REVISTA BANDIERAS POSITHIIVAS 1

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DESAFIO

o peso da dúvida: diagnóstico tardio reduz benefícios

dos ARV Pacientes que começam tarde o tratamento com anti-retrovirais concentram maior número de mortes. A meta agora é ampliar a oferta do teste anti-HIV, disponível na rede pública do Estado, desde 1985

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nforme Técnico da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. O texto, de 1983, foi elaborado pelo recémcriado Programa de Aids e é dirigido aos profissionais de saúde que dali pra frente enfrentariam a epidemia. Na página 10, a discussão é o diagnóstico da aids: “Não existe um exame específico que possa confirmar a suspeita diante de um caso de aids. A confirmação dos casos tem se apoiado no diagnóstico das patologias que compõe o quadro, principalmente o sarcoma de Kaposi e as infecções oportunistas”. Nesse mesmo ano, na França, Jean Luc Montaigner e Françoise Barré-Sinoussi isolaram o vírus, ao qual deram o nome de LAV (vírus associado à lin-

fadenopatia). Nos EUA, outro cientista, Robert Gallo, reivindica a descoberta. Entre 1984 e 1987, até entrarem em acordo e nomearem o vírus como ele ficou conhecido, HIV, o mundo assistiu à disputa entre os cientistas. O simbólico ponto final da contenda só foi dado em outubro de 2008. Montaigner e BarréSinoussi recebem o Nobel da Medicina pela descoberta do HIV. Por trás da disputa de mais de duas décadas, estavam interesses relacionados à concessão de patentes e licenças para a produção comercial de testes para a detecção da infecção em amostras de sangue. Os sintomas da aids eram divulgados por todos os meios: do informe técnico para profissionais de saúde às páginas dos jornais. O Disque Aids, serviço criado pelo Programa de Aids de São Paulo, informava ao público: “Os sintomas são febre baixa e constante, fadiga que não está ligada ao excesso de trabalho ou esforço físico, suores noturnos, perda acentuada de peso, tosse, diarréia prolongada, inchaço de gânglios em diversas regiões do corpo e o aparecimento de

Bandeiras PositHIVas - Uma publicação do CRT DST/Aids-SP

manchas vermelhas na pele”. O discurso adotado na época por profissionais de saúde, imprensa e ONG pedia calma na avaliação dos sintomas. Em 1989, o jornal da primeira ONG aids do País, o GAPA - SP, repete o conselho: “caso você tenha alguns desses sintomas, fique alerta. Mas não alarmado. Não tire nenhuma conclusão precipitada antes de procurar o serviço de saúde”. A recomendação visava afastar o pânico que se instalara na população que, a qualquer resfriado, entrava em desespero, achando ter contraído a doença. Os profissionais de saúde também sentiam o impacto da aids: “lidar com uma doença para a qual não existia tratamento era uma tarefa dolorosa”, lembra a socióloga Lindinalva Laurindo, pesquisadora científica do Instituto de Saúde. Ela começou a estudar o impacto da aids na vida de seus portadores já em 1983. Em suas pesquisas, registrou depoimentos dos primeiros pacientes: “muitas vezes a palavra não é usada. É um olhar, uma cabeça abaixada, um silêncio”. Enquanto lembra, ela folheia uma pesquisa feita 1988, com pacientes brasileiros e franceses, e encontra a frase de um deles sobre os tratamentos disponíveis naquela época: “os médicos são muito gentis, mas estão tão assustados como eu. Eles não vão me curar, eles não sabem nada”. Mais à frente, no mesmo material, o registro de um outro paciente explica o significado do diagnóstico: “Eu preferi tirar a dúvida da cabeça. Pior que o resultado, é a dúvida”. O que a maioria das pessoas não sabia, inclusive alguns profissionais de saúde, é que os sintomas clínicos significavam um estágio muito avançado

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Fique Sabendo – o CRT DST/Aids retoma a campanha de diagnóstico lançada em 2003. Apenas 28% das pessoas buscam o teste por iniciativa própria

da infecção e que o vírus poderia passar anos no organismo sem revelar qualquer sinal. O conhecimento sobre a doença foi aprimorado e testes laboratoriais passaram a ser usados no diagnóstico. Em 1985, o ELISA já era comercializado no Brasil. Nesse mesmo o ano, o Programa de Aids de São Paulo oferecia o exa-


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