APRENDIZAGEM SOCIOAMBIENTAL EM LIVRE PERCURSOA EXPERIÊNCIA DA UMAPAZ

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1. Introdução Duas tristezas. A primeira é não ter fome quando a comida está servida na mesa. A segunda é ter fome quando não há comida na mesa. A vida acontece entre essas duas tristezas. O encontro entre fome e comida tem o nome de alegria. Rubem Alves – Do universo à jabuticaba O tema Alimentação Saudável é encontrado atualmente com destaque e atenção nas diversas instâncias da saúde pública, enfatizado pelos profissionais da saúde e também está presente como crescente preocupação das pessoas em geral. Muito é apresentado como proposta no sentido de se observar uma alimentação que corresponda às necessidades de cada indivíduo, levando-se em consideração características como faixa etária, condições de saúde, gasto energético, entre outras. Com a multiplicidade de opções e de orientações que são encontradas e disponibilizadas pelos meios de comunicação, pesquisas, cursos, palestras e tantos outros meios de informação, assim como em livros e revistas, o assunto está cada vez mais presente e as trocas entre profissionais de saúde e os indivíduos estão mais frequentes. O ato de comer, embora rotineiro, explicita uma complexa teia de aprendizado, hábitos e sentimentos. O componente biológico está ligado ao cultural, social, assim como a compreensão das necessidades e fundamentos nutricionais se entrelaçam com a noção de paladar e prazer. O tema parece hoje suscitar discussões e proposições novas a cada dia a respeito de determinado alimento, dietas, cardápios, combinações favoráveis ou não, muitas vezes gerando dúvidas e radicalismos. Alguns conceitos são repetidos pelas pessoas ainda que sem clareza ou profundidade, apontando a importância de melhor compreensão de fundamentos para a incorporação e adequação de atitudes positivas e compatíveis com hábitos saudáveis de alimentação e de vida. 146

O cuidado ao se considerar a sugestão de uma alimentação saudável deve levar em conta os aspectos culturais e simbólicos dos indivíduos e grupos além das necessidades básicas biológicas nutricionais e universais. Este é um componente importante a ser considerado e diversos trabalhos foram desenvolvidos nas últimas décadas nesta direção. Ao situar o trabalho antropológico na vinculação entre o natural e cultural, Romanelli (2006, p.334) afirma que “se a fome situa-se na esfera do natural e universal, as práticas alimentares, também universais, não são naturais, mas situam-se no campo da cultura”, considerando que o ato de saciar a fome é específico de cada sociedade fazendo parte de todo um sistema simbólico a ela inerente, onde conclui: “Se todos precisam comer, não o fazem do mesmo modo” (ROMANELLI, 2006, p. 335). Este é um assunto complexo, pois quando se fala de hábitos e mudança de hábitos muitos aspectos devem ser considerados. Os hábitos alimentares são comportamentos arraigados do ser humano, e revelam a cultura em que cada um está inserido. Para Mintz (2001, p. 31) “Como precisamos comer para viver, nenhum outro comportamento não automático se liga de modo tão íntimo à nossa sobrevivência”. E avalia ainda que “nossas atitudes em relação à comida são aprendidas cedo e geralmente transmitidas por ‘adultos afetivamente poderosos’, o que confere ao nosso comportamento um poder sentimental duradouro”. (MINTZ, 2001, p. 31, grifo do autor). E destaca ainda que além da frequência e constância necessária no ato de alimentar-se, é a esfera onde o indivíduo exerce alguma escolha, e esta poderia refletir uma base que liga o mundo das coisas ao mundo das ideias por meio de nossos atos e sendo assim também a base para nos relacionarmos com a realidade. Em um momento de aceleração e trocas evidenciadas na disponibilidade crescente de gêneros alimentícios, as tradições culturais são mescladas entre os


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