Revista Postais 03 - 2014

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Romulo Valle Salvino

O texto é evidentemente fantasioso. É quase irônico, todavia, que a tradição atribua a transmissão de uma mensagem do bandido destinada ao governo justamente a um sistema que era... do governo. Ao falar para o mundo exterior ao sertão, ele precisava de estruturas (os correios, o telégrafo, a imprensa) que vinham desse outro mundo, fora da “estufa” em que vivia. Aqueles que moviam essas estruturas entre “as pancadas do São Francisco e o Rio Branco” – condutores de malas, telegrafistas, soldados das volantes todavia, pareciam irremediavelmente presos na mesma estufa. Estamos, assim, diante de uma realidade bem maior e complexa que todas as tentativas de classificá-la, descrevê-la, narrá-la, explicá-la. Luiz Bernardo Pericás diz que o telegrama redigido por Lampião não chegou a ser transmitido. Isso importa?

Referências BARROSO, Gustavo. Almas de lama e de aço: Lampião e outros cangaceiros. 2 ed. Rio; São Paulo; Fortaleza: ABC Editora, 2012. CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, o rei dos cangaceiros. 4 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. LUSTOSA, Isabel. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma, 2011. MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa, 2004. 70


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