Trovadores Hodiernos

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Nยบ1, maio de 2018



Trovadores Hodiernos Conselho editorial da Trovadores Hodiernos é composto por alunas do 12ºE da Escola Secundária de Albufeira da área Científico-Humanística de Línguas e Humanidades, que realizaram este projeto para a disciplina de Português.

Conselho editorial Adriana Filipa Nobre Gonçalves nasceu a 15 de Abril de 1999. Atualmente estudante na área das letras, contribuiu para o design, recolha de informação e meios tecnológicos.

Maëli Yona Marques Contat nasceu a 1 de Dezembro de 2000. Atualmente estudante na área das letras, contribui para o design, recolha de informação e meios tecnológicos.

Daniela Martins Mendes nasceu a 28 de Setembro de 2000. Atualmente estudante na área das letras, contribuiu para o design, edição de fotos e recolha de informação.

Adriana Jacó de Sousa Bento nasceu a 5 de Junho de 2000. Atualmente estudante na área das letras, contribuiu para o design, recolha de informação e meios tecnológicos.

E d i t o r i a l Caros(as) leitores (as), no dia 10 de Abril de 2018 a professora de português Maria de Jesus desafiou a

E é assim que encaramos estes poetas, como pessoas que fogem à norma, escrevendo tudo o que

turma do 12ºE de Línguas e Humanidades da Escola Secundária de Albufeira, a desenvolver um projeto

lhes passa pela cabeça e, portanto, consideramo-los alternativos na sua arte.

sobre a temática “poetas contemporâneos”. Abraçámos este desafio e realizamos assim esta aventura tendo como produto final esta revista. Os poetas destacados são assim Alexandre O’Neill e Ruy Belo com uma pequena biografia, vídeos sobre ambos e análise de poemas, tivemos ainda a colaboração dos nossos colegas com os restantes poetas. Robert Frost, poeta americano do séc. XX disse “Apresentavam-se duas estradas à minha frente, fui pela menos usual. E isso fez toda a diferença.”

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Índice PÁG.5 Biografia e características de Alexandre O’Neill

PÁG. 8 Análise de poemas de O’Neill e mais sobre o poeta

PÁG. 10 Biografia e características de Ruy Belo

PÁG.13 Análise de poemas de Ruy Belo e mais sobre o poeta

PÁG. 15 Informações gerais sobre outros poetas contemporâneos

PÁG.19 Bibliografia Webgrafia

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Alexandre O’Neill Fundador do Surrealismo em Lisboa.

B i o g r a f i a

“Há mar e mar, há ir e voltar.”

Características do poeta Os temas mais abordados por este poeta são o país, onde retrata a realidade social e politíca em Portugal no seu tempo, quando Portugal estava sob o regime Salazarista, retratando o medo das pessoas da altura, abordando também o tema do amor. Este recupera temas tratados por outros grandes poetas da literatura portuguesa como António Nobre (infelicidade no regresso a Portugal e o regresso à infância), Fernando Pessoa (dor de pensar, ceticismo, visão antimetafísica), Cesário Verde (representação do quotidiano e da vida urbana em Lisboa) e Nicolau Tolentino (sátiras presentes nos poemas). Em relação à sua linguagem, estilo e estrutura, este utiliza pontuação expressiva, prescindindo das regras gramaticais, e usando um jogo lúdico e ilúcido de palavras, com bastante ironia e trocadilhos adequados e perspicazes, um discurso povoado de neologismos, calão, gíria e tudo mais que pudesse tirar os portugueses do sério. 5

Alexandre O’Neill nasceu a 19 de setembro de 1924 em Lisboa, Portugal. Depois de concluir os seus estudos no liceu, seguiu na Escola Náutica de Lisboa. Autodidacta, O'Neill foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa. É nesta corrente que publica a sua primeira obra, o volume de colagens A Ampola Miraculosa, mas o grupo rapidamente se desmantela e acaba. As influências surrealistas permanecem visíveis nas obras dele, que além dos livros de poesia incluem prosa, discos de poesia, traduções e antologias. Não conseguindo viver apenas da sua arte, o autor alargou a sua acção à publicidade. É da sua autoria o lema publicitário «Há mar e mar, há ir e voltar». Foi várias vezes preso pela polícia política, a PIDE. Um realista subversivo, um realismo transtornadopor influências quer de Cesário Verde ou pela breve mas fortíssima experiência surrealista.


Alexandre O’Neill

ARTE POÉTICA

“Que quis eu da poesia? Que quis ela de mim? Não sei bem. Mas há uma palavra francesa com a qual posso perfeitamente exprimir o rompante mais presente em tudo o que escrevo: dégonfler. Em português, traduzila-ia por desimportantizar, ou em certos momentos, por aliviar, aliviar os outros, e a mim primeiro, da importância que julgamos ter. Só aliviados podemos tirar o ombro da ombreira e partir fraternalmente, ombro a ombro, para melhores dias, que o mesmo é dizer, para dias mais verdadeiros. O que vou deixando escrito, ora me desgosta, enjoa até, ora me encanta. Acontece certamente o mesmo aos outros poetas, tenham estatuto ou não. Mas comigo, talvez essa oscilação se dê com mais frequência."

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Mais sobre Alexandre O’Neill…

Precursor do surrealismo em Portugal, poeta do realismo e do concretismo, provocador e irónico. O´Neill tocava o absurdo e o lugar comum com trocadilhos geniais. Num jogo lúdico e lúcido de palavras, falava de coisas sérias: do medo, do amor, de Portugal. (…) Autodidata, individualista e provocador, via-se essencialmente como um realista, que “apenas registava o aqui e o agora”. Sem misticismos, porque “detestava o que chamava de mistério da poesia”, percorria temas como o amor, o medo e a solidão. Mas Portugal, “país pobrete e nada alegrete”, era recorrente nos versos que fazia. “Um Adeus Português” é o mais famoso, como aqui recorda Maria Antónia Oliveira, especialista da obra de

Alexandre O’Neill, o poeta que jogava com as palavras,

https://bit.ly/2HZYI2G

Alexandre O´Neill, o poeta “caixadóclos”.

Poeta e publicitário, Alexandre O’Neill (1924-1986) foi também fundador do Grupo Surrealista de Lisboa com Mário Cesariny, António Pedro e JoséAugusto França. Nos anos cinquenta afastou-se do grupo surrealista, mas manteve sempre uma postura irónica próxima daquela corrente cultural. Entre as obras que escreveu, são mais conhecidos do público o livro “No reino da Dinamarca” ou o poema “A Gaivota”, interpretado por Amália Rodrigues. Ficou também no ouvido a frase “Há mar e mar, há ir e voltar”, das campanhas contra o afogamento durante a época balnear, que também foi sua criação. Foi preso pela PIDE diversas vezes e venceu o Prémio do Centro Português da Associação

Alexandre O’Neill, poeta e publicitário,

https://bit.ly/1jdnDlx

Internacional de críticos literários em 1983.

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Ó Portugal, se fosses só três sílabas Ó Portugal, se fosses só três sílabas, linda vista para o mar, Minho verde, Algarve de cal, jerico rapando o espinhaço da terra, surdo e miudinho, moinho a braços com um vento testarudo, mas embolado e, afinal, amigo, se fosses só o sal, o sol, o sul, o ladino pardal, o manso boi coloquial, a rechinante sardinha, a desancada varina, o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos, a muda queixa amendoada duns olhos pestanítidos, se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos, o ferrugento cão asmático das praias, o grilo engaiolado, a grila no lábio, o calendário na parede, o emblema na lapela, ó Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato!

Enumeração dos costumes e das pessoas no quotidiano em Portugal.

Este poema mostra um distanciamento entre o que é escrito e o que há de facto no país. O poema é iniciado com “Ó Portugal, se fosses só três silabas,” dando a ideia de que havia um país que permanecia escondido diante de tudo o que já foi contado. Um país que podia ser visto, que causava uma insatisfação na população, e outro que podia ser lido.

O poeta descreve Portugal, citando as doceiras, os barristas e os toureiros e as suas feituras, e como eram satisfatórios tanto para o olhar como para o paladar. Apesar disto o sujeito poético já não os via assim, pois eram simplesmente a imagem que o país passava. Este denuncia o gesto de desenhar, nos versos, o heroísmo de Portugal, quando o que existia realmente, e o que podia ser experienciado, era a vida num país cabisbaixo. Enfatiza também o seu desgosto diante esta situação, acabando o poema com “meu remorso, / meu remorso de todos nós...”.

* Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos, rendeiras de Viana, toureiros da Golegã, não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço, galo que cante a cores na minha prateleira, alvura arrendada para o meu devaneio, bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço. Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, golpe até ao osso, fome sem entretém, perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, rocim engraxado, feira cabisbaixa, meu remorso, meu remorso de todos nós . . .

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Aproveitando uma aberta “Ó virgens que passais ao sol-poente” com esses filhos-família, pensai, primeiro, na mobília, que é mais prudente.

Este poema começa o mesmo primeiro verso que no poema de A. Nobre sobre o campo quando este está em Paris. O’Neill pega nesse pensamento e faz um seguimento, ‘’respondendo’’ a António Nobre.

Sim, que essa qualidade, tão bem reconstituída, nem sempre, revirgens, há-de proporcionar-vos a vida

Fala da vida nos campos e descreve a mesma como algo bom. Falando ainda das virgens como uma mulher do campo, sem vícios e não como uma mulher imaculada/pura, visão presente no poema de António Nobre.

que levais Se um tolo nunca vem só, quando não vem, não vem mais ou vem, digamos por, por dó... E o dó dói como um soco, até mesmo quando parte de um tolo que a vossa arte promoveu de tolo a louco. Eu quando digo mobília, digo lar, digo familia e aquela espiada fresta, aberta, patente, honesta,

Podemos encarar o tolo como alguém que se dispersa dos valores ditos ‘morais’, neste caso os do campo. “A vossa arte” pode ser interpretada como uma crítica social à cidade que dispersa o ‘tolo’ e o transforma em ‘louco.’

Neste caso, “mobília” pode ser interpretado como lar, quase como família. Temos presentes vários valores do campo e da vida rural, com um claro regresso à infancia, outra temática também presente nos poemas de António Nobre.

retrato oval da virtude, consoladora do triste, remanso, beatitude para o colérico em riste. Assim, sim, virgens sensatas! (Nos telhados só as gatas...) Pensai antes na mobília, honestas mães de família, e aceitai respeitos mil do vosso Alexandre O’Neill

Um apelo para manterem a pureza, não se deixarem levar por outras maneiras de viver mais citadinas, e manterem-se fiéis aos valores rurais.

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Ruy Belo Poeta e ensaísta em português

B i o g r a f i a

“E ver-te vir como quem voa a caminhar.”

Características do poeta As várias temáticas abordadas nas suas obras são: o país, sendo que este apresenta um retrato da realidade social e política no Estado Novo, como país autorário e conservador, sonhando com um país diferente, assim como nos primeiros anos de liberdade; a religiosidade na vida, criticando a Igreja, e o "catolicismo de decoração"; a sua visão pessimista da existência, à que associa a transitoriedade da vida e ao desengano; as representações do quotidiano e da vida urbana; a reflexão sobre a memória; a infância como símbolo da harmonia e da felicidade, onde demonstra alguma nostalgia; e temáticas pessoanas como a dor de pensar e o ceticismo. Na sua tradição literária, pode destacar-se

a evocação de textos bíblicos e autores clássicos, fazendo referências a Homero, Heraclito e Horácio. É importante também referir que este criava a sua arte à margem de movimentos literários, embora a sua obra estabeleça relações com os Cadernos de Poesia e a Poesia 61, assim como com os neorrealistas. 10

Rui de Moura Belo nasceu a 27 de Fevereiro de 1933, e foi um poeta e ensaísta português. Licenciou-se em Portugal no curso de Direito, tendo feito um doutoramento em Roma. Exerceu, brevemente, o cargo de diretor-adjunto no então Ministério da Educação Nacional. Apesar disto, a sua relação com a oposição do regime, a sua participação na greve académica de 1962, e a sua candidatura a deputado pelas listas da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, fizeram com que as suas ações fossem altamente controladas e condicionadas. Quando voltou de Roma, não lhe foi permitido ser professor no Faculdade de Letras de Lisboa, passando assim a lecionar na Escola Técnica do Cacém. Em termos de obras, os seus primeiros livros foram Aquele Grande Rio Eufrates (1961), e O Problema da Habitação (1962). Teve várias obras com temas metafísicos e religiosos, questionando-se a cerca da existência. Uma das suas obras mais emblemáticas foi Obra Poética de Ruy Belo (1981), que se encontra organizada em três volumes, sendo alvo de bastante crítica, como a referência que é.


ARTE POÉTICA Recupera temas tratados por outros grandes poetas da literatura portuguesa, como é o caso de António Nobre, com a infelicidade do regresso a Portugal e à infância; Fernando Pessoa, com a visão antimetafísica, a dor de pensar e o cetiscismo, como referidos anteriormente; e Cesário Verde, com a representação do quotidiano e da vida urbana em Lisboa. Em relação à sua linguagem, este sofre uma influência do cultismo e do concetismo, próprios do Barroco, utilizando jogos de palavras e conceitos. Trabalha também com a sonoridade das palavras, recorrendo frequentemente ao soneto com verso decassilábico ou alexandrino, e à utilização de pontuação expressiva, prescindindo muitas vezes de regras gramaticais.

Na sua arte poética, procura saber mais sobre si e os outros, usando as palavras para evocar o passado, lugares e paixões, falar do amor e da morte, do dia-a-dia, da sua relação com o divino. Na opinião de Luís Adriano Carlos, ensaísta e professor universitário, a poesia de Belo apresenta "uma metafísica de profundidade abissal, sublime e grandiosa". O poeta coloca em questão o par visível/invisível, que pode ser interpretado como uma associação entre homem e Deus, a voz e o silêncio, o papel e a poesia.

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Mais sobre Ruy Belo…

Ruy Belo (1933-1977),

Poeta e tradutor, Ruy Belo nasceu numa aldeia do concelho de Rio Maior, em 1933. Conterrâneo de Mário Viegas, que aqui o lembra, foi candidato ao parlamento pela oposição, o que lhe provocou vários dissabores. A infância no Ribatejo está presente na sua obra poética, considerada uma das mais importantes da literatura portuguesa do século XX. Ruy Belo esteve sempre ligado à escrita e ao ensino: foi leitor de português em Madrid, professor na Escola Técnica do Cacém, e teve colaboração em várias revistas (foi, aliás, chefe de redação da revista Rumo). Próximo da oposição, foi-lhe recusada a oportunidade de lecionar na Faculdade de Letras de Lisboa, por essa razão. «Aquele grande rio Eufrates» (1961) foi a sua primeira obra, após a qual se seguiram mais uma

https://bit.ly/2wtqyDx

dezena, entre as quais algumas coletâneas.

Deslumbrado com as coisas pequenas do quotidiano, Ruy Belo consagrou a sua vida à poesia. No exercício de escrever, tinha a exigência do rigor até as palavras fluírem sem esforço. É por muitos considerado um dos grandes poetas espirituais portugueses. Em a “Senda da Poesia”, único ensaio publicado em 1969, escreve: “Não há bem mais humano que a palavra (…). Ela ajuda a criar, e participa da história do homem. Daí que pô-la em jogo seja movimentar o universo”. Ruy Belo (1933-1978) é um homem de palavras, vagueia entre elas para evocar o passado, lugares e paixões, indagar sobre si e os outros, para falar do amor e da morte, das coisas do mundo do dia-a-dia, da sua relação com o divino. Para o ensaísta e professor universitário Luís Adriano Carlos, a poesia de Belo apresenta uma metafísica de profundidade abissal, sublime e grandiosa. Um retrato breve do autor de “Aquele grande rio Eufrates”.

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No rasto da poesia de Ruy Belo,

https://bit.ly/2ro2rBc


O título remete-nos imediatamente para a imagem do nosso país, Portugal, que irá ser retratado ao longo do poema, não como era mas sim como será no futuro, aos olhos do sujeito poético, que vivia sob a ditadura de Salazar.

O Portugal Futuro O portugal futuro é um país aonde o puro pássaro é possível e sobre o leito negro do asfalto da estrada as profundas crianças desenharão a giz

“puro pássaro” é uma metáfora para liberdade, o sujeito poetico vê a possibilidade de liberdade no futuro de Portugal. “crianças” tem uma ligação em relação ao “puro pássaro”, pois as crianças são o futuro, e são elas que traçaram o futuro de Portugal - “desenharão a giz”.

esse peixe da infância que vem na enxurrada e me parece que se chama sável Mas desenhem elas o que desenharem é essa a forma do meu país e chamem elas o que lhe chamarem

O sujeito será feliz neste novo Portugal livre.

portugal será e lá serei feliz Poderá ser pequeno como este

Este futuro Portugal, poderá ter as mesmas características geográficas, mas em relação ao resto será diferente, a nível político, social, etc.

ter a oeste o mar e a espanha a leste tudo nele será novo desde os ramos à raiz À sombra dos plátanos as crianças dançarão e na avenida que houver à beira-mar pode o tempo mudar será verão

Para que esse Portugal futuro possa existir não poderá pervalecer o passado, mesmo as coisas boas têm que desaparecer, para que se possa recomeçar do zero.

Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz mas isso era o passado e podia ser duro edificar sobre ele o portugal futuro.

Há uma certa alternância entre o passado e o futuro, em relação a Portugal, entre um Portugal conservador e um Portugal livre.

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Homem para Deus Logo no ínicio do poema temos uma

Ele vai só ele não tem ninguém

afirmação da temática da morte, e do que

onde morrer um pouco toda a morte que o

será afirmado pelo resto do poema: que na morte iremos sozinhos, não levaremos nada. 14

espera Se é ele o portador do grande coração

De uma forma geral, o poema fala para a generalidade da humanidade, apontando as nossas capacidades, para aquilo que somos capazes na espiritualidade, falando das

e sabe abrir o seio como a terra temei não partam dele as grandes negações Que há de comum entre ele e quem na juventude foi

muitas experiências e sentimentos.

OU

que mão estendem eles um ao outro Outra interpretação que pode ser feita é

por sobre tanta morte que nos dias veio?

que o sujeito poético refere-se a Deus

E no seu coração que todo o homem ri e sofre

nestas capacidades e qualidades, estabelecendo uma ligação entre o divino e

é lá que as estações recolhem findo o fogo

o homem. Isto é vísivel em versos como

onde aquecer as mãos durante a tentação

estes, apesar de que o título do poema á

é lá que no seu tempo tudo nasce ou morre Não leva mais de seu que esse pequeno orgulho

Nesta última parte do

de saber que decerto qualquer coisa acabará

poema, o sujeito poético

quando partir um dia para não voltar

refere ainda o facto de que a

e que então finalmente uma atitude sua há-de

morte tudo deixa cá. Passando depois para o questionamento numa

implicar embora diminuta uma qualquer consequência

relação de Deus/Homem, onde puxa para a questão

O que deus terá visto nele para morrer por ele? Oh que responsabilidade a sua Que não dê como a árvore sobre a vida simples sombra que faça mais do que crescer e ir perdendo vestes

Oh que difícil não é criar um homem para deus

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mais religiosa/bíblica.


António Ramos Rosa António Ramos Rosa nasceu em Faro, a 17 de outubro de 1924 e trabalhou como poeta, tradutor e desenhador. Estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões de saúde. Considerado por alguns como o fundador da literatura portuguesa contemporânea, foi autor de quase uma centena de títulos, desde “O Grito Claro” (1958), a sua célebre obra de estreia, até “Em torno do Imponderável”, um livro de poemas breves, publicado em 2012. Para além de Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor. Nos anos 50 ajudou a fundar e a coordenar várias revistas literárias, incluindo Árvore, Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia, nas quais colaborou com textos de crítica literária e poemas.

Linguagem, estilo e estrutura- A escrita de Ramos Rosa é muito complexa e subjetiva. A sua linguagem é essencialmente metafórica e iconográfica, ou seja, utiliza uma linguagem visual para comunicar ideias, crenças, entre outros. Para além disso, o rigor construtivo, e até uma certa reflexão filosófica são também elementos marcantes na sua escrita. Para dificultar ainda mais a sua poesia, utiliza versos soltos e sem pontuação. A poesia de António Ramos Rosa pede esforço e exigência a qualquer jovem leitor como nós, sendo por isso muito fácil perdermo-nos na sua escrita.

Nestes 2 primeiros versos, Ramos Rosa expressa aquilo que é a sua ideia de um verdadeiro poema e da sua criação, ou seja, um poema equilibrado e harmonioso de origem â

Estas expressões simbolizam a natureza e os seus 4 elementos. Estes são imagens que a poesia nos pode proporcionar.

Essas imagens que a poesia nos proporciona são capazes de gerar uma lenta felicidade na hora em que as lemos e consequentemente, as imaginamos. O poder da palavra durante o nosso silêncio é brutal e

JAHN, P. Lívia (2010), "CONSTELAÇÕES: A FECUNDAÇÃO DA POESIA DE ANTÓNIO RAMOS ROSA", https://goo.gl/UJoJ6X

Realizado por: Bernardo Martins, Diogo Santos, Gonçalo Oliveira e Tomás

QUEIRÓS, M. Luís (2013), "António Ramos Rosa (1924-2013), uma vida dedicada à poesia", https://goo.gl/Ge5hmN

Ferreira, 12ºE 15


Ana Luísa Amaral nasceu em Lisboa no dia 5 de Abril de 1956. É professora de estudos anglo-americanos da Faculdade de Letras do Porto, e tem um doutoramento em Emily Dickinson. Traduziu diversos poetas e é também autora de vários livros de poesia e infantis. O feminismo e a luta pela igualdade de género são bastante visíveis nos seus poemas, quando esta invoca a filha (o que é muito usual), pretendendo com isso que a fantasia, o amor e os sonhos sejam superiores ao estereótipo da mulher e do seu papel social. Tem como característica usar nos seus poemas situações do quotidiano e, considera que a criação dos poemas é uma mistura de prazer e de angústia. O seu vocabulário é simples, mas, no entanto, complexo, não necessariamente devido as palavras que usa, mas sim pela sintaxe invulgar e por alguns significados subentendidos e com duplo sentido. A autora inspira-se também na escrita da literatura clássica.

APRECIAÇÃO CRÍTICA A análise e a leitura destes três poemas proporcionaram-nos um conhecimento mais profundo sobre esta escritora de renome, que não tem o seu destaque merecido na comunidade portuguesa, mas sim nos países para lá das nossas fronteiras. Como um grupo, foi-nos ligeiramente difícil obter informações sobre obras ou dados relacionados com Ana Luísa Amaral, mas que, no fim, valeu a pena. Fomos surpreendidos com temáticas abordadas nos seus poemas, que nos suscitaram o interesse e fizeramnos questionar o porquê de não serem destacadas, como os livros infantis, também da autoria da poetisa, que têm maior visibilidade em território português. Talvez isto se deva à explicação incompleta do conteúdo dos seus poemas, e a sua sintaxe invulgar, que nos deixa algo confusos sobre o significado ou a mensagem que pretende transmitir com as suas obras. Ana Luísa deixa ao nosso critério a interpretação da sua escrita, permitindo que vários significados sejam atribuídos aos seus poemas. Tendo escolhido estes poemas, conseguimos observar a diversidade do seu trabalho: os temas sentimentais, os papéis sociais de cada um na sociedade e a crítica a tal característica, e também a cultura portuguesa ao mencionar um dos amores proibidos mais reconhecidos. Com base em tão poucos poemas, podemos já ver a qualidade literária do seu livro ''Versos'', que interessou bastante a qualquer um que pertenceu a este trabalho, sendo que também tivemos a oportunidade de tê-lo em mãos e ler outros poemas também. O livro é bom por isso mesmo, dá sempre vontade de ler mais e ver se o próximo poema nos toca tanto como o anterior, se nos confunde como os outros, estranhando-os de início e mais tarde convertendo-nos a ter uma perspectiva mais positiva e curiosa sobre o próximo. Assim sendo, consideramos esta autora como uma lufada de ar fresco na literatura portuguesa, sendo genuína na sua escrita e na expressão das suas ideias e emoções, sem se preocupar com a interpretação por parte de um público e das suas consequentes críticas. Primeiro estranha-se, depois entranha-se e recomenda-se!

DIAS, S. Cláudia (2015), "Vozes de Ana Luísa Amaral (Dom Quixote)", https://goo.gl/NzDxEU

Realizado por: Cátia

RIBEIRO, M. Anabela (2011), "Ana Luísa Amaral não sabe ser cautelosa", https://goo.gl/bgfPhq

Baião, Mara Pais, Vínicius º 16


Miguel Torga Dados biográficos

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correria Rocha, nasceu a 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho de Anta Vila Real e faleceu a 17 de Janeiro de 1995 em Coimbra. Autor de uma produção literária vasta e variada, já que produziu poesia, diários, ficção (contos e romances), teatro, ensaios, foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Proveniente de uma família humilde, teve uma infância rural dura, porém anos mais tarde, em 1920, com apenas 12 anos emigra para o Brasil onde foi trabalhar nas plantações de café na fazenda do tio. Em 1925 regressa a Portugal acompanhado do tio, que ao aperceber-se da inteligência do sobrinho decide financiar os seus estudos em Coimbra, onde se licenciou em medicina. Para além disso, colaborou na revista presença e dirigiu as revistas sinal e manifesto.

Profissão Este poema espelha a temática da arte poética, onde o sujeito poético expõe a dificuldade e trabalho árduo que a criação da arte, neste caso do poema, implica. O poema, segundo o sujeito poético, tem que passar por um processo de elaboração que permite aproximar-se da perfeição tanto fiz/e desfiz v. e . Na segunda estrofe compara ainda o ofício da escrita com os trabalhos tradicionais ligados à terra, tentando refutar a ideia de que o artista não sofre tanto como o agricultor amo o duro ofício de criar beleza/sina igual à do ramo v.9 e 0 Ainda na segunda estrofe, o sujeito poético reforça a ideia do esforço pela procura da perfeição, isto é, o poeta trabalha as suas emoções como fossem pedras em bruto e lapida-as de forma a que o produto final se torne numa obra de arte e lapido no torno da tristeza/ as lágrimas em bruto v. e 13).

Brilha o poema como um novo astro No céu da eternidade… Tenacidade Humana! Tanto fiz E desfiz, Que ninguém diz Que já foi minha a luz que dele emana. Amo o duro ofício de criar beleza, Sina igual à do ramo Que desprende de si o gosto do seu futuro. E lapido no torno da tristeza As lágrimas em bruto Que recolho dos olhos Com secreta Ironia. Transfiguro o meu pranto, e sou poeta: Começa a noite em mim quando amanhece o dia.

Realizado por Madalena Fernandes, Sophia Oliveira e Tatiana Encarnação, 12ºE

BIBLIOGRAFIA A.A.V.V. (2016), Entre Palavras 12, Edição ASA A.A.V.V. (2017), Sentidos 12, Edição ASA.

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Eugénio de Andrade Dados biográficos José Fontinhas, mais conhecido pelo seu pseudónimo Eugénio de Andrade, nasceu no dia 19 de janeiro de 1923 na cidade de Fundão, distrito de Castelo Branco. Aos 7 anos viaja com a mãe para Castelo Branco e, posteriormente, para Lisboa. É nesta cidade que permanece, estudando, até ao início dos anos 50, altura em que se muda para o Porto por motivos profissionais. Em 1938 escreve os seus primeiros poemas. Poemas estes que envia a António Botto, manifestando o desejo de o conhecer. Este foi um momento particularmente importante, pois foi nesse encontro com Botto que um amigo deste revelou a Eugénio de Andrade a poesia de Fernando Pessoa, algo que despertou nele um fascínio tremendo. O conhecimento da literatura do autor de “Mensagem” será determinante para a afirmação de um estilo individualOutra influência marcante para Eugénio de Andrade foi a poesia de Camilo Pessanha. Este autor assume o papel de mestre, sintetizando algumas das linhas idealistas mais perseguidas na poesia eugeniana, como a musicalidade e a aguda consciência de que a poesia é ofício de artesão. A publicação do seu primeiro livro “Adolescente” data o ano de 1942. Apesar de ter sido bem acolhido por alguns críticos de imprensa, foi renegado pelo autor devido a razões de estética.

Green god “Green god” é um dos poemas presentes no primeiro livro de poemas do poeta, “As mãos e os frutos” publicado em 1948. Este poema fala sobre um “deus verde”, sendo esse deus representado por um rapaz divino, com uma forte ligação à natureza e aos processos naturais da vida. Sendo que green é verde provém da temática do poema. O poema faz uma analogia entre o desenvolvimento natural do ser humano e o processo de germinação (desenvolvimento da natureza) numa equiparação natureza - ser humano. O poema pega num rapaz, supostamente divino, superior ao ser humano, é caracteriza-o fisicamente num processo de germinação, isto é, pega em vários membros do rapaz e transforma-o em elementos da natureza, flores, árvores, troncos. A forte ligação à natureza transmite uma sensação de felicidade, alegria e pretende mostrar a beleza do processo de crescimento e transmitir as paixões da vida e momentos de alegria e amor. Para o autor e neste poema em concreto, o crescimento, quer seja humano ou da natureza é um processo belo e natural. No final do poema podemos considerar que o rapaz exemplificado na obra pretende mostrar a importância de cada um e a importância da pegada que temos na nossa vida e na vida de outrem. Essa maraca de existência contribui fortemente para o nosso desenvolvimento enquanto seres e para o crescimento do meio envolvente. No final do poema, e depois do percurso feito, o rapaz segue caminho, deixando para trás um conjunto de sentimentos positivos, tais como a felicidade, a tranquilidade e o bem estar.

Trazia consigo a graça das fontes, quando anoitece. Era o corpo como um rio em sereno desafio com as margens, quando desce. Andava como quem passa, sem ter tempo de parar. Ervas nasciam dos passos, cresciam troncos dos braços quando os erguia do ar. Sorria como quem dança. E desfolhava ao dançar o corpo, que lhe tremia num ritmo que ele sabia que os deuses devem usar. E seguia o seu caminho, porque era um deus que passava. Alheio a tudo o que via, enleado na melodia de uma flauta que tocava.

ALEXANDRE, Ricardo (2001) – “Uma biografia de Eugénio Andrade”, https://goo.gl/7AuHTN

Realizado por Ihris Cristiana, Nathalia Matos, Henrique Firmino, 12ºE

MANCELOS, João (s/d), “Mitologia celta e o romantismo inglês no poema Green God”,

https://goo.gl/zKueAU 18


Bibliografia & Webgrafia

Belo, Ruy. (2014)- Todos os poemas, Lisboa, Assírio & Alvim O’Neill, Alexandre. (1984)- Poesias Completas 1951/1983, Imprensa Nacional-Casa da Moeda Oliveira, Maria A. https://bit.ly/2HYhESE

(2018)-

Alexandre

O'Neill,

Paz, Maria M. (S/D)- Ruy Belo, https://bit.ly/2HDdk8a Tamen, Mendes (2015)- “Ó virgens que passais ao solpoente”Um soneto de António Nobre, https://bit.ly/2HxH7mS Malta, José (2016)- Alexandre O’Neill, o publicitário surrealista, faria hoje 92 anos, https://bit.ly/2HFooln Baiotto, Cristiane C (2011)- A POESIA DE ALEXANDRE O’NEILL EM “FEIRA CABISBAIXA”, https://bit.ly/2vZpqqU

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