Mensagem do Secretário-Geral da Amnistia Internacional

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Prémio Nobel da Paz 1977

Setembro de 2019

A todas as pessoas que, pelo mundo, se dedicam a ensinar as nossas crianças e jovens:

O meu nome é Kumi Naidoo e sou o Secretário-Geral da maior organização de direitos humanos do mundo, a Amnistia Internacional. Escrevo-vos hoje sobre o que considero ser a questão mais importante que a nossa atual geração de crianças e jovens enfrenta. Como sabem muito bem, o ano passado assistiu a uma onda sem precedentes de ativismo por parte de jovens de todo o mundo em resposta à emergência climática que o nosso planeta enfrenta. Inspirados pelo exemplo de Greta Thunberg, centenas de milhares de jovens de dezenas de países juntaram-se ao movimento Fridays for future, participando em manifestações, o que muitas vezes significou faltar à escola. Compreensivelmente, o facto de faltarem às aulas para participarem neste movimento provocou fortes reações e preocupações. Compreendo a miríade de pressões que especialmente vocês, enquanto docentes, enfrentam ao lidar com esta questão. Mas, depois de tudo o que foi dito, creio que a causa pela qual estas crianças e jovens estão a lutar tem um significado tão histórico que vos escrevo hoje com um pedido para que não impeçam nem punam a participação das e dos estudantes na Greve Climática Global, prevista para a semana de 20 e 27 de Setembro. A emergência climática não é apenas uma questão de direitos humanos, é a questão que define os direitos humanos para esta geração de crianças e jovens. As suas consequências irão moldar as suas vidas em quase todos os sentidos imagináveis. O fracasso da maioria dos governos em agir diante da esmagadora evidência científica é, sem dúvida, a maior violação intergeracional dos direitos humanos na história. Ao participarem nestes protestos, os e as jovens estão a exercer o seu direito humano ao protesto, que abrange o direito à liberdade de expressão, o direito de organização e o direito à liberdade de expressão. Os direitos humanos existem para nos ajudar a viver juntos em liberdade, justiça e paz. Mas nada disso é possível sem um planeta habitável. O direito a um planeta habitável é como o Artigo Zero dos direitos humanos. É um direito inato que, infelizmente, as gerações mais novas foram obrigadas a reivindicar. Os e as jovens já demonstraram que têm a capacidade de tomar esta decisão e que devem ser capacitados e capacitadas para decidir se querem ou não participar. Além disso, ao participarem nestes protestos, estão, de facto, a ensinar-nos a todos uma lição valiosa: a importância de ouvirmos a ciência e de nos unirmos para fazer campanha por um futuro melhor. Quem participa na greve do clima, defende os direitos humanos. O movimento "Fridays for Future” foi nomeado vencedor do prémio "Embaixador da Consciência" da Amnistia Internacional para 2019. No passado o mesmo prémio foi atribuído a pessoas como Nelson Mandela, Malala Yousafzai, Ai Weiwei, Harry Belafonte, Joan Baez e Colin Kaepernick.


Prémio Nobel da Paz 1977

Nós, da Amnistia Internacional, entendemos que o sistema educacional de cada país é diferente, mas uma coisa que une as escolas em todo o mundo é seu compromisso com os direitos humanos e o desenvolvimento de processos educativos sobre estes mesmos direitos. Para este efeito, estamos a criar também recursos educativos para vos ajudar a orientar sobre como falar com jovens sobre a crise climática e o que esta significa para os seus direitos. Ao ver estes protestos acelerarem, não posso deixar de me lembrar do meu próprio passado. Aos 15 anos, quando estava na escola, na minha terra natal, África do Sul, organizei um protesto contra o sistema do regime do Apartheid. Fui expulso por causa disso. Foi um momento devastador para mim. Senti vergonha de ter sido expulso, e um medo esmagador de como isso poderia afetar o meu futuro. Na verdade, este recuo redobrou o meu compromisso com a aprendizagem e, felizmente, pude concluir os meus estudos e, finalmente, assumir o papel que tenho a honra de desempenhar hoje. Mas eu também tinha algo que as crianças e os e as jovens desta geração não têm: a oportunidade de imaginar um futuro que não seja ofuscado pela perspectiva de uma emergência climática. A minha experiência também me transmitiu a minha forte convicção de que as gerações mais novas não devem ser punidas por falarem sobre as grandes injustiças da nossa era. De facto, quando recai sobre a juventude a responsabilidade de mostrar o que muitas pessoas adultas que ocupam grandes posições de poder não conseguiram fazer, não é o comportamento dos e das jovens que devemos questionar. É o nosso. Com solidariedade, Kumi Naidoo


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