Revista Postais 6 - 2016

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Pérola Maria Goldfeder e Castro

1. As democracias dos dois últimos séculos moldaram suas redes postais para elas servissem aos seus propósitos de democracia política, de unidade nacional e de manutenção dos laços simbólicos (tradução nossa). 2. Os Correios franceses foram objeto de estudos historiográficos tradicionais, como os de Eugène Vaillé, cuja coleção Histoire Génerale des Postes Françaises (1947), posto que aborde o tema de forma pouco problematizada, constitui-se em uma síntese substancial sobre a trajetória administrativa do sistema postal francês, desde o Antigo Regime até a fundação da empresa semiestatal Poste, Telégraphe e Teléphonie (PTT). Os mais recentes esforços de resgate da memória postal francesa vêm sendo empreendidos por autores como Sebastien Richez, Catherine Bertho-Lavenir, Muriel Le Roux, Benoit Oger dentre outros membros do Comité pour l’Histoire de la Poste (CHP), órgão interinstitucional que, desde sua criação, em 1995, apoia pesquisas acadêmicas sobre uma série de temas até então ignorados pela historiografia, tais como: organização e dinâmica administrativa das instituições postais; poderes e hierarquias no funcionalismo público postal, relações postais internacionais, etc. 3. “Interesse dos governantes pelo controle da informação (antes, durante e depois da Revolução) e busca por novas fontes de receita para o Tesouro” (tradução nossa). 4. “Os Correios emergem da Revolução e do Primeiro Império organizados, estruturados, praticamente livres de concorrência, prontos, por assim dizer, para participar da grande aventura liberal e industrial do século XIX” (tradução nossa).

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Os Correios no Brasil e no mundo: modelos de administração postal Os Correios contemporâneos significaram um rompimento com a estrutura postal de Antigo Regime, essa composta, em geral, por empreendimentos particulares isolados que sofriam ingerência dos aparelhos de censura característicos das monarquias absolutistas. Em contrapartida a isso, diz Catherine Bertho-Lavenir: “Les démocraties des deux derniers siècles ont façonné leurs réseaux pour qu’ils servent leur dessein de démocratie politique, d’unité nationale et de maintien des liens symboliques”1 (BERTHO-LAVENIR, 1997, p. 32). Na França, a centralização dos serviços postais iniciou-se em 1793, com a criação da Agência Nacional dos Correios, órgão que permaneceu subordinado ao Ministério das Finanças até a criação do Ministério de Correios e Telégrafos, em 1879.2 Para Benoît Oger, esse fato consagrou a opção do governo francês pela gestão direta desse meio de comunicação, sendo justificado pelos seguintes imperativos: “intérêt des gouvernants pour le controle de l’information (avant, pendant et après la Révolution) et recherche de recettes nouvelles pour le Trésor”4 (OGER, 2000, p. 8). Esse autor também observa que, ao se tornar monopólio do Estado, “la Poste sort de la Révolution et de l’Empire organisée, structurée, pratiquement débarrassée de la concurrence, prête pourrait-on dire a participer à la grande aventure libérale et industrielle du XIX siècle” 5 (p. 9). Com efeito, é na primeira metade do Oitocentos que vão ser assentadas as bases para a criação de um sistema de comunicações em escala planetária, fenômeno que se intensificou nas últimas décadas daquele século, com a criação de organizações intergovernamentais como a União Telegráfica Internacional (1865) e a União Postal Universal (1873). Originalmente relacionados ao projeto de expansão da autoridade governamental, os Correios franceses tiveram suas competências substancialmente transformadas ao longo do século XIX. Isso é o que mostra Olivia Langlois, ao distinguir dois períodos na história dessa instituição:


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