Cadernos CPqD Tecnologia V5 Nº 2

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Análise do potencial de TV interativa no Brasil

de serviços que podem incrementar a qualidade de vida do usuário, que, por sua vez, pode ter acesso aos serviços eletrônicos em sua residência. Em termos genéricos, segundo o relatório de Screen Digest et al. (2006), interatividade pode referir-se tanto ao conteúdo em si como às formas alternativas de uso de conteúdo que permitem ao usuário escolher o quê, onde, quando e como consumi-lo. Há conteúdo intrinsecamente interativo (como os jogos online) e há conteúdo que pode ser usufruído tanto por meio de mídias tradicionais como por meio de novas plataformas digitais que suportam recursos de interatividade. Mais especificamente com respeito aos serviços interativos acessados pela TV, os elaboradores citam também a definição de TV interativa da AFDESI1: um serviço que permite ao usuário interagir com o programa televisivo, gerando um resultado na tela da TV. Os serviços de TV interativa diferenciam-se da programação televisiva tradicional, que é linear, unidirecional e recebida de maneira sequencial pelo telespectador. Meyer et al. (2002) e Rios et al. (2005) definem interatividade na TV como uma funcionalidade que habilita o acesso a serviços que permitem a participação do usuário na escolha do conteúdo a ser usufruído por meio de um receptor de TV. Para proporcionar a interação do usuário, são necessárias aplicações de software executadas no receptor de TV (set-top box ou aparelho de TV integrado) com recursos e funcionalidades que permitem interagir de maneira mais ativa através do uso do controle remoto. O meio pelo qual ocorre a interação entre o usuário e o conteúdo do serviço televisivo é o canal de interatividade, conforme Figura 1. Esse meio é constituído de duas partes: o canal de descida e o canal de retorno. O canal de descida é o caminho percorrido pelas informações destinadas ao usuário ao longo de uma rede. Já o canal de retorno é bidirecional, podendo fazer o transporte de informações também do usuário para o provedor de serviço.

Figura 1 Representação esquemática do canal de interatividade

As aplicações interativas podem apresentar dois níveis básicos de interatividade: (i) interatividade

local, que ocorre entre o usuário e o conteúdo armazenado no receptor de TV, não necessitando, por essa razão, de um canal de retorno para envio de informações do usuário; e (ii) interatividade remota, que utiliza um canal de retorno para envio e recepção de informações entre o usuário e o provedor de serviço televisivo, sendo nesse caso o receptor conectado a uma rede de telecomunicações bidirecional, com ou sem fio. Os canais de descida e de retorno podem ser fornecidos por diversas redes de comunicações. Cada rede apresenta características técnicas que atendem a determinadas necessidades: enquanto algumas se prestam a transmitir conteúdo apenas no sentido provedor-usuário, outras possibilitam a transmissão de dados em ambos os sentidos. No caso da plataforma de TV mais difundida no Brasil, a radiodifusão analógica terrestre de sinal aberto, hoje somente é possível a distribuição unidirecional. A digitalização dessa plataforma, iniciada no País em dezembro de 2007, viabilizará a oferta de serviços interativos. A interatividade remota, quando requerida por um serviço, deverá ser suprida por outras redes que façam as vezes de canais de retorno externos (linha telefônica). De modo similar, o sistema de TV por satélite, Direct to Home (DTH), normalmente não provê canal para interatividade remota, que deve ser fornecida por outra rede. Entre as vantagens dessa plataforma de transmissão de TV digital, destacam-se a cobertura nacional ou mesmo continental, o grande número de canais disponíveis e a oferta de programas interativos. O cabo coaxial digital, por sua vez, já suporta aplicações com interatividade remota. Porém, a maior parte da rede de cabo no Brasil ainda é unidirecional e, portanto, requer a utilização de outra rede como canal de retorno para aplicações com interatividade remota. Atualmente, o cabo é o sistema de distribuição de TV por assinatura mais utilizado no Brasil, contando com 62,4% dos assinantes, mas a sua penetração ainda é pequena, possuindo menos de 4 milhões de assinantes (ANATEL, 2008). Por fim, a plataforma Internet Protocol Television (IPTV) é baseada em redes dedicadas IP bidirecionais de alta capacidade, apropriadas ao provimento de programas e aplicações de TV digital interativa. O número de canais disponíveis numa plataforma de IPTV é potencialmente elevado, uma vez que o consumo de banda no acesso é igual à banda ocupada pelos canais sintonizados pelo usuário num dado momento, diferentemente do que acontece nos serviços de radiodifusão ou de cabo. Esse serviço é incipiente no Brasil e ainda está em processo de implantação.

1 Association for the Development of Enhanced TV Services and Interactivity.

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Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 2, p. 65-82, jul./dez. 2009


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