J krishnamurti liberte se do passado

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formador da imagem, o observador que é uma coleção de memórias e idéias, um feixe de abstrações. Quando olhais as estrelas, existe vós, que estais a olhar as estrelas; o céu está todo inundado do brilho das estrelas, o ar é fresco, e lá estais vós, o observador, o experimentador, o pensador, vós, com vosso coração dolorido, vós, o centro, a criar espaço. Jamais compreendereis nada acerca do espaço existente entre vós e as estrelas, entre vós e vossa esposa ou marido ou amigo, porque nunca os olhastes sem a imagem, e essa é a razão por que não sabeis o que é a beleza ou o que é o amor. Falais sobre eles, escreveis a seu respeito, mas jamais os conhecestes, a não ser, talvez, em raros intervalos de total abandono de vós mesmo. Enquanto existir um centro a criar espaço em torno de si, não haverá amor nem beleza. Não havendo nenhum centro e nenhuma circunferência, então há amor. E quando amais, vós sois beleza. Ao olhardes um rosto à vossa frente, estais olhando de um centro, e esse centro cria o espaço entre as pessoas, e é por isso que nossas vidas são tão vazias e insensíveis. Não podeis cultivar o amor ou a beleza e tampouco podeis inventar a verdade; mas, se estiverdes sempre cônscio do que estais fazendo, podereis cultivar o percebimento e, graças a esse percebimento, começareis a ver a natureza do prazer, do desejo e do sofrimento, e a total solidão e tédio em que vive o homem; começareis então a descobrir aquela coisa chamada "espaço". Havendo espaço entre vós e o objeto que estais observando, sabereis que não há amor e, sem o amor, por mais que vos esforceis para reformar o mundo ou criar uma nova ordem social, ou por mais que discurseis a respeito de melhorias, só criareis agonia. Portanto, tudo depende de vós. Não há líder, não há instrutor, não há ninguém que possa ensinar-vos o que deveis fazer. Estais só neste mundo insano e brutal.

XII O Observador e a Coisa Observada. Tende a bondade de continuar a acompanhar-me um pouco mais. Esta matéria poderá ser um tanto complexa e sutil, mas, por favor, continuai comigo a investigá-la. Pois bem; quando formo uma imagem a respeito de vós ou de qualquer coisa, tenho a possibilidade de observar essa imagem e, assim, há a imagem e o observador da imagem. Vejo uma pessoa, suponhamos, de camisa vermelha, e minha reação imediata é de gostar ou não gostar dessa camisa. O gostar ou não gostar é resultado de minha cultura, de minha educação, minhas relações, minhas inclinações, minhas características adquiridas ou herdadas. É desse centro que eu observo e faço meu julgamento, e, assim, o observador está separado da coisa que observa. Porém, o observador está percebendo mais do que uma só imagem; ele cria milhares de imagens. Ora, o observador difere dessas imagens? Não é ele apenas outra imagem? Está sempre a acrescentar ou a subtrair alguma coisa do que ele próprio é; ele é uma coisa viva, a todas as horas, ocupada em pesar, comparar, julgar, modificar, mudar, em virtude de pressões do exterior e do interior; vive no campo da consciência, que são seus próprios conhecimentos, as influências e avaliações inumeráveis. Ao mesmo tempo que olhais o observador, que é vós

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