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Vilarandelo e seu Património
Uma comunidade que pretenda ter futuro não pode deixar que o seu passado se perca.
A nossa igreja paroquial, cujo orago é São Vicente, está em obras.
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O altar-mor foi retirado para restauro. Na capelamor, as pinturas laterais estão a ser “limpas”.
Ainda há pouco tempo foi feito um peditório para se instalar uma câmara na entrada pela porta grande.
Noto com agrado que se está a tentar preservar o mais rapidamente possível esta parte muito importante do nosso Património.
Mas o nosso património, felizmente, é muito mais que a Igreja Paroquial.
A capela de São Sebastião é o mais antigo local de culto de Vilarandelo.
Temos ainda as capelas de Santo António e a do cemitério, o Senhor da Boa Fortuna e o Santuário do Senhor dos Milagres, não esquecendo as várias “alminhas”.
Lembram-se do Castro da Muradelha?
E os marcos miliários e alguns restos de calçada romana?
E o Cruzeiro e várias fontes?

Uma comunidade que pretenda ter futuro não pode deixar que o seu passado se perca.
O nosso Património é o resultado daquilo que nossos Avós decidiram construir.
A paisagem de que hoje desfrutamos, com seus caminhos, muros, campos, poços, árvores e cultivos, são o fruto de muito suor de inúmeras gerações.
E como podemos preservar o Património Imaterial?
Vamos deixar perder o Auto da Paixão? Não!
Irá faltar gente para a Comissão de Festas? Não!
Temos de apoiar a nossa Banda Musical, para que ela continue a ser uma escola para a vida em comunidade.
Temos de tentar que o nosso Rancho Folclórico possa prosseguir na sua importante tarefa de preservar os cantares, danças e costumes da pequena região em que nos inserimos.
A Morte não é nada
O amor nunca desaparece, a morte não é nada. Eu simplesmente passei do outro lado do caminho. O que éramos uns para os outros, ainda o somos. Chamem-me Zé Comédias, como sempre o fizeram. Falai para mim, como sempre falaram. Parentes! Não estejam tristes.
Continuem a rir do que nos fazia rir juntos.
Que o meu nome seja pronunciado em casa, como sempre foi.
A vida continua a significar o que sempre significou.
Ela é o que sempre foi.
O fio não está cortado.
Porque estarei fora dos vossos pensamentos, simplesmente porque estou fora da vossa vista?
Eu espero por vocês, não estou longe. Simplesmente estou do outro lado do caminho. Está tudo bem.
Adérito Pascoal
Nestas últimas décadas fomos acrescentando mais património imaterial: o Carnaval, o Clube Automóvel e suas perícias, os USPRIGOZUS e seus raids todo-o-terreno e o Futsal, herdeiro de valorosas memórias do nosso Futebol. Agradeceremos, penhoradamente, as ajudas que nos derem, nomeadamente, o Município de Valpaços e outras entidades supra-municipais.
Mas o esforço maior terá de ser nosso. Não esperemos que os outros venham fazer o que é nossa obrigação. Vilarandelo e o seu Património - somos todos chamados a preservar a nossa História.
José António Doutel Coroado

Fadinho Serrano (para rir)
Muito bom dia
Senhoras e senhores
Cá em Portugal
Há bons bebedores
Há bons bebedores
De vinho ao copo
Quantos mais bebem
Mais sede mostram
Mais sede mostram
Com isso me engano
Lá com a caneca
Ao lado do escano
Ao lado do escano
Mas que fantasia
Já não bebem mais
A pipa está vazia
Porquinho serrano
É tão ao meu gosto
Da cabeça ao pé
E ao entrecosto
E ao entrecosto
Feito na panela
Aqueles rojões

E aquela costela
Aquela costela
Mas que bem me sabe
Eu só tenho pena
Que isso acabe
Que isso acabe
Daquela maneira
Mas faz-se chouriça
E a boa alheira
E a boa alheira
Tanto falam nela
A melhor alheira
É a da minha terra
José Nogueira Cavalheiro
Invento
O papel com que te escrevo sai-me da palma da mão a tinta sai-me dos olhos a pena do coração
Vai-te carta vai depressa lindos olhos vais ver põe-te carta de joelhos quando o meu amor te estiver a ler
Vai-te carta, vai-te carta nas asas dum avião vai dizer ao meu amor que o amo do coração
No alto daquela serra andam os sobreiros a arder eu passei no meio deles meu amor só para te ver
Menina estás à janela deixa-me ver o teu rosto se me negas o que te peço morro cheia de desgosto
No alto daquele monte andam dois coelhos bravos já é tempo que se juntem dois corações desejados
O meu amor disse que vinha quando a Lua viesse a Lua já vai tão alta meu amor não aparece
O amor é pequenino às escuras não o acho uma pulga deu-lhe um coice deitou-mo da cama abaixo
Marília Garcia Gonçalves Janeiro 2023
Rivalidades
Quando as rivalidades eram do foro cultural, eram bem-vindas. Cada concelho ou freguesia, procurava fazer a sua festa, maior e melhor. Mas, por vezes as festas e arraiais eram palco de rivalidades violentas, havia ajuste de contas entre grupos e mesmo entre aldeias. Entre Vilarandelo e Valpaços, as rivalidades começavam nas bandas musicais, passava ao futebol e até as fragas do espaço do arraial de Valpaços eram disputadas, para estender as mantas, como ponto de encontro para as famílias passarem a noite do arraial, tão ansiosamente aguardada. Os de Santa Valha costumavam fazer o arraial ao Santo do cruzamento para Fornos e, havia um individuo mauzão, indesejável e temido na região. Um sujeito de Vilarandelo chamado Chede, fisicamente frágil, mas na desavença do arraial, o forte morreu nas mãos do fraco. O povo de Santa Valha que ficou aliviado daquele terror, foi todo em peso a tribunal defender o Chede como o herói da contenda. Não se voltou a fazer o arraial e o Santo foi nomeado como o Senhor da Boa Morte.
Para quem não conhece, aconselho uma visita, para se certificar da realidade. A rivalidade entre aldeias era uma constante, por isso alguém dizia: - Santa Valha deu um tombo, ó Barreiros tente lá, ó Gorgoço não te assustes, que Fornos avança já! … Criava-se um clima de guerra do nada porque o vinho da região também o permitia.
Primeiro os jurados, depois os Juízes degradavam os criminosos para sítios ermos, que não tivessem saída. Desta vez, foi no tribunal de Valpaços, o criminoso em causa era de Avarenta. Avarenta era um dos degredos pelo seu isolamento. O criminoso, antes que o Juiz lhe lesse a sentença muito choroso disse: - Senhor Doutor Juiz, se tiver que me degradar, não me mande prá Avarenta, que nem bois nem carro lá entra, covil de ladrões, toca de lagartos, ninho de bestigos, onde comem homens vivos. O Juiz sem pestanejar sentenciou: - pois é mesmo para lá que tu vais! ... E o réu ficou todo feliz, porque ia para a terra dele e para casa.
Naquele ano a festa de Valverde prometia ser de arromba. Comissão jovem, determinada a fazer uma procissão com vários andores. Mas quando deram conta, não tinham santos que chegassem, faltava um. Foram à capela do Cachão, que por sinal pertence aos Possacos e trouxeram o São Gens, pensando que ninguém ia dar por nada!…
A rivalidade falou mais alto: os dos Possacos vieram à festa e viram logo São Gens, com a sua viola, escarrapachado em cima do andor. Eram meia dúzia de jovens, pensaram todos da mesma maneira. Subiram ao andor tiraram o Santo do seu pedestal e fugiram com ele as costas,gritando:- O Santo é nosso!…
Estragaram a festa: mas na noite seguinte, no caminho entre Valverde e Possacos, como represália, todas as paredes das vinhas dos Possacos apareceram no chão.
Ainda se organizaram alguns jogos de futebol,mas acabavam sempre à pedrada.
O entrudo sempre foi trapalhão, havia aldeias que tinham brincadeiras e costumes a roçar a violência!
A aldeia de Sá usava um odre preso na ponta de uma faia e quando aparecia um forasteiro de roupa limpinha, lambuzavam o odre na lama e com umas odradas punham-no ao nível dos caretos do entrudo. Escondiam previamente estadulhos no mato das estrumeiras e se algum paisano não aceitasse o ritual, acertavam-lhe o passo pela lei popular, porque é carnaval e ninguém leva a mal. E na terra alheia, as vacas escornam os bois.
Não lembrava ao diabo: iam pelas carvalheiras onde havia uns formigueiros daquelas formigas avermelhadas de rabo alçado da família das baga-baga. Traziam num saco e, principalmente às raparigas, atiravam-lhas para a roupa só para as ver sacudir e correr para casa a mudar de roupa, porque as formigas metiam-se e mordiam em sítios imagináveis.
Até diziam que o mês de março era dos mais violentos, o povo vinha de uma hibernação longa e com o começo dos trabalhos do campo, vinham todas as rivalidades. Ou seja, as pessoas procuravam resolver tudo à porrada.