Tatuí 12

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estar, que ressoa com os espaços nos quais são exibidos, (...) É a percepção nublada da realidade como uma manifestação sinistra das sombrias fantasias de cada um. Com certeza, não é por acaso que a arte atual é predominantemente uma arte de imagens. Para ir direto ao ponto: podemos dizer que vivemos numa era do triunfo da arte figurativa. Mas tais figuras e imagens são antes de tudo e principalmente alucinações; são espectros. Queremos levar em conta a abertura de Sebald para os fantasmas da história.” As observações esboçadas por Maurizio Cattelan às perguntas: Onde estamos? Para onde vamos?, apontam, assim, para a incerteza do presente e a escuridão radical quanto ao futuro. Ora, em 1996, Ugo Rondinone também abordava o tema, realizando sua vídeoinstalação Where do we go from here?... Do que se trata? O espectador entra numa sala vazia que tem ao fundo, cobrindo a parede toda, uma imensa fotografia preto e branco de uma floresta, retrabalhada de tal maneira que o olhar vai registrando a transformação das árvores à medida que se aproxima da imagem. Do lado esquerdo desta, porém, uma abertura o convida a atravessar a imagem da natureza e a entrar num grande corredor de madeira iluminado por néons, que por sua vez desemboca numa grande sala quadrada, onde o aguarda, em cada uma das quatro paredes, a imagem de um imenso palhaço. Ali, cercado por eles que, escarrapachados no chão limitam-se a olhá-lo, ouvindo o som pesado da respiração deles, o espectador se encontra numa espécie de vazio terrível, do qual nem pode fugir porque a luz que emana dos quatro projetores persegue os seus olhos, ofuscando-os. Ali, a desconstrução do mito do artista parecia levar a um impasse: pois à entrada da instalação o curador reproduzira o seguinte enunciado de Ugo Rondinone: “Perguntado sobre o que então a arte deveria ser, Beckett afirma que ela deveria ser “a expressão de que não há nada a ser expressado, nada com que expressar, nada a partir do que expressar, nenhum poder de expressar, nenhum desejo de expressar, junto com a obrigação de expressar.” É, portanto, no momento em que a condição do artista contemporâneo se vê radicalmente questionada, que Die Tropen retoma as perguntas de Gauguin e se volta para a aproximação entre arte contemporânea e arte étnica, tentando respondê-las a fim de “facilitar o entendimento entre os hemisférios” 5. Pois como diz Hug: “A mostra forja um elo – pela primeira vez na história – entre obras criadas em tempos pré-modernos e obras contemporâneas. A modernidade é conscientemente saltada nesse contexto, pois as relações entre, por exemplo, Picasso e a arte africana ou o Expressionismo alemão e a escultura melanésia já foram suficientemente examinadas. (...) Trata-se de uma exposição de arte, isto é os trabalhos mais antigos são escolhidos primeiramente em virtude de critérios estéticos, não científicos. O objetivo geral é a re-estetização dos Trópicos para ajudar a trazer o peso cultural das regiões tropicais para ajudar a contrarrestar os discursos econômicos e políticos todo-poderosos.” Talvez seja um pouco de exagero afirmar que se efetua, em Die Tropen, pela primeira vez, a ligação entre obras pré-modernas e contemporâneas. Só para ficarmos em Berlim, no outono-inverno de 2008, havia no âmbito das grandes exposições de Der Kult des Künstlers, pelo menos outras duas que também efetuavam confrontações de obras produzidas em tempos diferentes. Em primeiro lugar, a mostra Giacometti, der Ägypter, no Altes Museum, oferecendo ao público a possibilidade de verificar a influência que a antiga arte egípcia exerceu sobre a escultura do artista suíço moderno, e criando um “diálogo” entre os bustos de Nefertiti e Annette Arm. Por outro lado, a mostra O 5· HUG, Alfons. T he T Culto do artista, no Kulturforum, reunia obras-primas tanto rop ics …

Op. cit. p. 15.

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