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Cruzes!
Por Artur dos Santos
Às vezes me contatam para saber o que penso sobre a minha Universidade, e se o zerem desta vez, ouvirão apenas elogios. Estudantes expulsaram a gritos integrantes do MBL, no campus Perdizes; no começo do ano, o curso de jornalismo adotou um modelo de aulas híbridas pro primeiro semestre, emulando o híbrido e estável mercado de trabalho jornalístico, além de se manter na moda tech; teve feijoada de quinta-feira, modernização das relações trabalhistas, e agora a PUC faz um forte aceno à liberdade religiosa.
Nesse campo, a liderança pelo exemplo é a melhor de todas, convincente e genuína - desejada por grandes líderes. Não é fácil não, viu? Tentem ser o início de algo. É necessário coragem, muita coragem. Não é sempre que a Ponticia cria tendências.
A reforma da “prainha”, por exemplo, claramente emulou a reforma do Anhangabaú e a modernização do campus é, cagado e cuspido, uma homenagem a grandes shoppings de São Paulo.
Ao pregar cruci xos nas salas de aula, acredito que a PUC agiu com coragem e liderou pelo exemplo. Antes, pessoas de outras religiões se sentiam acuadas em colocar seus respectivos símbolos e imagens pelo campus. Agora, ouço a primavera das imagens. Só precisavam de um encorajamento e a Ponti cia, de forma sagaz, entendeu isso.
Amigos candomblecistas trouxeram imagens de orixás para pregar nas portas das salas de aula. Espíritas não estão longe! Vi um QRcode do Universo em Desencanto colado na porta da 336 e uma foto de Allan Kardec, na 219.
É tanta liberdade que alguns não sabem nem o que fazer.
É um prato cheio para o curso de Ciências Sociais. Quantos TCCs podem ser feitos? Teorias criadas? Teses desenvolvidas? Tudo é possível. Um espectro religioso paira na PUC e diferentes setores da universidade se manifestam de diferentes maneiras. Uma entidade estudantil, por exemplo, foi até agora a mais experimental, aventurando-se nas águas do animismo e elegendo um membro da classe actinopterygii como sacerdote.
São ares progressistas.
Com dor, entretanto, anuncio que, com tamanho avanço, vem também a repressão: inúmeros falsos progressistas vieram reclamar da corajosa ação da PUC. Ouvi frases do tipo: “Vou arrancar os cruci xos!”, “Não acredito que zeram isso… em todas as salas?”, “Absurdo!”. Ideias revolucionárias sempre são recebidas com violência.
Ao contrário deles, quando vi a pequena cruz de madeira colada junto à porta, ao entrar na aula de História do Brasil (não muito afetada pela religião), respirei aliviado: “Liberou geral! Não sei como a universidade foi tão corajosa”, suspirei. “Quem diria, a PUC liderando pelo exemplo!”.
O próximo passo para mim é óbvio: alternância no secretariado executivo da gestão da Universidade. Se com a atual gestão já temos tamanho avanço, imagina com uma bancada-mista-não-hierárquica de diferentes líderes religiosos? “Liberou geral!”. Boatos de que as obras na Cardoso são de um prédio-multifuncional-religioso, mas são só boatos.
Posso estar apenas sonhando alto, como uma capela no topo de um prédio qualquer, mas não me importo. Uma ideia revolucionária faz a gente se sentir imbatível. Não querem nos ver sonhando. É o que eu sempre digo: com meu Deus no céu, minha PUC na terra e o cruci xo na parede, vou pra sala de aula com muita… sede? Esqueci a frase de efeito.