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Curiosidades da Vila

Dia De S O Vicente

No dia vinte e três de Janeiro de 2023, os nossos utentes do Centro de Dia, técnicas e colaboradoras festejaram o Padroeiro desta Resposta Social. Este ano, convidaram os utentes do ERPI para alegrar mais a festa. Houve baile, canto, anedotas e como não podia faltar um lanche recheado. Foram momentos bem passados, vividos com muita alegria.

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Pois o Santo São Vicente sempre nos ampara e protege em cada dia.

Irmã Alice Animadora Sociocultural

Dia da Árvore

A atividade do dia Mundial da Árvore consistiu em plantar uma árvore no Jardim do Toural. Com esta atividade pretendemos sensibilizar os nossos utentes para a importância da preservação das árvores, quer ao nível do equilíbrio ambiental e ecológico, bem como para a qualidade de vida de todos nós. Pequenos gestos fazem toda a diferença.

Sandra Oliveira Técnica Superior de Desporto

Rota dos Moinhos Caminhada vilarandelo

8Abril Rota dos Moinhos Caminhada vilarandelo

8Abril

13KM13KM

Dificuldade

Caminhada

Início às 13h30 no Jardim do Toural nossas maravilhosas paisagens.

Patrícia Doutel

5€

5€

BUPI – Balcão Único do Prédio

No passado dia 20 de Abril, pelas 14h30m, realizou-se uma sessão de esclarecimento sobre o BUPI, no salão da Casa do Povo de Vilarandelo. Simplificadamente, este serviço tem como objectivo a identificação e o registo dos terrenos de forma gratuita.

“ A sua história está escrita nos seus terrenos. Os marcos que só você conhece e a terra que mais ninguém pisa. Por isso proteger as suas raízes e valorizar o seu legado está nas suas mãos!”

De 24 a 28 de Abril, esteve presente , na Junta de Freguesia de Vilarandelo, um balcão móvel, a auxiliar todos os interessados da freguesia.

Patrícia Doutel

Lembrais-vos de mim?

ZÉ MARIA “CIGANO”

No âmbito do Eixo de Intervenção 3 - Promoção do envelhecimento ativo e apoio à população idosa, o CLDS 4G Valpaços promoveu, em parceria com Associação Mentalmente de Mirandela, a ação de sensibilização “Demências: prevenir, identificar e atuar”, no dia 2 de março de 2023, no Auditório Arte e Cultura Luís Teixeira em Valpaços.

Nesta ação participaram cerca de 60 cuidadores formais, informais e público em geral, onde foi abordado o conceito de demência e dos vários tipos de demências; os sinais e sintomas do Alzheimer e das outras demências, bem como a importância das atividades de estimulação cognitiva para atrasar e/ou minimizar os processos demenciais.

Foram também criados vários momentos de partilha e reflexão sobre a temática e experiências pessoais ao longo de toda a ação.

Marta Alves

Coordenadora Técnica CLDS 4G Valpaços

e criação do próprio emprego”

O CLDS 4G Valpaços, projeto promovido pela Casa do Povo de Vilarandelo em parceria com o Município de Valpaços, promoveu dia 24/03/2023 a ação de sensibilização “Empreendedorismo e criação do próprio emprego” em articulação com a Equipa de Acompanhamento aos Beneficiários de RSI do Concelho de Valpaços, na Biblioteca Municipal de Valpaços.

A ação foi dinamizada, no âmbito do Eixo de Intervenção 1 – Emprego, Formação e Qualificação, com a colaboração do Departamento de Microcrédito do Banco Millenium BCP e pretendeu promover a divulgação de informação sobre projetos de autoemprego e de empreendedorismo junto dos(as) destinatários(as), promovendo o encaminhamento dos interessados(as) para os diversos agentes locais.

Marta Alves Coordenadora Técnica CLDS 4G Valpaços

No âmbito do Eixo de Intervenção 3 - Promoção do envelhecimento ativo e apoio à população idosa, o CLDS 4G Valpaços promoveu ações de Terapia do Riso realizadas junto de cerca 200 pessoas idosas do Projeto Afetos - núcleos de Lebução, Carrazedo de Montenegro, Zebras, Veiga de Lila, Friões, Valpaços e Sonim, que decorreram no Auditório Arte e Cultura Luís Teixeira em Valpaços, nos dias 6 e 13 de março de 2023.

Esta ação foi dinamizada pela Nilza Gonçalves, Gymmindfamily e tiveram como objetivo a promoção do bem-estar físico e emocional das pessoas idosas através de diferentes dinâmicas desenvolvidas para gerar emoções positivas, o riso e a gargalhada. Pretendeu também favorecer a socialização e os relacionamentos interpessoais. Foram momentos de muita diversão e sorrisos.

Marta Alves

Coordenadora Técnica 4G Valpaços

Antigamente e ao longo do ano, passavam por Vilarandelo várias comunidades ou famílias de ciganos que por aqui acampavam, um ou dois dias, antes de cada feira (a 9 e 23 de cada mês), para desarmarem a tenda, logo a seguir, e partirem para outras paragens. Estes “Filhos do Vento” andavam errantes, de terra em terra, de feira em feira. Eram, essencialmente, da raça “Calé”. Originários do subcontinente indiano, apresentavam características culturais comuns, havendo, no entanto, grandes diferenças entre os seus subgrupos.

Vinham em famílias completas, pais, filhos, netos não faltando o cão, a ovelha, a galinha e, até, a mula e o burro e a respectiva carroça. Tudo fazia parte da família. Lembro-me do grupo da “Cigana Iria” do qual, com certeza, ainda por cá andarão filhos, netos e até bisnetos. Estes pobres ciganos faziam e reparavam cestos de verga; empalhavam garrafões; reparavam, também, panelas, sombreiros e peneiras, enquanto as mulheres andavam, de porta em porta, a pedir ou, então, a “ler a sina” nas feiras.

Havia, também, os de outra raça, a quem nós chamavamos “Guitanos” que, mal falando o português, se expressavam numa língua chamada “rumano” e que se ocupavam da compra e venda de animais, nas feiras, tentando sempre levar o outro ao engano, isto é, tentando aldrabá-lo. Ora, no início dos anos 60 do século passado, apareceu por cá, o Zé Maria, de chapéu preto, burro cinzento, mais a sua Clara, casal simpático cuja ocupação inicial dele, era uma “banca” da “pucarinha”

A “pucarinha”, jogo de azar, essencialmente gerido por ciganos, de fácil funcionamento e entendimento, bastando para tal um dado (geralmente viciado), um copo (a pucarinha) e os seis algarismos correspondentes a cada face do dado, escritos no tampo duma rudimentar mesa, dividida em outros tantos retângulos. Jogo este bem aceite, devido à rapidez com que as pequenas somas de dinheiro passavam de mão em mão.

Um dia, o Zé Maria e a sua Clara decidiram deixar a vida de nómadas e passar a viver como qualquer vilarandelense. Tão simpáticos os achava o povo que este resolveu arranjar habitação para o casal, com estábulo para o burro e, assim, passaram a viver numa pequena casa, no Bairro do Outeiro.

Zé Maria começou a trabalhar no campo, como jeireiro, e chegou mesmo a trazer de renda um qualquer bocadito de terra e um lameiro, para se sustentar a ele, à família e ao burro.

Nos primeiros tempos, aos domingos, também ele jogava ao “Chino”, com os da terra e, com eles, bebia uns copitos. Depois, deixou o jogo e era vê-lo, aos domingos e dias santos, empurrando um carrinho, carregado de bugigangas, tais como: navalhas, tesouras, pentes, frizetes e ganchos para o cabelo e alguns coloridos balões, para encanto da criançada, entre outras coisas.

A Clara, sua mulher, também ela, fazia uma vida como qualquer mulher da terra. Na mercearia, onde se aviava, tinha, também ela, direito a fiado. Ia à “bica” buscar cântaros de água e esperava pela vez, como qualquer outra, e com todas falava, sem arrufos ou discussões. Era uma família respeitadora e respeitada.

Pois é!... Estes “Filhos do Vento” vão e vêm com ele e, assim, um dia o tal “vento” trouxe, até Vilarandelo, uma das sua filhas, de quem o Zé Maria se apaixonou de tal maneira que acabaram por fugir os dois, ao sabor do mesmo “vento”. Sabe-se lá para onde! E do Zé Maria nunca mais ninguém teve notícias.

A pobre da Clara, abandonada, ficou, diz o povo, chorosa e amargurada. Até que um dia, também ela desapareceu e não se sabe se levada por alguma rajada mais forte ou com algum “Filho do Vento” já que, também a ela, nunca mais ninguém a viu por Vilarandelo.

José Cancelinha

Oh Senhor da minha vida

Oh Senhor do meu coração

Como é evidente na primavera florida

Não lhe pago a amizade e sua estimação

Todos os dias a minha alma suspira por vós

No mundo renascida para a vida

E na vida cheia de espinhos quem somos nós

Uma sementinha fértil e florida

Ou um raiozinho de sol a iluminar

O caminho de uma estrela a brilhar

Sobre a colina, a encosta e o monte

Literalmente lá no horizonte

E radiantes de paz e de alegrias

Entre sonhos, quimeras e nostalgias

No passar dos anos, meses e dias

Oh que grande maravilha mãe natureza

Que és tão linda, com toda a tua beleza

Dentro de ti só tens doçura

E esta vida é uma aventura

O destino e a vida futura

Nas mãos de Deus quando se alcança

Seja velho, novo ou criança

O nosso viver termina

Quando está nas mãos de Deus

Quando a sua bênção dada nos vem dos céus

E dos céus de toda a humanidade

Unidos com todo o respeito e amizade

Carminda Fidalgo

Utente do Lar de Vilarandelo

Descubra as Diferenças

Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós!

Agradecimento

A família de Lídia Morais Gomes vem, muito sensibilizada, agradecer as inúmeras provas de pesar e carinho que lhe foram manifestadas aquando das exéquias fúnebres do seu ente querido

Agência Funerária Mariana Lino Lda. - Vilarandelo

Agradecimento

A família de Ana Rosa Rodrigues Preto vem, muito sensibilizada, agradecer as inúmeras provas de pesar e carinho que lhe foram manifestadas aquando das exéquias fúnebres do seu ente querido

A família de Adélia Afonso Silvério vem, muito sensibilizada, agradecer as inúmeras provas de pesar e carinho que lhe foram manifestadas aquando das exéquias fúnebres do seu ente querido

Piago Berries é uma empresa de produção de pequenos frutos e seus derivados, situada na Região de Trás-os-Montes, na Vila de Vilarandelo entre a terra fria e a terra quente do concelho de Valpaços, Portugal. Tem um clima com características únicas, Invernos muito rigorosos e Verões muito quentes e secos, que lhe permite gerar produtos de excelência. As compotas são confecionadas de forma artesanal, com frutas da época, mantendo a tradição, sem corantes nem conservantes, onde é possível sentir os aromas e os sabores únicos da fruta.

Agência Funerária Mariana Lino Lda. - Vilarandelo

Agradecimento

Piago Berries é uma empresa de produção de pequenos frutos e seus derivados, situada na Região de Trás-os-Montes, na Vila de Vilarandelo entre a terra fria e a terra quente do concelho de Valpaços, Portugal. Tem um clima com características únicas, Invernos muito rigorosos e Verões muito quentes e secos, que lhe permite gerar produtos de excelência. As compotas são confecionadas de forma artesanal, com frutas da época, mantendo a tradição, sem corantes nem conservantes, onde é possível sentir os aromas e os sabores únicos da fruta.

A família de Luíz Filipe da Silva vem, muito sensibilizada, agradecer as inúmeras provas de pesar e carinho que lhe foram manifestadas aquando das exéquias fúnebres do seu ente querido

Agência Funerária Mariana Lino Lda. - Vilarandelo

Agência Funerária Mariana Lino Lda. - Vilarandelo

Agradecimento

Piago Berries company produces small fruits and its derivatives, located in the region of Trás-os-Montes, in the village of Vilarandelo between the cold and the hot land of the county of Valpaços, Portugal. It has a climate with unique characteristics, very rigorous winters and very hot and dry summers, which allows it to generate products of excellence.

A família de Maria de Fátima dos Santos Magalhães vem, muito sensibilizada, agradecer as inúmeras provas de pesar e carinho que lhe foram manifestadas aquando das exéquias fúnebres do seu ente querido

Agradecimento

A família de José Melo Pascoal vem, muito sensibilizada, agradecer as inúmeras provas de pesar e carinho que lhe foram manifestadas aquando das exéquias fúnebres do seu ente querido

Keeping the tradition alive, the jams are manually prepared with seasonal fruits, without coloring or preservatives, where you can feel the aromas and the unique flavors of the fruit.

Agência Funerária Mariana Lino Lda. - Vilarandelo

Agência Funerária Mariana Lino Lda. - Vilarandelo é possível sentir os aromas e os sabores únicos da fruta.

Piago Berries company produces small fruits and its derivatives, located in the region of Trás-os-Montes, in the village of Vilarandelo between the cold and the hot land of the county of Valpaços, Portugal. It has a climate with unique characteristics, very rigorous winters and very hot and dry summers, which allows it to generate products of excellence. Keeping the tradition alive, the jams are manually prepared with seasonal fruits, without coloring or preservatives, where you can feel the aromas and the unique flavors of the fruit.

Produtor / Producer

Bruno Miguel de Carvalho Pascoal (+351) 963220259 / 961045303

Produtor / Producer

Bruno Miguel de Carvalho Pascoal (+351) 963220259 / 961045303

Morada / address

Morada / address

Rua da Caçónia, n.º 18 5430-636 Vilarandelo | Portugal piagoberries@gmail.com

“A Casa da Cruz”

de José M. Sequeira Cancelinha

João Portelinha namorava

Adelaide, coisa de que o pai, Manuel, não gostava nada. Não tanto por causa dela mas mais pela família donde provinha. Adelaide era filha de Armando Machado que vivia do que contrabandeava atravessando a raia normalmente pela calada da noite, ou a soldo dos Fragosos percorrendo as mais importantes feiras e mercados da região vendendo os produtos agrícolas destes, principalmente os que extorquiam e também aqueles que ele, Armando, surripiava.

Manuel Portelinha ainda não conseguira esquecer e talvez nunca mais o viesse a fazer, quando em tempos lhe desapareceram duas ovelhas do rebanho que trazia entregue a um pastor... “E quem foi e quem não foi?”- Interrogava-se.Nunca o soube, até ao dia em que calhou de ir à feira de Monforte, e qual não foi a sua surpresa ao ver que ali vendendo as suas duas ovelhas estava nada mais nada menos que o pai de Adelaide, Armando Machado. “Que não, que não eram as dele... Que não as estava a vender mas que as tinha comprado a um que nem conhecia e que se fora logo embora.” Manuel apenas lhe disse que nunca mais lhe dirigisse a palavra porque com gente daquela laia não queria nada e virou-lhe as costas enquanto ouvia os impropérios vindos da boca de Armando.

Adelaide era uma rapariga de cabelos ruivos, quase vermelhos, tez muito clara e um pouco sardenta. Só porque era diferente de todas as outras raparigas, toda a gente na aldeia lhe gabava a beleza, não faltando, mesmo, quem afirmasse que era a moça mais bonita deVilarandelo.

Este seu namoro com João era um namoro de escapadelas quase à socapa. Já se falava, até demais, na aldeia. Havia até quem afirmasse que os tinham visto num giestal lá para os lados do Pousadouro, mas isso eram apenas as más-línguas.

O namoro começou efetivamente num dia por altura das segadas quando Adelaide tinha ido ao campo apanhar a fruta do chão para dar aos porcos e como estava um dia de grande calor e não tinha água por perto pediu ao João, que andava com os segadores no terreno contíguo, se podia ir beber à mina deles. O rapaz disse que sim, que a água e a salvação não se negam a ninguém.

Aproveitou e foi, também ele, com a rapariga, beber. Quando já tinham descido a pequena rampa e estavam à boca da mina João disse-lhe:

“Todo o povo diz que és muito bonita, Adelaide”

“Oh...”, corou a rapariga

“Sabes Adelaide...“, e deixou a frase no ar, não porque não soubesse o que queria dizer mas, simplesmente, porque lhe faltavam as palavras e o jeito para as dizer.

Adelaide percebeu muito bem o que não foi dito e corou novamente. A água que ali foi beber mitigar-lheia, talvez, a sede mas não lhe apagaria a chama que há muito se acendera e que agora se tornava fogo e que naquele momento impiedosamente ardia e a consumia por dentro. Há muito tempo que João não lhe era indiferente.

João encheu o púcaro de barro que ali se encontrava para que, quem quisesse, por ele pudesse matar a sede e ao entregá-lo a Adelaide pegou-lhe na mão e ali ficaram de mão dada enquanto bebiam, primeiro ela, depois ele, naquele silêncio onde apenas se ouvia o rechinar das ceitouras cortando o centeio.

“Assim vais ficar a saber os meus segredos.” Disse Adelaide com ar envergonhado e baixando os olhos.

“Aposto que os teus segredos são iguais aos meus, Adelaide.”Respondeu-lhe João.

Adelaide largou-lhe a mão e deitou a correr em direção ao seu terreno que alcançou depois de saltar o muro. O rapaz sem pressas aproximou-se da parede para lhe dizer:

“Temos que falar a sério,Adelaide.”

“Está bem João. Mas agora tenho que ir que a minha mãe já está à minha espera para dar de comer aos recos.”

A partir de então foi um namoro de encontros fugazes e às escondidas porque assim que o pai dele soubera chamou-o para lhe dizer que era completamente contrário a tal relação e que jamais lhe aparecesse à frente com semelhante criatura.

****

O verdadeiro e decisivo encontro, entre os dois, deu-se no dia da festa da Senhora da Saúde em Valpaços. Eram as Festas da Vila e do Concelho. Ali acorria gente de todo o concelho, e não só, desde Lebução ou Bouçoais aos Vales.

Vinham das maiores aldeias ou dos mais pequenos lugarejos como do Barracão ou da Teixugueira.

Ali chegavam a cavalo ou a pé, em grupos, por vezes grandes. Traziam o farnel e, os que tencionavam ficar para o arraial, vinham providos de cobertores e mantas que estenderiam nas fragas do terreiro onde depois se labesteiravam para comer, para ouvir a música e ver o fogo-de-artifício e onde os mais novitos adormeceriam, cansados, alheios a tudo e a todos.

Romance ouvir a música e para a comentar dando a sua opinião dizendo qual das duas era a melhor banda, outros havia, talvez a maioria, que iam dançando ao som da mesma. Mas todos se transferindo de um coreto para o outro conforme a banda que estivesse a atuar.

A procissão era sempre acompanhada por uma grande multidão desde a Igreja Matriz até à Capelinha de Nossa Senhora da Saúde. Calhava sempre no primeiro sábado de Setembro. Nesse ano João e Adelaide seguiam, também eles, o cortejo religioso, cada um com o seu grupo familiar e, assim que se viram, foram, estrategicamente, deixando-se ficar para trás até perderem de vista os restantes membros e se perderem também eles no meio da multidão. E assim continuaram em passo lento e aos segredinhos até ao terreiro da ermida.

Chegados que foram ao primeiro coreto das bandas, sorrateiramente se rasparam para trás dele. Foi ali que de fugida deram o primeiro e tímido beijo. Foi também ali que João lhe prometeu que um dia havia de casar-se com ela, quisesse ou não quisesse o pai e a família. Com ela fugiria para o fim do mundo se preciso fosse. Ela disse-lhe que sim. Que também gostava muito dele e que era com ele que um dia queria casar. ****

João e os irmãos iam ficar para o arraial. Adelaide também ficaria porque, tendo vindo com o pai, este só iria embora mesmo no fim quando já estivesse bem bebido. Era o que sempre fazia em dias de festa ou de feira. Era sempre dos últimos a ir para casa e a maior parte das vezes só depois de armar alguma zaragata. Não eram raras as vezes em que chegava a casa com a cabeça partida. Mas naquela noite Adelaide até nem se importava que o pai bebesse um copito a mais. Se calhar até era melhor. Pelo menos tinha a certeza de que ficaria até tarde tendo João por perto. Até nem lhe ia custar nada, quando chegasse a casa, já ao alvorecer, e que, mesmo sem dormir, tivesse que ajudar a mãe fazer a lida da mesma.

Nas redondezas, e não só, não havia arraial como o de Valpaços. Tinha sempre duas das melhores bandas de música e naquele ano a comissão de festas esmerarase na escolha, pois que tinham contratado a Banda de Vilarandelo e a de Rebordondo que, com a Banda dos Pardais, de Chaves, era o que de melhor havia em termos musicais.Além disso era o arraial que melhor fogo-de-artifício apresentava, quanto mais não fosse valia pelos estrondosos morteiros do Charrua, conceituado fogueteiro também ele de Vilarandelo.

Cada uma em seu coreto, as bandas iam tocando ao desafio, ora uma e depois a outra. Se havia aqueles que só estavam ali para

“Adelaide, queres dançar comigo?”, Perguntou-lhe João baixinho sem que ninguém ouvisse.

“Eu nem sei dançar, João.”, Respondeu envergonhada.

“Não faz mal. Eu ensino-te. Vais ver que não custa nada.”

João pegou-lhe na mão e encaminharam-se para a parte mais escura ao pé do coreto onde atuava a banda que, naquele momento, começara a tocar um “pasodoble”. João enlaçou-a pela cintura com o braço esquerdo e com a mão direita agarrou a mão esquerda da rapariga que se abandonou completamente ao ritmo da música deixando-se guiar por ele. Até parecia que sempre tinham dançado os dois quando efetivamente era a primeira vez que o faziam.

No meio de toda aquela gente havia um espectador especial que olhava com prazer o evoluir no terreiro do parzinho que dançava. Esse espectador chamavase Armando Machado, o pai de Adelaide, que imaginava e já se deliciava com o quanto lhe podia render aquele espetáculo. Dirigiu-se à taberna e mandou vir copos de tinto para todos os amigos e conhecidos que ali estavam. “Ehhh!!!... Armando, então cá vai à tua saúde.” Disse um dos do grupo.

“Esta rodada é a minha Adelaide que paga.” Retorquiu Armando rindo-se alarvemente.

“Eu bem sei porque é!...” - gabouse um - “A filha aqui do Armando arranjou namorico de alto lá com ele!” – E dava um estalido com a língua – “E foi hoje aqui no arraial.”

Um outro, que duma golada acabara de emborcar um copo, gracejou: “Se calhar eram aqueles dois que vi escondidos atrás das fragas quando fui mijar”

“Tu que dizes ó mou filho da puta?” – Gritou Armando que, irritado, agarrou o outro pelos colarinhos e deu-lhe dois bons abanões ao que este, sentindo-se ameaçado, atirou o copo, que ainda tinha na mão, à cabeça de Armando fazendo-lhe um grande galo e que só não sangrou porque o apanhou de raspão.

A zaragata acabou logo ali porque foram de imediato apartados pelos presentes. ****

NOTA:

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