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A ditadura do assédio sexual nos bastidores do mundo corporatvo

Fonseca

Em 2020, foram registradas cerca de 204 denúncias de assédio, por mês, no ambiente de trabalho, transformando o espaço profissional em um local perigoso para mulheres. Conforme o Art. 216 do Código Penal, o assédio sexual caracteriza-se por constrangimentos e ameaças, com a in- tenção de obter vanta- gens e favorecimento sexual, conservando a condição de superioridade hierárquica do assediador. Segundo dados apresentados pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), no ano de 2021, foram processados mais de 3 mil casos de assédio sexual no Brasil. Este mês, a Caixa Econômica Federal se viu diante de um escândalo envolvendo seu nome. Pedro Duarte Guimarães, o então presidente do banco, e seus subordinados, foram denunciados por funcionárias por alicia- mento e assédio moral. Quando o alvo escolhi- do por Guimarães recusava as investidas, a vítima sofria rebaixamento de função e chegava “carimbada” no novo setor, o que signi- ficava que os novos chefes tinham permissão para praticar assédio moral como forma de “punição”, instituindo-se, assim, um modelo de gestão autoritário baseado em um esquema de assédio e transformando o espaço profissional em um local perigoso, especialmente para mulheres. Um dia após as denúncias virem a públi- co, Pedro enviou um pedido de demissão ao Presidente da República. No entanto, pouco antes da sua exoneração ser pu- blicada, Pedro Guimarães divulgou uma carta na qual se decla- ra inocente e diz que as acusações afetaram sua família e seu casamento de 18 anos. De acordo com três ex-funcionários do banco, o comando da Cai- xa Econômica Federal sabia dos crimes e os acobertou em troca do oferecimento de promoções e da obtenção de outras vantagens. As acusações começa- ram a surgir logo após Guimarães assumir a presidência da empresa em 2019. O Ministério Público do Trabalho irá investigar se a cúpula da instituição financeira encobriu as denúncias de assédio.

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No período entre janeiro de 2015 e ja- neiro de 2021, foram registrados 26 mil processos de casos de assédio sexual no ambiente de traba- lho, com uma média de 204 casos por mês em 2020, aproximadamen- te sete casos por dia, segundo dados do TST. Já a pesquisa realiza- da pelo LinkedIn e pela consultoria de inovações sociais, Think Eva, mostra que, das entrevistadas que relataram ter sofrido assédio sexual ou moral, 52% são mulheres negras, 49% recebem até dois salários mínimos e apenas 8% recebem mais que seis salários mínimos. Esses dados evidenciam o quanto a depen- dência do emprego e a vulnerabilidade social são fatores que contri- buem para a exposição dessas mulheres a situações de risco, uma vez que o assediador sabe dessa vulnerabilidade e se aproveita dela. O caso da Caixa Econômica Federal ensina que os crimes de assédio sexual e/ou moral, ocorridos princi- palmente no ambiente de trabalho, raramente se tratam de uma situação isolada causada por apenas uma pessoa.

Assim como Pedro Guimarães, há tantos outros homens ocupando cargos hierárquicos e impondo seus modelos de gestão, utilizan- do-se de gestos, atos e palavras para constranger suas vítimas em benefício próprio. Dispor de um canal para para acolher as acusações não é o su- ficiente. É fundamental que haja uma área específica para a gestão das relações humanas dentro da instituição. É preciso que a direção da organização persiga a justiça e implemen- te políticas internas que sejam eficazes na proteção e defesa das vítimas, garantindo estabilidade no emprego e o afastamento do ambiente de agressão. Combater o assédio sexual dentro do ambiente de trabalho vai muito além de denúncias. É necessária a desconstrução de um sistema de opressão que vai desde o machismo, enraizado na sociedade patriarcal, ao racismo estrutural.