Cidades Mundo - 1°Capítulo

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Niel observava abaixado entre as folhas da floresta a serpentepolvo no extrator de água. A criatura estava enroscada atrapalhando a passagem da água para o extrator. Era raro feras daquele tamanho se prenderemaosequipamentos.Geralmenteelascorriamaoescutarobarulhoqueamáquinafaziapuxandoaáguaeapurificandoantesdebombearparaavila,maspareciaqueelaestavadesesperada,debatia-separa tentarsair.Eraaprimeiraocorrênciaqueeleiriaaveriguardepoisdeter recebidoapatentedeguerreiro.

Nielpuxousualança-brocadocoldreemsuascostaseseaproximouomaislentamentepossível,pensandoduasvezesantesdeligarsua brocagiratória,obarulhocomcertezairiafazeraferaseassustarainda mais. Suarespiração acelerou e seus olhos permaneceram fixos na criatura.Àmedidaqueossegundossepassavam,seusbatimentoscardíacosassemelham-seatamboresdeguerraemsuacabeçaeemumímpeto voraz,elesaiudetrásdasfolhas,descendoobarrancoatéchegaràpraia e gritou aumentando sua coragem enquanto corria em direção à besta comsualança-brocaemmãos,fustigandoumgolpecerteiroemumdos seustentáculos.Comosustoeador,aferasedesprendeudoextratore sevoltouparaorapazgolpeando-ocomoutrodeseustentáculos.

Oimpactofoitãofortequeofezserjogadoparalonge,seucoração se estremeceu de medo. A fera urrou e se aproximou dele, enroscando seus tentáculos enquanto Niel observava sem reação, paralisado pelomedo,voltandoasiquandonotouqueestavasuspensonoaltopor ela. Outro tentáculo o enroscou e começou a pressioná-lo e ele sentiuseesmagadoesemfôlego.Tentavaalcançarsuafacareserva,aténotar que a mesma havia sido desprendida do coldre momentos antes de ser suspenso.Desesperado,tentoufazerforçaomáximopossívelparaque abestanãooesmagasseporcompleto,suasforçasestavamseesvaindo

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e a besta urrava freneticamente enquanto apertava-o cada vez mais e mais. Ele estremeceu ao escutar seu braço mecânico quebrar e sentir sua respiraçãoficar cada vez mais difícil. De repente, ouviu um motor forte perto dele, um outro guerreiro da sua vila arrancou com apenas um golpe os dois tentáculos que o prendiam, a criatura debateu-se e tentou atingir novo guerreiro com outros tentáculos, mas apenas golpeou o ar, pois os movimentos do soldado entre saltos e acrobacias, pareciamsermaisrápidosqueodafera.Nieltentousesoltardostentáculos mortos ao seu redor, mas não conseguia. Sua respiração voltava lentamente ao normal e notou que seu inibidor de dor havia sido ativado. Ao retomar a atenção a batalha, observou que a besta já estava cansada e não conseguiu acertar sequer um golpe. O guerreiro então ligousualança-brocaecomumaforçaextraordinária,arremessou-ana cabeçadaserpente-polvoperfurandoederrubando-ainertenalama.

— Foi por pouco, Niel! Sorte que havia recebido um chamado nessa área e vim o mais rápido que pude. Você está bem? — Falou o homemcareca,comolhosesverdeadosecom cicatrizespelorosto.

Seufardamentopossuíamanchasesuaombreiralateralestavarachada. Ele estavaofegante,entretanto esboçava um sorriso calmo apesardeseutamanhoecicatrizes.

— Como você sabe meu nome? – Perguntou Niel, continuando sem esperar a resposta — Bem... meu inibidorde dor foi ativado, meu braço e perna mecânicos foram despedaçados — sem olhar para rosto doguerreiro,tristepornãotersidocapazderesolveroproblemasuspirouexausto.

—Nãosepreocupegaroto,aexperiênciavemcomotempoepelo escutei do seu grito, coragem não lhe faltou. Eu me chamo Lavitz, estavanaequipedeexpediçãoháseisanoseretorneiontem.Deveserpor isso que pareço um estranho para você. Estava verificando as áreas quando recebi um chamado de problema vindo daqui e seu nome apareceunomeucomunicador. Tenteimecomunicarcomvocêenãocon-

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segui, olha o eu que achei... — Lavitz mostrou o comunicador de ouvidodeNiel,eraumcomunicadorsimples,guerreirospossuíamcomunicadorimplantado.

—Meucomunicador...ondeachou? —Nielfalousurpreso.

— Preso entres as folhagens. Deve ter cuidado garoto, peça para mudarparamóduloimplantado.Vocêjáéumguerreiro,podeteressas regalias.

Lavitz sorriu e segurou Niel nos braços, levando-oaté sua moto, que, diferente das motos comuns dadas a todos os guerreiros, parecia maior. Um computador de bordo mostrava informações mais detalhadas sobre a máquina e sobre o terreno, era bem iluminado e o motor ligado era muito suave, para quem não conhecia o som das motos da vila, poderia simplesmente parecer que não tinha nenhum som, foram asúltimascoisasqueNielpercebeuantesdeapagar.

Ao chegar na vila, Lavitz o levou diretamente ao hospital dentro doquartel,diferentedetodososmoradoresdavila,osguerreirostinham umcentrodeatendimentopróprio.

—Tenente Lavitz!Quandovoltoudaexpedição? —Arecepcionistadohospitalfalouadmirada.

—Ontemmesmo!Esseguerreirodevesernovato,seusimplantes mecânicosestãodanificadoseaparentementeestácommaisferimentos internos. Seu inibidor de dor foi ativado, seria ideal que trocasse, tambémqueriaquecolocasseumimplantedecomunicador,elenãodeveria estarusandoumcomunicadorexterno.

Arecepcionistaabaixouacabeça,suspirouerespondeu:

— Estamos com poucos recursos tenente. A equipe de extração nãoretornoucomnovosaindaeosquetínhamosjáestãoemestadode emergência. Adiantamos a formação de novos guerreiros e suas equipes,mesmoainda compoucotreinamento eosdeixamosparaadefesa da vila. Os mais experientes saíram com os recursos que podiam para trazermais.Saíramantesdeontem.Mas,paraosenhortenente,euabro exceção,fareiosprocedimentos.Esperoquetenhanovidades.

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ElaassinouospapéiseemseguidaduaspessoasrecolheramNiel eocolocaramnamaca.

—Obrigado!—RespondeuLavitz.

Lavitzsaiudohospitalcomarinquietoepensativo,resmungando palavrassemsentidoeincompreensíveis.

Niel acordou com uma dor de cabeça forte, olhou a sala toda branca e voltou a deitar a cabeça no travesseiro, acreditava que tudo foraumsonhoeviuseubraçoesuapernamecânicaemperfeitofuncionamento. Ele se perguntava o que acontecera consigo, não lembrava de nada e observava seu braço mecânico quando a porta do seu quarto abriueumhomemgrande,forteecarecaentrou.

—Comosesente,Niel?

— Quem é você? — Ele perguntou enquanto fechava um dos olhoscomdorainda.

—Eumechamo Lavitz,soutenenteque estavana equipede exploração e retornei há pouco tempo. Por causa da minha patente e por seromaisexperienteoficialnavila,estouassumindoocontroleetambémosalveiontem.É normalessasensaçãoquandonósguerreirosrecebemos a primeira dose do inibidor de dor, nossas memórias ficam bagunçadas.Tenteiprocurarporparentes,masvinoseuregistrooficial que o único responsável por você é seu pai e o mesmo está na equipe deexploraçãoreservaquesaiu.

— Outra equipe de exploração? — Perguntou Niel atônito com tudo.

— Sim, a primeira não respondeu aos comunicadores e outra de urgênciafoiformada.

Lavitzselevantou,foiatéjanelaedisseemumtomsuaveeacolhedor:

—Énormalnãoentrarememcomunicaçãocomosguerreirosem vigília,assimelesfocamnoquetemquesefazer.Estranhoénãoterem lhe contado, mesmo seupai indo. Bem, estou aqui parareforçaro trei-

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namento devocês,acreditoquesejaomelhorasefazer,amanhãrealizareiotreinoelogoemseguidavoltarãoasuavigília.Seucomunicador agorafoiimplantado,dessaformavocênãooperderá.Háum presente lheesperando,assimqueforaoseuquartonacasadosguerreirosoencontrará.

Ele foi em direção à porta e saiu, no instante seguinte o médico entrounasala.

— Está liberado, guerreiro Niel! — Falou o médico e sem olhar diretamenteparaorapaz. Niellevantou,pegousuascoisasnarecepçãoepartiuemdireção à casa dos guerreiros. Era o local onde todos os jovens que se alistam passavamamorareatreinar.Eracomum, aocompletarquatorzeanos, escolheruma profissão ou herdardiretamente ado pai. Por isso, os jovens começam a treinar cedo e aos dezoito anos estavam prontos para serviràVila Ireva.ComNiel,foiumpoucodiferente.

Aochegaràcasadosguerreirosnotouqueestavaquasevazia.Os novatos deveriam estar em treinamento e nesse horário, era comum o silêncio.Eleabriuaportaeao entrarsedeparoucomumanimalestranho em cima da sua mesa. Aparentemente, parecia um besouro com asas,sóqueaoseaproximar,reparouquesuapeleeraformadademini placas solares, das mesmas que se utilizava para obter energia. Seus olhospossuíamváriosmicrosespelhosedebaixodoinsetoumbilhete escrito:

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“Para Guerreiros desatentos, aliados atenciosos” Lavitz.
Obs.: Para ativar fale “Liris”

Nielsegurouobilhete,olhouparapequenoinsetoedisse: —Liris!

O besouro começou a fazer barulho de engrenagens e bipes, os micros espelhos ascenderam e suas asas começaram a bater em uma velocidade tão alta que ficaram quase invisíveis. O inseto voou, bateu emsuaparedeecaiusemnenhummovimento.Nielficouolhandosem entendereaoseaproximarfalou:

—Quemerdaéessa?

Novamente o inseto voltou a processar luzes em seus micros espelhoseumavozmetálicacomeçouafalarnúmeros,enquantoelevoltavaavoar.Umaluzsaiudeseusolhoseaparentavaescanearporcompleto Niel. Em seguida, a voz robóticase estabilizou tornando-se mais clara:

—Novocódigodeativaçãoselecionado“quemerdaéessa”.Qual nomedesejadaraseucompanheirodeviagempessoal03-27EVH?

Franzindo o cenho e com expressão de estranheza em seu olhar, Nielfalouquaseinvoluntariamente: —Hein?

O inseto girou ao redor do guerreiro. Seus olhos começaram a emitirluzesmulticoloridaseavozrobóticavoltouafalar:

— Olá Niel, meu novo nome é Hein, código de ativação: que merda é essa. Essa é a única mensagem por voz que posso dar por segurança, todas as outras comunicações serão feitas por bipes e luzes. Consulteomanual!

Aoterminar,oinsetopousounoombrodeNiel,pareciaestaraparentementedesligado.Desajeitado,orapazsentouemsuacama,pegou o inseto com cuidado e colocou em cima da mesa. O observou por algunssegundoseemseguidacomeçouaprepararsuascoisasparaotreinamentododiaseguinte.Depois,aindacansado,adormeceu.

Niel acordou com a sirene tocando, olhou para Hein e saiu do quartoàspressas,trancandoaporta.Noscorredores,guerreirosqueforamdasuaturmasaíamesedirecionavamaopátiosemquasefalarum

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comooutro.Aochegarnopátio,observouLavitzcomumalança-broca emmãosedandoinstruçõesaoutrosguerreiros.Nielentrouemformação preocupado em estar com a farda arrumada, que consistia basicamente emuma ombreira de metalem seu ombro orgânico, um peitoral feito de aço por cima de uma camisa e uma calça de couro reforçado, terminandoembotasdecouroleve.

— Estou aqui assumindo o papel de comandante geral. Pela minha patente e experiência em combate, sou membro chefe da tropa de expedição e reconhecimento. Estou aqui agora para o melhoramento dosguerreiros,utilizaremosmétodosdeimplantaçãoatravésdecélulas, pois o processo serámais rápido. Aos guerreiros em treinamento, continuem mais arduamente! Nãosabemos quando vamos terrecursos suficientes para trazer esse método novamente. Muitos de vocês não sabem, mas nossa equipe de exploração e extração não retornou e não houve comunicação. Utilizamos os guerreiros mais experientes e formamosumaoutraequipe,poisnãopodemosficarsemrecursosmateriais paraas nossas construções, reparos e meios de sobrevivência. Essa informação é sigilosa e cabe apenas a nós guerreiros, não pode ser repassada aos cidadãos de Vila Ireva em hipótese nenhuma! Entendido, guerreiros?

— SIM, COMANDANTE! — Em uníssona voz, todos os reunidosfalaram.

— Aos soldados formados um ano antes do estipulado, façam umafilaindianaesepreparemparatreinamentodeimplantaçãodecélulasdeconhecimento!Oprocessoédoloroso,maseficaz—falouLavitz.

Todoscomeçaram aformaruma fila equandoNielestavaseposicionando,Lavitztocouemseuombro.

— Gostou do presente, garoto? Liris foi minha companhia durante toda aexpediçãodesdeque aencontramos,achamosela a alguns meses emmeio a uma cidade sucateada einabitada,muito distante daqui.Vocênuncairiaaprendersobreisso,nãotemnoslivrosdehistória

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que vocês usam quando são meninos e como nunca saíram daqui sua percepção não se amplia tanto. Cuide muito bem dela, ela me salvou váriasvezes.

— Ela? Tinha voz robótica e depois desligou! Não entendi nada comandante.— FalouNiel, umpoucosemjeito,mastentandoentonar maiorrespeitopossível.

—ElasechamavaLirisparamim.Nossomecânicodeexpedição falouquenãoentendiacomoeladefatofuncionava,masqueescaneava seunovocompanheiroesealteravaconformealeituradoescâner.Não seioqueéagoraparavocê,mascuidebem!Aquiestásualança-broca, vocêdeixouparatrás,quandocaiuemcombate.Ah,tambémfizalteraçõesnela—FalouLavitzdeumamaneirabemmenosimponenteaque estavafalandosegundosatrásnoseudiscurso.

— Por que tratamento diferenciado, senhor? Não que eu esteja reclamando.Sóque…

— Vocêse parececom meu filho, tem a coragem ea desatenção do mesmo. Perdi ele na expedição, e senti que fui menos pai do que deveria ser. Pense nisso não como regalias, mas como um presente de alguémquequeriamuitoumachancedeseredimir.Váparafilagaroto, e aperte sua ombreira. Está quase caindo. — Lavitz falou sorrindo e deixandotransparecerseusolhostrêmulos.

Niel notou e searrependeu um poucode ter feito apergunta. Ele apertou a ombreira e foi em direção à fila. Ao chegar sua vez, recebeu adoseesentiudoreshorríveisnacabeça.Seguradopordoiscadetesfoi levado até seu cômodo, onde passou o resto do dia tendo alucinações.

Viuanimaiscomomáquinas,escutoutirosegritos.Seucorpocomeçou asuar,elecerravaosdentesparanãogritar,apertavaocantodacamae sentiatodasuaparteorgânicaseestremecer,esuamenterecebiavárias imagens de uma vez só. Parafusos, táticas de combate, peças, mapas, herborismo,entreváriasoutrasimagens.Todasdeumavez,atéquetodas pararam ao mesmo tempo e só assim o guerreiro Niel conseguiu dormir.

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Quandoacordou, suavisãoestavaembaçada.Sem forçasparase movimentar, ele olhou para o lado e viu Lavitz mexendo no seu braço mecânico.EstavatudotranslúcidoeNielacreditavaqueaquiloeraapenas mais uma visão das tantas que o delírio causado pela droga do aprendizado o trouxera. Ele fechou os olhos e quando acordou estava novamente tocando a sirene. Levantou-se e observou que Hein estava olhando para ele, voando em seguida até seu ombro e ficando parado, fixado emsua ombreira. Espaço que por sinal cabia-lhe perfeitamente. Mais uma vez, Niel pegou sua lança-broca, notou que estava mais pesadaeseguiuemdireçãoaopátio.Lavitznãoestavalá.Outroguerreiro com patente maior estava designando os cargos e os deveres de cada um.

Aochegarnasuavez,foidesignadoparaverificaroperímetrode segurançaqueficavaaoitentaecincoquilômetrosdalieavaliarossensores que foram quebrados. Entregaram-lhe uma mochila com mantimentos e a chave da moto. Enquanto ia para garagem, Niel notou que seu comunicador estava em silêncio, mesmo estando implantado. Isso opreocupou,pois,algumasinstruçõessobremissãoeramdadasviacomunicação,tentoumexer,masolhouahoraesubiunamoto,foiquando notou ao tentar ligá-la, que a chave não encaixava. Percebeu só nessa hora,queachaveeradiferentedaquejáhaviarecebido.Haviaumbotão nelaeaoapertá-lo,umbarulhodebipefoiiniciadoeummotorligado. Em alguns segundos, ele foi empurrado por pneus e atrás dele surgiu uma moto totalmente diferente da que ele tinha visto. Era maior, possuía pneus mais largos e tinha um computador em sua tela principal. Sem muito entender, porém empolgado com a mudança, ele subiu na máquina e girou a chave. Os controles apagaram e o painel voltou a mostrarapenasovelocímetroeoestadodabateria,apagandoasoutras milhares de luzes que haviam sido ligadas. Ele acelerou e saiu. Diferentedasoutrasmotos,essapossuíaumaestabilidadeevelocidadesurpreendentes. Em exatos vinte minutos ele chegou até o seu ponto de vigília.

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Desceu da moto, foi verificar a cabana em que ficaria durante a missão e guardou suas coisas. Em seguida foi checar os sensores de perímetroque eram responsáveis por saber se algum animal de grande porte se aproximava ou algum inimigo, além de garantir e ampliar as linhas de comunicação. Este local era o posto mais distante de Ireva e também o mais perigoso. Geralmente essa manutenção era feita por duas pessoas, mas devido a tudo que acontecera nos últimos dias Niel conseguiaapenaspensarquedeviamestarevitandogastosdehomense recursos.Eleseaproximoudeumdospontosdossensoreseconfirmou que estava em perfeito funcionamento. Estranhando, checou todos os outros pontos e averiguou que todos os sensores funcionavam em perfeitas condições. Niel tentou se comunicar com a central e quem atendeudiretamenteaocomunicadorfoiLavitz.

— Olá, garoto, tudo certo por aí? Tenho uma nova ordem para você. Depois que verificar os sensores, continue em sua posição por uma semana e aguarde novas ordens. — Sua voz parecia tranquila, comoseestivessedescansando.

A chamada foi encerrada antes de Niel conseguir falar alguma coisa e ao tentar se comunicar novamente a chamada não foi completada. Ele sentou-se, tomou água e começou a treinar com sua lançabroca,precisavaseacostumarcomonovopesodaarma.Estavapensativoeincomodadocomaestranhezadasituação.

Passaram-setrêsdiaseNielnãoreceberamaisnenhumanovainstruçãodossuperiores.Então,eledecidiusubirnamotoevoltar.Sentiu algo estranho em seu coração, estava apreensivo e ao tentar ligar o transporte,viuqueelanãoligava.Então,pegousuasferramentaseatravés do novo conhecimento técnico adquirido, tentou descobrir qual o problemadoveículo,concluindoqueaparentementenãohavianadade errado.Heinsobrevoava-oederepentecomeçouaemitirumbipe,não tãoalto,masosuficiente paradespertarasuaatenção,seusolhosestavamcompletamenteacesosemluz vermelha.Nielescutouum barulho

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vindodamata.Naquelelocal,eracomumencontraralgumasbestasmutiladas errantes, mas poucas se aproximavam do homem, a menos que fossem bem maiores que eles. No geral, elas corriam e se afastavam. Era um som de passos se aproximando, ele escutou um urro de dor vindo da floresta, estava em um campo aberto exceto pela grama que chegavaamedirpoucomaisdeummetro.Elepuxousualança-brocae Heinpousounovamenteemsuaombreira.Oúnicosomaudívelnaquele instante foi o de carne sendo rasgada e o barulho de metal rangendo. Furtivamente, Niel se aproximou, fazendo sinal de silêncio para Hein que bipou mais baixo, como se respondesse e continuaram a entrar na mata.Abaixadoentreos arbustos,oguerreiroficoucompletamentecamuflado. Sem demora, continuou indo em direção ao barulho e observou algo que nunca havia visto antes, dois robôs com formato de panteras,alimentando-sede umjavalideduascabeças.Javalisdeduascabeças eram animais fortes e bem perceptíveis. Foi o momento de lembrar que em um dos seus treinamentos, quase perecera em um ataque de um animal assim, se seu pai não o tivesse atingido antes com sua lança-broca. Como ele não escutou uma batalha alguma, era provável que o javali tenha sido abatido com apenas um único golpe. Devagar, ligou seu comunicador e tentou avisar de forma mais segura, quando desequilibroueaotentarnãocair,pisouemumgalhoeasferasmetálicasolharamparaele.

Elas possuíam olhos vermelhos e sua couraça em aço espaçado permitia ver todos os fios e engrenagens girando, assim como chips e placas.Elascomeçaramarosnar,umsommuitoparecidocomodepanteras-camaleão.Entretanto,essasmecânicaspareciamcomaqueeletinha visto quando criança nos seus livros de história, com os animais queexistiamantesdacatástrofe.Umadelasseevadiuparaoladodireito e a outra para a esquerda de Niel, cercando-o. Rapidamente ele ligou sua lança-broca e o som da arma semisturou com o som dos rosnados raivosos das feras. Ele tentava acompanhar as duas com o olhar, mas

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acabouperdendoumade vista,elaestavaagoraemseupontocego,fazendo seu coração palpitar. Ele queria atacar, mas algo o impedia, quando derepente elascomeçaram a ficar translúcidas até desapareceremcompletamentedavistadele,ficandoinvisíveis.

—Putaquepariu,queporraéessa?!—Exclamoucomumamisturasurpresaemedo.

Ele escutou passos vindo e a grama alta se movimentando perto dele,instintivamenteelesejogouparadireitaeviuumpedaçodochão sendoarrancadoeomatoarrancadojuntosendojogadoaoar,comose umadelastivesseerradoamordida,eletentouatacarcomalança-broca a esmo, porém a única coisa que conseguiu cortar foi um pouco da grama alta ao seu redor, deixando-a da altura de seus joelhos, nervoso voltouposiçãodedefesa,observando cadavez maisatento apaisagem etentandoacompanharo movimentodagramaedasfolhagens,conseguindode certa formasuporqueelascontinuavamaandaremcírculos ao seu redor. Outra vez um movimento brusco nas folhagens e mais umavezeleseevadiu,masdessaveznãocompletamenteileso.Nielviu suaombreirasendoriscadaporfaíscas,quatroriscosparalelosoderrubavamnochãofazendosualançacairdistantedele.

“Mais uma dessas, e vou estar morto antes do que imaginei! ” — Pensou.

Rapidamente armou-se de sua faca reserva de vibro-lâmina e Heinsaiudeseuombro,alçandovoomuitoalto.

— Muito obrigado, Hein. Acho que você já vai procurar outro dono,eurealmentenãopassodehoje—faloudesapontado,porémsem desviarosolhoseosouvidosdaarenacriadapelasmáquinas.

De repente seu comunicador fez um barulho e um campo holográfico apareceu na sua frente, mostrando as então invisíveis panteras robóticasemumtomesverdeado.Ambasvinhamemsuadireção,oque facilitouaelesejogarem direçãoàlança-broca,soltandoafacaeapanhando-a. Ficou sementendero que acabavade acontecer,masconseguiaverasferas-robôseissoporhora,bastava.Umadasferasparoude

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circular e veio rapidamente em sua direção e Niel conseguiu acertá-la comabroca,aferaacometidaemitiuumurroagoramaiseletrônicodo queanimal ecaiuperdendocompletamente atranslucidez eseusolhos vermelhosapagaram.Aoutraferapareceusecompadeceramedrontada pelabestaabatidanochãoecorreufugindodolocal.Osúnicosbarulhos aseouviragoraeramarespiraçãoofegantedeNiel,ozumbidodasasas deHeinlogoacimadesuacabeçaeobarulhodabrocaemmovimento, quenãoaparentaterlevadosequerumarranhão.

Nieldesligoualançaeaoaproximar-sedaferase assustou,pois, um de seus olhos voltou a acender e fazer uma espécie de contagem regressiva. Instintivamente ele se afastou e quando o contador chegou em zero, a fera inteira foi derretida, sobrando apenas uma poça metálica. Seu coraçãoainda acelerado esua respiração ofegante, deixaramnoparalisadoporunsminutos.Heinvoltouaseuombroepousou.

Niel correu até seuponto base para ligar a comunicação com urgência eao chegar, notou queseu comunicador havia parado defuncionar. Subiu mais uma vez na moto e na primeira tentativa o veículo funcionou, apressadamente ele pilotou emdireção a Ireva.Apreensivo e com o coração acelerado, angustiado como por um pressentimento ruim.Sódesejavachegaremcasa.Nametadedocaminhoseucomunicadorligoueeleescutoujustamenteoquepareciaestarsentidoemseus maus pressentimentos, gritos, sons de disparos, rosnados e explosões. Eleacelerouomáximoquepôdeamotoefinalmente,quandocomeçou a veros portões de Ireva, sua moto prendeu suasmãos no guidom, seu computadorligou,aparecendoLavitz napequenatela:

—Nãodeixareivocêmorreremvão, garoto.Hámuitacoisaque queria lhe explicar, mas infelizmente não posso, você vai ter que descobrirsozinho,medesculpeeadeus.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto involuntariamente. A moto que partia em direção a Ireva, mudou sua rota sozinha e mesmo Niel tentando colocar força para alterar sua direção ela simplesmente não

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respondia eseguiu emsentidoopostoàcidade,atéele escutaruma explosão,eumalufadadeventotãoforte,quedesprendeuamotodochão arremessando-aaoarefazendo-obaterfortenochão.

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Obrigadoporbaixaro1°Capitulo.

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