Revista Postais 02 - 2014

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Arte Correio hoje? Notas para uma possível estética da comunicação postal

No Brasil, diversos artistas do modernismo lançaram mão de desenhos em suas correspondências, com funções que transcendiam a mera ilustração dos textos, como se pode verificar em cartas de Brecheret, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Cícero Dias para Mário de Andrade (MÁRIO, 2013, p. 89-92), ainda que não houvesse ainda nessas práticas a ideia de rede que caracterizaria posteriormente a Mail Art. Paulo Bruscky (2004, p. 30-31), por sua vez, aponta Vicente do Rego Monteiro, com sua série PoémePostal, produzida entre 1952 e 1968, como um dos pioneiros da Arte Correio no Brasil. Em 1970, o poeta Pedro Lyra, conhecido por sua participação no movimento do Poema Processo, publicou o seu Manifesto de Arte Postal, embora ainda também alheio ao conceito de Network. Em 1975, duas mostras se realizaram: no mês de setembro, em São Paulo, organizada por Ismael Assumpção, a Primeira Internacional de Arte Postal; em dezembro, em Recife, no salão de entrada do Hospital Agamenon Magalhães, a Primeira Exposição Internacional de Arte Postal, sob a batuta de Paulo Bruscky e Ypiranga Filho. No ano seguinte, o mesmo Bruscky e Daniel Santiago, organizam a Exibição Internacional de Arte Postal, no prédio dos Correios em Recife, mostra que foi considerada subversiva e fechada pela polícia pouco depois de aberta ao público, ação que culminou com a prisão dos artistas no dia seguinte3. Com o tempo, outros nomes foram se juntando a esses, como os de Cildo Meirelles, Anna Bella Geiger, Julio Plaza, Gabriel Borba, Regina Silveira, J. Medeiros, Walter Silveira, Hudinilson Júnior, Gilbertto Prado, Lenir de Miranda, Tadeu Jungle, entre outros, muitos deles mais conhecidos pela atuação em outras frentes artísticas, além de vários praticantes que não lograram registrar suas participações nas memórias escritas sobre a Arte Correio. A Mail Art que emerge nessas décadas de 1960 e 1970 insere-se num movimento mais amplo, que criticava os suportes tradicionais da prática artística, bem como os circuitos convencionais de divulgação e exibição, alinhando-se com a performance, os happenings, a poesia sonora e visual, a videoarte, a bodyart, os livros de artista, os fanzines.

3. Sobre esse episódio, ver Bruscky, 2011a, 19-20; Bruscky, 2011b, p. 22 .

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