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VENCER 35

Domingo, 7 de outubro de 2012 Diário do Amazonas | visite D24am.com

ESPOSA PASSISTA

Carioca de corpo e alma

O NÚMERO

O NÚMERO

300.000

700.000

reais é quanto Seedorf investiu paraaequipar oHospital AcadêmicodeParamaribopara reduzir amortalidadeinfantilno Suriname.

reais é o valor do salário mensal de Seedorf no Botafogo. O jogador escolheu o clube influenciado pela esposa que é torcedora do Glorioso.

Habilidade e visão de jogo do holandês têm impressionado os botafoguenses nos primeiros meses de contrato

nhol e o crioulo). O berço vem em primeiro lugar. A inscrição ‘mi sab dat mi lob Srana’ (sei que amo o Suriname) está na entrada da unidade neonatal. Seedorf nasceu em 1975, um ano depois da independência do país, saiu ainda jovem e adotou a cidadania do colonizador, a Holanda. Mesmo assim, transformou em lenda o sobrenome do avô, filho de escravos que, apesar da alforria, carregou o Seedorf do antigo senhor alemão. Daria para fazer um livro sobre os projetos sociais de Seedorf, mas, por questões de espaço, vai tudo em poucas linhas: a Champions for Children possui seis projetos em vários países, entre eles, Camboja, Quênia e Brasil. Em Salvador, o craque investiu 50 mil euros na construção de um centro de recreação e esportes no bairro de Alagados, um dos mais pobres da Bahia. Esse comprometimento chegou aos ouvidos de Nelson Mandela. Em 2009, o jogador foi condecorado como membro do ‘Champions Legacy’, grupo que ajuda a manter o legado do líder sul-africano São só bambambãs, como David Rockefeller e Bill Clinton, que se destacam por esforços filantrópicos no mundo. E Seedorf muda para o inglês. “Testemunhar a fome que estrangulava a Etiópia na década de 80, quando eu era apenas uma criança, teve um efeito profundo em mim e despertou meu desejo de dar forma ao meu destino”, declarou em tom solene na apresentação de sua fundação.

Seedorf já marcou sete gols em 15 jogos e está a apenas três de seu recorde pessoal em uma temporada

QUIETO E TÍMIDO

‘Parece o Chico Buarque’, diz Oswaldo O holandês não joga só com o nome. Ele fica no meio do caminho entre a prosa europeia (direta, vertical, rumo ao gol) e a poesia latina (a imprevisibilidade do drible). No Campeonato Brasileiro, vem se reinventando como atacante. Jogando mais avançado, marcou sete gols em 15 jogos - faltam três para ele quebrar seu recorde em uma temporada. “Ele é parecido com o Chico Buarque: quietinho, na dele, mas agrada todo mundo”, comparou o técnico Oswaldo de Oliveira. “Todos falam que penso e jogo como brasileiro e isso está me ajudando”, disse o atleta, que

passou as férias no Rio de Janeiro nos últimos dez anos. Seedorf está no Brasil, mas continua em todo lugar, em seis idiomas. A assessoria de imprensa do Botafogo tem um calhamaço com 40 solicitações de entrevistas, entre elas da Holanda, Itália e até Austrália. No Suriname, o apresentador de TV Desney Romeo afirma que a audiência do seu programa semanal ‘Futebol no Brasil’, transmitido às segundas-feiras pela emissora ABC, aumentou com a contratação do meia. Como o Suriname ainda tem dificuldades para medir a audiência, o apresentador se

baseia na participação ao vivo dos telespectadores para tirar a conclusão. “Na próxima semana, vou sortear um camisa do Botafogo”, orgulhou-se. Essa camisa ainda não é tão comum como a do Milan, Ajax, alguns dos times que Seedorf defendeu. O clube carioca ocupa poucas linhas em sua biografia. Pudera. Esse amor tem apenas três meses, é prematuro e ainda não consegue respirar direito. Precisa de cuidados especiais em uma unidade neonatal. Mas Clarence já está cuidando dos sofridos pulmões dos botafoguenses.

Entre tantas línguas, o coração do craque escolheu a de Camões. Ou melhor, a de Neguinho da Beija-flor. Quando Seedorf e a brasileira Luviana completaram sete anos de casamento, o holandês preparou uma festa surpresa em Milão. Mandou chamar o puxador de samba e pediu que cantasse a preferida da amada: a música Negra Ângela (Hoje eu vi um lindo negro anjo/Anjo negro, lindo anjo/Negra Ângela). Esse foi um dos pontos altos de uma história de conto de fadas. Os dois se conheceram no início da década de 90, quando Luviana, então passista de Mocidade Independente de Padre Miguel, viajou com a escola para uma temporada de shows na Itália. Ela era de família humilde, moradora do Realengo que ganhava a vida com apresentações como mulata. “Foi o casamento de um príncipe e uma princesa”, derreteu-se o compositor Jorginho Estrela Negra, uma espécie de cupido e amigo do casal até hoje. Jorginho conta que Luviana é uma primeira dama com jeito de primeira ministra. Foi ela quem bateu o pé para que o jogador aceitasse a proposta do Botafogo, deixando de lado uma oferta salarial de R$ 1,5 milhão por mês do chinês Guangzhou Evergrande, mesmo time do argentino Darío Conca, além de outras propostas de cair o queixo da Inglaterra, Estados Unidos e Catar. Seedorf balançou, mas cedeu (no Botafogo, recebe por volta de R$ 700 mil de salário, além de luvas de R$ 1,5 milhão). “Prevaleceu a vontade dela de voltar ao Brasil e vê-lo no seu time do coração”. O desejo de Luviana foi compartilhado por 2 mil pessoas, que foram ao aeroporto para recebê-lo em julho, quando assinou contrato de dois anos. E o exército de ‘seedorfianos’ não para de crescer. Em apenas três meses no Botafogo, Seedorf conseguiu resgatar parte do orgulho dos torcedores, que amargam um jejum de 17 anos sem títulos nacionais. Levantamento do departamento de marketing do clube aponta que o número de sócios-torcedores triplicou, passando de quatro para 12 mil desde que o holandês chegou. “O torcedor reagiu à chegada do Seedorf quase como se fosse um título”, comparou o diretor de marketing Marcelo Guimarães.


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