembra com o olhar distante.

Antes de sofrer o AVC, Silvana levava uma vida comum, além de cuidar da mãe, ela trabalhava vendendo sorvetes para ajudar na renda da família. O esporte sequer era uma ideia em sua cabeça.

O próprio tênis de mesa era conhecido por ela somente como um esporte que se praticava nas aulas de educação física na escola. Não imaginava que era uma modalidade profissional.

No esporte foi que Silvana cresceu, se encontrou e o mais importante, foi por meio das raquetes do tênis de mesa que mudou a sua vida.

– O tênis de mesa é uma evolução importante, porque eu estava em casa fazendo nada. A Gina que me ensinou tudo e eu aprendi muito com ela. Aprendi a sacar, receber, toques.

Agora eu sei dar cortes e mais um monte de coisa que eu não sabia – Finaliza Silvana, falando pausadamente com a voz um tanto infantil e sempre alegre.

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Durante os cinco anos em que pratica a modalidade, Silvana se tornou nome conhecido por Itajaí. A paratenista já foi para diversos países em competições, entre eles Argentina e México. Silvana também soma títulos estaduais.

As conquistas e reconhecimento que Silvana ganhou também vem de sua competitividade.

Exigente consigo, Sil se cobra a cada saque ou batida errada na bolinha. Seu olhar de frustração e cobrança fica ainda mais apurado quando está em competições. Basta um errinho para sua voz soar alto: “Não Silvana, não é assim”. Mas os acertos também são comemorados com um sorriso nos lábios e falas: “Isso, Silvana! Isso, Silvana!”.

– Eu fui campeã brasileira e sou tricampeã do Parajasc, agora vai ser a quarta vez. Se Deus me permitir, vai vir a quarta – Silvana conta os títulos da competição local nos dedos, já esperançosa em conquistar mais um.

O brilho no olhar ao falar de suas conquistas e também da modalidade que pratica revela o amor que Silvana sente pelo esporte que faz e que a transformou para melhor. Foi além da evolução, o tênis de mesa se tornou esperança.

– O tênis de mesa para mim é um aprendizado a cada dia, um aprendizado de cultura, de lazer, de força e de esperança para tudo – Define a atleta – Eu acho que temos que nos engajar porque é bom, é produtivo, ficar em casa para quê? O tênis de mesa é um alento para minha deficiência.

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A MODALIDADE No Tênis de Mesa adaptado a classificação dos atletas é feita a partir do alcance de seus movimentos, força muscular, restrições motoras, equilíbrio na cadeira de rodas e a habilidade de segurar a raquete.

Na modalidade, os atletas são divididos em até 11 classes diferentes. São elas: TT1, TT2, TT3, TT4 e TT5, para os atletas cadeirantes. A classe TT6, TT7, TT8, TT9 e TT10 são para os atletas andantes e a T11 é composta por atletas andantes com deficiência intelectual.

Uma outra diferença do esporte adaptado para o convencional, é que a raquete pode ser amarrada na mão do atleta e é permitido o uso de órteses, próteses, muletas e os que desejarem podem usar um tênis mais alto para compensar a diferença de comprimento das pernas.

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Foto: Jornal O Município

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A força das águas Uma mulher quando espera um filho aguarda ansiosa as 40 semanas se passarem para, finalmente, poder dar à luz ao ser que está sendo gerado dentro de si. Toda mãe espera que, após os nove meses de gravidez, seu filho venha ao mundo com saúde e sem nenhum problema ou imprevistos.

Com Matheus Rheine, não foi exatamente assim.

Matheus ficou no ventre de sua mãe por pouco mais de 24 semanas e veio ao mundo quando a gravidez ainda estava nos seis meses e meio. Nasceu bem antes do prazo previsto pelos médicos, com 1,240 kg e 39 cm. O nascimento prematuro veio acompanhado de complicações. O garoto precisou ficar na incubadora da maternidade até estar totalmente saudável para ir para casa. O que dificultava ainda mais o caso era o fato dele ter bronquite, diagnosticada logo no nascimento.

As semanas na incubadora, para o pequeno Matheus se desenvolver melhor, mudaram sua vida para sempre. A criança de poucos dias de vida perdeu completamente a visão. Matheus ficou cego por causa do excesso de oxigênio da incubadora.

– Eu não sei bem o que aconteceu comigo, se queimou a retina, se foi deslocamento, mas eu sei que o nome é retinopatia da prematuridade – Explica Matheus.

Para a mãe de Matheus, dona Rose, a pior parte foi deixar o filho por dois meses na maternidade. O bebê precisava ganhar peso, enquanto ele não atingisse os 2 kg, teria que continuar internado.

– O dia que ele chegou ao peso necessário, fui correndo atrás do médico igual uma louca para pedir para levar meu filho – Relembra dona Rose.

Segundo a mãe de Matheus, os médicos de Brusque alegam que o fato do menino ter ficado cego não foi consequência de negligência médica e sim porque a cidade não tinha uma UTI Neonatal e a incubadora onde ele ficou não possuía controlador de oxigênio.

– Mas isso a gente releva. Tudo depende de como você vê quando acontece uma coisa desse tipo na sua vida. Eu sempre falo que há quem diga que quando tem um filho com problema, é como se ganhasse um brinquedo quebrado – Conta – Graças a Deus eu nunca pensei assim, meu filho é o maior presente na minha vida e minha maior riqueza.

Segundo o doutor Andresson Figueiredo, especialista em oftalmologia, a retinopatia da prematuridade ocorre quando os vasos ópticos não se desenvolvem, não chegam até a periferia da retina.

– Esses vasos começam a virar uns novelinhos que a gente chama de neovaso e aí começa a aparecer uma borda estranha, levantada, que cresce e causa uma fibrose. Isso pode puxar a retina, descolar ela e causar uma perda permanente da visão.

Os pais de Matheus tiveram muitas dificuldades para lidar com a deficiência visual do filho.

Quando soube da cegueira total dele, a única reação que sua mãe teve foi chorar por uma noite inteira. Seu garoto, apesar de ter nascido prematuro, tinha vindo ao mundo com a visão perfeita, jamais pensou em receber uma notícia daquela.

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– A mãe conta que, depois de chorar, prometeu que me daria a melhor vida possível e me trataria como uma criança normal, como todas as outras – Relata Matheus, com a voz calma.

E foi assim que aconteceu. A infância de Matheus foi como a de todo garoto, com brincadeiras na rua, cercada de colegas, passeios de bicicleta e também de skate. Eram atividades normais. Sua mãe sabia que ele podia praticá-las e não tinha motivos para impedi-lo.

A infância de Matheus foi aproveitada da melhor forma possível, o menino era travesso na escola e também em casa, lembra dona Rose. Entre as brincadeiras praticadas por Matheus, as mais comuns eram pegar o carrinho de rolimã e descer as ruas e escalar muros. Não havia restrições e a palavra medo era proibida entre os pais do garoto.

– O pai do Matheus tem muitos méritos quanto a isso, nós sempre falamos sobre o que era perigoso, mas a palavra medo não fazia parte do vocabulário – Conta a mãe de Matheus.

E o rapaz lembra muito bem da liberdade dada pelos seus pais.

– Meus pais me deram liberdade para ter uma experiência que toda a criança tem – Declara Matheus.

Sempre ao lado do filho para dar auxílio, os pais de Matheus, além de darem liberdade ao garoto, também alimentavam sua mente com os detalhes que ele não podia ver através com os olhos.

– Eles sempre conversaram bastante comigo, tentavam me descrever as paisagens, os locais. Tudo com muita riqueza de detalhes. – Conta Matheus, relembrando de sua infância – Então, não teve nenhum problema nesse ponto e eu também era muito de boa para lidar com isso.

Ainda na infância, Matheus sofria com fortes crises de bronquite. Apesar de ser muito novo, tem hoje 24 anos, ainda guarda na memória as diversas vezes que, no meio da noite, acordava com dificuldades para respirar.

– A bronquite me fazia ter crises fortes, fui em vários médicos, fazia nebulização e isso ajudava bastante quando estava em crise – Releva – Mas para melhorar mesmo, o médico recomendou que eu fizesse natação. Eu tinha três anos de idade.

O início na natação, ainda na infância, foi para melhorar a saúde de Matheus, fortalecer os seus pulmões e eliminar as crises de bronquite. O brusquense seguiu com as aulas durante toda a sua infância. Via o esporte somente como mais uma forma de tratamento.

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– Meus pais me colocaram para fazer aula e começar a ser estimulado, para ver se melhorava essa questão da saúde. Aí, quando eu era criança e fui crescendo, praticava a natação pela saúde.

– Conta.

A mãe de Matheus, dona Rose, sabia a importância que teria na vida do filho estar dentro da piscina e, por esse motivo, confiou que a criança não teria problemas por ser cega e estar na água.

– Eu só entreguei o meu filho na mão do professor e disse: ele é todo seu – Relembra – Eu morria de medo de água, mas meu filho precisava daquilo e eu sabia que podia confiar em quem estava cuidando dele.

Com o passar do tempo, o pai de Matheus começou a inserir o filho também em outros esportes.

Um deles foi o futebol.

– Meu pai comprou uma bola com guizo (sino) para me incentivar no futebol, mas nunca gostei muito – Confessa – Eu até brincava com a bola, mas não era minha paixão.

A bola dada de presente para Matheus tinha um motivo, seu pai, José Luís Rheine, já havia jogado futebol. No início da carreira, chegou a disputar algumas partidas ao lado do craque Romário.

Diferente do ídolo brasileiro, o pai do brusquense não seguiu na profissão.

Embora não quisesse seguir os passos do pai, o esporte se tornou cada vez mais presente na vida de Matheus. Nas aulas de Educação Física da escola conheceu um pouco do atletismo.

– Eu fazia atletismo na educação física, corrida e geralmente corria pela rua também. Eu gostava.

O que realmente mexia com Matheus era a natação. Sequer passava por sua cabeça que a piscina mudaria completamente sua vida e que aquele esporte se tornaria sua profissão.

– A natação, pelo fato de eu estar desde criança em contato com as piscinas, talvez tenha incentivado na questão da escolha – Afirma.

Apesar de estar nas águas desde pequeno, Matheus só passou a se dedicar ao esporte em 2006, quando ele descobriu que na natação existiam competições paralímpicas de sua classe, a S11, exclusivas para cegos total.

No ano seguinte, em 2007, Matheus já estava pronto para disputar seu primeiro campeonato, que aconteceu em Brasília.

– Nos anos que se passaram de 2006 até 2008 eu treinava, mas como eu ainda estava estudando, eu não conseguia me dedicar cem por cento a natação – Explica.

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Foi em 2009, ainda em meio aos estudos que Matheus percebeu que a natação de fato poderia mudar a sua vida. Em sua primeira competição internacional, disputada aos 16 anos de idade, as ideias começaram a mudar na cabeça do brusquense.

– Até 2008 por aí, eu ainda não sabia que seria o meu futuro – Relata.

Antes de se formar no Ensino Médio, em 2010, os treinos de Matheus aconteciam três vezes por semana. Depois de formado, a dedicação mudou e passou a ser totalmente focada para o esporte.

– Quando foi minha primeira competição internacional, já começou a despontar muito mais essa ideia na minha cabeça. Eu estava gostando tanto de natação que eu sentia aos pouquinhos que ela estava me trazendo a vida, eu sentia que ela estava despertando dentro de mim coisa que eu, com outras áreas que eu fosse seguir, outros caminhos que eu fosse seguir, eu não teria isso. –Declara, com a voz carregada de amor e orgulho.

Para Matheus, fazer parte da equipe de natação vai além do esporte e de conquistas, ele também pode dar ao atleta autoestima, cultura e novos aprendizados. Foi experiência ele vivenciou ainda em 2009, na sua primeira competição internacional.

– Antigamente eu nem conversava com as pessoas, eu era muito mais fechado no meu mundo, eu gostava muito de jogar, então quando eu não estava estudando eu estava em casa jogando no computador ou vídeo game, mas eu não conversava tanto assim com as pessoas e a partir do momento que eu fiz aquela viagem para os Estados Unidos em 2009, era uma competição de jovens, foi quando eu vi que ali eu poderia aperfeiçoar o meu inglês, conhecer outras culturas, então ia muito além do esporte em si.

E de lá para cá, a vida de Matheus só mudou para melhor com a pratica da modalidade.

O esporte que antes era apenas para melhorar sua saúde, se tornou sua profissão, seu motivo de orgulho e sua verdadeira paixão.

– O fato de eu estar ali competindo, estar nadando me traria algo que mudaria algo por completo e de fato mudou.

Atualmente, Matheus Rheine faz parte do quadro da Seleção Brasileira Paralímpica de Natação e percorre o Brasil e o mundo caindo nas piscinas, em competições nacionais e internacionais.

O atleta foi parar na Seleção Brasileira com a ajuda de um amigo de seu pai que informou da existência do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Matheus procurou saber mais sobre a CPB, encontrou o comitê e a partir de 2009 passou a disputar os regionais, onde todos os atletas iniciam.

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– A partir disso, existem índices para você participar dos nacionais – Explica o atleta – E aí quando você vai para os nacionais é como se fossem escadas, você vai subindo. No nacional tem as pessoas do Comitê que já ficam de olho para ver o potencial do atleta – Conta – Tanto que a Seleção nunca é definitiva, se você não estiver tão bem, você não vai e ela vai se renovando a cada ano. Então nós descobrimos o Comitê através de amigos e por essa competição que eu fui em 2007.

Uma das conquistas do nadador, já disputando pela Seleção, foi em Toronto, no Canadá. De lá, Matheus trouxe para casa a medalha de ouro de sua classe no ano de 2015, nos Jogos Parapan-Americanos. Além de conquistar o lugar mais alto do pódio, o brusquense bateu recorde de tempo, fazendo 27s32, nos 50 metros livres. Naquele mesmo ano, Matheus já havia conquistado medalha de prata no Mundial de natação.

Apesar de colecionar medalhas, uma das maiores conquistas de Matheus aconteceu recentemente, nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, onde o nadador foi medalha de bronze nos 400 metros livres de sua classe, a S11.

– Competir no Rio e ganhar essa medalha teve um peso que nunca mais vai ter igual. Por mais que nas outras Paralímpiadas eu consiga levar meus pais e minha esposa, lá no Rio tinha mais de quarenta pessoas que eu conhecia, tinha parte da família do meu pai, que tem um carinho muito grande por mim, e todos me receberam de braços abertos – Relembra com alegria. Eu me emocionei demais, foi incrível. É uma felicidade que a gente sonha junto, comemora junto, então esse é o peso maior que eu pude trazer com essa conquista e também diante de tanta coisa que a gente passa no país, poder trazer felicidade para tanta gente. Isso não tem preço.

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A MODALIDADE Na natação adaptada também existem as divisões de classes que são divididas por exames funcionais nos atletas, nestes exames são feitos testes musculares, de mobilidade articular e também testes motores na piscina. Na modalidade, quanto maior a deficiência do atleta, menor será sua classe.

A divisão acontece da classe S1 a S10, SB1 e SB9, SM1 a SM10, estas são representadas por atletas com limitações físico-motoras. Já as classes S11, SB11, SM11, S12, SB12, SM12, S13, SB13, SM13 são exclusivamente dos atletas que possuem deficiências visuais e na divisão geral da modalidade também há as classes dos atletas com deficiência mental, representados pelo S14, SB14 e SM14.

Na modalidade também há adaptações nas provas dos deficientes visuais. Os atletas são auxiliados pelo tapper, que usa um bastão para avisar os momentos de virada ou chegada. Os deficientes visuais também usam óculos opacos, para assegurar a igualdade de condições nas provas.

Outra adaptação existente na modalidade é no início da prova, em algumas categorias, dependendo do grau de deficiência do atleta, ele pode iniciar a prova já dentro da piscina, sentado no bloco de partida ou ao lado dele.

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Foto: Washington Alves

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Salto para vida – A escolha é sua, mas se você quiser continuar vivo, nós precisamos amputar sua perna. – disse o médico para o garoto de 15 anos.

Flávio Reitz foi diagnosticado com câncer ósseo no fêmur da perna esquerda e as sessões de quimioterapia não foram capazes de eliminar a doença. A saída era uma só: perder o membro.

– A amputação aconteceu no dia 25 de novembro de 2002 – lembra Flávio.

Mesmo com a retirada da perna, as sessões de quimioterapia ainda eram necessárias.

Foram mais três meses de tratamento até Flávio estar totalmente livre do câncer.

– Em fevereiro de 2003, acabou a quimioterapia e, desde então, eu não tomei mais nenhum tipo de remédio para o câncer.

A vida de Flávio seguiu em frente. Sem se abalar com a perda da perna, o garoto continuou fazendo de tudo. Difícil mesmo era se acostumar com a prótese, que muitas vezes o machucava.

– Eu utilizei a prótese enquanto ela me era benéfica. Eu trabalhava na Sadia da meia-noite às oito da manhã.

O uso da prótese na perna foi necessário nos primeiros anos da amputação de Flávio. As horas de trabalho em pé exigiam que ele tivesse um bom apoio.

– Eu estudava à noite também. Então, eu colocava a prótese às cinco horas da tarde e só tirava umas nove da manhã do dia seguinte – explica.

Flávio percebeu que o uso da prótese era desnecessário a partir de 2006, quando começou a trabalhar na Prefeitura de Francisco Beltrão, no Paraná, cidade onde nasceu. Ficar sentado durante horas trazia incômodo e também feridas em sua pele.

– Passei a trabalhar sentado e ela me deixava um pouco torto, muito desconfortável. Nesse meio tempo, comprei um carro também, era quase o tempo todo sentado.

Ao todo, foram três anos caminhando com o auxílio da prótese.

– Usei muito, além do limite dela, desgastou muito. Umas peças que são móveis se danificaram por conta do atrito e eu não achei peças de reposição. As peças que tinha para repor teriam que vir da Alemanha. O custo benefício não valeria a pena.

As próteses antigas ainda estão guardadas com Flávio. Apesar de não fazer mais uso delas, estão debaixo da cama, em seu quarto.

– Às vezes, quando eu quero fazer alguma coisa, coloco por meia hora, mas já me canso porque ela fica apoiada num único ponto e machuca, faz ferida.

Sem as próteses para auxiliar na caminhada, Flávio optou por usar muletas e, desde então, se tornaram inseparáveis. Com elas, Flávio ficou mais independe do que antes. No início,

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para se adaptar e reaprender a andar, foi complicado. Antes, ele tinha duas pernas para se apoiar, agora Flávio precisava usar os braços como meio de locomoção.

– No começo, era bem difícil. Não tinha força nos braços para aguentar muito tempo e também não tinha força na perna para ficar em pé – relembra Flávio, com o olhar distante.

O processo de aprendizagem para sua nova realidade de vida foi marcado pelas dores.

Além da dificuldade inicial, ele também tinha que lidar com os machucados que apareciam com o tempo.

– Foi um processo de adaptação muito doloroso. Andava 50 metros e o braço começava a doer, a minha mão ficava toda calejada, o meu ombro ficava todo dolorido porque não estava acostumado. É a mesma coisa de uma criança que aprende a engatinhar e depois vai andar – compara.

Flávio percebeu que havia se acostumado totalmente a sua nova vida quando conseguiu andar por mais de um quilômetro com a muleta.

– Me acostumei. Um dia cheguei a andar sete quilômetros de muleta. Foi um processo doloroso, todo dia era uma dor diferente, num lugar diferente. Mas valeu a pena porque me fez aprender a dar valor as pequenas coisas.

Em meio ao progresso em sua adaptação, o homem alto de cabelos negros e sorriso fácil, também teve que aprender a lidar com o olhar das pessoas na rua. Olhares de pena e preconceito que se dirigiam para onde não estava mais a sua perna.

– Tive que aprender a não dar ouvidos às bobagens que as pessoas falam e aos olhares de preconceito, dó, pena. Isso não me fazia bem e eu aprendi a bloquear. Se não faz bem para mim, eu tenho que bloquear.

Lidar com a autoestima foi tarefa mais fácil para Flávio. Apesar de se sentir mal em alguns momentos, pelo fato de ter perdido uma perna, ele não se deixava abater.

– Tive alguns períodos de abatimento, mas não necessariamente por causa da autoestima.

O que vinha na minha mente era: por que está acontecendo isso comigo? Por que eu?

Todo o processo de aprendizagem que Flávio passou ainda jovem o fizeram crescer rapidamente.

– Amadureci uns cinco anos em seis meses. Tive que aprender sobre responsabilidade, a responsabilidade de ficar vivo ou estar morto. A decisão era minha – conta com brilho nos olhos e um sorriso no canto dos lábios.

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Para a mãe de Flávio, dona Elani Therezinha Reitz, acompanhar a doença do filho foi bem difícil no início.

– O mundo desabou. Não conseguia aceitar a ideia de tirarem a perna dele.

Mas a força de mãe estava com dona Elani, que sabia da necessidade de apoiar o filho em sua escolha e de estar ao seu lado enquanto estivesse doente.

– Tive que me reerguer para dar força para o Flávio, para enfrentar o tratamento.

Dona Elani conta que não interferiu na decisão do filho em amputar a perna. Para ela era um tipo de escolha que só cabia ao seu garoto.

– Antes de chegar a decisão, nós buscamos a opinião de outros médicos. Em nenhum momento eu interferi, isso era uma decisão que só cabia a ele.

A mãe de Flávio via nele vontade e coragem. Seu filho nunca se deixou abater e, mesmo após a perda da perna, continuou seguindo em frente.

– Ele é um batalhador – afirma orgulhosa.

A vida seguiu em frente. Flávio entrou para a faculdade, onde cursou Geografia, e também passou em um concurso público para trabalhar na Prefeitura de Francisco Beltrão. Nada mais o abatia. Ele estava bem estabelecido e a vida parecia que iria acalmar. Mas, mudanças radicais estavam por vir.

Tudo começou com o handebol em cadeira de rodas. O time foi montado ainda no Paraná, mas a cidade onde Flávio vivia não tinha grandes investimentos no mundo esportivo.

– No final de 2008, a gente montou uma equipe de handebol em cadeira de rodas lá em Francisco Beltrão. Treinei ali uns dois meses e, em janeiro de 2009, a gente veio jogar o Itajaí Handebol Cup – lembra com alegria.

Em Itajaí, conheceu o pessoal do Clube Roda Solta, entidade paradesportiva da cidade no Litoral Norte catarinense.

– Eles me fizeram o convite de vir conhecer outras modalidades e eu aceitei na hora.

No início, Flávio viajava do Paraná até Santa Catarina para passar os finais de semana e treinar. Aqui, praticava esportes e conhecia novas modalidades. Foi assim que surgiu a enorme paixão pela prática esportiva.

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– Conheci o basquete, o atletismo, as provas de arremesso de peso, dardo e disco – Flávio sorri ao lembrar. E as coisas se encaixaram tão bem que comecei a gostar dessa vida de atleta, do que isso poderia me proporcionar.

Tomado pelo amor e pela emoção que o esporte proporcionou, Flávio decidiu se mudar para Itajaí, mesmo com poucos meses de paradesporto. Sem saber se a vida de atleta daria certo ou não, deixou o Paraná para morar no litoral de Santa Catarina.

– Naquela época, eu era concursado no município de lá, na área de tributos. Mesmo assim, em poucos meses, decidi vir morar em Itajaí. Abandonei concurso, família, amigos, namorada, tudo que eu tinha lá, minha base toda, para vir morar para cá.

Flávio deu um tiro no escuro ao decidir se mudar para outro estado. Difícil mesmo foi convencer dona Elani a aceitar a mudança de seu filho. Mas os argumentos usados por Flávio a convenceram.

– Eu falei para ela assim: o que pode acontecer? Na pior das hipóteses, posso dar com os burros na água, não dar certo como atleta e voltar para cá, arrumar um emprego e voltar a trabalhar. Ela teve que concordar e eu vim.

Na nova cidade, com os parentes mais próximos 600 km de distância, Flávio se tornou um desgarrado do mundo, expressão cunhada por ele em meio a mudança em sua vida.

– Vim para cá e trabalhei seis meses na Unimed, no final de 2009. No ano de 2010, fui trabalhar como professor.

Em meio a essas mudanças, havia mais um detalhe: o local em que Flávio morava.

– Morei um ano e meio, da metade de 2009 até o ano de 2010, dentro do ginásio Ivo Silveira, no bairro Fazenda, junto com um amigo – relembra Flávio entre risos.

Ainda em 2010, o paranaense passou a se destacar no paradesporto, na modalidade de atletismo, no lançamento de dardo. Nesse mesmo ano, a professora Aline Barros, atual coordenadora do paradesporto de Itajaí, abordou Flávio para apresentá-lo ao salto em altura.

– No primeiro momento, fiquei meio relutante. Topei fazer uns testes e notei que ia dar resultado. Em 2011, comecei a treinar efetivamente.

Aline estava certa ao apresentar o salto em altura para Flávio. No ano seguinte, em 2012, Flávio foi convocado para disputar os Jogos Paralímpicos de Londres pela Seleção de Atletismo.

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– Terminei classificado em 5º lugar e aí entrei no ciclo para o Rio 2016, sempre evoluindo e em busca de novas parcerias – conta animado.

Dois anos após representar o Brasil nos Jogos de Londres, Flávio buscou uma nova parceria com o técnico Sidney Alexandre Reinhold, da cidade de Timbó. É com ele que o paratleta treina até hoje.

– Ainda em 2014, conquistei uma marca boa no salto, 1,74 m. Foi uma marca bem expressiva – explica.

Com os treinos constantes e a melhor marca cravada na mente, Flávio foi disputar os Jogos ParaPan, em 2015, na cidade de Toronto. Foi lá que atingiu sua melhor conquista.

– Foi a minha maior conquista internacional. Fiquei com a medalha de prata – Conta orgulhoso.

No mesmo ano, Flávio disputou o Campeonato Mundial de Atletismo, que aconteceu em Doha, no Catar. Na competição, o paratleta de Itajaí ficou com a 7ª colocação no ranking geral.

Em 2016, foi a vez de disputar os Jogos Paralímpicos em casa, no Rio de Janeiro.

– No Rio, no momento em que eu estava saltando para ficar entre os cinco melhores, acabei virando o pé. A partir daí, não conseguia mais saltar. A marca que eu estava tentando só quatro ou cinco adversários fizeram. Então, eu teria condições de brigar por medalha. A marca que fiz me deixou em nono. Isso acontece – comenta o atleta, sem lamentações.

O que vale muito mais é a sensação de ser convocado e representar o país em uma competição internacional.

– Fico imaginando o que as pessoas sentem ao ouvir o hino nacional numa competição assim. Deve ser algo realmente indescritível. Eu já acho indescritível estar lá, imagina ouvir o hino – divaga com os olhos distante e com um sorriso na boca.

Flávio ainda não ouviu o hino do Brasil soar em uma competição deste nível, com ele no ponto mais alto do pódio. Mas ele conhece a sensação de conquistar medalhas representando o país.

– A minha foi de prata, mas mesmo assim foi algo maravilhoso. Foi a primeira medalha do salto em altura para o Brasil numa competição internacional paralímpica. Bati o recorde Pan-Americano lá, recorde do evento, recorde brasileiro. Teve toda uma série de critérios e itens que fizeram parte daquela conquista. Isso tudo é muito bom.

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Ao olhar para trás, Flávio sequer imaginava que um dia pudesse chegar aonde está hoje, com tantas conquistas e seu nome reconhecido.

– Quando eu saí da minha cidade, meu objetivo era ser atleta. Hoje eu sou atleta, faço só isso, e realmente eu não tinha a menor noção de onde eu ia chegar. Eu sabia que ia lutar, dispor dos meus recursos e forças, mas não tinha noção, lá em 2009, que em 2012 eu estaria numa paralímpiada, para mim aquilo era uma utopia bem grande, nunca havia passado pela minha cabeça.

O esporte se tornou tudo para ele. Foi com o esporte que viu portas se abrirem e teve a oportunidade de conhecer novos lugares e pessoas. Era um mundo totalmente novo, cheio de possibilidades.

– O esporte me proporcionou conhecer pessoas maravilhosas, uma delas é a pessoa com quem eu estou casado hoje. Agradeço muito por ela ter insistido para eu fazer salto em altura – Flávio sorri ao falar de Aline, sua mulher. A insistência dela me fez acreditar e eu sou muito grato.

O paratleta, que correu atrás daquilo que queria para sua vida, conquistou tudo o que buscou.

– Basicamente hoje as coisas que eu tenho e o que eu sou são frutos oriundos do esporte.

E não há brechas para o arrependimento bater. Flávio, que jamais vai abandonar o esporte, mesmo depois que parar de competir no salto em altura, pretende continuar, por outra modalidade ou de alguma outra maneira. O importante é que Flávio jamais se arrependeu de como entrou para a vida de atleta.

– As pessoas me perguntam muito assim: Ah, mas tu morou no ginásio, abandonou família, concurso, tu sofreu, tu faria tudo de novo? Eu não me arrependo. Eu faria tudo de novo, eu amo o que faço.

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A MODALIDADE No atletismo adaptado existem cinco categorias reconhecidas pelo Comitê Paralímpico Internacional. São elas: as classes dos atletas com paralisia cerebral, deficientes visuais, atletas em cadeira de rodas, amputados e os chamados de les autres, que possuem restrições físicas, mas não se encaixem em outras categorias.

No salto em altura adaptado, as provas individuais são disputadas apenas pelos homens. A competição conta com as disputas de atletas com as seguintes deficiências: membros superiores amputados, membros inferiores amputados que usam prótese e aqueles de membros inferiores amputados que não usam prótese.

Já as regras do salto em altura paralímpico e do convencional não mudam, cada atleta pode saltar três vezes, caso erre o número máximo, é eliminado. A cada rodada a barra aumenta cerca de 2cm.

A classificação na modalidade é dividida em: F11 a F13 para deficientes visuais, F20 para deficientes mentais, F31 a F38 para paralisia cerebral, sendo das classes 31 a 34 para cadeirantes e da 35 a 38 para andantes. F40 para anões, F41 e F46 para amputados e les autres e F51 a F58 para cadeirantes de sequelas da poliomielite, lesões medulares e amputações.

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Foto: Arquivo pessoal

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A resistência Gevelyn de Almeida ainda lembra do dia exato em que sua vida mudou por completo: 20 de março de 2000. Ela foi atropelada por uma moto e precisou ser socorrida pelas pessoas que passavam pela rua. O motociclista causador do acidente não prestou nenhum tipo de socorro.

– Na queda, eu bati a cabeça e isso me deixou alguns minutos sem visão, mas ela retornou aos poucos - relembra Gevelyn.

O acidente fez ela bater o quadril, os ombros e as pernas, causando fraturas no quadril e no cóccix. Mas, o mais grave foi a sequela deixada pelo atropelamento. O diagnóstico final dado pelos médicos foi de trauma raquimedular a nível lombar.

– Fiquei internada por 12 dias no hospital – conta.

Na época, Gevelyn tinha apenas 19 anos e havia perdido o movimento das pernas.

– Até hoje não sei se a minha lesão foi na remoção do local do acidente ou pelo acidente em si. Fiquei em um lugar perigoso correndo o risco de ser atropelada novamente, então populares me removeram do local onde cai.

Receber a notícia que iria depender de cadeira de rodas, não foi fácil para a garota, que apesar de ter a família ao seu lado, se viu em um estágio depressivo.

– No começo foi bem complicado quando recebi a notícia que ia depender de uma cadeira de rodas – Revela com a voz distante – Eu passei por um período de depressão, de não querer fazer nada, de depender diretamente das pessoas da minha família para fazer tantas coisas que antes eu fazia sem nenhum problema e sem depender de ninguém.

Após o acidente, Gevelyn precisou passar por diversos tratamentos com fisioterapeutas já que sua lesão não era completa. Mas, nem sempre as sessões a faziam bem.

– Eu sempre fiz fisioterapia para tentar reestabelecer alguma coisa dos movimentos que eu tinha quando caminhava. No começo, buscava cumprir metas, digamos assim: “Ah, você tem que fazer isso porque você vai conseguir aquilo”, então a fisioterapia foi um período de cumprir metas. Mas, quando eu fazia o que o fisioterapeuta falava e a meta não podia ser alcançada, isso me frustrava.

Restou para Gevelyn aceitar a deficiência e buscar seguir sua vida, que começou a se transformar sete anos após o acidente, quando ela conheceu a Afadefi, associação para deficientes físicos em Balneário Camboriú.

– Eu não imaginava que tinha esportes para pessoas com deficiência – Confessa.

Lá, Gevelyn viu que não só existia o esporte, como ele poderia modificar a sua vida e ajudá-la a se tornar mais independente.

– Eu fui até a associação buscar ajuda para uma cadeira de rodas e aí me convidaram para praticar esporte.

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Hoje, com 36 anos, Gevelyn gostaria de ter sido apresentada antes para o mundo dos esportes adaptados.

– Se tivesse conhecido antes, talvez eu teria muito mais chances de ter uma carreira esportiva com diversas oportunidades – Lamenta – Na época do acidente eu tinha 19 anos e quando eu conheci o esporte já estava com 26.

Gevelyn gostaria de ter conhecido as modalidades esportivas adaptadas antes não só pela carreira esportiva que poderia ter construído, mas também pelos ganhos de habilidades que se adquire para o dia a dia.

– Um exemplo é poder usar minha cadeira de rodas com mais autonomia, sem depender tanto de ajuda – Revela com alegria – Não que eu não aceite receber ajuda, mas tem a questão de ter mais independência, porque você pode aprender com as condições e limitações e pode ajudar outras pessoas.

As modalidades que a atleta pratica são atletismo e basquete em cadeira de rodas. Tem um carinho especial pelos dois esportes. O basquete, por exemplo, faz parte de sua vida desde a adolescência.

– Quando eu era adolescente, jogava basquete e disputava torneios entre colégios.

O amor pela modalidade aumentou ainda mais depois de conhecer o esporte adaptado.

– O basquete sobre rodas é ainda mais apaixonante que o convencional, as adaptações são encantadoras.

No atletismo, a paixão da atleta é ainda maior. Gevelyn já teve a oportunidade de participar de mais de 120 provas da modalidade desde 2007.

– Nas provas de resistência, nas corridas de rua, conheci um outro lado, em que eu busco ultrapassar meus maiores limites – Conta em meio a um sorriso – Há toda a magia de não poder fazer do modo convencional, correr com as próprias pernas, mas sim com um equipamento adaptado.

Outras modalidades dentro do atletismo pelas quais Gevelyn se apaixonou foram o arremesso de peso e o lançamento de dardo. Foi praticando esses esportes que ela conheceu diversos países e quebrou recordes nacionais.

– No lançamento de dardo eu sou a atual recordista brasileira – Releva com orgulho.

A marca feita pela atleta de Balneário Camboriú para conseguir o recorde foi de 15 m 67 cm.

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Gevelyn também era recordista no arremesso de peso desde 2013, mas sua marca foi ultrapassada no ano passado, 2016.

Em meio às conquistas da mulher de cabelos pretos e curtos, há também uma outra vitória pessoal. Oito anos após o seu primeiro acidente, a atleta foi atropelada novamente, desta vez em condição de cadeirante. A data do segundo atropelamento também está marcada em sua memória: 19 de março de 2008.

– Estava indo para a associação realizar meus treinamentos, era a primeira vez que iria participar de uma competição nacional – Relembra cabisbaixa.

Neste segundo acidente, a atleta sofreu múltiplas fraturas no quadril, no antebraço direito e perdeu parte de um dedo da mão por causada da força do impacto.

– Eu precisei fazer cirurgia para a colocação de placa e parafusos para a correção da fratura no antebraço. E para não deslocar as fraturas do quadril, precisei ficar mais tempo deitada.

O atropelamento também fez com que a atleta precisasse se adaptar novamente no esporte. As sequelas desta vez foram para o punho, que não flexiona mais e o antebraço que dói por conta de uma fibrose da cirurgia.

– Tive que me adaptar na vida diária de cadeirante porque dependo diretamente das minhas mãos para me locomover.

O fato de ser destra também trouxe mudanças para sua vida.

– De alguma forma não é mais normal como antes, tanto que eu fazia provas de maratonas de 42 km, mas eu precisava rodar o aro da cadeira de competição e o punho me impedia.

Então, fui diminuindo as corridas pelo fato da dor crônica e também das tendinites que me acompanham.

Apesar dos dois acidentes, Gevelyn consegue se virar sozinha nas tarefas diárias e no dia a dia.

– É crônico, então é uma coisa que tenho que conviver – Afirma.

Além da participação no esporte, Gevelyn é envolvida em causas políticas e nas últimas eleições se candidatou como vereadora em Balneário Camboriú.

– Sempre busquei lutar pela bandeira da pessoa com deficiência e estar filiada a um partido político me permite buscar apoio de outra força – Explica – Mas a política não me desvirtua dos meus princípios e daquilo que eu acredito.

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Atualmente, Gevelyn não tem do que reclamar. O que faz é apenas agradecer por ter conhecido o esporte adaptado e com ele se reerguer a cada dia.

– Eu não reclamo da minha vida, faço muita coisa e vejo que é possível por meio das adaptações. Não pratica esporte adaptado quem não quer porque existem diversas habilidades que você pode levar tanto para a sua vida esportiva, como na sua vida pessoal.

O esporte é uma ferramenta que além de inclusão, melhora muito a qualidade de vida.

Tudo isso me abriu também um leque de oportunidades quanto a futuro profissional.

Como aconteceu comigo, pode acontecer com outras pessoas que tem a sua deficiência congênita ou adquirida – incentiva a atleta.

A MODALIDADE Assim como no salto em altura, as provas de arremesso adaptadas têm suas regras.

Mas, diferente do salto, a modalidade pode ser disputada por homens e mulheres com os mais diversos tipos de deficiência.

No arremesso de peso, podem participar atletas com paralisia cerebral andante, paralisia cerebral cadeirante, deficiência visual, deficiência intelectual, amputados inferiores, cadeirantes devido a poliomielite, amputações ou lesões na medula e anões.

Na modalidade, o atleta também tem três chances de fazer o lançamento e as classes participantes ficam divididas da mesma forma que o salto em altura, sendo: F11 a F13 para deficientes visuais, F20 para deficientes mentais, F31 a F38 para paralisia cerebral, sendo das classes 31 a 34 para cadeirantes e da 35 a 38 para andantes. F40 para anões, F41 e F46 para amputados e les autres e F51 a F58 para cadeirantes de sequelas da poliomielite, lesões medulares e amputações.

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Dedico este livro aos meus pais e ao meu irmão. Ao meu avô, que cuida de mim de onde está, a minha avó, que mesmo distante me faz crescer a cada dia, e a todos os paratletas do Brasil, que me inspiraram com sua garra e dedicação para tornar este projeto uma realidade.