para o maltês, que continua na mesma posição. Joga-se de volta na poltrona de leitura e embarca num sono leve, entrecortado por preocupações inúteis: as argolas da cortina se desprenderam do varão, o caminhão do lixo está para chegar, as roupas de Alfred continuam no armário, ela precisa ligar para as Casas André Luiz. É uma gripe boba, Alfred dizia. Mas a gripe resolveu ficar e a família se acostumou com o pacotinho de lenços no bolso e o catarro sempre a interromper a conversa. Senhora Olivia deixou de se preocupar. Não havia meios de convencer o marido a se medicar ou agasalhar-se melhor, era o mais teimoso dos homens. Até que ele se foi, deixando quatro filhos e cinco netos, dezenas de condecorações, o enfeite de coral. Senhora Olivia desperta assustada com o som de um pigarro – “Alfred?” Estica a coluna na poltrona, e Tobias está estrebuchando na sua frente. O cão força o vômito e dá voltas em torno de si. Ela levanta, em sobressalto, enfia o dedo na garganta do bicho e puxa o pedaço de coral. A ponta afiada rasga o céu da boca do maltês, que solta um grunhido sentido e arreda para debaixo da cama. Senhora Olivia chama por ele, em vão. Suspende o barrado da colcha de piquet e o observa chorando baixinho. Agacha-se próxima à cama, estende o braço e não consegue alcançá-lo. Bate a palma de uma mão no chão, estala os dedos, assovia. Tobias não reage. Desce para a cozinha – pela segunda vez no dia – abre a geladeira e enoja-se com o mundaréu de cascas de cebola soltas na gaveta. Vasculha os armários e encontra uma única lata de ervilhas ainda dentro do prazo de validade. Volta para o quarto e Tobias
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