
5 minute read
Futsal, um sonho olímpico
A participação no evento esportivo comprometeria a principal competição da categoria, no final de agosto, de acordo com FIFA
Por Gabriel Cordeiro, Lucas Tomaz Lopes e Pedro Lima Gebrath
Nem todos conhecem o ex-jogador Alessandro Rosa Vieira, mas a maioria já viu ao menos algum lance do Falcão, apelido que o consagrou ao longo de sua carreira. Com mais de 10 milhões de praticantes somente no Brasil, o futebol de salão é celeiro de grandes craques expoentes do esporte. Em ano de Jogos Olímpicos, a modalidade está novamente fora da disputa. O esporte enfrenta resistência por parte das organizações do evento, mas se prepara para a Copa do Mundo 2025 e competições seletivas no segundo semestre.
O Futsal foi criado em meados da década de 1930 pelo professor uruguaio de Educação Física, Juan Carlos Ceriani. Em 1982, a cidade de São Paulo sediou o 1º Campeonato Mundial da categoria, promovido pela Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA). O torneio foi disputado no ginásio do Ibirapuera e contou com a participação de 12 seleções. O Brasil tornou-se campeão após superar a equipe paraguaia pelo placar de 1x0.
Apesar de atender a todos os requisitos necessários para garantir sua presença nos Jogos, a categoria também enfrenta resistência por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI), organizador das partidas. Isso porque o órgão enxerga que a adição do futebol de salão aumentaria a visibilidade de um esporte organizado pela FIFA (Federação Internacional de Futebol Associação). As duas siglas enfrentam um embate histórico sobre quem detém a visibilidade dos esportes em seu principal evento, os Jogos Olímpicos pelo COI e a Copa do Mundo pela FIFA.

A experiência de quem acompanha de perto
Ex-presidente da Comissão de Futsal do Uruguai, José Enrique Romero atua desde 2009 na frente de expansão internacional do esporte e afirma que, ao longo de sua história, a categoria já ocupou uma posição de maior destaque. O especialista explica que o futebol de salão esteve em nível olímpico, presente em Jogos Sul-Americanos e Pan-Americanos.
Embora não faça parte da maior competição poliesportiva do mundo, profissionais da área não lamentam totalmente sua ausência neste palco. Em entrevista ao Contraponto, o treinador de futsal André Dantas ressalta que “é uma modalidade que está em todo lugar, é extremamente consolidada, existe Copa do Mundo e Grand Prix. Ela não depende dos Jogos Olímpicos”. Ainda assim, o técnico não enxerga que a inclusão nas Olimpíadas seja uma ideia irreal. Segundo Dantas, em comparação com os últimos ciclos, a organização e a relação entre as entidades que comandam o futsal brasileiro é mais profícua. “Não bateria o martelo para o futebol de salão nos Jogos Olímpicos, mas se a chance existir, ela se tornará mais factível a cada dia”, afirma o técnico.
Potencialidade feminina e o alcance mundial
Tradicionalmente, o futsal masculino tem mais visibilidade nos campos de salão. Porém, desde 2005, a participação feminina é realizada anualmente pela Liga Feminina de Futsal.
“A falta da categoria feminina era uma questão, mas a confirmação da primeira Copa do Mundo em 2025 e o crescimento da modalidade nos últimos anos resolveram esse assunto”, ressalta Romero. Mas ele reforça que é necessário aumentar o número de representantes do futsal na FIFA, pois, na visão dele, esse pode ser o primeiro passo rumo à integração do esporte nos Jogos Olímpicos.
Tanto o prestígio quanto o reconhecimento internacional da Seleção Brasileira Feminina contribuem para o desenvolvimento do esporte no Brasil. A cereja do bolo, contudo, acontecerá em 2025, com a disputa da primeira edição da Copa do Mundo Feminina de Futsal, nas Filipinas.

Um sonho antigo
As ações em prol da inclusão do futsal nos Jogos Olímpicos vão continuar sob a liderança dos novos treinadores e demais colaboradores que se importam com a causa. A esperança é que eles se inspirem em uma pessoa que muito fez por esse esporte.

No dia 13 de abril de 2020, nos despedimos do Doutor Ciro Fontão de Souza, ex-presidente da Federação Paulista de Futsal (FPFS). Durante o período em que esteve à frente da entidade – (1977 a 1985 e 1989 a 2016) – o dirigente foi um grande apoiador da adição da modalidade nas Olimpíadas.
Dentre os maiores feitos de sua gestão, lançou a campanha “Futsal, um sonho olímpico”, juntamente com o Departamento da Internet da FPFS. O projeto teve repercussão mundial, do mesmo modo que outra ação promovida por Fontão: o “Olympic Futsal Now ” (Futsal Olímpico Agora, na tradução literal), lançado em 2003. O futebol de salão sentiu o impacto dessas iniciativas e ganhou mais força para alçar voos maiores. A tendência é que a modalidade se desenvolva ainda mais até, finalmente, alcançar a tão sonhada participação nas Olimpíadas.