Curso de introdução ao estudo do envelhecimento

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CURSO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ENVELHECIMENTO Associação Brasileira de Alzheimer REGIONAL MG Márcio F. Borges – Geriatra


O CURSO • O curso é composto de 7 aulas: 1- Crescimento Populacional da Terceira Idade 2- Gerontologia – Geriatria Termos relacionados ao estudo do envelhecimento 3- Como Envelhecemos – Envelhecimentos Possíveis 4- Independência - Autonomia - Instrumentos de Avaliação 5- Memória e Envelhecimento 6- Grandes Síndromes Geriátricas 7- Estatuto do idoso e Politicas Públicas


PLANO DE CURSO Objetivo geral do curso: apresentar informações para profissionais de saúde, estudantes e pessoas interessadas em relação ao estudo do envelhecimento, de forma introdutória, fazendo com que haja posteriormente embasamento para a busca de formação real na área gerontológica.

Objetivos específicos: •Estudar o envelhecimento •Entender as projeções populacionais que revelam ser o envelhecimento uma realidade atual e um futuro preocupante. •Aprender termos ligados ao estudo do envelhecimento. •Ter noções sobre o que é o envelhecimento bem sucedido, envelhecimento usual e envelhecimento patológico •Entender os fenômenos envolvidos com a atividade cognitiva do idoso. •Aprender sobre os gigantes da geriatria •Ter noções sobre políticas públicas para a pessoa idosa, bem como ler e entender as principais questões do Estatuto do Idoso.


AULA 1 CRESCIMENTO POPULACIONAL DA TERCEIRA IDADE


PLANO DE AULA • Entender como o envelhecimento está alterando a pirâmide populacional brasileira. • Observar o incremento (duplicação) da população acima de 60 anos, nos próximos 15-20 anos. E na população acima de 80 anos, triplicar neste mesmo período! • Aprender conceitos como expectativa de vida, taxa de fecundidade, pirâmide etária e índice de envelhecimento. • Entender a feminização do envelhecimento brasileiro. • Implicações econômicas, sociais e políticas advindas do envelhecimento populacional.


PAÍS JOVEM DE CABELOS BRANCOS • O título reflete bem a situação demográfica brasileira. Ou seja, somos um país jovem, com uma grande população de jovens e de crianças, mas estamos envelhecendo rapidamente. • Os países mais ricos e desenvolvidos, como os países da Europa, os Estados Unidos, Canadá e Japão levaram aproximadamente 100 anos para enfrentar esta transição de envelhecimento populacional. • Assim, estes países tiveram mais tempo para adaptar suas políticas públicas para a terceira idade, dando uma real assistência, que se reflete numa cultura de respeito e de aceitação dos direitos das pessoas mais idosas.


PAÍS JOVEM DE CABELOS BRANCOS • Já nos países menos desenvolvidos e pobres, o fenômeno do envelhecimento populacional é fato recente, ocorrendo somente nos últimos 30 anos, numa velocidade espantosa de transição. • O Brasil, brevemente, será a sexta ou sétima nação mais idosa do mundo. Assim, tivemos muito pouco tempo para assimilar e aprender a conviver com este envelhecimento do povo brasileiro. • Nossa cultura ainda não é de valorização e de respeito aos direitos da pessoa idosa, apesar da promulgação do Estatuto do Idoso e das políticas públicas de defesa dos direitos e da saúde da pessoa idosa.


NASCIMENTOS

MIGRAÇÕES

POPULAÇÃO

Uma população é resultado da contagem do número de pessoas que nascem , menos o número de pessoas que falecem; também subtraindo o número de pessoas que vão morar em outros lugares e somando o número de pessoas que chegam para morar no local.

ÓBITOS


• Vamos aprender alguns termos muito usados em estudo de populações e que nos ajudará a compreender esta primeira aula: – Demografia: é o estudo da população de um país ou região. – Idoso: Nos paises mais pobres, é considerado pessoa idosa quando se tem mais de 60 anos (no Brasil, por exemplo). Nos países mais desenvolvidos, é considerado idoso que tem mais de 65 anos. – Pirâmide etária: representação gráfica de uma população, sob forma de uma pirâmide, onde as crianças e os jovens são a base da pirâmide e os idosos são representados como o topo ou o ápice desta pirâmide. Nos slides você verá como se representa as pirâmides de população do Brasil


PIRÂMIDE POPULACIONAL BRASILEIRA 1970 – 90 milhões

60 ANOS

20 ANOS


1990 – 120 milhões

60 ANOS

20 ANOS


2000 - 150 milh천es

60 ANOS

20 ANOS


2010 – 190 milhões

60 ANOS

20 ANOS


DE FORMATO DE PIRÂMIDE EM 1950 ATÉ 2000...

... A FORMATO DE UM BARRIL Poucas crianças Mais adultos e idosos

EM 2050!


TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA •

REFLETINDO O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL – ALTA TAXA DE FECUNDIDADE – ALTA TAXA DE MORTALIDADE

– BAIXA TAXA DE FECUNDIDADE – AUMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA

Até década de 80: nasciam muitas crianças e a expectativa de vida era baixa (60 anos). Hoje, nascem menos crianças e a expectativa de vida aumentou. Resultado: aumentou o número de idosos.


– Taxa de fecundidade: é a média de filhos por mulher, em uma determinada população.


–Expectativa de vida ao nascer: expressa a média de anos de vida que terão a metade das pessoas que nasceram em uma data determinada.


–Índice de envelhecimento: mede o número de pessoas idosas em uma população, para cada grupo de 100 crianças (até 14 anos). Reflete a velocidade com que uma população envelhece. Veja o gráfico no slide e entenda como é o índice de envelhecimento da população brasileira. – Em 1997 era de 24. Em 2025, passará para 74! Ou seja, haverá 74 idosos, para cada 100 crianças.

Reparem que, em 2050, teremos a mesma porcentagem de idosos e de crianças! 100/100


• Mais dados sobre o envelhecimento da população brasileira: – 1975: 6 milhões de idosos – 1990: 9,5 milhões de idosos – 2000: 14 milhões de idosos – 2025: 32 milhões de idosos!


Percebemos a duplicação da população brasileira de idosos, no período de 2000 a 2025: – 14 milhões para 32 milhões de idosos!

Porém, o que mais chama a atenção é que a parcela dos MUITO IDOSOS, acima de 80 anos, não irá somente duplicar. Irá triplicar!

Veja no gráfico, no próximo slide, que num prazo de 20 a 25 anos, a população acima de 80 anos irá passar de 1,5 milhão de pessoas, para 4,5 a 5 milhões de pessoas.

Outra percepção clara deste próximo slide é a nítida vantagem numérica das mulheres em relação aos homens. Analisem!



• FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO – Como acontece em qualquer faixa etária, também há um maior número de mulheres idosas e uma maior expectativa de vida para estas mulheres idosas, na população brasileira. – Isto independe de região brasileira, de situação social ou de situação econômica. – Algumas explicações para tal fato: • As mulheres sofrem menos com a violência, com os acidentes de trânsito e com acidentes de trabalho. • Menor consumo de álcool e cigarro. • Cuidam melhor da saúde e fazem mais preventivos. • Até chegar no climatério, são protegidas de doenças cardiovasculares, pela ação do hormônio feminino.


• O envelhecimento brasileiro é feminino – Como vimos, quanto maior for a idade, menos homens e mais mulheres. – Chegando a taxa de apenas 5 homens para cada grupo de 10 mulheres, quando comparamos idosos com mais de 80 anos! – Costumamos dizer que trabalhar com gerontologia e geriatria é trabalhar principalmente com mulheres. – Também isto se reflete em relação aos profissionais que trabalham na área gerontológica – maioria mulheres. – Cerca de 83% de todos os cuidadores e familiares que lidam diretamente com o idoso dependente são do sexo feminino!


• OS MUITO IDOSOS – Interessante observar que, com o aumento da expectativa de vida da população brasileira, a faixa etária que mais cresce no Brasil é a de pessoas com mais de 80 anos. – Temos hoje aproximadamente 2 milhões de idosos com mais de 80 anos no Brasil. – Em 2025, o IBGE calcula que esta população de muito idosos TRIPLICARÁ, passando para 6 milhões de pessoas com mais de 80 anos. – Assim, lembramos que a relação de dependência (que estudaremos nas aulas seguintes) é maior, quanto maior for a idade. Temos estrutura social e de saúde, temos profissionais treinados para a demanda que está por vir?


CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL – Até poucas décadas atrás, a família era o melhor e o mais comum suporte social para os idosos. A situação de asilamento ou de institucionalização para idosos era somente para casos extremos (viuvez, abandono, pobreza...) – Fenômeno das famílias nucleares: ainda hoje temos muitos exemplos de famílias com muitos filhos. Porém, são cada vez mais comuns famílias nucleares, ou seja, com 1-2 filhos, onde a assistência aos pais na velhice é menos presente (lembrar da redução da taxa de fertilidade) – Isolamento Social: como resultado de famílias nucleares ou desestruturadas, o idoso em situação de isolamento social vem ocorrendo com mais freqüência. – Institucionalização: merece um capítulo ou um curso à parte! É o internamento, necessário ou não, de um idoso em uma institucionalização de longa permanência para idosos. Seja devido ao abandono dos familiares, seja por motivo de falta de condições mínimas da família de manter este idoso em sua própria casa (dependência extrema do idoso ou doença na família).


• OS VÁRIOS TIPOS DE ENVELHECIMENTO – A relação de independência e de dependência da família é, sem dúvida, um dos melhores indicadores de saúde, de bem estar social e econômico. – Exemplo de idoso independente: 85 anos, idosa, mora sozinha, boa aposentadoria, ausência de doenças que possam atrapalhar sua autonomia e condições de locomoção. – Exemplo de idoso dependente: 72 anos, seqüela de acidente vascular cerebral (derrame), com comprometimento de todo lado esquerdo do corpo, sem condições de locomoção fora de domicílio, necessita da ajuda financeira dos filhos para comprar seus medicamentos e pagar o plano de saúde. – Independência e dependência serão alvos de maiores considerações, neste curso, na AULA 4.


- CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL  Aposentadoria: Em muitas situações, coincide e é sinônimo de envelhecimento. É um direito assegurado pelo trabalhador, após décadas de trabalho e contribuição previdenciária. Na prática, contrariando o aspecto de jubilamento e merecimento por serviços prestados, ocorre, comumente, redução de renda e situação de preocupação e isolamento social.  Distanciamento do mercado de trabalho: como conseqüência do envelhecimento, da ruptura da vida profissional e da aposentadoria. O idoso é preterido, em favor de trabalhadores mais jovens, de acesso ao mercado de trabalho ou da continuidade neste mercado.  Conseqüências: redução do padrão de vida anterior, isolamento do grupo social a que pertencia (fábrica, instituição...), não recolocação no mercado de trabalho, dependência dos filhos e auto-estima baixa.


Conseqüências diretas da feminização do envelhecimento brasileiro: – Grande número de mulheres idosas que moram sozinhas nos grandes centros urbanos. – Por falta de contribuição previdenciária, devido ao trabalho no lar e da criação dos filhos, a mulher idosa tem renda menor, muitas vezes somente a aposentadoria do marido. – Mesmo assim, muitas delas acabam sendo a única fonte de renda de toda a família, fazendo com que o padrão de vida seja menor. – Exploração da família, que depende da idosa, em relação à obrigação de contrair empréstimos consignados, facultativo à aposentados e pensionistas, – Isolamento social da idosa muito maior que do idoso. Maior contingente de institucionalização da mulher idosa em relação ao homem idoso.


• Conseqüências do envelhecimento em relação à saúde e previdência: – Com o advento da aposentadoria e do envelhecimento, ocorre normalmente um redução da renda familiar. – Ao contrário, os gastos com tratamentos de doenças aumentam com a idade, adicionados os custos com médicos, planos de saúde e com medicamentos. Mesmos os usuários do SUS têm um maior gasto com o quesito saúde. – Os idosos representam, atualmente, 10% da população brasileira. Porém, são responsáveis por 30 a 35% de tudo que é gasto no país em relação à saúde e a tratamentos e doenças. – Estudos demonstram, em média, que idosos acima de 70 anos têm de 2 a 4 patologias e tomam 4 a 6 medicamentos diferentes.


• Conseqüências do envelhecimento em relação à saúde e previdência: – Questão séria é a contribuição previdenciária. Os cálculos autuariais (diz respeito à seguros e previdências) deixam bem claro a necessidade de uma grande massa de contribuintes pagantes, para manter a massa de aposentados. – Este sistema previdenciário é fácil de se manter, quando um grande número de jovens e adultos contribuem e um parte menor de idosos aposentados recebem. O que vem ocorrendo no Brasil até os dias de hoje. – Observando, contudo, a pirâmide brasileira e sua evolução em menos de 15-20 anos, percebemos claramente que haverá uma preocupante redução da massa de adultos e jovens contribuintes e um grande efetivos de aposentados ávidos por receber suas aposentadorias.


Conseqüências do envelhecimento em relação à saúde e previdência: – De uma maneira introdutória, entendemos que a aposentadoria traz uma série de problemas aos idosos, tanto em relação à redução da renda, quanto aos aspectos sociais e psicológicos de isolamento social e baixa auto-estima. Além disto, a médio e longo prazo, os governos federais e estaduais terão que equacionar o possível “rombo” previdenciário, que ocorrerá nas próximas décadas, sob pena de estabelecer o caos econômico e na área da saúde. – Conclusão: A pergunta será: “QUEM VAI PAGAR A CONTA DA PREVIDÊNCIA?” Uma das grandes preocupações dos estudiosos é a possível solução de achatamento ainda maior do teto de pagamento previdenciário, à despeito de contribuição elevada durante toda a vida.


• Conseqüências populacional:

políticas

do

envelhecimento

– Somente após a década de 90 é que começaram alguns movimentos sociais e políticos, que resultaram na elaboração de algumas políticas para terceira idade: • • • •

POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO (1996) ESTATUTO DO IDOSO (2003) POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA (2006) Criação dos Conselhos municipais, estaduais e nacional dos Direitos da Pessoa Idosa ( a partir de 1990)


• Conseqüências populacional:

políticas

do

envelhecimento

– Como se vê, o amparo legal e o reconhecimento dos direitos do idoso já existem na forma da lei. – Entretanto, como foi dito no início desta aula, o Brasil ainda não possui uma cultura de respeito, reconhecimento e de valorização dos direitos da pessoa idosa. – Este reconhecimento e respeito somente virão através da luta dos segmentos envolvidos: os próprios idosos, os gerontólogos e profissionais de saúde, conselhos municipais de idosos, clubes da terceira idade, universidades da terceira idade...


• Conseqüências do envelhecimento em relação à temática da violência: – Com o aumento da população idosa, no Brasil e no mundo, uma questão que vem preocupando as autoridades e gerontólogos é a violência contra idosos. – Existem várias formas de caracterizar violência e maus tratos na terceira idade: • Acidentes de trânsito, quedas, lesões corporais. • Abusos financeiros, abusos psicológicos, abusos sexuais, negligências, abandonos, dentre outros.


• Conseqüências do envelhecimento em relação à temática da violência: – Onde acontecem os maus tratos: • • • • • •

Na casa do próprio idoso! Na casa do cuidador Na comunidade Vias públicas Nas instituições de longa permanência (asilares) Nos hospitais


• Conseqüências do envelhecimento relação à temática da violência:

em

– Provocadores de maus tratos: • Um familiar • Um vizinho • Um cuidador • Um profissional de saúde que o atende • Estranhos – Algumas causas de maus tratos no ambiente familiar : • Uma relação familiar desgastada pelo tempo • Conflitos familiares • Incapacidade do cuidador em oferecer o cuidado adequado • A condição de dependência do idoso • O cansaço excessivo advindo da tarefa de cuidar • Problemas econômicos


• Conseqüências do envelhecimento relação à temática da violência:

em

– Segundo censo do DATASUS, que analisa o sistema de Informações Hospitalares (internações), no ano de 2006 houve 116.812 internações em idosos por violências e maus-tratos. – Deixamos bem claro a subnotificação dos casos de violência, ou seja, boa parte dos internamentos por estas causas não são contabilizados e notificados nos internamentos e às autoridades policiais. Não é só no Brasil, é um fenômeno mundial.


• Conseqüências do envelhecimento em relação à temática da violência: – O custo médio de cada internação por violência em idosos: R$ 01.148,20 – Tempo médio de internação: 6,5 dias – 54% por quedas, 10% por acidentes de trânsito (atropelamentos) e 3% agressões. – Destas 116.812 internações, 65.215 foram idosas e 53.597 idosos. – Observamos que, muito mais que números e análises, 2/3 dos internamentos são por quedas e atropelamentos. Muito mais que acidentes comuns, são problemas seríssimos. Devem ser incluídos em qualquer elaboração de políticas públicas, que busquem superar maus tratos e violências cometidas contra os idosos.


A VIDA Mário Quintana A vida são deveres que nós trouxemos pra fazer em casa. Quando se vê já são seis horas; Quando se vê, já é sexta-feira; Quando se vê, já terminou o ano; Quando se vê, passaram-se 50 anos! E agora, é tarde demais para ser reprovado. Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada inútil das horas. Dessa forma eu digo, não deixe de fazer algo que gosta devido a falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais!



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