Corpo em Movimento - Corpo em Fluxo

Page 1

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PÓS GRADUAÇÃO:

AS NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS DA FOTOGRAFIA E DO AUDIOVISUAL

ELYSANGELA VIEIRA SANTANA DE FREITAS

RELATÓRIO DE PROJETO: CORPO EM MOVIMENTO – CORPO EM FLUXO

RECIFE - 2017


ELYSANGELA VIEIRA SANTANA DE FREITAS

CORPO EM MOVIMENTO – CORPO EM FLUXO Relatório de produção do ensaio fotográfico apresentado à Universidade Católica de Pernambuco, como requisito para obtenção do título de Especialista em Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual, sob orientação do Prof. Dario Brito Rocha Júnior.

RECIFE - 2017


RESUMO O presente projeto consiste na realização de pesquisa em produção fotográfica para o desenvolvimento de um ensaio de fotos autorais sobre o movimento do corpo e sua interseção com as linguagens da dança popular pernambucana e da fotografia. Seu principal objetivo é refletir sobre a relação existente entre fotografia e movimento através do universo das danças populares. Foi utilizado como método de abordagem, o método indutivo, e como métodos de procedimentos, a pesquisa bibliográfica e documental e a etnografia. Os bens culturais imateriais fotografados foram: Caboclinhos, Cavalo-Marinho, Frevo, Maracatu de Baque Solto e Maracatu Rural. Palavras-chave: Linguagem; fotografia; dança; cultura popular; patrimônio imaterial.


ABSTRACT This project consists of carrying out research in photographic production for the development of a photo essay about the movement of the body and the intersection with the languages of popular dance, in Pernambuco, and photography. The main objective is to reflect on the relationship between photography and movement through the universe of popular dances. The inductive method was used as a method of approach. The bibliographical and documentary research and the ethnography were used as methods of procedures. The immaterial cultural goods photographed were: caboclinhos, cavalo-marinho, frevo, maracatu de baque solto and maracatu rural. Keywords: Language; photography; dance; popular culture; immaterial heritage.


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 6 2 ABORDAGEM SOBRE O TEMA .................................................................................. 10 2.1 Cultura .......................................................................................................................... 10 2.2 Cultura popular............................................................................................................. 10 2.3 Patrimônio cultural ....................................................................................................... 11 2.3.1 Patrimônio cultural imaterial ................................................................................. 12 2.4 Linguagem.................................................................................................................... 13 2.5 A dança......................................................................................................................... 14 2.5.1 As danças populares .............................................................................................. 15 2.5.1.1 Carnaval ........................................................................................................... 17 2.5.1.2 Caboclinho ....................................................................................................... 20 2.5.1.3 Cavalo Marinho ............................................................................................... 20 2.5.1.4 Frevo ................................................................................................................ 21 2.5.1.5 Maracatu de Baque Solto (Rural) .................................................................... 22 2.5.1.6 Maracatu de Baque Virado (Nação) ................................................................ 23 2.6 A fotografia .................................................................................................................. 24 2.7 A dança e a fotografia .................................................................................................. 25 3 ABORDAGEM SOBRE A LINGUAGEM .................................................................... 27 4 PESQUISA E PRÉ-PRODUÇÃO ................................................................................... 31 4.1 Ideia e Pesquisa ............................................................................................................ 35 4.2 Locações ....................................................................................................................... 37 4.3 Equipe .......................................................................................................................... 37 4.4 Entrevistados ................................................................................................................ 38 5 PRODUÇÃO ..................................................................................................................... 40 5.1 Produção das Fotografias ............................................................................................. 40 5.1.1 Produção em Dezembro de 2016 ........................................................................... 40 5.1.2 Produção em Janeiro de 2017 ................................................................................ 41 5.1.3 Produção em Fevereiro de 2017 ............................................................................ 43 5.2 Equipamentos ............................................................................................................... 59 6 PÓS-PRODUÇÃO ............................................................................................................ 60 6.1 Edição ........................................................................................................................... 60 6.2 Plano de Divulgação e Exibição .................................................................................. 61 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 62 8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 64


1

INTRODUÇÃO O presente projeto consiste na realização de pesquisa em produção fotográfica para o

desenvolvimento de um ensaio de fotos autorais sobre o movimento do corpo e sua interseção com as linguagens da dança popular pernambucana e da fotografia. Os registros fotográficos foram realizados na Região Metropolitana do Recife, sendo fotografados o Caboclinhos, o Cavalo-Marinho, o Frevo, o Maracatu de Baque Solto e o Maracatu Rural, bens culturais imateriais registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Ao fim da pesquisa, as fotografias serão entregues, de modo digital, às pessoas e/ou grupos retratados, como forma de retribuição e valorização do trabalho por eles realizado. Além de desenvolver um ensaio de fotos autorais sobre o movimento do corpo e sua interseção com as linguagens da dança popular pernambucana e da fotografia, o projeto tem como objetivos específicos: refletir sobre a relação existente entre fotografia e movimento do corpo e sobre o impacto das recentes transformações da tecnologia fotográfica e cinematográfica na linguagem fotográfica e nas narrativas da fotografia, do estático ao movimento; investigar o uso do movimento como elemento de linguagem na fotografia e na dança popular pernambucana; realizar a entrega das fotografias, em modo digital, aos grupos e/ou pessoas retratadas nas comunidades onde as imagens forem realizadas. A dança tradicional de cultura popular representa o aqui e o agora plenos, um estado de êxtase, um tempo para pausa dos desafios do cotidiano. Então, como a energia corporal do dançarino poderia ser captada pela câmera fotográfica? O corpo que dança dialoga com muitas possibilidades tecnológicas consideradas como forma de ampliar a maneira de comunicar-se com o público. Assim, uma linha de reflexão é tentar compreender os caminhos da narrativa visual da fotografia, do estático ao movimento. Para Annateresa Fabris (2004), “a captação e o registro do corpo em movimento foram um dos desafios que a fotografia se impôs desde o início” 1 . Ademais, atualmente a importância do corpo e da imagem fotográfica é refletida nos vários segmentos midiáticos, bem como em cenários científicos e filosóficos; sendo assim, não poderia deixar de estar presente nas pesquisas acadêmicas sobre a fotografia. 1

FABRIS, Annateresa. A captação do movimento: do instantâneo ao fotodinamismo. ARS (São Paulo), São Paulo, v. 2, n. 4, p. 51-77 , jan. 2004. ISSN 2178-0447. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/ars/article/view/2933/3623>.Acessado em 12/02/2014.

6


As danças populares são consideradas manifestações culturais da mais alta importância enquanto forma de expressão da cultura popular tradicional, por se constituírem em um conhecimento original e coletivo de um povo, criadas por pessoas comuns que se transformam em artistas apaixonados pela arte. Prática social que se apresenta sob variadas formas e linguagens, que vão desde o mais informal ao mais formal, nos mais variados contextos, revelando o ambiente cultural, a peculiaridade e a expressão essencial de determinada comunidade. Além do mais, nas diversas manifestações artísticas populares existentes, percebe-se a força da dança como elemento de coesão social e cultural. Contudo, apesar da riqueza das manifestações da cultura popular em Pernambuco, percebemos que os artistas e as celebrações populares, mesmo que numerosas, são quase ausentes da mídia oficial e das altas esferas da cultura dominante, inclusive nas universidades. Infelizmente, ocorre o mesmo com as danças populares, que no mais das vezes são pouco visíveis, mesmo quando as festas são realizadas nas ruas e praças, ocupando espaços públicos. Mesmo assim, a influência dessa cultura atravessa fronteiras. Não são raros os casos de pesquisadores do sul e sudeste do Brasil, assim como estrangeiros virem à Região Nordeste em busca do conhecimento das músicas e danças de tradição popular. Esse fenômeno caracteriza um contra-fluxo do êxodo migratório ocorrido em tempos passados em que nordestinos iam ganhar a vida no Sudeste do país. Como referencial teórico utilizamos a definição de cultura de Clifford Geertz (1989), que ressalta a capacidade humana de construir e transformar significados no mundo, provocando assim grandes transformações na organização social e no comportamento das pessoas, conceito necessário para analisar a importância da dança como elemento de coesão cultural. Stuart Hall (2003), por sua vez, questiona a definição de um conceito único para o termo “popular”, apresentando um ponto de vista esclarecedor, no que se refere à dinâmica de transformação da cultura. O autor evidencia a necessidade de se entender o duplo movimento da cultura popular, o processo dialético de contenção e resistência. Considerando o fato de que as brincadeiras a serem fotografadas são patrimônios registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para este fim vamos utilizar o conceito de patrimônio cultural, de patrimônio imaterial e de bens culturais imateriais, deste instituto, os quais se baseiam nas diretrizes dadas pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO – e pela Constituição de 1988 e de leis federais.

7


Em seu livro Dançar a vida, Roger Garaudy (1980) aborda a história da dança ocidental, trazendo algumas significações da dança em diferentes contextos culturais, desde a Antiguidade Clássica, passando pela introdução da dança moderna com seus respectivos precursores, até o advento da pop art. Assim, Garaudy (1980) propõe uma visão filosófica da dança e expressa “que esta arte não está fundamentada na forma ou no estilo técnico, mas na comunhão desta com o corpo – que transcende o ato de dançar, sentir e viver a vida – esse corpo que é único e indivisível”. Os principais expoentes da captação do movimento por intermédio da fotografia são abordados por Annateresa Fabris (2004) em A captação do movimento: do instantâneo ao fotodinamismo, onde ela faz uma análise histórica das primeiras tentativas de fotografar o corpo em movimento. Em relação aos procedimentos metodológicos, foi utilizado como método de abordagem, o método indutivo, aquele cujo objeto de estudo é um fenômeno específico, visando constatar uma verdade universal, posto que trabalha com as regularidades. No presente caso, foram fotografados grupos culturais específicos (Caboclinhos, CavaloMarinho, Frevo, Maracatu de Baque Solto e Maracatu Rural) para a produção de um ensaio fotográfico autoral sobre o movimento do corpo e sua interseção com as linguagens da dança popular pernambucana e da fotografia. Como métodos de procedimentos, utilizamos a pesquisa bibliográfica e documental e a etnografia. Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico, sob a indicação do professor orientador, com a consulta e análise do tema, desde obras clássicas a estudos contemporâneos sobre o assunto. Também foi feita uma pesquisa documental, onde foram consultadas e analisadas as seguintes fontes: acervos impressos (jornais, revistas, catálogos, relatórios, documentos oficiais, técnicos e pessoais), eletrônicos e digitais. Ao mesmo tempo foi adotado o método da observação participante, advindo da etnografia. Foi necessária a inserção nos grupos, conversas e interação com seus integrantes. Inicialmente, foram contatados os líderes dos grupos para apresentação do projeto e anuência para realização das imagens. A escolha por um ensaio fotográfico se deu pela capacidade da fotografia de congelar uma determinada fração do tempo. Para nós esse fato ganha destaque pelo desafio do registro estático das oscilações de um corpo em movimento.

Além disso, consideramos a

possibilidade de materialização da fotografia, porque, apesar de estarmos vivenciando um período de desmaterialização da imagem, devido ao desenvolvimento das tecnologias digitais, a fotografia ainda possui sua dimensão palpável, podendo ser impressa, tocada, guardada, o

8


que não acontece com um produto audiovisual. Por fim, também foi considerada a possibilidade da entrega do material fotografado para os grupos utilizarem em seus projetos pessoais e profissionais. Estima-se um público-alvo em torno de 1.000 (mil) pessoas, sendo homens e mulheres adultos, entre os 18-80 anos. São pessoas que queiram apreciar e discutir a fotografia, bem como aprimorar sua formação na arte de fotografar; além de pesquisadores na área de cultura popular brasileira e em particular pernambucana. Elas têm como interesse a arte fotográfica, especialmente aquelas que querem discutir sobre a imagem nos dias atuais; bem como pesquisadores e estudiosos do patrimônio cultural. No entanto, os brincantes, os artistas populares que participam de forma ativa nos folguedos populares, são o principal públicoalvo. Na abordagem sobre o tema, inicialmente iremos tratar brevemente sobre os conceitos de cultura, cultura popular, patrimônio cultural, patrimônio cultural imaterial. Logo após, procuramos refletir sobre a linguagem, a dança e a fotografia, dando ênfase à compreensão da interseção dessas linguagens. Nesse capítulo também discorremos, de forma concisa, sobre bens imateriais fotografados. Já na abordagem sobre a linguagem traçamos um pequeno resumo sobre nossas principais referências artísticas, dando prioridade à obra fotográfica de Pierre Verger, principalmente no que concerne ao registro da cultura popular afro-brasileira. Em seguida, falaremos sobre as referências visuais e os sites relacionados ao tema que foram pesquisadas, bem como sobre de como surgiu a ideia inicial do projeto. Depois traçaremos de forma detalhada todo processo de pesquisa, pré-produção e pós-produção. E, ao final, apresentamos as reflexões sobre o desenvolvimento do estudo.

9


2

2.1

ABORDAGEM SOBRE O TEMA

Cultura

A palavra cultura tem múltiplos sentidos. Para o antropólogo Clifford Geertz (1989), o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu e a cultura seria essas teias e a sua análise. Assim, a cultura é um sistema de símbolos que interage com os sistemas de símbolos de cada indivíduo em um diálogo mútuo e permanente. Compreender o homem e a cultura é interpretar essa teia de significados. Segundo Stuart Hall (2003), a cultura é um processo de construção, em constante mudança. Logo, “a cultura é uma produção. (...) a cultura não é uma questão de ontologia, de ser, mas de se tornar” (HALL, 2003, p. 44). Segundo Geertz, a cultura não é nunca particular, mas sempre pública, eis que os significados dos comportamentos são compartilhados pelos indivíduos que convivem em determinados contextos, constituindo-se em um fenômeno social, cuja gênese, manutenção e transmissão estão a cargo dos atores sociais. Logo, a cultura é a própria condição de vida de todos os seres humanos, sendo produto das ações humanas, como também processo contínuo pelo qual as pessoas dão sentido às suas ações. Assim, é possível pensar a dimensão cultural como constitutiva da dinâmica humana.

2.2

Cultura popular

Assim como para cultura, a palavra popular também possui vários significados. O que mais corresponde ao senso comum é que popular é aquilo que as massas consomem e apreciam muito, o que associa a cultura popular à manipulação e ao aviltamento à cultura do povo. No entanto, para Stuart Hall (2003) esse entendimento não corresponde à verdade, porque ele nos leva a pensar as “formas culturais como algo inteiro e coerente ou inteiramente corrompidas ou inteiramente autênticas, enquanto que elas são profundamente contraditórias, jogam com as contradições, em especial quando funcionam no domínio do ‘popular’” (HALL, 2003, p. 255-256).


Para o filósofo jamaicano, radicado no Reino Unido, não existe uma “‘cultura popular’ íntegra, autêntica e autônoma, situada fora do campo de força das relações de poder e de dominação culturais” (HALL, 2003, p. 253), tendo em vista que a cultura popular está inserida no contexto das indústrias culturais. Assim é preciso entender o seu duplo movimento, seu processo dialético de contenção e resistência: [...] há uma luta contínua e necessariamente irregular e desigual, por parte da cultura dominante, no sentido de desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular; para cercá-la e confinar suas definições e formas dentro de uma gama mais abrangente de formas dominantes. Há pontos de resistência e também momentos de superação. Esta é a dialética da luta cultural. Na atualidade, essa luta é contínua e ocorre nas linhas complexas da resistência e da aceitação, da recusa e da capitulação, que transformam o campo da cultura em uma espécie de campo de batalha permanente, onde não se obtém vitórias definitivas, mas onde há sempre posições estratégicas a serem conquistadas ou perdidas (HALL, 2003, p. 255).

Desse modo, a cultura popular não pode ser entendida como uma tradição intacta, parada no tempo e frágil, tendo a preservação como elemento principal no discurso de sua conservação. Ela está inserida no contexto das indústrias culturais, desse modo, a luta cultural pode assumir diversas formas, com infinitas possibilidades de transformação.

2.3

Patrimônio cultural

O patrimônio cultural revela os múltiplos aspectos da cultura de uma comunidade. De acordo com o Art. 216. da Constituição Federal Brasileira de 1988, “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. A Carta Magna, além de conceituar o que é o patrimônio cultural brasileiro, também definiu quais são os bens passíveis de proteção, sendo eles: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Por fim, a Constituição Federal determinou que é de responsabilidade do Poder Público, juntamente com a colaboração da comunidade, promover e proteger o patrimônio

11


cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

2.3.1

Patrimônio cultural imaterial A Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial da UNESCO

(Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) afirma que se entende por patrimônio cultural imaterial: As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (UNESCO, 2003).

Ainda segundo a UNESCO, o patrimônio cultural imaterial é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, transmitindo-se de geração em geração, gerando, portanto, um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promoção do respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Assim, são patrimônios culturais imateriais: as tradições e as expressões orais; as expressões artísticas; as práticas sociais, rituais e atos festivos; os conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo; e as técnicas artesanais tradicionais. Os bens culturais de natureza imaterial possuem uma dinâmica própria de transmissão, atualização e transformação; portanto, não podem ser submetidos às formas usuais de proteção, necessitando de instrumentos específicos de salvaguarda, tais como: a identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, o reconhecimento, o registro etnográfico, o acompanhamento periódico, o apoio, a revitalização e a transmissão deste patrimônio em seus diversos aspectos. No caso do patrimônio imaterial, o registro e o inventário são instrumentos destinados ao controle e ao reconhecimento de bens culturais. O registro equivale a um processo de identificação, produção de conhecimento sobre o bem cultural e apoio a dinâmica dessas práticas socioculturais. Assim, esses bens se ficam sujeitos a receber por parte do Estado, apoio e fomento em políticas específicas de salvaguarda. Enquanto que o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) corresponde à uma metodologia de pesquisa desenvolvida pelo IPHAN com o objetivo de “produzir conhecimento sobre os domínios da vida social, aos

12


quais são atribuídos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos e referências de identidade para determinado grupo social”2.

2.4

Linguagem

A linguagem é um amplo, complexo e extenso sistema organizado de símbolos a serviço das sociedades humanas. Esse sistema possui propriedades particulares que possibilitam a codificação, a estruturação das informações sensoriais, a captação e a transmissão de sentidos, que favorecem a interação entre as pessoas (FERNOCHIO, 2010). É por meio da linguagem que o ser humano organiza e dá forma às suas experiências; sendo uma manifestação cultural relacionada aos padrões de comportamentos, crenças, conhecimentos, realizações, costumes que são transmitidos de geração a geração. Ela faz parte da riqueza de representações e da capacidade de criar da humanidade. Segundo Marcuschi (2005), a “linguagem é uma das faculdades cognitivas mais flexíveis e plásticas adaptáveis às mudanças comportamentais e a responsável pela disseminação das constantes transformações sociais, políticas, culturais geradas pela criatividade do ser humano”. A comunicação linguística vai além do verbal, é um canal múltiplo. A interação pessoal se dá por meio do corpo, através da voz e dos gestos, pois cada língua carrega consigo uma constelação de características associadas à articulação oral, à expressão facial, aos gestos codificados e ao movimento do corpo. Assim, a linguagem pode ser verbal e não verbal. A linguagem verbal se caracteriza pelo uso da escrita ou da fala como meio de comunicação, já a linguagem não verbal se dá por meio de uma forma de comunicação não linguística, em sentido restrito, que pode ser transmitida através de três suportes: o corpo (a dança), os objetos associados ao corpo (os adornos e as roupas) e os produtos da habilidade humana (o desenho e a fotografia). Os canais de comunicação do nível não-verbal podem ser classificados em dois grupos: o primeiro, que se refere ao corpo e ao movimento do ser humano e o segundo, relativo ao produto das ações humanas. No primeiro grupo insere-se a dança e no segundo, a fotografia.

2

Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/685/. Acesso em: 24 jul. 2017. 13


Todas as formas de comunicação têm uma linguagem própria. A dança é a linguagem artística que utiliza o corpo e seus movimentos como forma de expressão, enquanto que a fotografia caracteriza-se por ser uma linguagem visual. 2.5

A dança

Nas palavras do filósofo francês Roger Garaudy (1980), a dança é uma forma de expressão, que ocorre através de movimentos do corpo organizados em sequências significativas, de experiências que transcendem o poder das palavras e da mímica. É a relação do homem com seu corpo e de seu corpo com o mundo, é um modo de existir. Em suas reflexões sobre a dança o filósofo indaga: “Dançar a vida não seria, antes de tudo, tomar consciência de que não apenas a vida, mas o universo, é uma dança, e sentir-se penetrado e fecundado por esse fluxo do movimento, do ritmo, do todo?” (GARAUDY, 1980).

Figura 1 – Pintura rupestre – Gruta de Adaura, Itália Fonte: http://oridesmjr.blogspot.com.br/2012/10/a-arte-magica-dos-homens-das-cavernas-e.html

Na visão do também filósofo Nietzsche, citado por Garaudy, a dança, como toda arte, é comunicação do êxtase. Contudo, a dança é a única arte em que o próprio artista se torna a obra de arte, porque no ato de dançar se desenvolve uma atividade que é a própria vida, porém mais intensa, mais despojada, mais significativa.

14


2.5.1

As danças populares

As danças populares são consideradas manifestações culturais da mais alta importância enquanto forma de expressão da cultura popular tradicional, por se constituírem em um conhecimento original e coletivo de um povo. São aquelas que “persistem no tempo e continuam preservando os mesmos elementos dentro de uma mesma estrutura – apesar de estarem sendo constantemente recriadas pela iniciativa criadora dos seus predicados ou por necessidade de adaptação a novos contextos” (OLIVEIRA,1991). Na perspectiva histórica não havia espetáculo de dança. A finalidade do ato de dançar não era de natureza cênica ou estética, pois a dança se inseria em rituais mágicos e religiosos que a transcendiam. Segundo Mário de Andrade (1982), foi a “finalidade religiosa que deu aos bailados a sua origem primeira e interessada, a sua razão de ser psicológica e a sua tradicionalização”.

Figura 2 – Pintura rupestre – Gruta de Gabillou, França. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/380132024777137337/?lp=true

Com o passar dos anos, o seu caráter religioso foi se degradando e elas foram assumindo uma finalidade de lazer e de entretenimento. “Tanto o interesse pelo cômico, como da luta pela vida desorientam violentamente o fundo religioso dos bailados, a ponto de em alguns esse fundo já estar quase invisível” (ANDRADE, 1982). No entanto, embora não seja perceptível para os não iniciados, os folguedos estudados na presente pesquisa ainda conservam suas características religiosas de uma forma bem particular. Segundo Maria Gorreti Rocha Oliveira (1991):

15


[...], hoje estamos vivendo uma fase do processo evolutivo da dança em que o objetivo eminentemente estético ou de elaboração cênica das danças populares está progredindo em detrimento dos objetivos religioso e lazerístico, embora todos estes três objetivos continuem coexistindo em diversas situações da vida social.

Contudo, para Garaudy (1980) a dança tradicional, de origem europeia, se tornou uma língua morta, assim ela, “a dança, só reencontra seu grande estilo quando é a expressão, ou a esperança, de uma vida coletiva”, o que se configura claramente nas danças populares ainda presentes no território pernambucano.

Figura 3 – Coco da Xambá – Foto de Beto Figueiroa. Fonte: https://www.flickr.com/photos/betofigueiroa

Por fim, é uma prática social que se apresenta sob variadas formas e linguagens, que vão desde o mais informal ao mais formal, nos mais diferentes contextos, revelando o ambiente cultural, a particularidade e a expressão primordial de determinada comunidade. Além do mais, nas diversas manifestações artísticas populares, percebe-se a força da dança como elemento de coesão social e cultural. No Brasil, as danças populares ainda existem com um vigor significativo, sendo muitas delas registradas pelo IPHAN como patrimônios culturais imateriais no Livro de Registro das Formas de Expressão. Em Pernambuco, as expressões culturais que envolvem a dança são o Caboclinho, o Cavalo Marinho, o Frevo, o Maracatu Nação e o Maracatu de Baque Solto.

16


2.5.1.1 Carnaval À exceção do Cavalo Marinho, as demais danças fotografadas são manifestações culturais próprias do período carnavalesco. A lógica do carnaval é a do mundo de pernas para o ar, onde se zomba dos poderosos e onde reis são entronizados e depostos. Em muitos lugares no Brasil, especialmente em Recife e em Olinda, o carnaval ainda é uma tradição viva e vibrante. É uma festa popular universal que se passa no espaço público aberto da cidade (ruas, praças), configurando-se em um momento de liberação das relações hierárquicas de poder, êxtase do ser, rompimento de regras e tabus, sem privilégios e assimetrias. O carnaval é um evento que possui um papel simbólico fundamental na vida das pessoas, período durante o qual elas penetram brevemente na esfera da liberdade utópica. O princípio carnavalesco abole as hierarquias, nivela as classes sociais e cria outra vida, livre das regras e convenções sociais, assim o carnaval representa uma cosmovisão alternativa caracterizada pelo questionamento lúdico de todas as normas. As instituições são ridicularizadas e questionadas simbolicamente.

Figura 4 – Carnaval do Recife. Foto de Pierre Verger. Fonte: http://www.pierreverger.org/br/acervo-foto/fototeca/category/593-carnaval.html

A alegria da festa/brincadeira do carnaval representa uma explosão libertadora que reflete a vitória simbólica sobre a morte, uma espécie de alegria cósmica, de âmbito universal. Na brincadeira são reproduzidos ritos coletivos com efeito catártico, onde se proporciona o alívio da hipocrisia social e do medo do corpo. O carnaval oferece, ainda, um sabor de liberdade transindividual, onde os foliões, interpretam papéis imaginários que correspondem a

17


seus desejos mais utópicos. Bakhtin, citado por Robert Stam (1992), fala da carnavalização, a transposição para a arte do espírito de carnaval, já que se trata de um fenômeno cultural imensamente criativo. Na carnavalização artística o discurso da obra é duplamente orientado, uma vez que o carnaval não pode eludir a tensão social e o poder estabelecido, mas pode criticar, amplificar poeticamente ou indicar caminhos para uma transformação social possível. Apropriando-se do discurso existente, introduz novos elementos. No Brasil, a ideia de carnaval faz parte integral da teorização da identidade nacional. Portanto, a festa é uma celebração coletiva que funciona como um modo de resistência simbólica, de parte da maioria marginalizada dos brasileiros, às hegemonias internas de classe, raça e gênero, por ser uma festa que traduz um impulso profundamente democrático e igualitário.

Figura 5 – Carnaval do Recife /Bloco Violão de Ouro - Campina do Barreto. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

Contudo, no Brasil existem vários carnavais, ele é múltiplo. Em cada lugar a festa se apresenta com características diferentes, com variações regionais, de classe, de raça, de geração e até de período histórico. O carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo são bem diferentes dos carnavais de Salvador e do Recife e de Olinda. Até mesmo dentro de uma mesma cidade, o carnaval da maioria da classe média é bastante diferente do carnaval dos moradores das periferias.

18


Figura 6 – Carnaval do Recife/Escola Gigante do Samba – desfile oficial. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

Por fim, devemos lembrar que o carnaval real é influenciado pelas hierarquias sociais e pelas assimetrias de poder. Tanto que os carnavais de Recife e de Olinda raramente são transmitidos pelas grandes mídias por ser uma festa mais anárquica, que só faz sentido para quem brinca. Não é uma brincadeira simplesmente para assistir, mas para sentir. Não há palavras que consigam traduzir o transe e o êxtase presentes em cada dama do paço que carrega a calunga do seu maracatu ou passista que faz o passo do frevo, um verdadeiro encontro consigo e com o outro.

Figura 7 – Carnaval do Recife/Abertura no Marco Zero com Naná Vasconcelos. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

19


2.5.1.2 Caboclinho

O Caboclinho ou cabocolinho é uma dança dramática de representação histórica relacionada às tradições indígenas, que se apresenta principalmente, mas não exclusivamente, durante o Carnaval. A brincadeira foi registrada em novembro de 2016 pelo IPHAN no Livro de Formas de Expressão e sua performance associa dança, música e, em alguns casos, um recitativo. Os grupos de Caboclinho desfilam geralmente nas ruas, em coreografias complexas, com uma rica variedade de passos. As exibições são geralmente em duas colunas de brincantes que representam tribos indígenas em combate. As duas filas evoluem dançando com passos ágeis, e ao mesmo tempo rodopiam, saltam e se agacham, como se tivessem molas nas pernas.

Figura 8 – Carnaval do Recife/Desfile oficial. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

2.5.1.3 Cavalo Marinho

O Cavalo Marinho, no Livro de Registro de Formas de Expressão desde 2014, é uma brincadeira popular que acontece, tradicionalmente, do início do ciclo natalino até o Dia de Reis. É uma forma de expressão típica da Zona da Mata Norte de Pernambuco e Sul da Paraíba, tradicionalmente realizada pelos trabalhadores rurais e que tem como elementos a dança, o teatro, a música, a poesia, a louvação, o ritual e o canto. As cenas do folguedo acontecem de frente para o banco dos músicos e as figuras entram na "roda do samba" pelo lado oposto. Quem comanda a brincadeira é o Capitão Marinho, que pretende dar uma festa em homenagem ao Santo Rei do Oriente. Ao todo, são

20


cerca de 70 figuras, além dos bichos. O ápice da brincadeira é a dança dos Arcos ou Aico, com a louvação do Divino Santo Rei do Oriente; mas, o brinquedo só termina com a aparição do Boi, sua morte e ressureição.

Figura 9 – Encontro de Cavalo Marinho/Cidade Tabajara-Olinda. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

2.5.1.4 Frevo A origem da palavra frevo vem de ferver, de onde se derivou por corruptela, frever, e daí frevança, frevolência, frevura, frevo. O frevo é uma expressão cultural de Pernambuco, criado no Recife nos fins do século XIX, tendo sido registrado como forma de expressão no ano de 2007 e desde 2012, também, é reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No frevo não há como separar a música e a dança que com ela se dança, o passo. O frevo, como música, veio da marcha-dobrado, com influências da polca e da quadrilha, tocadas pelas orquestras de fanfarras militares durante os festejos de Momo. Já o passo surgiu das acrobacias dos capoeiras que vinham à frente das bandas, exibindo-se e praticando a luta no intuito de intimidar os grupos inimigos. No entanto, com o tempo, os golpes viraram passos de dança.

21


Figura 10 – Carnaval do Recife – Comemoração Dia do Frevo. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

2.5.1.5 Maracatu de Baque Solto (Rural) O Maracatu Rural é uma manifestação cultural pernambucana também conhecida como Maracatu de Baque Solto, de orquestra ou de trombone, que possui forte tradição na palha da cana, sobretudo na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Contudo, na década de 1930, o êxodo rural levou o maracatu rural para as áreas urbanas do que hoje é a Região Metropolitana do Recife. Além disso, os grupos do interior do Estado também participam das apresentações e desfiles oficiais promovidos pelo Governo e/ou pelas Prefeituras. Foi reconhecido pelo IPHAN como forma de expressão passível de registro em 2014. Ele é apresentado em forma de um cortejo real de visual plástico fascinante, que inclui figurino exuberante, dança vigorosa, saltitante e ágil, batida forte da percussão e repente poético do mestre tirador de loas3. Enquanto a orquestra executa a música em ritmo acelerado, os brincantes dançam freneticamente, executando manobras e evoluções. As baianas rodopiam, balançam-se individualmente, enquanto que os caboclos de lança deslocam-se rapidamente em filas indianas, executando uma dança vigorosa, cuja principal característica é a liberdade criadora.

3

Dossiê do Inventário Nacional de Referências Culturais do Maracatu de Baque Solto. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossiê_MARACATU_RURAL.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2017.

22


Figura 11 – Maracatu de Baque Solto (Rural) - Pátio de São Pedro. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

2.5.1.6 Maracatu de Baque Virado (Nação) O Maracatu Nação, também conhecido como maracatu de baque virado, é uma manifestação cultural performática que engloba música e dança, que foi registrada como forma de expressão em 2014 pelo IPHAN. Suas exibições são em forma de um cortejo real. Em geral a comitiva é formada por porta estandarte, dama do paço, damas de frente, baiana de cordão ou catirinas, baianas ricas, a corte, os soldados, os vassalos, o caboclo arreiamá ou de pena, o rei e a rainha. Estes últimos desfilam protegidos por um grande pálio colorido – símbolo real – chamado de umbrela, carregado por um pajem. Cada nação de maracatu é única. Cada uma possui seu sotaque próprio, sua forma particular de tocar, sua identidade percussiva. Entre os maracatus nação a dança não é coreografada. Os corpos do integrantes do brinquedo reverberam o batuque ritmado dos tambores em gestos dançados livremente.

23


Figura 11 – Maracatu de Baque Virado - Pátio de São Pedro. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

2.6

A fotografia

A fotografia tem uma linguagem própria, com capacidade narrativa e conteúdo dramático, que caracteriza-se por ser visual. A base técnica da realização da fotografia determina os elementos da linguagem fotográfica, sendo certo que o avanço técnico pelo qual a fotografia passou ao longo da sua história modificou a sua linguagem, como por exemplo, a transformação ocasionada no surgimento da fotografia em cores e da fotografia digital. A fotografia é capaz de descrever literalmente a aparência visual de uma pessoa, objeto ou lugar, como nas fotos de passaporte ou cenas de crime. Este tipo de fotografia existe como provas e o observador precisa ver o máximo possível de detalhes. No entanto, a imagem fotográfica também pode ser construída ou manipulada de maneira subjetiva, conceitual e técnica para apresentar um ponto de vista ou ideia particular, a exemplo das imagens publicitárias e daquelas produzidas para fins artísticos. Toda fotografia é construída, mas a questão central por trás da construção de uma foto é o conceito e a ideia. Na visão de Cláudio Feijó, o equipamento fotográfico permite que a fotografia aconteça com certa precisão, no entanto, ele é apenas um instrumento que o fotógrafo utiliza dependendo do seu posicionamento, conhecimento e vivência da realidade que pretende retratar. Ainda segundo Feijó, Muitas pessoas relacionam o fazer boas fotos ao domínio de uma técnica e equipamento. Para mim foi mais fácil quando percebi que além deste lado objetivo,

24


percebi o subjetivo e a inter-relação dos dois. O primeiro não é de domínio difícil, já́ o segundo, depende da cabeça, da vivência, da sensibilidade e o terceiro da criatividade. Está nesta terceira hipótese todo o entendimento dessa linguagem. Quando se percebe que a foto é o que significa, passa-se a colocar toda a técnica a serviço da subjetividade.

É a elaboração criativa dos elementos da linguagem fotográfica dentro do quadro visual, que permite o alcance do objetivo do fotógrafo. Considere-se o fato de que no ato fotográfico existe a dimensão das escolhas. Antes da ação de apertar o botão do obturador, há a intenção, a decisão de fotografar. Depois vem a definição do tema, do tipo de câmera fotográfica, do filme, da objetiva, do tempo de exposição, da abertura do diafragma, do foco. É a parte da técnica influenciando a arte. Juntas fazem da fotografia um misto de imagem técnica e arte. 2.7

A dança e a fotografia

De acordo com Annateresa Fabris (2004), desde da origem da fotografia, a captação e o registro do corpo em movimento representaram um desafio. Por exemplo, desde 1869 a questão de como capturar corpos em movimento em câmeras fotográficas era debatida no jornal Photographic News, em Londres. O inglês Edward James Muggeridge (mais conhecido como Eadweard J. Muybridge) e fisiologista francês Étienne-Jules Marey são bons modelos para se pensar o diálogo entre a ideia de corpo em movimento e a imagem fotográfica. Para Roberto Basílio Fialho. As experiências de Muybridge e Marey imprimem um caráter bem particular para os padrões de produção da imagem, à época. O hibridismo entre fotografia e movimento do corpo produziu a noção de mundos que podem ser manipulados e articulados em outras esferas, como a das artes. (FIALHO, 2011, p. 34).

O interesse pelo corpo em movimento fez com que ambos desenvolvessem tecnologias capazes de capturar aspectos específicos do movimento numa imagem parada, registavam homens e mulheres nus a subir/descer escadas, a dançar ou a executar ações. Os seus trabalhos, ainda que marcadamente diferentes entre si no que respeita ao método, alargaram as fronteiras culturais e estéticas do entendimento do funcionamento do corpo humano. Desenvolveu-se, então, um outro tipo de relação entre máquina e homem, entre técnica e corpo. No entanto, para Anton Giulio Bragaglia, citado por Annateresa Fabris (2004), as várias tentativas para fixar o movimento - instantâneo, cronofotografia, cinema negligenciam aquilo que constitui a essência do movimento, a trajetória.

25


Bragaglia aponta minuciosamente aquelas que considera as limitações da cronofotografia. É um procedimento não analítico, integrado por instantâneos muito rígidos; incapaz de perceber a trajetória - fonte da sensação dinâmica -, de desmaterializar as figuras e captar seu ritmo; pronto a registrar apenas uma ínfima parte da multiplicação dos corpos em seu deslocamento. O cinema, finalmente, subdivide o movimento de maneira arbitrária, desintegrando-o e fragmentando-o sem qualquer preocupação estética para com o ritmo. É incapaz de analisar o movimento porque o fragmenta arbitrariamente; e, ainda mais, é incapaz de sintetizá-lo porque só́ reconstrói alguns fragmentos anteriormente estilhaçados (BRAGAGLIA apud FABRIS, 2004).

Assim, para Bragaglia, tanto a cronofotografia como o cinema restituem o tempo e a velocidade de uma maneira descontínua, fragmentada; enquanto que ele buscava a absoluta fusão de todas as fase do movimento, a completa dissolução da matéria em trajetória no espaço-tempo. Segundo Annateresa Fabris (2004, p. 62), “o fotodinamismo analisa e sintetiza o movimento de maneira eficaz, pois “possui a força de recordar a continuidade do gesto no espaço” buscando a desmaterialização do movimento. No entanto, para a autora, o fotodinamismo não se restringe tão somente à procura da síntese do gesto enquanto expressão estética, ele também buscava captar a sua vibração, a sua essência, base de seus valores artísticos. No final de século XIX, o diálogo entre a dança e as então emergentes técnicas de reprodução da imagem (como a fotografia) alterou os modos de “se ver dança”. O que antes só era contemplado ao vivo passou a ser apreendido também pelos registros visuais. No entanto, registrar as oscilações de um corpo em movimento, ainda se constitui um desafio. Para Cláudio Feijó: O captar ou não o movimento do sujeito é também uma escolha do fotógrafo. Às vezes, um objeto adquire maior realce quando a sua ação é registrada em movimento, ou o movimento é o principal elemento, portanto deve-se captá-lo. Outras vezes, a força maior da ação reside na sua estagnação, na visão estática obtida pelo controle na máquina (FEIJÓ).

Considere-se o fato de que no ato fotográfico existe a dimensão das escolhas. Antes da ação de apertar o botão do obturador, há a intenção, a decisão de fotografar. Depois vem a definição do tema, do tipo de câmera fotográfica, do filme, da objetiva, do tempo de exposição, da abertura do diafragma, do foco, dentre outros. É a parte da técnica influenciando a arte. Juntas fazem da fotografia um misto de imagem técnica e arte.

26


3

ABORDAGEM SOBRE A LINGUAGEM A linguagem é viva e não se submete a sistematizações rígidas, eis que está em

constante transformação; fazendo parte da construção da nossa identidade cultural, devido à sua força como elemento de coesão social. Logo, os sujeitos textuais são como construções sociais e discursivas, os quais interagem com o outro, no seu cotidiano por meio da linguagem. Um autor, seja ele escritor ou artista, deve ser lido e entendido quando se leva em conta o contexto no qual o seu trabalho foi produzido. Segundo Roger Garaudy (1980), “a estética supõe sempre uma atitude fundamental a respeito do mundo e do homem. Ela não é somente um modo de ver o mundo, mas de escolher a vida”. Assim, a principal referência da pesquisa é o fotógrafo, etnólogo, antropólogo e escritor Pierre Verger. Ele, em sua obra, expressa um compromisso com o espaço e o tempo sagrado, através de sua produção etnográfica, seja por meio da fotografia ou da escrita. As imagens que Verger realizou, com destaque àquelas produzidas no Brasil e na África, documentam uma complexa maneira de vivenciar o mundo. Ele fotografa o espaço da rua, as pessoas simples, a conexão do povo com a religiosidade, especialmente aquela relacionada aos cultos afro-brasileiros.

Figura 12 – Carnaval do Recife. Foto de Pierre Verger. Fonte: http://www.pierreverger.org/br/acervo-foto/fototeca/category/593-carnaval.html

Na visão de Cláudia Maria de Moura Pôssa (2010):


A fotografia de Verger conserva algo da fluidez originária do acontecimento. Além do que mostra, está o sugerido que permite um transbordamento de perspectivas, que permite a quem vê a foto ser tocado pela cena mostrada. A fluidez torna-se um modo de ser e o fotógrafo improvisa e desenvolve métodos para a obtenção da imagem, para captar a poesia que está escondida nas coisas, no que presencia e vivencia. É capaz, particularizando no tumulto do acontecimento, de trazer à tona e de tornar aparente, aquela determinada cena, aquele instante que a foto tenta fixar e reter. Por meios que lhe são próprios, o fotógrafo extrai de um estado latente o registro duradouro. Usa procedimentos que são formas de aproximação. Com cautela e ousadia, senso de iniciativa e precisão, capacidade de perceber o Outro, o fotógrafo corre os riscos de quem interage com a cena. É capaz de reagir dessa ou daquela forma, dependendo do que as circunstâncias solicitarem, de incorporar as sugestões do instante e da paisagem. Em resumo, fica de olho aberto, é um observador atento.

Em muitos dos seus registros fotográficos Pierre Verger documenta folias ao ar livre, o povo nas festas, bem como em outras atividades cotidianas, onde a força da cultura negra é valorizada. A fotografia de Verger sobre as culturas populares “mostra o povo na posição de protagonista, daquele que realiza, se diverte, dança, ritualiza e sorri” (SANTOS, 2010). Suas imagens mostram culturas populares dinâmicas, ele consegue captar muito bem o movimento em suas fotos e as danças são apresentadas com entusiasmo.

Figura 13 – Carnaval do Recife. Foto de Pierre Verger. Fonte: http://www.pierreverger.org/br/acervo-foto/fototeca/category/593-carnaval.html

Em uma de suas viagens a Pernambuco, Pierre Verger fotografa o Carnaval pernambucano de 1947, onde predomina o frevo.

A festa carnavalesca representa uma

explosão dionisíaca desde suas origens primitivas, com suas danças e grande euforia, e para representá-la Verger se utilizou de sua apurada técnica e domínio da linguagem fotográfica para captar bem as expressões corporais dos foliões comuns e dos passistas do frevo,

28


ultrapassando a mera representação para realizar uma imagem que vai além do documento, do puro registro etnográfico. Nelas os corpos são dispostos em um conjunto relacional de afetos e diversidades, elas são expressivas e anunciam a alegria dos passistas emitindo um som que não se ouve, o compasso das formas e volumes. Por fim, ressalte-se que Verger mudou a forma de representação dos negros, suas fotografias permitem “vê-los em atividades constituintes de identidades que mostram processos civilizatórios da cultura africana e afrodescendente” (SANTOS, 2010). Claro que os conflitos existiam, no entanto, Verger consegue fazer um recorte da realidade em que a cultura africana existe por si mesma, é possível sentir sua força, beleza e poesia, em toda sua potência. Também tomamos como referências artísticas o pintor e escultor francês Edgar Degas, um dos primeiros a fazer uso da fotografia, utilizando a câmera fotográfica para seus estudos do movimento e da composição. A obra de Degas teve como tema principal as bailarinas em movimento. Ele pintou obsessivamente cenas de bailarinas enquanto elas estavam no palco durante uma apresentação, em seus ensaios e em seus momentos de descanso.

Figura 14 – Bailarina, Edgar Degas. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/348747564867477597/

Consideramos, por fim, a obra da fotógrafa norte-americana Francesca Woodman, cujos autorretratos registram a impressão de movimentos, dando a sensação de incerteza, de hesitação e de deslocamento. Na definição de Marina Didier Nunes Gallo (2015), os trabalhos de Woodman são “uma ação performática pensada especificamente para a fotografia, na qual o corpo era ao mesmo tempo sujeito e objeto, ligados de forma inseparável”.

29


Figura 15 – Autorretrato, Francesca Woodman. Fonte: http://www.litriotpress.com/2015/macabre-mysterious-otherworldly-the-black-white-photography-workof-francesca-woodman/

Por fim, as referências citadas foram muito importantes para a pesquisa e para o processo criativo, não só porque seus trabalhos auxiliaram nosso repertório visual, como também porque ajudaram a refletir sobre o processo de criação de imagens e da vivência do olhar da diferença.

30


4

PESQUISA E PRÉ-PRODUÇÃO A pesquisa sobre a prática de outros artistas e fotógrafos, e seus processos criativos,

foram fundamentais para tentar traduzir a ideia em imagens. Destacam-se, assim, o estudo de outros fotógrafos de dança, uma vez que cada fotógrafo tem o seu estilo de fotografar. Além da obra dos artistas acima apontados (Pierre Verger, Edgar Degas e Francesca Woodman), procuramos referências visuais nos trabalhos de Paula Lobo, fotógrafa de dança e autora do livro Quando eles dançam / When They Dance. Atualmente, Lobo trabalha no The New York Times e já fotografou várias companhias de dança em todo mundo, a exemplo do New York City Ballet, Ballet Hispanico, Pina Bausch, Big Dance Theater, Pilobolus, Tokyo National Ballet, Mark Morris e Cedar Lake Dança Parsons.

Figura 16 – Foto de Paulo Lobo. Fonte: https://www.paulalobo.com/portfolio/G0000wQbGArGxFzw/I0000Oe60wk77.4M

Também estudamos Roberta Guimarães, que tem mais de 20 anos de experiência na fotografia. Pesquisamos especialmente aqueles trabalhos relacionados à cultura popular, tais como o livro Brincantes da Mata, em parceria com as fotógrafas Rose Gondim e Tuca Siqueira, um registro fotográfico que busca revelar o lado inexplorado de quatro personagens da Zona da Mata Norte Pernambucana: Mestre Zé Duda, do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança; Martelo, do Cavalo-Marinho Estrela de Ouro de Condado; Dona Olga, do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu; e Negão, do Caboclinho Canindé, de Goiana. Podemos citar


ainda O sagrado, a pessoa, o orixá, livro no qual a fotógrafa registra o dia-a-dia e os rituais religiosos de doze Terreiros do Xangô de Pernambuco.

Figura 17 – Foto de Roberta Guimarães. Fonte: Livro - O sagrado, a pessoa, o orixá

Outra referência importante foram os fotógrafos do Coletivo Canal 03 (Aline Feitosa, Beto Figueiroa, Elenilson Soares – Kuru, Luca Barreto e Mateus Sá), que durante o período de sua existência trabalhou efetivamente para fomentar o debate sobre a fotografia em Pernambuco. O coletivo promoveu diversos varais fotográficos nos mercados públicos da Região Metropolitana do Recife, assim como exposições pelas ruas, praças e, também, em espaços museológicos. Uma das principais características do coletivo era a criação colaborativa, destacando-se a publicação do livro A Cambinda do Cumbe (2006), um projeto de fotografia documental sobre o maracatu de mesmo nome.

Figura 18 – Capa do livro A Cambinda do Cumbe, Canal 03. Fonte: Livro A Cambinda do Cumbe

32


Com trabalho reconhecido no Brasil e no exterior e inúmeras exposições, tanto individuais como coletivas, além de inúmeras publicações em livros e revistas, Beto Figueiroa também foi uma forte referência visual neste trabalho. Ele recebeu as principais premiações do fotojornalismo nacional, como Vladimir Herzog, Caixa e Ayrton Senna e, em 2007, esteve entre os dez brasileiros escolhidos pela Fototeca de Cuba e pelo Instituto de Mídia e Arte – IMEA (SP) para representar a fotografia brasileira na mostra “Mirame – uma ventana da fotografia brasileña”, em Havana. Em dezembro de 2014, foi eleito o destaque das artes visuais naquele ano pelos leitores do jornal Diário de Pernambuco, com a exposição Morro de Fé, realizada sob o formato de intervenção urbano-artística no Morro da Conceição, comunidade no Recife, que, mais tarde, gerou o livro do mesmo nome.

Figura 19 – Foto de Beto Figueiroa. Fonte: https://www.flickr.com/photos/betofigueiroa/2351515101/in/album-72157600376700561/

Examinamos ainda vários livros sobre a história e a filosofia da dança, como por exemplo História da Dança no Ocidente, de Paul Bourcier (1987), professor de história da dança na Universidade de Paris. Neste livro é feito um panorama da evolução da arte da dança desde as primeiras manifestações de que se tem notícia, há mais de quinze mil anos, até a história contemporânea. Já em Dançar a Vida, o filósofo Roger Garaudy (1980) escreve sobre a dança como símbolo do ato de viver, um modo de exprimir intensamente as relações do homem com a natureza e a sociedade. Lemos ainda Minha Vida de Isadora Duncan (1989), precursora da dança moderna, revolucionou o mundo da dança com seu estilo livre e apaixonado de se expressar.

33


Em relação à cultura popular brasileira, tomamos como referências principais a coletânea Danças Dramáticas do Brasil, obra dividida em três volumes e organizada por Oneida Alvarenga (1982), a partir dos escritos de pesquisa de Mário de Andrade. E quanto à cultura e às danças pernambucanas utilizamos os livros Danças populares como espetáculo público no Recife de 1970 a 1988, de Maria Goretti Rocha de Oliveira (1991); O Folclore no Carnaval do Recife, de Katarina Real (1990); Antologia do Carnaval do Recife, de Mário Souto Maior e Leonardo Dantas Silva (1991); Evoé, de Cláudia Lima (2001); e Patrimônios Vivos de Pernambuco, de Maria Alice Amorim (2010), todos renomados pesquisadores da cultura pernambucana. No que se refere à fotografia, os principais teóricos consultados foram Annateresa Fabris (2004) com o artigo A captação do movimento: do instantâneo ao fotodinamismo, no qual ela analisa os trabalhos de Étienne-Jules Marey, Eadweard Muybridge e Anton Giulio Bragaglia, correlacionando-os com os movimentos de vanguarda europeus. Foram utilizados, ainda, como fonte de pesquisa os dossiês dos inventários dos bens culturais imateriais registrados, além de matérias jornalísticas publicadas em impressos e redes sociais. Acrescente-se, ainda, o material (textos, vídeos, fotografias) contido nos sites do

Instituto

do

Patrimônio

Histórico

e

Artísticos

Nacional

-

IPHAN

(http://portal.iphan.gov.br) e da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (http://www.cultura.pe.gov.br). Além disso, realizamos consultas ao acervo digital da Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ (http://www.fundaj.gov.br/). Também

pesquisamos

(http://projetoandarilha.com),

os

conteúdos

plataforma

de

dos

sites

pesquisa

do e

Projeto

Andarilha

curadoria dedicada

a

mapear processos criativos de artistas brasileiros, sejam de cultura popular ou não; cuja missão é “registrar, salvaguardar e difundir histórias de pessoas criativas que atuam na construção de uma memória afetiva comum, através de seus saberes, conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano”; e da Associação Raiz, que tem como missão dar a conhecer e fazer consumir a produção cultural popular brasileira em todas as suas expressões - sonora, iconográfica, cênica e escrita, e que produz uma revista de arte e cultura (http://revistaraiz.uol.com.br/portal-raiz/).

34


4.1

Ideia e Pesquisa

Somos entusiastas da cultura popular. Gostamos da festa, da dança, da música. Da alegria e da entrega dos brincantes aos brinquedos. O aqui e o agora plenos, em êxtase. Um tempo para pausa dos desafios do cotidiano. Nosso primeiro contato com o universo das danças populares se deu no Balé Popular do Recife, onde aprendemos a fazer o passo e a sambar coco e maracatu. A partir daí começamos a buscar uma literatura mais especializada no assunto. No entanto, nossa imersão na cultura popular de fato se deu quando começamos a frequentar os ensaios dos maracatus e a brincar nas sambadas de coco. É nestes lugares que estas manifestações de cultura popular nasceram e se perpetuam até hoje. Assim, o encanto se completou. Iniciamos nossa prática fotográfica em 2010, com o tempo observamos que um dos temas preferidos era a cultura popular, tanto que em 2012 e 2013 integramos a equipe, na condição de fotógrafa, que elaborou o inventário do Maracatu de Baque Solto para fins de registro, junto ao IPHAN, como patrimônio cultural brasileiro. A pesquisa proposta é a continuidade dos estudos já iniciados de forma embrionária ainda na graduação do curso Superior Tecnológico de Fotografia na UNICAP, concluído em 2014.2. Em outubro de 2014, o ensaio Corpo em Fluxo foi selecionado para fazer parte da mostra do VII Salão Universitário de Arte Contemporânea do SESC/PE – UNICO – 2014, aberto para estudantes de graduação. Outro ensaio com a mesma temática e título, porém composto por outras imagens, foi aprovado para participar do Grupo de Trabalho Fotografia e Corpo do VI Theória, evento promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, que objetiva a discussão da imagem proposta como ferramenta privilegiada da prospecção social. A partir destes resultados desenvolvemos um plano de pesquisa e, em 2015, submetemos o projeto Corpo em Movimento – Corpo em Fluxo, que foi aprovado pela Fundação de Cultura do Estado de Pernambuco no Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura/PE, principal mecanismo de fomento e difusão da produção cultural no Estado, inserido no Sistema de Incentivo à Cultura (SIC-PE). Em abril de 2016, participamos da mostra Fotografias Dançadas, evento integrante da programação do DDDança, uma plataforma de discussões artístico-políticas onde são realizadas uma série de ações dedicadas à dança no mês de abril, promovida por artistas da dança em Pernambuco; como também ministramos a palestra Corpo em Fluxo no Laboratório de Fotografia do Agreste – FotoLab, em Caruaru. Ainda em 2016, em junho, participamos do


Festival de Inverno de Garanhuns – FIG 2016, com a exposição Corpo em Movimento – Corpo em Fluxo na Casa Galeria Galpão, com as mesmas imagens apresentadas no ÚNICO – 2014.

Figura 20 - Exposição Corpo em Movimento – Corpo em Fluxo, FIG 2016. Foto de Elysangela Freitas. Fonte: Acervo pessoal da autora

Ainda em 2016 iniciamos os estudos de pós-graduação na Universidade Católica de Pernambuco, com o objetivo de aprofundamento nas questões teóricas relacionadas à pesquisa aprovada no Funcultura/PE. Apesar de a aprovação ter ocorrido em 2015, a pesquisa de campo só pode ser efetivamente iniciado no final de 2016 e o seu resultado apresentado no segundo semestre de 2017. Durante o período de pesquisa propriamente dito foi dada a continuidade da pesquisa bibliográfica e documental, além do aprofundamento da abordagem e dos métodos a serem utilizados durante todo o processo. Quanto à pesquisa de campo utilizamos o método da observação participante, advindo da etnografia. Primeiramente houve a aproximação com os membros da comunidade para ouvir suas histórias. Além disso, entramos em contato com os líderes dos grupos para apresentação do projeto e anuência para realização das imagens. Assim, conseguimos a permissão para fotografar os locais e as pessoas, essencial para torná-los conscientes do que estávamos fazendo e do contexto em que as imagens podem, eventualmente, ser vistas. Por fim, à medida que o projeto foi se desenvolvendo algumas imagens foram publicadas nas redes sociais (Facebook e Instagram), com o objetivo de criar uma plataforma

36


interativa para o diálogo on line com os integrantes dos grupos, os seguidores e a comunidade.

4.2

Locações

Os registros fotográficos foram realizados na Região Metropolitana do Recife, especificamente nas cidades de Olinda e do Recife. Não foi possível ir até outros municípios por conta dos custos com deslocamento. Ressalte-se que a escolha dos locais se deu de acordo com as atividades desenvolvidas pelos grupos fotografados e pela programação do Carnaval nas duas cidades. Assim, em Olinda houve registros na Casa da Rabeca, localizado na Cidade Tabajara, como também nos Quatro Cantos, na Rua do Amparo e na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Largo do Bonsucesso), no sítio histórico da cidade. Enquanto que no Recife foram feitas imagens na sede do Caboclinhos Sete Flexas, em Água Fria; na Rua da Imperatriz, no Bairro da Boa Vista; nas Avenidas Dantas Barreto e Nossa Senhora do Carmo e nos Pátios de São Pedro e do Terço, no Bairro de São José; na Praça do Arsenal, na Rua do Bom Jesus e no Marco Zero, no Recife Antigo.

4.3

Equipe

Além da pós-graduanda, a equipe do projeto foi composta por seu orientador Dario Brito Rocha Júnior.

Figura 21 – Elysangela Freitas e Dario Brito, selfie. Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

37


A fotógrafa Elysangela Freitas concluiu o Curso Superior Tecnológico de Fotografia na UNICAP em 2014.2. Além disso, é licenciada em História (UNICAP) e bacharel em Direito (UFPE), com capacitação em Arteterapia e pós-graduação em Língua Portuguesa. É servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª. Região – TRT/PE – desde 1993, com vínculo estatutário como técnica judiciária, e no momento atua na área de Comunicação Social. Já participou de várias coletivas, a exemplo das exposições 24 olhares sobre o 5 pontas (2014), Outros Olhares sobre Frei Caneca (2015) e Amar, [des]amar (2016), todas no Museu da Cidade do Recife – Forte das Cinco Pontas - PE; Comportamento (2016), na Casa Fototech no Paraty em Foco – RJ (2016) e Diversidade no Estúdio Papaya Imagens –SP (2016). Em 2016, a exposição Corpo em Movimento – Corpo em Fluxo foi selecionada para participar do 26º Festival de Inverno de Garanhuns – FIG. Dario Brito Rocha Júnior possui graduação em Comunicação Social - habilitação em Jornalismo

pela

Universidade

Católica

de

Pernambuco

(2001)

e

mestrado

em

Letras/Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (2005) e doutorado em Design da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco. Atuou no Jornal do Commercio (PE) durante dez anos ocupando cargos de repórter, repórter sênior, colunista assistente e editor assistente. Atualmente, é professor nos cursos de graduação em Jornalismo, Jogos Digitais e Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco e programas de graduação e pós-graduação em Design de Moda da Faculdade Senac e do Centro Universitário Maurício de Nassau. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo e Editoração, atuando principalmente nos seguintes temas: linguagem, editoração, moda, ação social, responsabilidade, cidadania, coerência e suporte.

4.4

Entrevistados

Não houve pré-entrevistas, mas antes de fotografar qualquer pessoa e/ou brinquedo, conversarmos informalmente com as pessoas envolvidas para explicar do que se tratava o projeto, como também para pedir autorização tácita para fotografá-las. Após a realização das fotos e a seleção das imagens, foram selecionadas dez personagens, dois de cada bem cultural, no entanto, não foi possível entrar em contato com todos eles. Foram realizadas as seguintes perguntas: •

Qual a sua relação com a dança?

Por que esta expressão cultural?

38


O que sente quando está dançando?

A consciência do registro muda a sua forma de dançar?

Qual a relação do movimento com a indumentária?

Qual a relação da diferença entre os ensaios e a apresentação do ponto de vista do

movimento?

39


5

PRODUÇÃO

5.1

Produção das Fotografias

Fotografar é parte fundamental do processo de pesquisa, assim procuramos realizar as imagens por meio de um procedimento de exploração de soluções práticas, do qual fez parte o estudo do ambiente e da iluminação disponível, da câmara a ser utilizada e dos períodos do dia para fotografar. Segue abaixo a descrição detalhada das saídas fotográficas.

5.1.1

Produção em Dezembro de 2016

25/12 – domingo - Evento: Encontro de Cavalo Marinho - Casa da Rabeca Endereço: Rua Curupira, 340, Cidade Tabajara – Olinda/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes de “gambiarras”). Equipamento: Câmera fotográfica – CANON 6D e lente: EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Cavalo Marinho. Personagens: figuras do Cavalo Marinho. Grupo: Cavalo Marinho Boi Matuto. Desde 1995, sempre no dia 25 de dezembro, acontece o Encontro Nacional de Cavalo Marinho, na Casa da Rabeca, em Olinda. Esse espaço abre para apresentações de vários grupos que mantém esse legado no Estado de Pernambuco, sendo uma ótima oportunidade para fazer o registro desta brincadeira. Chegamos ao local em torno das 21 horas, no entanto, a brincadeira só começou perto das 22 horas. Foram realizadas fotos exclusivamente do Cavalo Marinho Boi Matuto, por ter sede na Região Metropolitana do Recife e, também, porque é quem organiza o evento e recepciona os outros grupos. Fizemos inúmeras fotos (mais de 300 imagens), como foi a primeira saída procurei experimentar bastante, porque o equipamento tinha sido adquirido a pouco tempo e não sabia qual era o seu desempenho. Especialmente quanto ao uso do ISO, já que a iluminação era

40


muito precária, formada essencialmente por lâmpadas de “gambiarra”. Por isso, utilizamos ISO muito alto, de 2500 a 25600, para testar o grau de ruído das imagens. Ainda por conta da baixa iluminação e porque fizemos a opção de não utilizarmos o flash, foram utilizadas grandes e médias aberturas (f/2.8 a f/5,6) e baixa velocidade (1/15 a 1/160), gerando imagens com pouca profundidade de campo e com leve desfoque e baixa nitidez. Fizemos imagens em plano conjunto, plano médio, primeiro plano e plano detalhe. A maioria das fotografias estão na mesma altura do sujeito, com pouquíssimas com a máquina de "cima para baixo" (plano mergulho) ou de "baixo para cima" (plano contra-mergulho). Por fim, todas as imagens foram fotografadas em cores e foi utilizado todo comprimento focal da lente EF 24-70mm, com predominância do 24 mm por conta da proximidade com os personagens fotografados.

5.1.2

Produção em Janeiro de 2017

06/01 – sexta-feira - Evento: Encontro de Cavalo Marinho - Casa da Rabeca Endereço: Rua Curupira, 340, Cidade Tabajara – Olinda/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica – CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Cavalo Marinho. Personagens: figuras do Cavalo Marinho. Grupo: Cavalo Marinho Boi Matuto. No dia 6 de janeiro ocorreu a 22ª Festa de Reis. No evento que celebra o fim do ciclo natalino também houve o tradicional encontro de grupos de Cavalo Marinho. Mais uma vez foi fotografado o Cavalo Marinho Boi Matuto. Neste dia chegamos às 20 horas para interagir com os brincantes e o público, mas como de costume o “banco” apenas deu os primeiros acordes da brincadeira às mais ou menos às 22 horas. Neste dia foi possível se localizar sentada atrás do banco (acerca das 23 horas), onde ficam os músicos, e realizar imagens deste ponto de vista. A maioria das fotografias foram realizadas na angulação normal, na mesma altura dos personagens. No entanto, foram feitas algumas imagens de "cima para baixo" (plano mergulho) e de “baixo para cima” (plano contra mergulho) no momento da dança do magui (ou mergulhão), onde acontece uma maior

41


participação popular com possibilidade de aproximação dos fotógrafos dos brincantes sem que isso atrapalhe o público que assiste a brincadeira. Quanto aos planos os personagens foram fotografados principalmente em plano conjunto e plano médio, com algumas em primeiro plano e plano detalhe e uma ou outra em plano americano. Foi utilizado todo comprimento focal da lente EF 24-70mm, com predominância do 24 mm e do 70 mm. As condições de iluminação foram as mesmas do dia 25 de dezembro anteriormente relatado, mas desta vez utilizamos o flash em um terço das imagens realizadas, como experimentação na tentativa de congelar o movimento. Assim, desta vez foi usada uma maior amplitude de aberturas indo de f/2.8 a f/8,0, sendo a maioria f/4,0-f/4,5, com pouca profundidade de campo. Já o ISO variou de 640 a 25600, com preponderância dos ISO’s 2500, 5000 e 6400. E a velocidade variou de 1/10 a 1/60, com imagens com leve desfoque e baixa nitidez, como também efeito borrado naquelas em que não foi utilizado o flash. 31/01 – terça-feira - Evento: Entrega da roupa do Homem da Meia-Noite Endereço: Terreiro da Xambá/Comunidade Xambá, Rua Severina Paraíso da Silva, 65 Portão de Gelo, São Benedito - Olinda (PE). Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (postes e luzes de “gambiarras”). Equipamento: Câmera fotográfica – CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo. Personagens: passistas de frevo e foliões. Grupo: Homem da Meia-Noite. Em 2017, o calunga do Homem da Meia-Noite saiu pela primeira vez da sede do bloco para buscar a roupa que usou durante o Carnaval. A vestimenta foi confeccionada por integrantes do Terreiro da Xambá, quilombo urbano situado na cidade de Olinda. Além da roupa, que só foi mostrada no dia de sua saída pelas ladeiras de Olinda, no sábado de carnaval, o Homem, como é carinhosamente chamado o calunga, também ganhou uma guia, que foi utilizada pela primeira vez. A entrega da roupa e da guia foi realizada diante da calunga de Mãe Biu, líder espiritual do terreiro, e de um público em êxtase e grande alegria. Os veículos de imprensa também estavam presentes fazendo a cobertura do evento. Em seguida foi realizado um desfile do Homem da Meia-Noite e de Mãe Biu em um percurso ritual na rua do terreiro.

42


Chegamos cedo ao local da festa que durou das 19 às 20 horas. Como havia muita gente a grande maioria das imagens foram realizadas com o comprimento focal de 24 mm. Devido a precariedade da iluminação foi utilizada uma velocidade do obturador de basicamente 1/60 a 1/100, com uma abertura de f/2,8 a f/4,5 e apenas duas em fotos com f/5,6. Já o ISO variou bastante, de 400 a 4000, com o uso do flash em apenas cinco fotos. Quanto aos planos, utilizamos o plano geral e o plano médio, geralmente com a angulação na mesma altura do sujeito e de "cima para baixo" (plano mergulho).

5.1.3

Produção em Fevereiro de 2017

01/02, 08/02, 15/02 – quartas-feiras - Evento: Ensaio aberto do Alafya (Projeto do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu) Endereço: Mercado da Ribeira - Rua Bernardo Vieira de Melo - sítio histórico de Olinda Olinda/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica Canon EOS REBEL T2i e lente EF 50mm f/2.8 STM. Expressão cultural: Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: batuqueiros, baianas e corte dos maracatus que fazem parte do cortejo. Grupo: Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu. A nação do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu ofereceu oficinas gratuitas do seu baque, o treme-terra, nas quartas-feiras sempre às 20 horas, no Mercado da Ribeira, em Olinda. Comparecemos aos ensaios na intenção de interagir com os integrantes do grupo, contudo realizamos fotos apenas dos batuqueiros no dia 15 de fevereiro porque as baianas não podiam ir aos ensaios por conta da distância da sede. Foram apenas 29 fotos realizadas com iluminação bem precária. Utilizamos uma lente fixa de 50 mm, a velocidade do obturador de 1/30 a 1/60 e uma abertura entre f/3,2 e f/6,3 e ISO de 100 a 1600. O flash pop-up da máquina foi disparado apenas nove vezes. As fotos foram feitas em plano médio e plano americano, na mesma altura dos personagens. 09/02 – quinta-feira - Evento: Dia do Frevo – Paço do Frevo Endereço: Praça do Arsenal da Marinha, s/n. - Bairro do Recife - Recife/PE. Transporte: veículo próprio.

43


Ambiente: interno e externo. Iluminação: ambiente (lâmpadas internas e luz do sol). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo. Personagens: passistas. Grupo: passistas avulsos e grupo FrevoEterno. O Paço do Frevo é um espaço dedicado à difusão, pesquisa, lazer e formação nas áreas da dança e música do frevo, visando propagar sua prática para as futuras gerações. Em 2017, no dia 9 de fevereiro, o frevo completou 110 anos e para comemorar a data o Paço do Frevo promoveu várias atividades. Às 14 horas ocorreu a palestra interativa “Frevo, capoeira e passo” com o teatrólogo e escritor Reinaldo de Oliveira. O palestrante contou a história do frevo tomando como referência o célebre livro de seu pai, Valdemar de Oliveira. Às 15h30 houve o lançamento dos livros “Maestro Formiga: Frevo na Tempestade”, de Carlos Eduardo Amaral e “Claudionor Germano: a Voz do Frevo” de José Teles, com apresentação artística da Orquestra Popular do Recife e passistas de frevo, dentre eles os componentes do grupo FrevoEterno. Ao final da tarde, por volta das 17 horas aconteceu, em frente à sede do museu, o Encontro de Estandartes, Flabelos e Bonecos com a Orquestra Guararapes. Foi fotografada a atuação dos passistas durante a apresentação artística e no encontro dos estandartes. Durante a performance no espaço fechado no terceiro andar do museu, houve certa dificuldade de posicionamento porque o espaço estava lotado. Também tivemos um algum trabalho para acertar a fotometria, já que o espaço tem várias janelas com altas luzes bem pronunciadas. As fotos foram realizadas com uma lente zoom 24 mm a 70 mm e foi utilizado todo o seu comprimento focal. Já que as imagens foram feitas durante o dia, mesmo nos ambientes internos foi possível utilizar maiores velocidades do obturador que variou de 1/50 a 1/640, e aberturas que foram de f/3,2 a f/9. ISOs de 100 a 3200, sem flash. Pela proximidade das pessoas a serem fotografadas as imagens foram feitas em plano médio, com alguns planos americanos. Fizemos fotos em todas as angulações, com predominância de “baixo para cima”, contra-mergulho. 10/02 – sexta-feira - Evento: Hora do Frevo Especial com Orquestra Matéria Prima no Paço do Frevo Endereço: Praça do Arsenal da Marinha, s/n. - Bairro do Recife - Recife/PE.

44


Transporte: veículo próprio. Ambiente: interno. Expressão cultural: Frevo. Às sextas-feiras o Paço do Frevo promove a Hora do Frevo, com apresentações musicais na hora do almoço, com convidados que promovem o diálogo entre a música instrumental frevo e outros gêneros musicais. Esta apresentação não contou com a presença de passistas, por esta razão não foi realizadas imagens. 10/02 – sexta-feira - Evento: Ensaio do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu Endereço: sede do maracatu - Rua Frei Caneca, 301 - Centro - Igarassu/ PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes) Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: batuqueiros, baianas e corte dos maracatus que fazem parte do cortejo. Grupo: Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu. Os ensaios se iniciam meses antes do Carnaval. A cada sexta-feira aproximadamente às 20 horas os batuqueiros começam a afinar seus instrumentos para começar a tocar o baque trovão tão característico desta nação. Geralmente as baianas acompanham os ensaios, contudo, este ano isso não ocorreu, tendo em vista a dificuldade de locomoção e ao aumento da violência urbana na região. Desse modo, fiz somente algumas fotografias dos músicos. Foram 46 fotos, com comprimento focal de 24 mm a 70 mm, das quais metade em 70 mm; velocidade do obturador de 1/60 a 1/125 e abertura f/2,8 a f/4,5, sendo a maioria f/3,5; ISO 3200 a 20000 e sem flash. E as imagens foram feitas na mesma altura dos fotografados, em plano médio, plano americano e primeiro plano. 11/02 – sábado - Evento: Ensaio do Caboclinho Sete Flexas Endereço: Sede do grupo - Travessa Dowsley, 66 – Água Fria, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: artificial (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Caboclinho.

45


Personagens: Integrantes do Caboclinho (dançarinos e músicos). Grupo: Caboclinho Sete Flexas. Os ensaios do Caboclinho Sete Flexas acontecem na rua onde fica situada a sua sede no Bairro de Água Fria. Os encontros começam nos meses que antecedem o carnaval e é o momento onde os músicos e dançarinos se afinam. Também é o momento de aprender e vivenciar as músicas, os passos e as coreografias. Como eu ainda não conhecíamos os integrantes do grupo, fomos para ensaios anteriormente sem qualquer equipamento fotográfico. A intenção era conhecer os líderes e pedir a autorização prévia para fotografar o grupo. Fomos recebidos cordialmente pelo novo diretor da agremiação, Paulinho Sete Flexas, sucessor do pai que havia falecido recentemente. As coreografias são extremamente rápidas, passei um bom tempo apenas observando e conhecendo o brinquedo. Nesse dia fizemos muitas imagens, a maioria delas com o comprimento focal de 24, 70 e 65 mm, com a velocidade do obturador variando de 1/30 a 1/800 e abertura, f/2,8 a f/10, sendo a maior parte com f/4,0 a f/4,5. O ISO 1000 a 6400, mas o maior número com ISO 3200 e 4000. Quanto à angulação, as fotografias foram feitas na mesma altura do sujeito e os planos variaram entre plano conjunto, plano médio e primeiro plano. 12/02 – domingo - Evento: Spok e a Roda de Frevo em frente ao Paço do Frevo Endereço: Praça do Arsenal da Marinha, s/n. - Bairro do Recife - Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Expressão cultural: Frevo. Essa foi uma das atividades em comemoração ao Dia do Frevo. O show foi realizado em um palco montado em frente ao Museu Paço do Frevo, que apoiou a iniciativa, juntamente com o Governo do Estado de Pernambuco e a Prefeitura do Recife. Foi um ensaio a céu aberto onde músicos praticaram a linguagem do frevo. Nesse dia havia muitos músicos tocando e, consequentemente, o espaço para apresentação dos passistas ficou bem reduzido. Houve muita dificuldade em fotografar porque não foi possível chegar a tempo ao local. O evento estava marcado para às 16 horas e só consegui chegar em torno das 16h30. Além do mais, havia muita gente e foi quase impossível atravessar a multidão. Diante desse quadro, seguimos para o encontro de blocos líricos na Rua da Aurora.

46


Evento: Aurora dos Carnavais - Encontro de Blocos Líricos Endereço: Rua do Aurora, Bairro da Boa Vista, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo de Bloco. Personagens: integrantes dos blocos líricos (músicos, pastoras e pastores). Grupos: Bloco Lírico Seresteiros de Salgadinho, Bloco Flor do Eucalipto, Bloco Flores do Capibaribe, Bloco Lírico Artesãos de Pernambuco, Bloco Flor da Lira, Bloco Carnavalesco Amantes das Flores. O Aurora dos Carnavais - Encontro de Blocos Líricos do Carnaval de Pernambuco chegou à 18ª edição no ano de 2017. É um evento que busca ressaltar o lirismo e a beleza dos Blocos Líricos Pau e Corda, que acontece sempre na Rua da Aurora, no Centro do Recife. No encontro são reunidos vários blocos da Região Metropolitana do Recife e interior. Com um coral feminino, o frevo de bloco é executado por uma orquestra de pau e corda e tradicionalmente desfilava pelas ruas do Bairro de São José, na área central do Recife. Os grupos se apresentaram de forma sucessiva em um pequeno palanque montado em uma das praças da Rua da Aurora. Chegamos ao local aproximadamente às 18 horas e conseguimos ficar posicionados bem em frente ao local das apresentações, mas sem muita possibilidade de deslocamento. As imagens foram feitas basicamente de um mesmo ângulo, com mudanças apenas no zoom da lente. Utilizamos todos os comprimentos focais da lente, porém metade das imagens com a lente 70mm. A velocidade do obturador de 1/30 a 1/125, sendo metade delas com 1/125. Já a abertura variou basicamente entre f/4,0 a f/4,5 e dois terços das imagens foram realizadas com o ISO 3200 e sem o uso do flash. Foram feitas imagens no plano conjunto, primeiro plano e plano detalhe e praticamente todas de “baixo para cima”, por conta do palco. 16/02 – quinta-feira - Evento: Acerto de Marcha de Blocos Líricos Endereço: Pátio de São Pedro, Bairro de São José, Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM.

47


Expressão cultural: frevo. Personagens: integrantes dos blocos e pessoas comuns que acompanhavam o ensaio. Grupos: Bloco Carnavalesco Misto Batutas de São José e o Bloco das Ilusões. Em 2017 foram realizados diversos acertos de marcha dos blocos líricos no Pátio de São Pedro. Nesse dia fotografamos o Bloco Carnavalesco Misto Batutas de São José e o Bloco das Ilusões. O ensaio é na rua, no chão, assim a interação com a plateia foi intensa. Um momento de muita alegria e participação popular. Por outro lado, fotografar ficou bem mais difícil porque não havia separação entre os integrantes dos grupos e o público. No entanto, foi um momento lindo e de muita emoção. Chegamos ao Pátio de São Pedro por volta das 20 horas e ficamos até às 21 horas porque em seguida fomos ao Baile Perfumado. Fizemos as fotos com a lente 24-70 mm, sendo um terço em 24 mm e um quinto em 70 mm (os estandartes). Mais uma vez devido à falta de iluminação utilizamos baixas velocidades do obturador (1/50 a 1/100), grandes aberturas (f/4,0 a f/4,5) e ISO’s altos (3200), novamente sem o uso do flash. Utilizamos basicamente o plano americano e a angulação na mesma altura do personagens por conta das características acima apontadas. Evento: Baile Perfumado Endereço: Pátio do Terço, Bairro de São José, Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes e “gambiarras”). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo e Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: passistas e integrantes do maracatu. Grupos: Clube das Pás Douradas e Maracatu Almirante do Forte. Em sua 22ª edição do Baile Perfumado, o bloco pré-carnavalesco tem a intenção de fazer um resgate do carnaval com banho de cheiro, confete e serpentina. O evento reúne diversas agremiações de frevo, samba, maracatu e caboclinho, e ocorre todos os anos no Pátio do Terço, bairro de São José, área central do Recife. Saí do Pátio de São Pedro com o acerto de marchas ainda em curso e segui para o Pátio do Terço. Chegando lá o Clube das Pás, agremiação homenageada, estava finalizando sua apresentação, fotografei um pouco. Logo após foi a exibição do Maracatu Almirante do Forte. Aqui encontramos a mesma situação do Pátio de São Pedro, não havia um limite

48


definido entre o grupo e o público, o que dificulta a foto, mas engrandece muito a apresentação. É como se a troca de energia contagiasse ainda mais os integrantes da nação. Praticamente metade das fotos foram realizadas em 24 mm, a velocidade do obturador variou de 1/40 a 1/125, sendo metade das imagens em 1/60, com grandes aberturas, de f/2,8 a f/5,0, a maior parte de f/3,5 a f/4,5, e ISO’s altos, de 2500 a 5000, e sem flash. Em relação aos planos, temos muitos planos médio e americano, e angulação na mesma altura dos personagens. 17/02 – sexta-feira - Evento: Ensaios no Recife Antigo Endereço: Ruas do Bairro Recife, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo. Personagens: passistas de frevo. Grupos: Bloco Abanfolia. Neste dia tínhamos o objetivo de fotografar o ensaio para a abertura do Carnaval, que aconteceram em parte na Rua da Moeda, no Recife Antigo. No entanto, o local do ensaio foi modificado de última hora. Como já estávamos no centro, fotografamos um bloco que desfilava pelas ruas com passistas uniformizados. Chegamos ao local às 19 horas e fizemos grande parte das fotos com a lente em 24 mm e em 35 mm, com a velocidade do obturador variando basicamente entre 1/60 a 1/125 e abertura entre f/3,5 a f/4,0, ISO de 2500 a 4000, sem flash. No plano médio e angulação normal e em contra-mergulho. 18/02 – sábado -14h – Festa do Traga a Vasilha em Casa Forte O Traga a Vasilha ocorre sempre às sextas-feiras, durante todo o ano, na Rua Mariz e Barros no bairro do Recife, onde integrantes de várias nações de Maracatu de Baque Virado se reúnem para tocar. Diferentemente das nações, o grupo não preserva o lado religioso, ele tem apenas a parte profana, das festividades e comemorações. Todos os anos, em um sábado, o grupo organiza uma festa pré-carnavalesca no bairro de Casa Forte. Esta é uma oportunidade de celebração entre os batuqueiros, além de proporcionar um momento de muito aprendizado pela presença dos muitos mestres

49


convidados para participar da festa. Essa foi mais uma ocasião de conversas, de interação e de observação. Fizemos fotos, mas nenhuma ligada diretamente ao projeto, porém relacionadas com a pesquisa. Evento: Ensaio do Caboclinho Sete Flexas Endereço: Sede do grupo - Travessa Dowsley, 66 – Água Fria, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Caboclinho. Personagens: Integrantes do Caboclinho (dançarinos e músicos). Grupo: Caboclinho Sete Flexas. Mais um ensaio do Sete Flexas. Desta vez com a presença do Som na Rural, um projeto de difusão cultural itinerante, que estava realizando um gravação de vídeo sobre o ensaio do caboclinho. Os ensaios eram marcados para às 19 horas, no entanto só iniciavam às 20h30/21 horas. Foi um momento de maior interação com o grupo, onde conheci mais integrantes e até fui convidada para dançar. Nesse dia utilizamos basicamente os comprimentos focais de 24 mm e de 70 mm. A velocidade do obturador de 1/50 a 1/125. A abertura do diafragma na maioria das imagens em f/3,5 a f/4,5 e f/6,3. ISO, 1600 a 4000. Sem flash. As fotos na maior parte estão em plano médio e plano conjunto, na mesma altura dos dançarinos. 19/02 – domingo - Evento: Ensaios no Recife Antigo e apresentações na Torre Malakoff Endereço: Recife Antigo, Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luz natural e luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica Canon EOS REBEL T2i e lente EF 28mm f/1.8 USM. Expressão cultural: Frevo, Maracatu de Baque Solto (Rural) e Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: passistas, batuqueiros e integrantes das cortes dos maracatus. Grupo: Grupo percussivo Tambores do Mundo / Maracatu Nação Porto Rico, Caiporas de Pesqueira e Maracatu Rural Gavião Misterioso.

50


À tarde fui para Olinda, com o objetivo de fotografar o Clube Pitombeira dos Quatro Cantos. No entanto, quando cheguei à sua sede, o clube já estava na rua e não foi possível encontrá-lo. Cruzei com blocos menores, mas que não renderam fotos interessantes para o projeto. Então, resolvi seguir para o Recife Antigo, aonde estavam acontecendo vários ensaios e apresentações na Torre Malakoff. Cheguei ao Recife Antigo ao entardecer (17h30) e pelas ruas encontrei o ensaio de rua do Tambores dumundo, grupo percussivo surgido em 2004 por vários amigos que pretendiam se reunir para tocar ritmos pernambucanos aliados aqueles advindos de outras partes do mundo. As imagens foram realizadas com uma lente fixa de 28 mm, com velocidade do obturador de 1/80 a 1/200. Todas as imagens foram feitas com ISO 400 e a maior parte delas com abertura do diafragma em 5,6 e sem flash. Houve bastante variação de planos, desde plano médio, passando por plano americano e primeiro plano até plano detalhe. No entanto, todas as fotos foram realizadas na angulação normal. Já na Torre Malakoff, que neste ano foi um ponto de encontro e de vivência das tradições carnavalescas, com a sétima edição da ExpoCarnaval. Durante toda o pré-carnaval o evento contou com várias apresentações gratuitas e contou com a participação de 24 expositores de artesanato e moda pernambucanos. A programação especial foi realizada pelo Governo de Pernambuco, através da SECULT-PE e FUNDARPE. Chegamos mais ou menos às 18 horas, quando o Maracatu Nação Porto Rico já estava finalizando sua exibição, mas foi possível fazer algumas fotos do grupo. Em seguida foi a vez dos Caiporas de Pesqueira, tradicional bloco do carnaval e símbolo daquela região, os Caiporas são foliões e personagens irreverentes que saem pelas ruas da cidade vestidos com paletós coloridos e sacos de estopas na cabeça. Logo após foi a vez do espetáculo do Maracatu Rural Gavião Misterioso, às 20 horas. A noite terminou com Coco e Ciranda, comandados por Lia de Itamaracá. A lente utilizada foi uma 28 mm, com velocidade do obturador basicamente de 1/25 a 1/125, abertura do diafragma na maior parte das imagens em f/3,5 a f/4,0, ISO de 200 a 1600, flash pop-up em 1/10 das fotos. Foram realizadas fotos em plano conjunto, plano médio e plano americano. Quanto à angulação, foram feitas imagens na mesma altura e algumas de cima para baixo. 20/02 – segunda-feira - Evento: Noite dos Tambores Silenciosos de Olinda Endereço: Cidade Alta de Olinda, Olinda/PE.

51


Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: batuqueiros, baianas e corte dos maracatus que fazem parte do cortejo. Grupos: Maracatu Leão Coroado de Olinda e Maracatu Almirante do Forte (nação convidada). A cerimônia da 16ª Noite dos Tambores Silenciosos de Olinda foi comandada pelo mestre Afonso Aguiar, do Maracatu Leão Coroado, Patrimônio Vivo de Pernambuco. O ato se iniciou às 20 horas, com concentração na Praça de São Pedro, e o cortejo seguiu pela Rua Prudente de Morais, Quatro Cantos, Rua do Amparo, Largo do Amparo, Ladeira do Bonsucesso, até chegar a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Participaram dez nações de maracatu, das quais foram fotografados o Maracatu Leão Coroado de Olinda e o Maracatu Almirante do Forte, nação convidada. Chegamos ao local em torno das 20h30 e acompanhamos o cortejo da primeira nação, o Maracatu Leão Coroado, desde os Quatro Cantos até o largo da igreja. Logo após, fotografamos a nação convidada, o Maracatu Almirante do Forte, e ficamos aguardando até a cerimônia à meia-noite. Saímos de Olinda à meia-noite e meia. Para a realização das fotografias utilizamos predominantemente os comprimentos focais de 24 mm e 70 mm, velocidade do obturador de 1/50 a 1/80, abertura de f/2,8 a f/4,5 e ISO 2000 a 4000. Todas as imagens foram sem flash, em sua maior parte em plano médio e plano conjunto, com angulações variadas. 21/02 – terça-feira - Evento: Ensaio geral para a abertura do carnaval do Recife Endereço: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: batuqueiros, dos maracatus. Grupos: Maracatu Almirante do Forte.

52


As 13 nações de Maracatu de Baque Virado que participaram da solenidade de abertura do carnaval do Recife, ao lado de Lenine, Virgínia Rodrigues e Nilsinho Amarantos, realizaram o primeiro grande ensaio neste dia, levando um grande número de pessoas para o Marco Zero. Ao total foram três ensaios, porém devido à grande quantidade de eventos pré-carnavalescos na cidade, optamos fotografar apenas este ensaio. Ficamos no local por pouco tempo, das 20 horas às 20h30, tendo em vista que se tratava de um ensaio técnico, com muitas paradas, e com a presença apenas dos batuqueiros. Por esta razão fizemos poucas imagens, praticamente todas com o comprimento focal: 24 mm e 70 mm, velocidade do obturador: 1/50 a 1/100, abertura: f/3,2 a f/4,5, ISO: 1600 a 3200, sem o uso do flash; com planos conjunto e americano e na mesma altura dos personagens. 23/02 – quinta-feira - Evento: 9º Encontro de Caboclinhos Endereço: Rua da Moeda, Bairro do Recife, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Caboclinho. Personagens: integrantes da agremiação. Grupos: Caboclinhos: Canindé de Camaragibe, Tribo Carijós, Caboclinhos dos Coités, Tribo Indígena Tainá, Índios Tupiniquins, Tribo Flexa Negra e Tribo Tupinambá de Jaboatão. Realizado pela Prefeitura do Recife, o 9º Encontro de Caboclinhos aconteceu na Rua da Moeda, reunindo vinte agremiações carnavalescas. O evento estava marcado para começar às 19 horas, chegamos ao local às 19h15 e o Caboclinho Sete Flexas já havia se apresentado bem mais cedo, umas 18 horas. De toda sorte realizamos as imagens de outros grupos acima elencados. Nesse dia fizemos muitas imagens, com o objetivo de experimentar ao máximo as variáveis do comprimento focal 24 mm a 70 mm, já que o público era pequeno. Utilizamos as seguintes velocidades do obturador: 1/30 a 1/200, por conta de locais muito escuros e outros com muita iluminação por conta dos refletores do palco. Nas aberturas, variamos pouco, utilizando basicamente f/4, f/4,5 e f/5,6. Fizemos a opção de utilizarmos ISO’s altos, de 1000 a 3200, e não dispararmos o flash. A maior parte do tempo fiquei sentada no chão para não atrapalhar a visualização do público, pois não havia arquibancadas. Assim, a angulação de praticamente todas as imagens

53


é de baixo para cima. Em relação aos planos, as imagens foram feitas em plano conjunto, plano médio, primeiro plano e plano detalhe. Fotografamos das 19h20 às 20h50, quando saí correndo para encontrar o Clube Escuta Levino, que tinha saída prevista às 20 horas na Praça Maciel Pinheiro. Evento: Escuta Levino Endereço: Praça Maciel Pinheiro, Rua da Imperatriz, Ponte da Boa Vista e Avenida Guararapes, Bairros da Boa Vista e Santo Antônio, Recife/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo. Personagens: passistas de frevo e foliões. Grupo: Clube Carnavalesco Escuta Levino. O Clube Escuta Levino foi fundado em 1997 e seu repertório é dedicado ao maestro Levino Ferreira. Ele presta homenagens às mais antigas tradições das agremiações carnavalescas de Pernambuco e celebra as origens do frevo. O clube sempre desfila às quintas-feiras da semana pré-carnavalesca, com seus passistas, representados pelo grupo Guerreiros do Paço, além de brincantes fantasiados de almas, morcegos e os palhaços. Encontrei a agremiação no início da Rua da Imperatriz mais ou menos às 21h20. Havia muitos foliões e a rua ficou pequena para tanta gente. Depois o clube seguiu em silêncio pela Ponte da Boa Vista e os clarins só voltaram a tocar na Rua do Sol, quando começou a chover torrencialmente. Nos abrigamos nos prédios da Av. Guararapes e deixamos o bloco seguir adiante. Já eram 22h48. As fotos foram feitas com a lente 24 mm e em planos mais fechados (plano médio, conjunto e plano americano), porque eu estava dentro da agremiação juntamente com os foliões. À exceção de algumas imagens em plano geral que fizemos da Ponte da Boa Vista com a lente em 70 mm. Mantivemos a velocidade do obturador em 1/60 e a abertura do diafragma em f/3,2 e f/4,5, bem como o ISO 2500 a 4000, sem o disparo do flash. No que diz respeito à angulação, quando eu não subíamos a máquina acima da cabeça para fazer fotos em mergulho, fizemos imagens com angulação normal.

54


24/02 – sexta-feira - Evento: Abertura do Carnaval do Recife - 16h - concentração / 18h início (do cortejo inicial ao show de Almir Rouche) Endereço: Rua Mariz de Barros, Rua da Moeda, Avenida Alfredo Lisboa e Praça do Marco Zero, Bairro do Recife, Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatu, Frevo e Caboclinho. Personagens: batuqueiros dos maracatus, guerreiros dos caboclinhos, passistas de frevo e o povo na rua. Grupos: Maracatus participantes do encontro, Caboclinhos Carijós (homenageado do carnaval), Caboclinhos Sete Flexas. Chegamos cedo ao Recife Antigo; assim, aproveitamos a oportunidade e fizemos algumas imagens da apresentação na Rua da Moeda do Boi Marinho, uma brincadeira de rua criada pelo músico, ator e dançarino Helder Vasconcelos. O grupo se apresenta na forma de cortejo, com um Boi, e é fruto da relação do artista com algumas tradições populares, como o Cavalo Marinho e o Maracatu Rural. Logo após fomos para a área reservada à imprensa e aos convidados no palco do Marco Zero. A abertura do carnaval do Recife em 2017 foi marcada por uma homenagem ao mestre percussionista Naná Vasconcelos. O evento teve início com a apresentação de 13 Nações de Maracatus de Baque Virado, que foram acompanhadas pelo Coral Voz Nagô e a Orquestra do Maestro Edson Rodrigues. A homenagem também contou com a presença de três artistas convidados: Virgínia Rodrigues, Lenine e Nilsinho Amarantes, o maestro que acompanhava Naná Vasconcelos. Em seguida, houve a apresentação do Caboclinho Tribo Indígena Carijós do Recife, um dos homenageados do carnaval do Recife nesse ano. O outro homenageado, Almir Rouche, subiu ao palco em seguida, recebendo mais de 20 convidados. A noite também celebrou o encontro do Galo da Madrugada com o Homem da Meia Noite. As apresentações da abertura se iniciaram aproximadamente às 18h30 e seguiram até a meia-noite. Infelizmente, a iluminação do palco estava mal distribuída, com muitas luzes na caixa de cena e quase sem qualquer foco de luz na passarela onde passaram as agremiações e os dançarinos. Utilizamos os comprimentos focais 24 mm e 70 mm, com velocidade do obturador predominantemente de 1/80 a 1/160 e abertura de diafragma de 4 a 5,6. A maior parte das

55


imagens foram feitas com ISO 2500 a 4000 e sem flash. As imagens do palco foram realizadas em plano contra-mergulho, enquanto que as do público, em plano mergulho, com algumas em ângulo normal. Em relação aos planos fizemos planos médio e conjunto e alguns planos gerais dos batuqueiros das nações e do público. 25/02 – sábado - Evento: Espera e Saída do Homem da Meia Noite - 16h / 01h Endereço: Rua do Bonsucesso, 132 - Bonsucesso - Olinda/PE. Transporte: veículo próprio. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Frevo. Personagens: passistas de frevo e os foliões. Grupos: Brincantes das Ladeiras e Homem da Meia-Noite. O Clube Carnavalesco de Alegoria e Crítica O Homem da Meia-Noite é Patrimônio Vivo de Pernambuco desde 2006. Ele abre oficialmente a folia de Olinda, com sua saída pontualmente à meia-noite do sábado, partindo da sede, que fica em frente à Igreja do Rosário dos Homens Pretos, no Bonsucesso. O Homem da Meia-Noite possui cerca de quatro metros de altura e é o mais antigo boneco gigante de Olinda, além de ser símbolo do Carnaval da cidade-patrimônio. Chegamos ao pátio da Igreja por volta das 17h30 e já tinham agremiações à espera do Homem. Nesse horário fotografamos um caboclinhos e o grupo Brincantes das Ladeiras, que faziam performances livres em frente à sede do clube. Mais tarde o Grupo Bongar também começou a tocar na rua, mais à frente. Nas fotos diurnas foi possível utilizar uma velocidade de obturador mais altas, variando de 1/100 a 1/200, com abertura de diafragma, em f/4 e f/4,5. No entanto, como estava sem flash, o ISO continuou alto (500 a 4000). Os planos utilizados foram o médio e o conjunto, como ângulo normal e de baixo para cima. Já nas noturnas fixamos a velocidade do obturador em 1/100, abertura f/4 e ISO 3200, também sem o uso do flash. Para um melhor enquadramento, logo cedo, por volta das 22 horas, “adotei” uma calçada de pessoas amigas e na hora da saída do calunga subi em uma janela, assim as fotos estão em plano geral e médio e de cima para baixo.

56


26/02 – domingo - Evento: Apresentações de Maracatus de Baque Solto no Marco Zero e desfiles oficiais dos Maracatus de Baque Virado (Nação) Endereço: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife e Avenida Nossa Senhora do Carmo, Bairro de Santo Antônio - Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatu de Baque Virado (Nação). Personagens: batuqueiros, baianas e corte dos maracatus que fazem parte do cortejo. Grupos: Maracatu Cambinda Nova de Lagoa de Itaenga, Maracatu Cambindinha de Araçoiaba, Maracatu Estrela Brilhante do Recife, Nação Maracatu Porto Rico e Maracatu Almirante do Forte. Antes dos desfiles fomos rapidamente ao palco do Marco Zero no Recife Antigo para realizarmos algumas imagens de Maracatus de Baque Solto (Rural). Ali fotografamos o Maracatu Cambinda Nova de Lagoa de Itaenga e o Maracatu Cambindinha de Araçoiaba. Depois atravessamos a ponte e seguimos para o Bairro de Santo Antônio para as apresentações do concurso de agremiações carnavalescas promovido pela Prefeitura do Recife. Em 2017, o concurso contou com um total de 249 agremiações, disputando em onze categorias: Troças Carnavalescas, Clubes de Frevo, Clubes de Boneco, Blocos de Pau e Corda, Maracatus de Baque Solto, Maracatus de Baque Virado, Caboclinhos, Tribos de Índios, Bois de Carnaval, Ursos (La Ursa) e Escolas de Samba. O concurso integra o ciclo carnavalesco da Prefeitura do Recife, sendo realizados pela Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife. No domingo de carnaval um dos momentos mais importantes são os cortejos dos Maracatus de Baque Virado (Nação). As arquibancadas da Avenida Nossa Senhora do Carmo estavam lotadas para assistir aos desfiles das nações pela avenida. As agremiações são avaliadas conforme cada modalidade. No caso da apresentação dos Maracatus de Baque Virado são consideradas, por exemplo, a performance dos batuqueiros, das damas do Paço e da Corte, além das fantasias. Com a credencial de fotógrafa concedida pela prefeitura, pela primeira vez, foi possível acompanhar na avenida o desfile de todas as agremiações. Chegamos ao local do

57


desfile às 20 horas e ficamos até à 1 hora do dia seguinte. Fotografamos o Maracatu Estrela Brilhante do Recife, a Nação Maracatu Porto Rico e o Maracatu Almirante do Forte. Nesse dia utilizamos todos os comprimentos focais da lente, com a velocidade do obturador predominantemente em 1/60 a 1/125 e o diafragma na parte das imagens com abertura f/4 a f/5. Todas as fotos foram sem flash e com ISO 1250 a 3200. A maioria das fotos são em plano médio e plano conjunto, com angulação normal. 27/02 – segunda-feira - Evento: Noite dos Tambores Silenciosos - 21h/00h30 Endereço: Pátio do Terço - Bairro de São José - Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatus de Baque Virado (Nação). Personagens: batuqueiros, baianas e corte dos maracatus que fazem parte do cortejo. Grupos: Maracatu Estrela Brilhante do Recife, Maracatu Almirante do Forte e Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu. A tradição da Noite dos Tambores Silenciosos reúne milhares de pessoas no Pátio do Terço para o encontro de dezenas de nações de Maracatus de Baque Virado, vindas de várias partes do estados. O auge da cerimônia acontece à meia noite, quando as luzes do pátio são apagadas e as alfaias silenciam: um momento de fé, respeito e reverência aos antepassados. Chegamos ao local em torno das 20h45 e já havia bastante pessoas. No entanto, ainda por conta da credencial tivemos permissão para ficarmos dentro do local das apresentações, o que facilitou muito a realização das imagens. Fotografamos o Maracatu Estrela Brilhante do Recife, Maracatu Almirante do Forte e Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu. As exibições foram no chão, assim ficamos agachados a maior parte do tempo para não atrapalhar o público, levantando eventualmente. Assim, as imagens foram feitas em contra-mergulho e ângulo normal, em planos médio, conjunto e americano. Quanto ao comprimento focal, utilizamos principalmente a lente em 24 mm, 35 mm, 50 mm e 70 mm. A maior parte das imagens foi realizada com a velocidade do obturador entre 1/50 a 1/125, o diafragma com a abertura entre 2,8 a 4,5 e o ISO variando entre 1600 a 3200, sem o uso do flash.

58


28/02 – terça-feira - Evento: Apresentação do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu / Desfile oficial dos Maracatus de Baque Solto (Rural) / Caboclinhos / 17h30 - 00h Endereço: Avenida Nossa Senhora do Carmo - Bairro de Santo Antônio - Recife/PE. Transporte: táxi. Ambiente: externo. Iluminação: ambiente (luzes dos postes). Equipamento: Câmera fotográfica CANON 6D e lente EF 24-70mm F/2.8L II USM. Expressão cultural: Maracatu de Baque Virado (Nação), Maracatu de Baque Solto (Rural) e Caboclinho. Personagens: batuqueiros, baianas e corte dos maracatus que fazem parte do cortejo e guerreiros dos caboclinhos. Grupos: Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, Maracatu Cruzeiro do Forte, Caboclinho Tribo Indígena Kapinawa, Tribo Tupã, Tribo Carijós, Caboclinho União Sete Flexas de Goiana, Caboclinho Sete Flexas. No último dia do carnaval chegamos cedo ao Recife Antigo (17h30) para fazer o registro fotográfico da apresentação do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu na Praça do Arsenal. Em seguida fomos correndo para o concurso das agremiações na Avenida Nossa Senhora do Carmo para fotografarmos os grupos de Maracatu de Baque Solto e Caboclinhos. E só partimos à meia-noite. Mais uma vez ficamos no local destinado à imprensa, assim foi possível utilizarmos todos os comprimentos focais da lente 24-70mm . Com relação à velocidade do obturador, usamos a variação de 1/60 a 1/160, o diafragma em grande parte das imagens com abertura de f/4 a f/5 e ISO 1250 a 3200, sem o disparo do flash. As fotos foram realizadas em planos médio, conjunto, americano e primeiro plano, com angulação normal. 5.2

Equipamentos

As câmeras fotográficas utilizadas foram os modelos CANON T2i e CANON 6D e as lentes EF 24-70MM F/2.8L II USM, EF 50MM F/1.8 STM e EF 28MM F/1.8 USM. O software utilizado de fotografia digital foi o Adobe Photoshop Lightroom CC para desktop e dispositivos móveis.

59


6

6.1

PÓS-PRODUÇÃO

Edição

Foram produzidas aproximadamente 3.000 (três mil) imagens, tendo em vista que o objeto fotografado era muito dinâmico, o cenário e as pessoas mudavam rapidamente e as condições de luz eram precárias, também com variações muito bruscas. Acrescente-se, ainda, o fato de que havia o compromisso de realizar a entrega das fotografias para os grupos e seus integrantes. A princípio foram selecionadas mais ou menos 650 (seiscentas e cinquenta) fotografias, das quais escolhemos aquelas a serem entregues aos brincantes. Destas imprimimos 200 imagens para levar ao orientador. Daí foram eleitas 35 fotografias, sete imagens de cada folguedo. A seleção destas imagens exigiu uma reflexão retrospectiva de todo o material produzido e não foi simples. Assim, foram estabelecidos alguns critérios. No entanto, estes critérios não foram uniformes para todos os brinquedos, porque cada um possuía características próprias e procuramos preservar estas particularidades. De modo que o grande ensaio pode ser subdividido em cinco subgrupos. O principal critério utilizado no ensaio geral com 35 imagens foi a ideia de movimento na fotografia. Procuramos ter uma visão coerente e uma narrativa clara, sem esquecer das competências estéticas e técnicas, bem como manter a edição coesa e concisa. Buscamos, ainda, na forma de finalização, refletir uma compreensão do contexto em que foi produzido o trabalho.

Figuras 22, 23 e 24 – Processo de edição. Fotos de Elysangela Freitas. Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

60


Figura 25 – Mosaico com as fotos selecionadas Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

6.2

Plano de Divulgação e Exibição A intenção é tornar público todo processo de construção da pesquisa e também seu

resultado, como forma de divulgação dos bens culturais estudados. Desse modo, para divulgação do trabalho foi criada uma Fanpage no Facebook (facebook/corpoemfluxo) e um perfil

no

Instagram,

(@corpoemfluxo/)

como

também

será

lançado

um

site

(https://corpoemfluxo.wordpress.com). Por fim, foram confeccionados cartões de visita do projeto a fim de facilitar o acesso às informações contidas na internet.

Figura 25 – Layout do site. Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

61


7

CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo do estudo e investigação da obra de artistas que se envolveram com a

representação da dança, seja por meio da fotografia, da pintura ou do desenho, desenvolvemos uma pesquisa individual sobre o movimento do corpo e sua interseção com as linguagens da dança popular pernambucana e da fotografia. Essa pesquisa teve como propósito o desejo de reunir duas formas de expressão da linguagem: a dança e a fotografia. Somos cientes de que a pesquisa impacta todos os aspectos da compreensão do contexto mais amplo da prática fotográfica e o nosso principal desafio foi a tradução da ideia em imagens. Os principais fatores de impacto na pesquisa foram o acesso às informações, aos locais e principalmente às pessoas ligadas aos bens imateriais fotografados, como também a reflexão e a discussão sobre o tema. Outro grande desafio foi a escrita do presente relatório, mas nada se compara à experiência da vivência das saídas fotográficas, da edição do ensaio e das respostas que pretendíamos dá tanto à sociedade científica quanto às pessoas envolvidas em todo processo da pesquisa. A maneira pela qual nos expressamos vem carregada de contextos, estilos e intenções distintas, definida pelo meio e tempo em que vivemos, nossa profissão, nível social, idade e tudo mais que nos cerca. Logo, considerando o fato de que toda fotografia é construída e de que o fotógrafo tem responsabilidade sobre como escolhe representar o mundo, pensar criticamente sobre a forma como se trabalha contribuiu bastante para o desenvolvimento da prática. No caso da dança popular, não é suficiente olhar e apertar o botão para se obter uma fotografia, o mais importante é conhecer o funcionamento do folguedo; compreender o contexto em que as fotos serão produzidas; entender os brincantes e sua arte, a brincadeira e o brinquedo. Além disso, no momento da captura das fotos é fundamental evitar ficar no meio do folguedo, porque, além de ser um desrespeito, atrapalha a sua evolução. Quanto à técnica, nosso ponto de partida foi perceber as limitações do equipamento disponível para realização das fotografias, considerando o fato de que os dançarinos apresentam movimentos fluidos e contínuos. Utilizamos uma câmera do modelo 6D da Canon, full frame, com alto desempenho com ISO alto, sendo boa para fotografar com pouca luz. No entanto, ela não é um equipamento adequado para fotografar ação e movimento rápido, por conta da dificuldade em fazer o foco rapidamente. Outro fato importante foi aprender a observar as formas, as cores e a luz ao redor do tema a ser fotografado. Na fotografia de rua o fotógrafo tem de estar preparado para captar

62


coisas que mudam muito rapidamente. É necessário movimentar-se e experimentar diferentes ângulos, no entanto, no caso dos ensaios e das apresentações o grande número de pessoas assistindo às performances, como também o pequeno espaço, reduziram bastante as possibilidades de movimentação no espaço. Muitas das vezes foi necessário abaixar-se, ficar de joelhos ou sentar no chão para poder capturar as imagens desejadas. Apesar de termos consciência de que realizar o registro do processo da tomada de fotos proporciona um documento valioso, não foi possível documentar as minhas ações, posto que eu não possuía assistentes e ia sozinha a campo. Assim como também não conseguimos dá seguimento às anotações sobre o objeto da pesquisa realizadas em um caderno de notas e em um diário visual. Já a tentativa de criar uma narrativa por meio da edição das imagens exigiu tempo para essa reflexão sobre as possibilidades da construção do ensaio. Observando retrospectivamente o processo da pesquisa, percebo que as imagens efetivamente realizadas diferem da imagem que gerou a ideia original, pelo fato de que nos preocupamos muito com a recepção das imagens pelas pessoas fotografadas, como também pelo uso que elas poderiam fazer depois que recebessem as cópias digitais. De fato fiquei dividida entre fazer um trabalho meramente subjetivo e a proposta de compartilhamento das imagens para uso e divulgação dos folguedos. Contudo, consideramos que, apesar das dúvidas e angústias vivenciadas durante o processo, foi possível alcançar os resultados esperados em relação aos objetivos propostos no pré-projeto. No entanto, quanto à qualidade técnica e artística das imagens, entendemos que elas podem ser aprimoradas, por meio da realização de novas experimentações com equipamentos diferentes, inclusive com o estudo e a utilização do flash. Acrescente-se, ainda, a possibilidade de serem realizadas novas releituras e edições diferentes do material já fotografado. Por fim, a pesquisa teve influência na nossa maneira de refletir sobre a fotografia em si e de pensar a forma de desenvolver estratégias visuais para a produção de imagens. Nos fez perceber, na prática, a importância das questões relacionadas ao conceito e à ideia na construção de uma fotografia, além da compreensão de que o processo de realização da imagem pode ser influenciado pela conexão entre o fotógrafo e seu tema, pois o fotógrafo reage ao tema e essa reação gera um componente essencial da fotografia, que é então transmitido por meio da foto. Não é apenas ver o objeto em si, mas o conteúdo humano que ele representa.

63


8

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Mário. Danças Dramáticas do Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Itacaia; Brasília: INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1982. AMORIM, Maria Alice, Patrimônios Vivos de Pernambuco. Recife: FUNDARPE, 2010. BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 1987. DUNCAN, Isadora. Minha Vida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. FEIJÓ, Cláudio. Linguagem Fotográfica. Disponível em: <http://www.uel.br/pos/fotografia/wpcontent/uploads/downs-uteis-linguagem-fotografica.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2016. FERNOCHIO, Fernando. Linguagem e Sociedade. Disponível em: <http://www.slideshare.net/FernandoFernochio/linguagem-e-sociedade>. Acessado em: 31/8/2011. FIALHO, Roberto Basílio. Corpointerface: relações entre corpo e imagem na cena contemporânea de dança. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:jK63z9BnQKQJ:www.repositorio.ufba.br:8 080/ri/bitstream/ri/7886/1/UNIVERSIDADE%2520FEDERAL%2520DA%2520BAHIA%2520(2)%2 520corpointerface.pdf+&cd=6&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=safari>. Acesso em: 27 jul. 2016. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=344>. Acesso em: 01 dez. 2016. GALLO, Marina Didier Nunes. Francesca Woodman e o lugar de onde eu me olho. Recife: O Autor, 2015. GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Tradução de Antonio Guimarães Filho e Glória Mariani. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. GUIMARÃES, Roberta. Brincantes da Mata: Martelo. Recife: Imago Fotografia, 2010. GUIMARÃES, Roberta. O sagrado, a pessoa, o orixá. Recife: Imago Fotografia, 2013.

HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICOS NACIONAL. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 01 dez. 2016. LIMA, Cláudia. Evoé: história do carnaval - das tradições mitológicas ao trio elétrico. 2a Edição. Recife: raízes brasileiras, 2001. LOBO, Paula. Quando eles dançam. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2014. MAIOR, Mário Souto e SILVA, Leonardo Dantas (orgs). Antologia do Carnaval do Recife. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1991.

64


MARCUSCHI, Luiz Antônio. Hipertexto e Gêneros Digitais. Novas Formas de Construção de Sentido. Disponível em: <http://professor.ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/5628/material/hipertexto%20e%20genero s%20digitais%5B1%5D.%20novas%20formas%20de%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20sent ido.pdf> Acessado em: 02/9/2011. OLIVEIRA, Maria Goretti Rocha de. Danças populares como espetáculo público no Recife, de 1979 a 1988. Recife: O autor, 1991. PATRIMÔNIOS DE PERNAMBUCO: Materiais e Imateriais. Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. 3 ed. Recife: FUNDARPE, 2014. Disponível em: <https://issuu.com/cultura.pe/docs/patrimonios_de_pernambuco_3_edicao>. Acesso em: 22 jul. 2017. PÔSSA, Cláudia Maria de Moura. Dieux d’Afrique: Pierre Verger entre a África e a América. Disponível em: <http://www.anpap.org.br/anais/2010/pdf/chtca/claudia_maria_de_moura_possa.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2016.

REAL, Katarina. O Folclore no Carnaval do Recife. 2a. edição revisada e aumentada. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1990. SANTOS, Eunice Ribeiro dos Santos. Pierre Verger: o fotógrafo da cultura popular influências estéticas e estilos. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/wordpress/24795.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2016. SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Disponível em: <http://www.cultura.pe.gov.br>. Acesso em: 01 dez. 2016. STAM, Robert. Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. Tradução de Heloísa Jahn. São Paulo: Ática, 1992. UNESCO. Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Paris, 2003. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ConvencaoSalvaguarda.pdf.>. Acesso em: 22 jul. 2017.

65


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.