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Juros em queda: COPOM reduz Selic em 0,5 ponto percentual, a maior queda desde 2020
Taxa básica de juros vai a 13,25% ao ano; entenda como a política monetária pode afetar a renda da população brasileira e ocasionar um cenário desigual
Por Geovana Bosak e Laura Teixeira
Pela primeira vez em três anos, o Comitê de Política Monetária (COPOM) promoveu um corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, que passou de 13,75%, a maior desde 2016 (14,25%), para 13,25% ao ano. A redução foi puxada pela queda da inflação nos últimos meses.
A inflação, que acumulou mais de 12% nos 12 meses até abril de 2022, caiu para 3,16% em junho deste ano, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Paulo Romaro, economista e professor na área de finanças da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) a expectativa é que a taxa continue caindo. Contudo, não é o suficiente para um crescimento de longo prazo. “O que é eficaz nesse sentido é implementar reformas que impulsionem a produtividade, focando em políticas públicas que impactam os mais vulneráveis, resultando em um aumento do crescimento econômico”.
Afinal, o que é a taxa Selic?
A taxa Selic, abreviação de Sistema Especial de Liquidez e Custódia, é a taxa básica de juros da economia brasileira. Definida pelo COPOM, órgão do Banco Central, a Selic desempenha uma função importante ao controlar a política econômica do país, servindo como referência para a remuneração dos títulos públicos e, consequentemente, estabelecendo a base para todas as outras taxas de juros, como as aplicadas por bancos em empréstimos concedidos a indivíduos e empresas.
Isso acontece porque os bancos buscam aumentar seus lucros e gerenciar os riscos. Ao considerar a taxa Selic, eles avaliam a diferença entre emprestar dinheiro a indivíduos ou empresas e investir em títulos do governo, considerados mais seguros devido ao apoio do governo federal e a baixa probabilidade de inadimplência, que é o não pagamento de dívidas. Para compensar o risco em empréstimos, a solução é cobrar uma taxa de juros com valor acima da taxa Selic. Ou seja: se a Selic está alta, os bancos oferecem empréstimos com taxas de juros ainda maiores, visando obter um retorno mais atrativo comparado aos títulos do governo.
Nesse contexto, o Banco Central do Brasil (BCB) possui responsabilidade pelo gerenciamento da economia nacional ao aumentar, manter ou diminuir a taxa básica de juros; justamente por ela ser uma ferramenta que influencia diretamente a inflação, a oferta de dinheiro na economia, o crédito e, por consequência, o poder aquisitivo da população.
Quais os impactos de uma taxa de juros alta?
Quando a economia está aquecida e é identificado um problema no excesso de demanda, ou seja, a procura supera a oferta disponível, o Banco Central opta em aumentar a taxa de juros como uma estratégia de combate à inflação. Dessa forma, o consumo desacelera através de uma redução na demanda por empréstimos e investimento devido ao aumento dos juros e encarecimento do crédito. Essa medida alivia a pressão sobre os preços, controlando a inflação e contraindo a economia. Por isso, a elevação da taxa básica de juros é compreendida como uma política monetária contracionista.
De acordo com Romaro o aumento da Selic, por outro lado, também pode atenuar as desigualdades sociais e econômicas já existentes. “Com a elevação das taxas básicas de juros, a lucratividade do mercado financeiro se torna maior, logo, concentra renda ao remunerar capitais e, portanto, gera renda passiva para os mais ricos. Além disso, a Selic elevada atrapalha muito mais a pessoa de baixa renda,
Impactos dos juros altos no consumo e no investimento
1 O BC aumenta a SELIC.
2 Os bancos comerciais aumentam o custo do crédito.
3 Com menos acesso a crédito, menos as pessoas podem consumir.
4 Com juros mais altos, as empresas têm menos acesso ao crédito e os rendimentos financeiros passam a ter mais rentabilidade. Isso faz com que o investimento produtivo diminua.
5 A redução do consumo e do investimento faz com que a economia entre em contração, em que menos empregos são criados e a renda diminui. Isso leva a economia para uma recessão.
Como a política monetária se relaciona com os direitos humanos?
Ao alterar os juros, a política monetária influencia a expansão ou contração da economia no país, afetando o nível de atividade econômica, a renda, o emprego e, como consequência, o bem-estar social da população brasileira.
Para a assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos, Livi Gerbase, é preciso entender como a política monetária e o orçamento público funcionam, pois os juros e os impostos além de impactarem a vida das pessoas, também se relacionam com a geração de desigualdades e no acesso aos direitos humanos.
no ponto de vista de consumo, pois os juros caem sobre itens básicos, que ocupam um grande percentual de despesas na renda da população mais pobre”, explica Romaro.
E os efeitos de uma taxa de juros baixa?
No mesmo sentido, a redução da taxa Selic também influencia a economia e se relaciona com a inflação. Com a queda dos juros, o Banco Central aquece a economia, visto que uma taxa básica de juros mais baixa influencia as demais taxas, barateando o crédito e impulsionando tanto o consumo quanto o investimento.
Além disso, juros menores incentivam as empresas a realizarem investimentos produtivos, isto é, investirem na produção de bens e serviços, como por exemplo fábricas de roupas, gerando emprego para a população. Dessa maneira, a queda na taxa Selic é chamada de política monetária expansionista, porque ela resulta em investimento produtivo, acesso ao crédito e maior relação de consumo, aumentando o poder de compra da população.
Impactos dos juros baixos no consumo e no investimento
1 O BC diminui a SELIC.
2 Os bancos comerciais podem oferecer crédito a juros mais baixos.
3 Com mais acesso a crédito, mais as pessoas podem consumir.
4 Com juros mais baixos, as empresas têm mais acesso ao crédito e são desistimuladas dos investimentos financeiros, fazendo com que elas possam aumentar os seus investimentos produtivos.
5 O aumento conjunto do consumo e do investimento vai gerar um aumento do emprego e da renda, fazendo com que a economia entre em um cenário de expansão.
A renda das famílias determina se o acesso a direitos é possível ou restrito. O direito ao trabalho é um dos direitos humanos fundamentais e que, portanto, a inflação afeta o acesso a esses direitos.
“Para alcançar uma política monetária mais transparente e inclusiva, é preciso unir o debate público e ampliar a participação da população nas decisões econômicas. Portanto, é necessário incluir representantes da sociedade civil no Conselho Monetário Nacional, contando, sobretudo, com a representatividade de mulheres e pessoas não-brancas dentre os cargos de direção do Banco Central”, destaca Gerbase.