O Yoga de Sri Aurobindo - Partes V a VII

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SINCERIDADE É VITÓRIA

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mais que o Divino, vivem para Ele e por Ele. E isso não é coisa fácil. Ser sincero numa parte, ser sincero no todo, ser sincero em momentos, é bastante fácil, todos podem fazê-lo ou chegar a esse ponto. Está dentro da capacidade de qualquer ser humano de boa vontade normal, ser sincero em seus movimentos psíquicos, mesmo se estes forem raros. Mas ser sincero em cada célula do corpo físico é uma façanha ainda mais rara e mais árdua. Dirigir as células do corpo para essa única direção, a tal ponto que sintam que não podem viver senão para o Divino, nele e, através dele, é sinceridade verdadeira e é o que você deve ter. Primeiro, você deve observar que não há um dia em sua vida, nem uma hora, nem mesmo um minuto em que não tenha de retificar ou intensificar sua sinceridade. Não digo que você engane ao Divino. Ninguém pode enganá-Lo, nem mesmo o maior dos Asuras. Mesmo quando você tiver entendido isso, sempre haverá momentos em sua vida diária em que tentará enganar-se a si mesmo. Quase automaticamente, você apresenta razões para qualquer coisa que faça. Não falo de coisas mais vulgares, como quando você briga com uma pessoa, por exemplo, e na sua raiva, lança toda a culpa nela. Conheci uma criança que dava um chute na porta porque pensava que ela fosse culpada. E sempre a outra parte que está errada. Mas mesmo que você tenha passado além deste estágio infantil, quando já é de se esperar que tenha um pouco mais de bom senso, você faz as maiores tolices e tenta justificá-las de todo modo. O teste real de sinceridade, do mínimo de sinceridade verdadeira, está na sua reação a uma dada situação: se você pode assumir automaticamente a atitude certa e fazer exatamente a coisa a ser feita. Por exemplo, quando alguém lhe fala zangado, você se contagia e fica bravo também, ou é capaz de manter uma calma e clareza inabaláveis, ver o ponto de vista do outro e comportar-se como deve? Bem, isto é exatamente o começo da sinceridade, seus rudimentos. E se você se examinar com olhos mais perspicazes, descobrirá milhares de insinceridades mais sutis e no entanto, palpáveis. Tente ser sincero e então você saberá como isso é difícil. As ocasiões em que se apanha sendo insincero se multiplicarão. Você diz que pertence ao Divino, somente ao Divino e a mais nada e a mais ninguém: "é o Divino que me move e faz tudo em mim". É assim você faz tudo que lhe agrada e usa o Divino como capa para encobrir sua complacência a desejos e paixões. Isto também é insinceridade vulgar e não deveria ser difícil detectá-la, embora enganar-se a si próprio seja uma ilusão mais comum do que enganar aos outros. A mente se apodera de uma ideia e diz: "Tudo isto é Brahman" "Eu sou Brahman", — e você acredita ou finge acreditar que O realizou e não pode fazer nada errado. Há entretanto movimentos mais sutis de insinceridade ou falta de sinceridade, mesmo quando você não vestiu o manto divino como disfarce para acobertar seus lapsos. Mesmo quando você pensa que é sin-


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