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Metaverso, NFTs, Web 3.0...

o que está por vir na internet?

Seja qual for a evolução das tecnologias, as demandas por capacidade e qualidade de conexão e de serviços só aumentam. Entender as tendências é essencial para as prestadoras de serviços de telecomunicações se prepararem para o futuro.

METAVERSO, NFTS, WEB 3.0... a internet segue em constante evolução e a cada dia surgem novas aplicações e modos de uso. Independentemente de quais sejam as inovações em curso, em comum, há a crescente demanda por muita capacidade e qualidade de banda larga, tanto fixa quanto móvel. Para além do que essas tendências significarão para as prestadoras, é preciso entender que o consumo de internet só tende a aumentar. “As empresas de internet estão, atualmente, trabalhando para oferecer conectividade e não explorando o metaverso, por exemplo. Atender à demanda é crucial em um primeiro momento”, diz o diretor de inovação e startups da Abranet, Telmo Teramoto.

Para ele, metaverso é uma nova tendência, mas ainda não está muito claro até que ponto será adotada e quão rápido isso se dará. “Já tivemos o Second Life, mas não tinha Facebook com a forma que temos hoje. As prestadoras de serviços vão ter de atender à demanda por capacidade de internet. Quanto mais o meta-

“Quanto mais as pessoas se habituam com altas capacidades, mais vão demandar. E, quanto mais aumenta nos centros urbanos, a tendência é aumentar também em áreas mais remotas.”

Telmo TeramoTo Diretor de inovação e startups da Abranet

verso estiver preponderante na sociedade, maior será a demanda, e é preciso estar preparado”, completa.

Além de metaverso, NFTs e Web 3.0, Teramoto destaca o blockchain como uma tecnologia que vem ganhando espaço e será cada vez mais relevante, porque permite não só rastreabilidade, como também automação a partir de, por exemplo, contratos inteligentes. “NFTs e blockchain são parecidos com o que era a internet nos anos 1990, em termos de estágio de adoção. Blockchain é para ser jogado em time; tem de construir uma rede com players que queiram trabalhar em conjunto”, destaca.

O desafio para as prestadoras de serviços de internet, diz, é conseguir entregar banda, uma vez que o usuário comum está mais familiarizado e dependente de alta capacidade de internet. “Quanto mais as pessoas se habituam com altas capacidades, mais vão demandar. E, quanto mais aumenta nos centros urbanos, a tendência é aumentar também em áreas mais remotas. As prestadoras de serviços de internet têm de ficar atentas às novas tecnologias e às tendências para atender bem e ter um planejamento de desenvolvimento”, sinaliza Teramoto.

Paulo Melo, gerente sênior de novos negócios no Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia, centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação sediado em Manaus (AM), acrescenta que metaverso, NFTs e Web 3.0 vão demandar não apenas muita qualidade de banda larga, mas também estabilidade. “Vamos, cada vez mais, exigir uma internet mais imersiva, que vai nos levar para ambientes, para uma realidade paralela, que hoje não conseguimos nem similar”, diz.

O metaverso desafia o conceito da descentralização e deve provocar profundas mudanças, alertou o professor Gil Giardelli, especialista em cultura digital, ao participar recentemente de um evento. “As

tecnologias que propiciam o metaverso estão praticamente prontas. Quem não está pronta é a sociedade”, adverte, chamando a atenção para a dicotomia existente entre a formação das pessoas e as demandas. “Nem todo emprego cabe no século 21”, diz.

Mesmo que as tecnologias necessárias estejam disponíveis e que haja conexão à internet boa o suficiente para suportar, o metaverso ainda está em processo inicial de adoção. Questionado se haverá um dono do metaverso ou concentração, o especialista disse acreditar que não – e explicou que com blockchain fica difícil ter um dono. “A colaboração nunca foi tão importante.”

inTerneT ínTegra

À parte as tendências, Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, prega que se mantenha a internet íntegra. “Existe a internet, que espero que continue íntegra, e tem a construção sobre a internet, que não é a internet. Por exemplo: você tem eletricidade e pode construir uma cadeira elétrica. O mau uso não é culpa da eletricidade. O mesmo vale para a internet”, detalha, defendendo que não se regule a internet, mas que se puna quem fizer algo nocivo. “Se não separar isso, vai acabar quebrando a internet em diversos pedaços, porque quebra o ambiente”, diz.

Seja qual for o caminho, ele faz um alerta: ainda que seja preciso ter mecanismos para proteger os usuários desprovidos de discernimento e crítica para não receber coisas que não possa digerir, é necessário preservar a neutralidade de rede.

“Defendemos que a rede tem de ser neutra e ninguém pode impedir ninguém de acessar. Mas, se eu cometo algo ilegal, tenho de ser punido. Não se pode violar as leis nacionais, mas a solução não é impedir. O certo é que cada indivíduo seja responsável pelos seus atos e tenha a chance de errar; querer impedir o erro tornando-o impossível não melhora a situação moral de ninguém”, aponta. •

“Vamos cada vez mais exigir uma internet mais imersiva, que vai nos levar para ambientes, para uma realidade paralela que hoje não conseguimos nem similar.”

paulo melo Gerente sênior de novos negócios no Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia

Web 3.0 marca a volta da descentralização

TiM BERNERS-LEE, o inventor da world wide web, está colocando em curso esforços para retornar a web ao que ela era originalmente. Em entrevistas, ele propaga a ideia de soberania dos dados, ou seja, que os usuários tenham poder sobre seus próprios dados. Isso significa recuperar o controle das informações pessoais que são entregues às grandes empresas, no que ele chama de uma coleta invasiva de dados por governos e corporações.

Na descrição de Berners-Lee, o cenário atual está dominado por alguns gigantes da tecnologia, prosperando em um sistema de “capitalismo de vigilância”, no qual dados pessoais extraídos e colhidos por gigantes online são usados para direcionar anúncios. Seria, portanto, um esforço de recuperar a web, voltando-a para sua essência, e liberá-la da excessiva concentração – ainda que venha a ter alguma concentração, até porque significa conforto para o usuário encontrar tudo em um lugar só.

Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, avalia

que a Web 3.0 significa justamente a web voltar a ser descentralizada, com maior disseminação de conteúdo por toda rede, porém, ele teme que isso esteja virando algo mais financeiro. “A web é uma teia de sítios, usando hipertextos, para andar de um para outro. Essa era ideia original, mas acabou calcificando em grandes portais”, explica. “Eu gostaria de ver a web recuperando a ideia original”, diz. “Certamente queremos preservar a internet. Ainda confio muito na comunidade internet, que sempre se defendeu contra ideias não saudáveis”, acrescenta.

Para o diretor de inovação e startups da Abranet, Telmo Teramoto, o caminho da Web 3.0 passa pela descentralização do uso da internet e das aplicações. “É um jogo de mais times e de mais players, mas as grandes empresas não estão querendo perder o controle”, pondera.

Com uma visão mais holística, Paulo Melo, do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia, defende que a Web 3.0 é o local onde as novas tendências, como metaverso e NFTs, estarão presentes. “É diferente do que temos hoje, que é 2.0. Na 3.0, é o mundo virtual conectado ao mundo real. É um nível acima de sofisticação e até os elementos virtuais estarão conectados. Você pode ter em um ambiente 3.0 um espaço em metaverso em que você compra NFT e compra com criptomoeda”, explica. •

EM MEADOS DOS ANOS 2000, o mundo virtual Second Life despontou, chamando a atenção não apenas de usuários individuais, mas também de empresas, que desenvolveram uma série de estratégias de negócios para atuarem na plataforma. Era possível socializar com amigos, passear em diversos ambientes, comprar terrenos virtuais, ir a shows, promover desfiles de modas e ser artista, político ou professor.

Foi uma febre, mas não durou – talvez por uma questão de timing. “O Second Life foi lançado na época errada. Faltavam tecnologias. Hoje, você olha o Minecraft metaverso e vê que é uma versão repaginada do Second Life, mas tem muito mais elementos, como fake double, IA, machine learning, [os geradores de rostos que não existem] ‘This Person Does Not Exist’”, diz Omarson Costa, consultor e conselheiro de empresas.

Até mesmo o criador do Second Life, Philip Rosedale, já levantou dúvidas sobre os planos do Facebook de criar seu próprio metaverso. Em entrevista ao portal de notícias norte-americano Axios, ele alertou que isso é algo que precisa ser minuciosamente estudado para que não haja

“As tecnologias que propiciam o metaverso estão praticamente prontas. Quem não está pronta é a sociedade.”

gil giardelli Professor e especialista em cultura digital

Está havendo uma releitura do Second Life?

consequências indesejadas.

Contudo, o metaverso é – ou deveria ser – mais que algo apenas do Facebook. O Gartner define metaverso como um espaço virtual compartilhado e coletivo, criado pela convergência da realidade física e digital virtualmente aprimorada. É persistente, proporcionando experiências imersivas melhores, bem como independente de e acessível por qualquer tipo de dispositivo, de tablets a monitores montados na cabeça.

O Gartner enfatiza que nenhum fornecedor será o proprietário do metaverso e por isso espera que ele tenha uma economia virtual habilitada por moedas digitais e tokens nãofungíveis (NFTs), ou não-substituíveis. A consultoria alerta

que o metaverso impactará todos os negócios com os quais os consumidores interagem todos os dias e estima que, até 2026, 25% das pessoas passarão pelo menos uma hora por dia no metaverso para trabalho, compras, educação, interação social e/ou entretenimento; e 30% das organizações do mundo terão produtos e serviços prontos para o metaverso.

Paulo Melo, do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia, explica que o ambiente virtual do metaverso espera que você tenha vida paralela. Ele reconhece as similaridades com o Second Life, mas pontua que de lá para cá a tecnologia evoluiu muito, principalmente, a conexão à internet e a capacidade de processamento. “O momento atual é muito mais propício de o metaverso dar certo do que foi com o Second Life, até porque o Second Life era uma empresa e metaverso não é”, analisa.

Para ele, uma lição que ficou do Second Life foi a descentralização como parte essencial. “Para uma tecnologia dar certo, ela precisa ser distribuída, com mais gente sendo envolvida e criando uma comunidade de desenvolvedores para aquilo que está sendo proposto”, sinaliza.

André Miceli, coordenador do MBA em marketing e inteligência de negócios digitais da FGV, vai na mesma linha de Melo e acredita no potencial do metaverso. “O Second Life foi na época errada; não vejo o metaverso fracassar. Pode ser que não seja na velocidade que autores e empresas estão propagando, mas estamos em uma fase mais madura que vai trazer um ambiente de negócios diferente”, justifica.

Miceli argumenta que o ambiente atual é outro e as tecnologias estão mais evoluídas. A experiência, assim, é mais rica e ficará ainda mais com o incremento da banda larga, principalmente, com a entrada do 5G. “Temos uma performance melhor e maiores velocidade e estabilidade de rede, que resultam em melhor experiência de uso”, diz.

Do lado do usuário, assim como destaca o consultor Omarson Costa sobre o Minecraft, o acadêmico aponta que o metaverso pode revolucionar jogos virtuais, como Roblox e Fortnite, e encontra ambiente propício para isso, uma vez que o grupo de usuários é muito grande, e são jovens ávidos por tecnologia. “Essas plataformas já têm comercialização de roupas e realização de eventos ao vivo reunindo milhares de pessoas, mas só quem tinha o jogo poderia participar. Assim, o jogo se torna alvo dos patrocinadores”, diz Miceli.

São oportunidades de negócios. Para Rafael Marenco Barella, advogado associado na área de tecnologia e inovação do Cescon Barrieu Advogados, a digitalização dos relacionamentos e a (talvez animadora) perspectiva de fazer negócios em um ambiente totalmente digital, além do aspecto do metaverso de oferecer um ambiente sem distâncias e sem fronteiras, são pontos que chamam a atenção no que se refere à realização de negócios na plataforma. “É a chance de atrair e transacionar com alguém que a empresa não conseguiria atingir fora dele. O pioneirismo pode ser a chave para associar o nome da empresa com o metaverso.” A orientação é saber com quem você está transacionando, uma vez que essa iniciativa não escapa dos riscos, sendo os principais os relacionados a fraudes, à idoneidade e à proteção de dados pessoais. “Aqueles que optarem por procurar o metaverso para expandir os horizontes dos negócios devem estar atentos às regras de proteção de dados aplicáveis. No Brasil, isso significa respeito e aderência à LGPD, que estabelece os limites e propósitos da coleta e tratamento dos dados pessoais de consumidores e usuários”, aponta Barella.

Miceli acrescenta que o metaverso ainda vive uma fase muito rudimentar no que se refere a negócios, mas aponta que há sandboxes voltados para o mercado corporativo. “Estamos em fase embrionária, tem muito a acontecer em termos de experiência, até porque não temos os equipamentos. Como as operadoras financiavam celulares, vamos ver empresas também financiando os equipamen-

tos”, diz. Ele aposta que haverá diversos metaversos de fornecedores diferentes, o que significa que muitas empresas terão de criar os seus ambientes em plataformas diferentes. “Você vai ter seu ambiente de metaverso no Facebook, Nvidia, Microsoft… talvez tenha alguma interoperabilidade. Mas será assim como em uma rede social que você não enxerga o post feito em outra rede social. É descentralizado”, avalia. •

“Existe a internet, que espero que continue íntegra, e tem a construção sobre a internet, que não é a internet. Se não separar isso, vai acabar quebrando a internet em diversos pedaços, porque quebra o ambiente.”

demi geTsChko Diretor-presidente do NIC.br

NFTs fazem sentido?

A SiGLA PARA non-fungible token – que, em tradução livre, significa algo como token não-fungível – ganhou espaço na mídia nos últimos meses, principalmente, após personalidades como o jogador de futebol Neymar e o cantor Justin Bieber terem gasto o equivalente a R$ 6 milhões ou R$ 7 milhões em arte de coleções do Bored Ape Yacht Club.

O NFT, assim como as criptomoedas, estão se popularizando rapidamente. Rafael Marenco Barella, do Cescon Barrieu Advogados, aponta que, com a expansão do metaverso, esses criptoativos ganham funções ainda mais importantes. “Em um mundo digitalizado, qual é a moeda que deve ser utilizada em transações?”, questiona. “Da mesma forma que as empresas vendem bens de consumo com entrega em domicílio, elas podem utilizar a tecnologia blockchain para vender NFTs no metaverso, expandindo as suas linhas de produtos”, completa.

NFTs são, por natureza, únicos, o que pode significar um certo grau de escassez para um bem digital, em que esse conceito tipicamente não se aplica. É justamente por isso que Demi Getschko, diretor-presidente da NIC.br, vê com cautela o movimento. “Em uma época digital, que você consegue duplicar coisas, é esquisito que tenha um modelo em cima disso”, disse, confessando não ser muito fã de NFTs e não ter usado. “Temos sempre de tomar cuidado, porque muitas destas coisas são balões de ensaio. Vejo ceticamente o negócio de NFTs”, completa.

Alguns cuidados devem ser tomados, tanto por quem oferece NFTs como por quem compra. O primeiro, diz Barella, é a idoneidade do vendedor. “Quem compra NFT deve ter a segurança de que a transação é legítima, para evitar fraudes. As transações em blockchain são finais e irreversíveis. Antes de comprar criptoativos, a pessoa deve procurar todas as informações necessárias sobre como fazê-lo e quais as consequências de fazê-lo”, ensina. Não há ainda uma regulação para o metaverso ou para os criptoativos, uma situação que, segundo o advogado, não deve durar por muito tempo. “À medida que a popularidade do metaverso cresce e a tecnologia se difunde, o Legislativo terá também mais subsídios para propor uma regulamentação para o espaço”, pondera. Para o consultor Omarson Costa, com poucas iniciativas, o metaverso ainda está muito incipiente, não é algo que se concretiza em 2022, ao contrário de NFTs, que estão um pouco à frente na adoção, mesmo que as pessoas não compreendam seu uso para além da obra de arte. “Desses três – metaverso, Web 3.0 e NFTs –, NFT é o mais tangível. Os outros estão bem soltos. Algo concreto é o uso de voz como interface. É a voz o sistema operacional do futuro. Você vai interagir com IoT por meio de voz.” Nesse sentido, ele chama a atenção para ferramentas de voz usando computação quântica, inteligência artificial e machine learning, que elevam a cognição, aumentam a acurácia e melhoram o detalha mento em termos de resultados. • -

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