Caderno comkids 2014

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Caderno 2014 Uma conversa com educadores sobre a produção audiovisual dedicada à infância


realização

curadoria


A magia do olhar

É com alegria que o Sesc realiza a Mostra ComKids 2014, e, desse modo, reitera seu compromisso com a difusão de conteúdos audiovisuais de qualidade voltados ao público infantojuvenil. A Mostra contempla uma vasta produção audiovisual que contribuirá para a ampliação do universo cultural das crianças, adolescentes e adultos por meio da possibilidade de estabelecer um debate aberto e inovador sobre temas diversos, pertinentes à cultura da infância. Criar condições para que a criança e o adolescente manifestem suas ideias e opiniões é fundamental para fortalecer sua capacidade de leitura de mundo, a percepção das diferenças e, sobretudo, a formação do pensamento crítico. Sabemos que o audiovisual é uma linguagem artística dinâmica, cada vez mais presente nos tempos atuais, capaz de sensibilizar e despertar inúmeros olhares sobre questões contemporâneas. Então, é com prazer que convidamos o público para entrar nessa viagem, fruir a beleza e a poesia dos filmes da Mostra ComKids, que revelarão um universo sedutor, provocando a reflexão sobre questões da infância, mas, sobretudo encantamento. Sesc SP caderno comKids 2014

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O que é o comkids?

O comKids é uma iniciativa para a promoção e a produção de conteúdos audiovisuais e digitais para crianças e adolescentes. Os espaços comKids trabalham a favor da infância, buscando uma abordagem especializada e um olhar cuidadoso a partir de visões contemporâneas dessa etapa da vida. Entendemos que ela é uma passagem singular na vida das pessoas, pautada pelo tempo presente e por toda a riqueza de possibilidades que traz consigo. O comKids é o amadurecimento de um trabalho de mais de 14 anos do Midiativa – o Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes, em parceria com a Singular, Arquitetura de Mídia. Dentre as suas principais atividades estão o portal www.comkids.com.br, o festival iberoamericano e os seminários e mostras que nos inspiram na missão de criar espaços e pontos de encontro para premiar, fomentar e debater a produção infantojuvenil de qualidade.

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Mostra comkids: Agradecimentos especiais

A edição 2014 da Mostra comKids pelas unidades do Sesc São Paulo foi possível graças ao contínuo e amplo relacionamento que mantemos com produtores independentes, canais produtores de conteúdo, festivais nacionais e internacionais, fundações culturais e educativas. Agradecemos também a disposição dos realizadores envolvidos em cada uma das produções audiovisuais, pela autorização do uso das obras a serem vistas nos espaços Sesc.

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o potencial do audiovisual

A proposta do comKids é estimular espaços de intercâmbio em ambientes educativos formais e informais nos quais educadores, produtores, pais e crianças podem se encontrar, gerar insights e experimentar uma convivência que estimula o desenvolvimento humano por meio de experiências compartilhadas. Nesta curadoria especial, reunimos algumas das produções que participaram da última edição do Festival comKids* e tentamos acolher a maior diversidade de histórias e personagens que nos emocionam e inspiram. Nossa missão é estimular a multiplicação dessas lindas produções da América Latina, do Brasil e do mundo, sempre com fins educativos. Assim, esperamos somar a esse repertório diversos e importantes temas, além de referências estéticas e formas de contar histórias reais e imaginadas em linguagem audiovisual.

*O Festival comKids Prix Jeunesse Iberoamericano é realizado pelo comKids a cada dois anos e premia as melhores produções audiovisuais, digitais e interativas criadas para o público infantojuvenil da América Latina, Portugal e Espanha. O Festival tem uma parceria com a Fundação Prix Jeunesse. 4

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Acreditamos que estes distintos modos de viver e interpretar possam emocionar, provocar e também gerar naturalmente uma série de reflexões e influências positivas nas crianças. Produções audiovisuais que proporcionam uma significação potente das relações sociais, das emoções e das experiências, enriquecendo o mundo com empatia e alteridade. Produzimos este material especial, como um convite aos educadores e agentes sociais e culturais para incluir o audiovisual em suas atividades educativas, além de fomentar o debate com aqueles que já fazem uso. Nosso propósito também é compartilhar alguns dos tópicos de debates com os quais trabalhamos há muitos anos no Midiativa e no Festival que realizamos com o Sesc. Para nós, o educador, assim como o produtor dedicado à infância, tem um papel importante na criação de espaços de representação e interlocução infantil. A produção audiovisual de qualidade consolida os espaços de educação e cultura e proporciona boas oportunidades para os mediadores sociais abrirem uma conversa sobre importantes aspectos afetivos do desenvolvimento infantil.

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Temas e abordagens

Histórias fortes, baseadas em visões e conceitos contemporâneos da infância, com bom desenvolvimento de narrativa e de personagens geram empatia nas crianças e ajudam-nas a construir e interpretar significados e a desenvolver autonomia infantil. Uma das formas de se experimentar a complexidade do mundo e da vida é acolher a maior diversidade de temas possíveis. A vida escolar e social é fonte de grande riqueza para as produções infantojuvenis. Igualmente são bons os temas sobre a vida com os pais e irmãos e as relações com a família próxima, os desafios, as brincadeiras e as situações emocionais que envolvem ciúmes, raiva e medo. Temas sensíveis à vida infantil são sempre bem-vindos, pois ilustram as várias maneiras de ser da criança – e o que isso tem de diferente ou similar (e até igual). Temas mais densos como tristeza, angústia, bullying, violência ou até a morte também podem ser tratados. As temáticas precisam ser variadas, sendo que a delicadeza da abordagem é a dimensão mais importante, seja na produção, seja no debate.

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“Para um filme ser bom, ele tem que ter uma imagem boa e ter sentido. Porque não adianta o filme ser legal, bonito se não tem sentido.” Valentina Spedine Sierra, 11 anos, participou do júri infantil do comKids – Prix Jeunesse Iberoamericano 2013

A Mostra comKids traz alguns exemplos de produções audiovisuais que primam pela temática e abordagem criativa e cuidadosa, e que podem ser boas inspirações sobre como lidar com naturalidade, alegria e frescor com assuntos sensíveis ou difíceis. Entre eles, Migrópolis, a produção colombiana do canal Señalcolombia, e o curta brasileiro Disque-quilombola, que fazem uso criativo e artístico da linguagem audiovisual para tratar de lugares e realidades diferentes, seja pela imigração ou pela curiosidade de saber como outras crianças vivem.

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Migrópolis Dir: Karolina Villarraga. Prod: Carlos Smith, hierroanimación Señalcolombia – Colômbia

Migrópolis é uma série sobre crianças imigrantes que tiveram que deixar sua terra natal por causa da profissão dos pais, ou por outras circunstâncias da vida. A partir de depoimentos reais e por meio de animação, os episódios contam como eles lidaram com o medo do desconhecido, as angústias e a adaptação ao diferente. Ponto de partida para variados espaços de discussão entre crianças.

Disque-Quilombola Dir: David Reeks, Roteiro e prod: Renata Meirelles, Gabriela Romeu, Ludus Videos e Estúdio Veredas (São Paulo) TV Brasil

Curta-metragem que usa a tradicional brincadeira do telefone sem fio para colocar em contato crianças de uma comunidade quilombola com meninos e meninas que moram em um morro de Vitória, no Espírito Santo. Como eles vivem? O que têm em comum? O que comem? Do que brincam? O que aproxima e diferencia a infância na periferia de um centro urbano à de uma comunidade tradicional?

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O desenvolvimento do tema dentro da história e os matizes com que ele é tratado fazem toda a diferença quando a produção audiovisual de qualidade é dirigida à infância. Os personagens não precisam ser perfeitos ou politicamente corretos (inclusive é melhor que não sejam), eles podem sim errar, desafiar, alcançar limites, desde que isso seja sublinhado no contexto, e faça sentido como aprendizagem. Estimular a criança a desenvolver sua ética, questionar-se e questionar o mundo tem a ver com mostrar personagens que fazem o mesmo, descobrem o certo e o errado durante o caminho, com autonomia e com a convivência.

O Gigante Dir: Julio Vanzeler, Luís da Matta Almeida, Prod: Igor Pitta Simões, Pilot Design, Zeppelin Filmes, SparkleAnimation, Abano Producións Brasil/Portugal

Um gigante leva pelo mundo uma menina no coração até que chega o momento da garota conhecer a realidade por si mesma. A animação, sem diálogos, suscita reflexões sobre amizade, amor, dependência, autonomia e dedicação.

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Formatos

A riqueza e a diversidade de formatos são um exercício criativo fundamental para se fazer e interpretar os modos de se contar uma história. De alguns anos para cá, os conteúdos que utilizam atores e pessoas reais para contar histórias (live-action) têm tido sempre um interesse especial por parte dos pequenos. Além do uso de bonecos ou personagens fantásticos animados, as produções documentais e/ou seriadas têm obtido sucesso junto ao público infantil, especialmente por apresentar personagens-crianças para as crianças. Por sua vez, a animação, de aceitação garantida, tem ganhado produções importantes e inovadoras, que vão muito além da ideia de um universo apenas imaginado, explorando outros tantos mundos. A linguagem audiovisual, seja live-action ou animação, ficção ou não-ficção, seriada ou formato de filmes, produz sentidos e significados, juntando forma e conteúdo, meio e mensagem. Querer dizer – e o que está sendo dito e estimulado – tem a ver com perceber e estar consciente disso tudo. A exploração de cores, texturas e linguagens visuais enriquecem o desenvolvimento da criança e acrescentam referências poéticas e estéticas ao seu olhar, tão importantes para o desenvolvimento humano.

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A Mostra comKids traz exemplos inspiradores de formatos diferentes aos que usualmente são oferecidos ao público infantil. Entre eles, o programa japonês Design Ah!, que é um espaço de encantamento com as formas do mundo.

Design Ah! Dir: Masakazu Sato - NHK Japão

Como explicar o conceito de design para crianças? Sem teorias e definições pretensiosas, o programa mostra como o design está presente na vida das pessoas. Com exemplos práticos e um olhar diferente para tarefas cotidianas, as crianças são chamadas a refletir sobre o design das coisas.

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A mídia e as crianças

Os meninos e as meninas com até 14 anos de idade representam cerca de 25% da população brasileira, um universo de 46 milhões de crianças, segundo o IBGE. Muitas delas são espectadoras assíduas e fiéis da programação de TV, acessam a internet e algumas têm contato direto com games e outros aplicativos via celulares. Com tanta força de impacto, a comunicação oral e audiovisual se consolidou como um poderoso veículo para o desenvolvimento do imaginário, da expressão de valores e dos costumes sociais. O crescimento e o desenvolvimento da produção audiovisual digital e interativa para o público infantil reforçam a importância das mídias na vida cotidiana das crianças que vivem nos espaços urbanos. Temos hoje mais de dez canais de televisão que oferecem conteúdo audiovisual 24 horas por dia, exclusivamente para crianças. O contato com múltiplas plataformas – TV, cinema e internet – os expõe a uma enorme quantidade de estímulos que, seguramente, terá impacto e fará diferença na construção de suas visões de mundo, ideias e aprendizados. Enquanto cresce a difusão dos produtos culturais e de entretenimento infantil, cresce também a importância de se avaliar a qualidade de mensagens, das formas e narrativas que chegam às crianças. Conteúdos saudáveis respeitam direitos e contemplam as necessidades específicas desse público-alvo tão sensível. 12

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As mudanças de perspectiva das crianças diante dos conteúdos dos meios eletrônicos já são amplamente captadas por pesquisas de comportamento. Segundo Ana Helena Reis, diretora-executiva do Midiativa e diretora do instituto de pesquisa Multifocus, as crianças desse início de século, super estimuladas visualmente, fazem múltiplas leituras do mundo e dos acontecimentos e sua compreensão pode se dar a partir de associações e de palavras-chave. As imagens são atraentes e, às vezes, muito rápidas e estimulam a capacidade cognitiva e sensorial, podendo assim, muitas vezes, funcionar como um convite à curiosidade. Ao receberem os estímulos vindos da imagem, acompanhados de informação, as crianças são capazes de formar ideias, construir histórias e reunir conhecimentos, conectando os dados que lhes foram apresentados. Ter um olhar curioso, mais exigente e até mais seletivo é uma necessidade dos nossos tempos. O ambiente visual das ruas e virtual da web, dos games e das mídias digitais, em geral, a que todos estamos expostos, convida também as crianças a exercer seu poder de selecionar, buscar, comentar, desfrutar e inclusive produzir seus próprios vídeos. Nesse sentido, a alfabetização para o audiovisual e para a leitura da mídia é uma capacidade a ser desenvolvida e elaborada desde os primeiros anos. “A TV é uma linguagem assim como a alfabetização, a literatura, a música, o cinema, etc. Tem seu código próprio, está presente no cotidiano de toda a sociedade contemporânea e requer uma aprendizagem para caderno comKids 2014

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decodificá-la. A educação vive em constante embate com a mídia cujo objetivo é formar consumidores ao contrário da educação, que tem o papel de formar para a cidadania. Neste sentido, a melhor forma da educação enfrentar o poder da mídia será utilizar o mesmo código utilizado pela mídia comercial para educar para um olhar mais crítico e seletivo, cumprindo assim o seu papel social.”

Professora Edna Dantas, coordenadora pedagógica. Atua desde 1997 na rede municipal de ensino de São Paulo

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Audiovisual e educação

O comKids ouviu professores da rede pública de São Paulo para conhecer mais da experiência da utilização do audiovisual na sala de aula. Propomos a eles questões importantes sobre o tema e as respostas de alguns docentes da escola de educação infantil EMEI 7 de setembro lançaram luz sobre o potencial educativo dos vídeos e filmes. Na sua opinião, qual a importância de apresentar às crianças produções audiovisuais de qualidade, como programas de TV e filmes? Em geral, as produções audiovisuais são utilizadas e associadas a diversas linguagens do currículo. É uma ferramenta que possibilita a aprendizagem com conteúdos que discutem a diversidade, formas, cores, alimentação, etc. Desenvolvem a autonomia, a afetividade, higiene, exercitam o raciocínio, a atenção e a expressão corporal. O audiovisual é um importante recurso de apoio pedagógico, que permite ampliar vocabulário, repertório e auxilia nos projetos desenvolvidos na escola. Como os vídeos de qualidade, produzidos para crianças, podem ser mais bem aproveitados em sala de aula? Os vídeos de qualidade são muito utilizados como complemento de projetos, para se interpretar hipóteses ou para estimular caderno comKids 2014

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uma investigação, seja numa roda de conversa antes, durante ou depois do filme. Qual o papel dos educadores para potencializar o impacto positivo das produções audiovisuais apresentadas às crianças? Para potencializar este aspecto positivo, é necessário articular o planejamento ao uso das produções audiovisuais e também como um meio de interagir com o universo da mídia e da comunicação, atrelando-as à realidade escolar. Contextualizar e mediar o aprendizado. Dar destaque à ludicidade e às expressões das crianças, possibilitando à criança o acesso aos bens culturais, contemplando oportunidade para que o inesperado possa acontecer, permitindo a reconstrução e a aquisição de novos conhecimentos. O audiovisual permite a observação participativa a fim de oportunizar o melhor para a criança, reconhecendo e valorizando a diversidade cultural das crianças. MARIA APARECIDA PEREIRA, INES SALES MONTEIRO, ANA MARIA BORTOLUCCI RODRIGUES, CLEIDE ARAUJO DE MELLO HERNANDES, JOYCE CAROLINA DE ARAUJO, CARMEN JULIA MARIN, CRISTINA FERNANDES LOUZA, ROBERTA SHIZUE N. PEREIRA, MARISA AP. R. DE CARVALHO, ELAINE CRISTINA DOS SANTOS, ROSELY DE OLIVEIRA GINES, TELMA GOES DE ASSIS, THAIS HELENA STROHMAYER, TANIA APARECIDA FARIA KLOTZ

Professoras da EMEI 7 de Setembro Casa Verde – São Paulo

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Sobre Qualidade e caminhos para avaliação das produções

A qualidade em uma produção audiovisual para a infância é a combinação de vários elementos que podem ser reconhecidos e analisados com a observação atenta ao contexto, aos aspectos estéticos, dramáticos, técnicos e de conteúdo. O Festival que organizamos premia produções de qualidade e avalia os conteúdos com base em critérios que vêm sendo discutidos há muitos anos, sempre afinados conforme a criação de novos formatos. Compartilhamos esses critérios aqui com vocês: Ideia: originalidade temática, originalidade de abordagem e de formato. Realização: Desenvolvimento da ideia, estilos visual e gráfico, proposta da direção, edição, trilha sonora, movimentação de câmera, ritmo, cenários, figurinos, direção de atores Roteiro: estrutura narrativa, perfil das personagens, coerência temática, desenvolvimento da história, qualidade dos diálogos. Público- alvo: Adequação à faixa etária, relevância cultural, relevância temática. Com o apoio destes critérios, podemos criar um espaço de discussão com grupos de educadores, produtores e mediadores dedicados à infância. As mesmas questões podem ser levadas

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às crianças e jovens, cabendo ao mediador criar interfaces criativas para o trabalho com eles, com questionamentos que estimulam o debate, levantando temas, referências visuais (que, inclusive, podem ser trazidas pelas próprias crianças), ou criando experiências práticas com elas, entre outras atividades. A ideia essencial é abrir uma roda de conversa, deixando com que todos se expressem de forma autêntica, manifestando emoções e opiniões sobre aquilo que foi visto, sempre levando em conta o fato de que que não existem verdades absolutas. E, para isso, além deste caminho sugerido, há vários outros. Como parte do repertório do nosso trabalho, fizemos a pesquisa Midia Q, na qual pais e crianças ajudaram a criar 10 “mandamentos” de qualidade, que apresentamos a seguir, inclusive como ponto de partida de análise sobre a possibilidade de novas e outras diretrizes nesse campo. 1. Ser atraente: falar a linguagem das crianças e dos jovens, e que seja próxima, natural e compreensível para eles. 2. Gerar curiosidade: mais do que transmitir informação, deve gerar interesse e despertar a curiosidade e o gosto pelo saber. 3. Confirmar valores: transmitir valores e conceitos como: família em todas as suas possíveis composições, respeito ao próximo e pelas diferenças, solidariedade, princípios éticos como honestidade, justiça, lealdade e integridade.

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4. Ter fantasia: estimular a brincadeira, a invenção, a fantasia, o fazer sonhar. 5. Não ser apelativo: não banalizar a sexualidade; não explorar a desgraça alheia e o ridículo; não incentivar o consumismo; não incentivar o comportamento violento ou mesmo banalizá-lo. 6. Gerar identificação: mostrar personagens em situações próximas e familiares às crianças e jovens. Personagens fortes, bem construídos e verossímeis. Tratar de temas caros e importantes para essa geração. 7. Mostrar a realidade: não iludir a criança ou falsear a realidade; ser verdadeiro e criativo nas abordagens e nas formas de tratar as temáticas. 8. Despertar o senso crítico: induzir a reflexão, dar e abrir espaço para o pensamento e o desenvolvimento da interlocução infantil. 9. Incentivar a autoestima: respeitar e valorizar as diferenças, não transmitir o preconceito e a discriminação através de estereótipos. 10. Preparar para a vida: abrir os horizontes, mostrar opções de vida que ajudem a criança e o jovem a escolher seus caminhos. Para saber mais sobre a pesquisa: http://www.midiativa.tv/blog/?p=216

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Crianças produtoras

Em contato com novas mídias, crianças e adolescentes não se limitam apenas a fruir conteúdos, mas também recebem estímulos para interagir de forma criativa com o mundo que se descortina nas plataformas eletrônicas. Eles compartilham conteúdos e produzem vídeos e mensagens audiovisuais cada vez mais cedo. E o que acontece quando saem da condição de espectadores e assumem o papel de produtores de imagem? Acreditamos que, inclusive, esta pode ser uma boa maneira de criar um repertório mais crítico em relação a conteúdos feitos para eles. Uma pesquisa acadêmica, desenvolvida na UNESP de Rio Claro, abre caminhos para estímulos que podem ser valiosos para educadores. O trabalho coordenado pelo professor César Leite, com financiamento do CNPq, da Capes e da Fapesp, ofereceu a crianças de uma creche e do ensino fundamental de colégios de periferia da rede pública a oportunidade de utilizar câmeras fotográficas, filmadoras e Ipads para a captação de imagens no ambiente escolar. Para o professor doutor da Unesp, a pesquisa mostrou que a produção de imagens feita pelas crianças representa uma mudança radical de enfoque. “É mudar o protagonismo da cena. As crianças vão te apresentando um mundo que você não tinha, te escapa a ideia inicial do trabalho e necessariamente é preciso

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pensar como é feita e apresentada uma produção ‘com’ a criança e não mais ‘para’ a criança”, concluiu o professor César Leite, especialista em Psicologia do Desenvolvimento e da Educação. Para saber mais sobre a pesquisa, assista ao vídeo em: www.comkids.com.br/videos O professor doutor Walter Kohan, especialista em Filosofia e Infância, aponta novas possibilidades dessa mudança de perspectiva entre crianças receptoras e produtoras de conteúdo. “Das crianças com câmeras e filmadoras se pode esperar o que quase sempre se pode esperar de crianças: um uso menos previsível da técnica, menos preconceituoso, mais imprevisível… se pode esperar uma relação diferente com a imagem, com a cor, com o movimento… e se pode esperar também que aprendamos o que não sabíamos ou não pensávamos sobre como fazer audiovisual.” Walter Kohan, pós-doutor em Filosofia pela Universidade de Paris VIII, é professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador nas áreas de Educação, Infância e Filosofia.

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Glossário

Alguns termos técnicos e das produções audiovisuais podem ser utilizados para explicar e definir processos e características dos filmes e programas. O comKids selecionou alguns deles para criar um glossário. Animação Processo em que imagens em movimento são produzidas a partir de desenhos ou da filmagem de qualquer objeto, no quadro a quadro. A animação em 2D – em que cenários e personagens são retrados em duas dimensões (largura e comprimento) - é produzida basicamente por vários quadrinhos em sequência. A animação em 3D tem um processo de desenvolvimento mais detalhado, no qual imagens de duas dimensão são trabalhadas para ganhar mais volume e proporcionar a impressão de profundidade, o que dá mais verossimilhança ao que se quer representar. Live-Action São as produções realizadas com atores reais, diferentemente do que acontece nas animações. Ficção Narrativas ou obras que não são reais, criadas a partir da imaginação e do processo de criação artística. É o gênero cinematográfico que se opõe ao documentário. 22

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Não-ficção Diferentemente da ficção, obras e narrativas de não-ficção se propõem a uma leitura ou descrição factual sobre a realidade, seus acontecimentos e circunstâncias. Série Sequência de filmes com basicamente os mesmos personagens. A obra seriada é produzida em episódios, com título próprio, ou capítulos numerados. Minissérie Série de curta duração, produzida para TV ou Web. Diferentemente dos seriados, uma minissérie tem número de capítulos pré-definido, com no mínimo três episódios. Dramaturgia A arte de escrever ou representar textos de ficção e roteiro para cinema, teatro e TV. Narrativa Existem diferentes formas de contar uma história, fictícia ou não. A forma que se escolhe para narrar os acontecimentos é a definição da narrativa. Direção O comando artístico de um filme ou programa é realizado pelo diretor. Na direção, ele supervisiona o trabalho dos envolvidos na produção, define como vai encaminhar o roteiro, lidera as filmagens e dá o tom da montagem e da finalização da obra.

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Direção de fotografia O diretor do filme lidera uma equipe responsável por áreas-chave na produção. Uma delas é a direção de fotografia. Com uma leitura técnica e estética, o diretor de fotografia pensa como representar, em imagens, os espaços descritos no texto, propõe movimentos de câmera, e a luz e a cor da perspectiva da narrativa. Direção de arte A direção de arte compõe o universo visual do filme. Pesquisa locações, arquitetura, cenários, objetos de cena, caracterização de personagens, figurinos, maquiagem e efeitos especiais. Casting É o processo de definição de atores do elenco de um filme e a distribuição dos papéis previstos no roteiro. Interatividade Característica de conteúdos que permitem interação com o público, mais comumente encontrada em produções de novas mídias e plataformas digitais.

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