VIOLÊNCIAS, INDÚSTRIA CULTURAL E SUBJETIVIDADE: OS IMPACTOS NAS IDENTIDADES INDIVIDUAI

Page 163

Violências, Indústria cultural e Subjetividade: Os Impactos nas identidades Individuais - Angela Maria Pires Caniato

da diferença, da diversidade, da alteridade e nem um coletivo humano transformador, verdadeiramente cidadão. Esses modelos são difundidos, em especial, pela ‘MÍDIA’ e, para melhor controle social, eles são cada vez mais comuns a todos os indivíduos do planeta. Em que diferem e em que se aproximam os indivíduos de hoje que têm as suas ‘vidas desperdiçadas’ e transformadas em ‘máscaras mortuárias’ daqueles ‘museulmannes’ que passavam fome, idiotizados e sem vontade própria, que mantinham um semblante triste e uma expressão mecânica de indiferença, que estavam morrendo de desnutrição, que caminhavam com a cabeça inclinada e as espaldas encurvadas e em cujos olhos não se podia ler nem rastro de pensamentos: cadáveres ambulantes, mortos vivos que viviam sob a contínua ameaça de morte nas câmaras de gás de Auschwitz e que lá sofriam toda uma série de chacotas morais, inclusive de seus pares judeus, prisioneiros, também do campo de extermínio? [...] Os companheiros de prisão, que temiam continuamente por sua vida, nem siquer lhe dedicavam uma olhada. Para os detidos que colaboravam, os museulmannes eram fonte de raiva e preocupação, para as SS só inútil imundice. Uns e outros não pensavam mais que em eliminá-los, cada um a sua maneira (AGAMBEN, 2005, p. 44, tradução nossa)28. Novamente é Agamben em seu livro Lo que queda de Auschwitz (2005, p. 41) que define o museulmannes: O denominado Museulmann, como era chamado na linguagem do Lager o prisioneiro que havia abandonado qualquer esperança e que havia sido abandonado por seus companheiros, não possuía já um estado de conhecimento que lhe permitira comparar entre o bem e o mal, nobreza e baixeza, espiritualidade e não-espiritualidade. Era um cadáver ambulante, emaranhado de funções físicas já em agonia. Devemos, pois, por dolorosa que nos pareça à eleição, exclui-la de nossa consideração (AMÉRY apud AGAMBEN, 2005, p. 41, grifo nosso, tradução nossa)29. [...] fizeram chegar até nós um grupo de Museulmann, como os chamaríamos depois, que eram os homens múmias, os mortos vivos, e os fizeram aproximar-se de nós só para que os víssemos, como se nos dissessem que vocês chegarão a se igual a eles (CARPI apud AGAMBEN, 2005, p. 42, tradução e grifo nosso)30. [...] aqueles que haviam, perdido há muito tempo toda a vontade de viver [...] 28

“[...] Los compañeros de prisión, que continuamente se temía por su vida, o siquer dedicó una mirada. Para detenidos que cooperaron, los museulmannes eran una fuente de la ira y la preocupación por la SS solamente suciedad inútil. Entre sí y no pensar más de la eliminación de ellos, cada uno en su propio camino”.

29

“El denominado Muselmann, como se llamaba en el lenguaje del Lager al prisionero que había abandonado cualquier esperanza y que había sido abandonado por sus compañeros, no poseía ya un estado de conocimiento que le permitiera comparar entre bien y mal, nobleza y bajeza, espiritualidad y noespiritualidad. Era un cadáver ambulante, un haz de funciones físicas ya en agonía. Debemos, pues, por dolorosa que nos pareza la elección, excluirle de nuestra consideración”.

30

“[...] hicieron bajar con nosotros a un grupo de Muselmann como los llamaríamos después, que eran los hombres momia, los muertos vivos; y los hicieron bajar con nosotros sólo para hacérnoslos ver, como para decirnos: llegaréis a ser igual que ellos”. 162


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.