O principio do fim apocalipse manel loureiro doval

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Um velho tanque abandonado, coberto de mato, jazia semidestruído ao lado do 4x4. De um cano brotava um jorro de água fresca. Desci do carro e mergulhei as mãos na água. Estava fresca, quase fria em contraste com o calor sufocante da tarde. Era deliciosa. Bebi como um camelo daquele jorro e molhei com o cantil os lábios secos de Prit, que, semi-inconsciente, não quis ou não pôde beber. Toquei sua testa. Estava pelando. Ou estava sofrendo um choque pós-traumático, ou as feridas estavam começando a infeccionar. Fosse o que fosse, ele precisava de antibióticos, imediatamente. Injetei-lhe um frasco de morfina para acalmar a dor e entrei de novo no carro, abandonando aquele breve momento de paz. Partimos no meio de uma enorme nuvem de pó. Ainda faltava muito caminho a percorrer. Uns trinta minutos depois, tivemos de cruzar um pequeno riacho. Não era muito profundo, mas o Mercedes, embora luxuoso, não está adaptado para atravessar correntes de água. Não pude evitar que entrasse um pouco de água pelas juntas das portas e as saídas de ventilação, de modo que nos molhamos um pouco. Não importa. íamos nos molhar de qualquer maneira. O céu estava se fechando. Umas nuvens pretas de tempestade passaram a tarde toda se acumulando sobre essa área. É normal. Após tantos dias consecutivos de calor, era só questão de tempo até que desabasse uma boa tempestade, e receio que essa será das grandes. Lúculo está terrivelmente inquieto, algo que só acontece quando uma tempestade das boas se avizinha. Agora entendo sua inquietude na concessionária. A verdade é que o ambiente está carregado de eletricidade. Faz um calor abafado, não há uma única brisa no ar e o céu está cada vez mais escuro. Faz muito tempo que não vejo cães vivos, mas, com certeza, se houvesse algum nas imediações, estaria uivando como um louco. O ar parece estranhamente mais denso e tenho certeza de que os sons soam como amortecidos. E como estar em um filme de terror. É assustador. Enquanto dirigia a toda a velocidade que me parecia prudente, sentia os pelos do meu braço se arrepiarem. Precisava chegar rápido a esse hospital ou encontrar algum lugar onde me abrigar. Saímos de novo em uma estrada secundária a apenas quatro ou cinco quilômetros do hospital, segundo o GPS. O veículo, coberto de barro, patinou um pouco no mato do acostamento, mas finalmente a tração nos permitiu entrar na rua deserta. Parei um momento para observar Prit. Continuava semi-inconsciente por efeito da morfina, em um estado preocupante. Dei uma olhada dos dois lados da rua. Não se via nem uma alma, nem um maldito ser vivo. Alguns tufos de mato verde mostravam timidamente a cabeça pelas fendas do asfalto. Fazia meses que ninguém passava por aquela estradinha secundária. Em questão de poucos meses mais, seria completamente devorada pelo mato. Engatei primeira e comecei a rodar para o hospital. Depois de uns minutos de estrada,


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