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FICHA TÉCNICA Editora-Geral Joana Ferreira behance.net/joanamatos Departamento Administrativo Catarina Garcia, Filipa Luz Texto Mafalda Remoaldo cargocollective.com/remoaldo (P.06|10) Camila Nogueira cargocollective.com/carganisso (P.14) Inês Oliveira (P.20) Joana Gonçalves cargocollective.com/jgalves (P.34) Alexandra Ramos (P.44|46) Helena Pinto (P.44|46|48) Tania Cunha (P.44|46) Revisão De Texto Helena Pinto Ilustração Francisco Sousa Pinto (P.02) Tania Cunha (P.56) Helena Pinto (P.44) Ana Caspão (P.48) Fotografia Camila Nogueira (P.14) Caixa de Pandora (UT Collective) (P.20|30) Stefano Brunesci (P.22|25) Daniel Pires (P.23|24|27|28_inferior|29|32) Maria Carla Andrisani (P.26|31) Olga Noronha (P.28_superior) Tiago Campeã (P.34 a 43) Capa Francisco Sousa Pinto behance.net/alexsoto Design Gráfico Joana Ferreira


OS GÊMEOS introdução aos artistas por Mafalda Remoaldo

OLGA NORONHA

TIAGO CAMPEÃ

HORAS DE MUDANÇA

entrevista da estudante

entrevista de designer de

lista de seleções por Alexandra

universitário por Inês Oliveira

comunicação por Joana Gonçalves

Ramos, Helena Pinto e Tania Cunha

O FLORESCER DE UM DIÁRIO análise do livro por Helena Pinto


Alex Tro chut alextrochut.com behance.net/trochut vimeo.com/25072290#

Alex Trochut, freelancer ilustrador, designer e tipógrafo sediado em Barcelona desde 2007, é um dos jovens mais promissores da actualidade na área do Design. Nascido em 1981, conta já com um vasto número de clientes entre eles a Nike, a Coca-Cola, New York Times, The Guardian, The Rolling Stones, Nixon, Esquire e Saatchi and Saatchi. O seu mote é “More is More” que se traduz, segundo Trochut, em investir num processo contínuo de descoberta de novas formas de expressão e comunicação de ideias.


Neto de Joan Trochut, tipógrafo criador da fonte Super-Veloz nos anos 40, Alex Trochut estudou Design Gráfico na Escola Superior de Disseny i Enginyeria de Barcelona durante 4 anos. No âmbito do programa Erasmus, esteve 6 meses em Berlim onde trabalhou para alguns estúdios como Moniteurs e Xplicit. De volta a Barcelona, trabalhou dois anos no estúdio Toormix e em seguida dois anos no estúdio Vasava , começando em 2007 a sua carreira como freelancer. Inspirado nas obras-primas de Dali e Miró, acredita ser seduzido pelo processo criativo com base na intuição e na expressividade ao invés da racionalidade e neutralidade. No seu processo de criação, as ideias partem muitas vezes de um “detalhe minimalista” que depois é explorado “para o tornar mais complexo”. “A ideia é o “boom”, o esqueleto” ao qual depois são aplicadas técnicas e tratamentos,


dependendo do projecto que Trochut tiver em mãos – “Penso que quando se está entusiasmado com uma ideia temos percepção disso, mesmo que não a consigamos visualizar totalmente, sentimos aquela intuição. Essa primeira sensação de ideia indefinida é o que me ajuda a manter-me na linha e a descobrir a ideia através do processo de trabalho sobre a mesma”. Apesar de já ter trabalhado com várias grandes empresas e marcas, Trochut admite que futuramente gostaria de “ir mais à origem das coisas, colaborar mais com pessoas que estão a criar algo” na área da música – “Gostaria de continuar a aprender e a divertir-me com o que faço, perder a motivação, encontrar-me vazio é algo que me assusta. Acredito que [este medo] também me faz avançar, nunca me fazendo sentir confortável em nenhuma altura.” MR

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Os Gémeos Os Gémeos, Octávio e Gustavo Pandolfo, são dois irmãos gémeos nascidos em 1974 na cidade brasileira de São Paulo. Conhecidos pelas suas grandes intervenções urbanas, são criadores de um universo de personagens imaginárias que ambos utilizam como meio comunicação de mensagens. Os trabalhos da dupla estão presentes em cidades do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Cuba, Espanha, Portugal, entre outros países. Apesar de não se considerarem street artists, Os Gémeos contribuíram estrondosamente para o desenvolvimento e afirmação da Arte Urbana brasileira. Os Gémeos começaram a envolver-se na cultura Hip Hop quando esta atingiu o Brasil nos anos 80. Em 1985, praticavam brakedance em conjunto com vários jovens também embrenhados nesta nova cultura e mais tarde, em 1987, começam a graffitar.


Inicialmente, não se distinguiam de outros graffiters locais e mantinham-se próximos dos temas e estilos patentes nos Estados Unidos, a referência da cultura Hip Hop da época. No final dos anos 80, existia no Brasil ainda pouca informação acessível relacionada com a arte do graffiti, e dado que o preço dos sprays era bastante elevado e a sua qualidade ainda muito inferior ao que existia no estrangeiro, Os Gémeos viram-se forçados a improvisar os seus próprios meios. Estas limitações em termos de técnicas e materiais – utilização de pincéis, tintas de parede e rolos em vez de sprays, e de látex – contribuíram para o desenvolvimento do estilo tão característico que hoje têm. “Se calhar por não termos tido informação sobre o graffiti no início isso nos tenha ajudado imenso. Nunca vimos ninguém a pintar. Portanto tentamos descobrir como é que estas coisas se faziam.



Achamos que no final acabámos por descobrir outras soluções.” Depois de conhecerem o artista emergente Barry McGee, com quem começaram a pintar, Os Gémeos passaram a ter fácil acesso à informação e material que existia no estrangeiro. O facto de McGee ter como ganha-pão a sua arte motivouos também a deixarem os seus empregos e a empenharem-se a tempo inteiro na sua verdadeira vocação. Desde então, Os Gémeos têm vindo a desenvolver um estilo muito próprio, recheado de referências à cultura brasileira, explorando o seu lado mais rural como urbano, a sua música, o seu Carnaval e arte popular e também expressando a sua opinião quanto à sua vida social e política do seu país. Hoje em dia, Os Gémeos ultrapassaram a barreira da arte de rua e expõem também em museus um pouco por todo o mundo. MR


Há quanto tempo desenhas? Desenho desde que me lembro, como qualquer outra criança com a necessidade de “estragar” insistentemente qualquer superfície! Lembro-me que o meu gosto começou a fomentar-se quando ainda no ensino primário, o bichinho do desenho começou a despertar, quando assim me vi forçado a repetir o ultimo ano desse ciclo sendo também este um bom incentivo a crescer.


DIÁRIO GRÁFICO

Carlos Alberto Arteiro é estudante de escultura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e encontra-se actualmente no segundo ano do curso de Artes Plástica


Porque escolheste este curso? Vi-me forçado a escolher um ramo que para mim ainda era ainda “sombrio”, desconhecido, e na desportiva achei engraçado ver até onde a brincadeira se poderia agora tornar mais séria, sem grandes planos futuros, deixando-me levar pelo momento e vendo do que daí poderia desvendar. Qual a técnica que mais gostas de explorar e porquê? Não consigo definir uma técnica apenas como preferida, porque precisamente o diário gráfico me dá essa liberdade de experimentação, em qualquer que seja o local de trabalho. No entanto, na utilização deste como um método rápido e eficaz, e como um diário de bordo, os meios utilizados preferencialmente pela sua portabilidade são então materiais riscadores como a caneta ou lápis de grafite.

O que é, para ti, um diário gráfico? Considero-o um lugar de reserva ou arquivo organizado, onde sinto ter a liberdade, para usufruir daquilo que me rodeia, com o intuito de auto-superação, ou apenas entendimento do mesmo. Um espaço que me é privado ou não, onde também desenvolvo pensamentos projectuais.

O desenho é para ti uma forma de pensar os teus trabalhos escultóricos, ou considera-lo um fim em si mesmo? Têm precisamente um carácter mútuo, não apenas para escultura mas para uma múltipla variedade de outros projetos. Mas também com caracter independente, sendo um registo de uma experiencia pessoal bem conseguida. Tens algum lema de trabalho? A minha motivação é a constante insatisfação pelo que faço, que me leva a ultrapassar essas limitações analisadas. O meu lema de trabalho pode ser então trabalhar insistentemente como fonte de auto-conhecimento. 16


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Que artistas mais admiras e porquê? Dependendo do ramo artístico, tenho alguns nomes que me marcam particularmente. Rodin e Camile com a sua destinta expressão dentro da Escultura (pensamento, processo, insistência obsessiva de produção e reprodução das suas peças), admirando também os ideais clássicos da representação, como não poderia deixar de ser, até aqueles que representam os métodos contemporâneos da arte, dos mais conceptuais e formais, aos mais informais e de intervenção pública e acessível a todos, abrangendo assim um gosto variado pelas várias áreas da cultura artística. ERASMUS, estás a pensar fazer? Não penso nisso para já, ainda tenho muito que amadurecer e perceber com o meu próprio pais, e as capacidades que me pode oferecer. Não desprezando a minha vontade e gosto de viajar, e conhecer outras culturas que por conseguinte se esta a tornar constante. Já fizeste alguma exposição? Sim, já apresentei. Uma vez, um trabalho de pintura a óleo, numa das galerias da Miguel Bombarda, Galeria Solar de Santo António. Era uma tela intitulada “nascimento”. Para terminar, quais são as tuas expectativas futuras? O que me define, é realmente não criar grandes expectativas, deixo o dia de amanha chegar para que me possa moldar. Espero ainda continuar a encontrar muitas limitações pessoais para assim fundamentar o meu trabalho. CN

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Actualmente a estudar em Londres e já com grande reconhecimento, a jovem designer de joalharia Olga Noronha explora, não só a relação entre a robustez do mecânico e a elegância e delicadeza de cada peça mas também a própria forma de ver a matéria. A perspectiva, não apenas de uma peça de joalharia mas também a de obra de arte, digna de audiência. As suas peças não deixam ninguém indiferente e toda a sua persistência, trabalho, dedicação e criatividade já lhe valeram a distinção como sendo uma das melhores da sua geração.



O que é que a motivou a seguir joalharia? Para ser franca, não sei. Não há história de joalheiros nem nada que se pareça na família. Talvez tudo tenha começado aos seis, sete anos, com as missangas. Como quase todas as meninas dessa idade, passava os dias absorta nos fios e contas. Um dia, um vizinho ofereceu-me uma caixa de madeira com diversos compartimentos e alicates. Comecei por pedir à minha mãe que me comprasse arames e, assim, comecei a manipulálos, juntamente com pedras e outros materiais, construindo as minhas primeiras “jóias (pré-históricas)”. Algumas delas estão publicadas no livro 1.000 Jewelry Inspirations, Sandra Salamony, Lark Books. Depois, em 2001, comecei a frequentar uma escola de joalharia contemporânea. Entre 2004 e 2007 completei os meus estudos na Escola Secundária Artística Soares dos Reis e, em Setembro de 2007, mudei-me para o Reino Unido, começando por fazer um Foundation course in Art and Design, na Central Saint Martins College of Art and Design e depois o BA Hons Jewellery Design na mesma Faculdade.

Terminei em Setembro do ano passado o MRes in Design na Goldsimths College e estou de momento a doutorar-me nesta mesma faculdade. Quais as suas inspirações na criaçãos dos seus projectos? Considero-me adaptável e facilmente “inspirável” por tudo o que me rodeia. Mas há um factor que não dispenso aquando da idealização de uma peça: a obrigatoriedade de uma interacção activa e passiva. Por interacção passiva refiro-me à capacidade da peça veicular algo mais que uma simples ideia de acessório/adereço; a jóia como escultura que tanto vive em contacto directo com corpo do utente, como também é apreciada e sentida de um ponto de vista “exterior”. Nestes últimos anos o meu foco tem sido a análise artistica e filosófica de actos e rituais médico-cirúrgicos, como se pode perceber nos meus mais recentes trabalhos. Fasciname o facto de saber que posso quase que “intrometer-me” numa relação de rejeição subconsciente e ao mesmo tempo visceral, com a necessidade fulcral da intromissao de “corpos estranhos” no corpo humano.


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Qual a característica fundamental indispensável em todas as suas peças? Penso numa peca que possa ser usada, afinal esse sempre foi o objectivo daquilo a que chamamos Joalharia. No entanto, o termo “usável” e para mim muito ambiguo. Tento com as minhas pecas explorar posicionamentos e áreas menos comuns, ou de forma a enfatizar ou eufemizar extencoes do corpo. No fundo o acto de usar uma peca, seja de que tamanho ou valor for, e ja de si uma forma de a exibir a vários níveis. O corpo torna-se assim como que uma “showcase” que, em vez de estática, conjuga o seu movimento com a vida implícita da obra de arte.

O que é que a motivou a estudar em Londres, Inglaterra? Vim para Londres com 17 anos, em Outubro de 2007. Era um sonho, despois de decidir que o que realmente queria seguir era Design de Joalharia. Escolhi Londres e, particularmente, a Central Saint Martins College of Art & Design por ser uma referência mundial onde o Design de Joalharia é abordado de uma forma mais vanguardista e conceptual. Eu diria que como Londres é um “caldeirão cultural” onde tudo o que acontece é visto, observado e interpretado pelo mundo inteiro, as probabilidades de alguém ser tornar reconhecido mundialmente são consideravelmente maiores do que em Portugal.

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Quando e como surgiu a ideia de aliar a arte da joalharia com materiais médico-cirurgicos? O meu pai é cirugião ortopedista e a minha mãe é também médica e, apesar de eu ter decidido enveredar por uma carreira artística, sempre tive contacto com materiais médico-cirúgicos e relatos clinicos. há Aproximadamente dois anos comecei a observar atentamente as ferramentas e as técnicas cirúrgicas, e a interrogar-me até que ponto poderia ou não conjugar o pragmatismo cienctifico e o conceptualismo da arte, particularmente a joalharia. Assim surgiu este projecto que traduz um novo conceiro de joalharia, ao explorar uma fusao entre anatomia e medicina, tendo como pondo de partida a manipulacao de objectos e materiais utilizados a nivel medico e cirurgico, de forma a criar objectos/esculturas/joias intimamente relacionadas com o corpo humano. Pretendo, assim, que os objectos se comportem como se estivessem em diálogo com o corpo onde são colocados. Da intelectualização necessária para a apreciação das peças, assim como, a ambiguidade que nasce da relação entre o espectador/utente e o objecto,

pretende-se que o primeiro consiga entender a peça como que se do seu próprio corpo se tratasse , ajudando-o a superar eventuais traumas e medos que tenha em relação a instrumentos médico-cirúrgicos. É neste contexto que exploro os conceitos de ortótese e elementos protésicos, internos e externos, tentanto integrá-los artisticamente e, pensando sempre no seu potencial uso a nivel cientifico.

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A primeira reacção às suas ideias e criações foi negativa. Mais tarde e já em londres estas revelaram-se um sucesso académico, nomeadamente o “the dirty tissues project”. O que a levou a persistir? Gosto particularmente de desafiarme a mim mesma. Sempre que escolho um tema inicial para algum projecto ou colecção, automaticamente me obrigo a optar pelo mais difícil, por considerar que as espectativas vão aumentar e a probabilidade de me substimarem é muito maior, e por estranho que pareça, ser substimada e algo que me dá um particular gozo porque, consequentemente, a probabilidade de surpreender aumenta. Renego a apatia do espectador perante o meu trabalho e espero sempre uma reação – seja esta boa ou má. Desta forma, acarinho as dúvidas e todas as surpresas que com elas podem surgir.

O que é que considera ser essencial para levar um estudante ao reconhecimento e ao sucesso no mundo artístico? Na minha opiniao, o sucesso de qualquer artista depende, para além da consistência e qualidade do seu trabalho, da sua promoção e capacidade de argumentação. Se o trabalho nao for devidamente apresentado ao público-alvo, dificilmente será notado ou destacado. É essencial que exista persistência e paciência na comunicação do trabalho. Por vezes, damos a conhecer-nos a 200 pessoas e somente 2 nos abordam de volta, mas essas duas oportunidades podem significar imenso e originar muitas outras. Por isso, o melhor será abraçá-las dedicadamente e com seriedade, e assim que se constrói uma carreira – batendo às portas certas e, por vezes, erradas.

Sendo ainda tão jovem, como lida com toda a pespectativa e reconhecimento que tem vindo a ter ao longo dos anos? Amo o que faço, e encaro o meu trabalho como um hobbie a tempo inteiro e, por isso, sentir todo o reconhecimento e ver que há quem vibre com o meu trabalho dá-me cada vez mais força para continuar. Considero que o meu pior e mais exigente cliente sou eu mesma e, vendo que os resultados sao positivos, faz-me cada vez querer ser mais e melhor.

Que conselho deixaria aos jovens artistas e estudantes? Lutar pelo que realmente amam e dar sempre o seu melhor, mesmo quando nao parece necessário. Método, persistência e optimismo. IO olganoronha.tumblr.com/archive

Quais as perspectivas de futuro e que metas ainda pretende alcançar? No fundo, tentar chegar o mais alto possível em diferenciações curriculares. Ambição não me falta e sou cem por cento apologista do “lutar para vencer” porque, afinal, “quem corre por gosto não cansa”. Neste momento um dos principais objectivos será, através de investigaão artistico-científica, provar que o corpo se pode adaptar a materiais e formas distintas do que já é utilizado, sendo assim personalizado e quase que “redesenhado”, tornando-se ainda mais belo

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TIAGO CAMPEÃ behance.net/campea tiagocampea.com

Tiago Campeã é um jovem designer de comunicação formado no FBAUP. Fez um estágio na This Is Pacifica, tendo colaborado com o atelier em alguns projectos, sendo que dois deles foram premiados pelo Clube de Criativos de Portugal (CCP).

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Quando é que decidiste seguir Design? Eu costumo dizer que encontrei no Design uma solução para os conflitos entre os meus variados interesses, desde a matemática e as ciências até às artes e à música. Lembro-me desde criança de gostar de desenhar no Paint e de ter começado a brincar com o Photoshop aos 12 anos, quando nem sequer sabia o que a palavra “design” significava. Nessa altura, achava-o fascinante por me permitir fazer coisas como eu via em making-of’s e anúncios de publicidade. A partir daí, continuei a pesquisar e, sobretudo, a adquirir formação, ao ter entrado para a Escola Secundária Soares dos Reis.

“CONCEITO COM Consideras que a tua passagem pela FBAUP faz parte da tua linguagem artística? A FBAUP foi muito importante na criação e desenvolvimento de um método de trabalho. De certa forma, isso acaba por se reflectir naquilo que poderá vir ser a minha linguagem artística. Foi na faculdade que descobri a maioria das minhas referências, a gostar e a saber usar tipografia, mas foi sobretudo lá que aprendi a pensar sobre design e a abordar um problema, de forma a resolvê-lo, sem criar outro. Mais do que linguagens ou tendências estéticas, penso que essa foi a aprendizagem que mais influência teve na minha forma de trabalhar.

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Foi muito difícil para ti encontrar o teu caminho e a tua própria expressão em Design? Ao longo do meu percurso académico, essa questão foi uma das minhas maiores dificuldades e, por isso mesmo, uma das minhas maiores preocupações. Talvez porque tenha sentido que o método de ensino na faculdade debruçava-se demasiado sobre a questão autoral – que tem a sua importância –, às vezes tanto ou mais até do que na fomentação de um raciocínio conceptual forte e uma argumentação válida. No entanto, a experiência de Erasmus em Roterdão ajudou-me a ganhar uma perspectiva muito mais clara sobre essa preocupação e hoje é algo com o qual convivo de uma forma mais saudável, ainda que a tenha sempre em atenção, mais ou menos consciente. Prefiro assumir que o meu trabalho possa variar consoante os estímulos e referências que eu for absorvendo, sem nunca perder aquilo que verdadeiramente me interessa conjugar no Design: conceito, emoção e comunicação.

O, EMOÇÃO E MUNICAÇÃO.”

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Foi muito difícil para ti encontrar o teu caminho e a tua própria expressão em Design? Ao longo do meu percurso académico, essa questão foi uma das minhas maiores dificuldades e, por isso mesmo, uma das minhas maiores preocupações. Talvez porque tenha sentido que o método de ensino na faculdade debruçava-se demasiado sobre a questão autoral – que tem a sua importância –, às vezes tanto ou mais até do que na fomentação de um raciocínio conceptual forte e uma argumentação válida. No entanto, a experiência de Erasmus em Roterdão ajudou-me a ganhar uma perspectiva muito mais clara sobre essa preocupação e hoje é algo com o qual convivo de uma forma mais saudável, ainda que a tenha sempre em atenção, mais ou menos consciente. Prefiro assumir que o meu trabalho possa variar consoante os estímulos e referências que eu for absorvendo, sem nunca perder aquilo que verdadeiramente me interessa conjugar no Design: conceito, emoção e comunicação. Num dos teus últimos trabalhos académicos, o “Obey these Rules”, fazes uma soma de alguns textos escritos por personalidades de dentro e fora do mundo do Design, tentando transmitir o que representa para ti o Design. Essa noção deste amplo universo, é algo que sempre te acompanhou, ou foi crescendo durante o tempo que estudaste na FBAUP? Sem dúvida que foi crescendo com a faculdade. Aliás, a grande parte desses autores foram descobertos durante o meu percurso académico. No entanto, a vontade de querer saber um bocadinho mais sobre tudo foi algo que sempre fez parte da minha maneira de ser. Como já dizia um professor a José Mourinho, se ele quisesse ser um bom treinador, teria de aprender muito mais sobre outras áreas do conhecimento para perceber alguma coisa de futebol, se não nem de tal iria perceber. Eu revejo-me bastante neste método, porque considero que esta maneira de pensar é transversal a qualquer área. Acho fundamental que o Design se acople com outras áreas do conhecimento, de modo a potenciá-lo, mais do que se fechar em si; o tal “design para designers”, onde o essencial – a comunicação –, por vezes, acaba por ser descurado.


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Existe mais algum campo do mundo do Design que gostasses de explorar? Sim. Desde cedo que, pelo facto de estudar música durante toda a minha vida, me interessei pela possibilidade de poder cruzá-la com o design, como no motion e na animação. Actualmente, interessome cada vez mais pelo carácter multidisciplinar que o design pode adquirir. Pretendo evoluir algumas competências mais técnicas, onde possa vir a explorar áreas associadas à interacção, novos medias e design generativo. São áreas que, tal como a música, partilham ritmo, dinâmica, narrativa e grandes labirintos, que obrigam a muito raciocínio lógico. E eu gosto desse tipo de desafios!

Como é que descreverias o teu processo criativo? Eu acho que meu processo criativo depende sempre um pouco do projecto e do contexto. Por um lado, como pessoa metódica que gosta de pensar sobre cada passo, acho importante começar por analisar o problema e definir os objectivos a alcançar; daí parto para a pesquisa e observação daquilo que já foi feito; e com esse estudo em atenção, vou juntando as minhas motivações e gostos pessoais ao projecto, trabalhando à volta de um resultado visual. Por outro lado, se por alguma razão esse processo me bloqueia, nada me impede de seguir outros exercícios, como fazer–reflectir–voltar a fazer. Ou seja, agir espontaneamente; parar para pensar e perceber o que é que daí posso retirar, que me ajude a chegar a algo mais concreto; e depois então, agir novamente de forma mais refinada e controlada, limando arestas até chegar a um resultado final. No fundo, acaba sempre por haver um jogo de equilíbrio entre objectividade e intuição.

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Tens, neste momento, algum artista cujo trabalho consideres essencial? O Studio Dumbar está, sem dúvida, entre as referências que considero essenciais, pelo modo excepcional como abordam o conceito de um projecto e o comunicam visualmente.

Quanto ao teu estágio e aos projectos de que fizeste parte na “This Is Pacifica”, sendo que dois deles foram premiados no Clube de Criativos de Portugal, sentes que essa colaboração te trouxe novas perspectivas e novas formas de encarar o mundo do design gráfico? Ter estagiado na This Is Pacifica deu-me mais do que inicialmente expectei para o meu estágio curricular. Para além de ter tido o privilégio de estar em contacto directo com as pessoas responsáveis por um trabalho que já admirava anteriormente, fazer parte do processo de criação deles, ver as coisas a acontecerem à minha frente, poder trocar ideias, discutir soluções e trabalhar nelas lado a lado, de uma forma bastante descontraída, mas sempre comprometida com a qualidade e seriedade dos projectos, foi sem dúvida a melhor experiência que eu pude ter ao trabalhar na área. Para além disso, ensinaram-me algo muito importante: pensar e a abordar um projecto de uma forma global. Isto é, não pensar só no logotipo; pensar sim como é que ele pode ser aplicado nos vários suportes. Não animar um logotipo; transmitir sim todo o ambiente à volta da identidade. No fim, ver o reconhecimento atribuído a esses projectos, significa que toda essa abordagem e esforço foram valorizados, e sentir que pude dar uma pequena contribuição, foi, sem dúvida, um grande motivo de orgulho, que só me veio dar razões para acreditar que estou a caminhar num bom sentido. Ao longo desse período, todas essas experiências ensinaram-me bastante e desfizeram-me vários mitos acerca da profissão e mesmo da vida de um designer. Mostraram-me que é possível (e desejável) levarmos a nossa profissão de um modo muito mais saudável, se a encararmos de uma forma tão organizada e séria como em qualquer outra área.

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Como é que encaras actualmente o mundo de design em Portugal? Eu vejo o Design em Portugal com muito bons olhos. Embora não exista uma escola como na Holanda, Suíça, ou Inglaterra, nem muito menos uma consciência gráfica presente na sociedade em geral, há todo um esforço por fazer design com o mesmo nível de qualidade. Talvez pela mesma razão que Oscar Niemeyer defendia o potencial arquitectónico brasileiro, ao dizer que “nós estamos livres para fazer hoje o passado de amanhã”, eu sinto que em Portugal, pelo facto de não termos um forte historial no qual nos possamos apoiar, existe uma maior necessidade em procurar mais referências e fazer melhor. Não que “experimentar” seja mais propício cá do que noutros países, mas facilmente saímos de uma zona de conforto, devido ao pouco legado que temos. No entanto, embora exista toda uma nova geração que tem vindo a fazer o esforço por diversificar e a enriquecer o panorama nacional, acho que ainda há algumas lacunas na forma como o Design, de um modo geral, é ensinado nas faculdades. Considero que é fundamental existir uma formação baseada na sustentabilidade, que se preocupe um pouco mais com questões que possam vir a ser aplicadas à realidade, onde a discussão estética e autoral é importante, mas não tenha que ter forçosamente o peso exagerado que, por vezes, tem no ensino. 42


Quais são os teus objectivos e ambições enquanto designer? Qual é a tua meta a longo prazo? É um pouco difícil definir uma meta a longo prazo, mas certamente gostaria de construir uma carreira sólida na área, que me permitisse ter um estilo de vida saudável e equilibrado, onde pudesse conjugar e superar as minhas ambições profissionais e pessoais. Para já, tenho procurado concentrarme nos meus projectos, encontrar boas soluções para problemas desafiantes, tentando examinar as formas como as pessoas interagem, como principais directrizes para uma boa comunicação. Actualmente, sinto-me preparado para seguir em busca de novos desafios que vão para além das minhas actuais capacidades, para poder constantemente aprender e evoluir.

Algum conselhos que gostasses de dar aos estudantes? Na This Is Pacifica disseram-me para “não esperar por ninguém”. Esse é o conselho que eu tento seguir. Para além disso é difícil dar conselhos, quando ainda estou a dar os meus primeiros passos. A única coisa que posso dizer e que também tento fazer é para não perderem tempo apenas à frente do computador, porque acabarão por perder muito daquilo que tudo o resto à vossa volta vos pode dar, enquanto inspiração para o vosso trabalho; não venerem o “estilo” sem o usarem com “cabeça, tronco e membros”; estudem e aprendam as regras; tentem divertir-se enquanto trabalham; durmam! Trabalhem muito e mantenham sempre a fasquia elevada, ainda que saibam que não vão chegar lá à primeira, mas pelos menos pensem e façam como se chegassem. JG

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HORAS DE MUDANÇA

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O Labirinto Do Fauno Guillermo del Toro

Midnight In Paris Woody Allen

A Beautiful Thing Hettie Macdonald

Dorian Gray Oliver Parker

The Watchmen Zack Snyder

The Sessions Ben Lewin

Tomboy Céline Sciamma

Air Doll Hirokazu Koreeda

Março, um mês confuso, uma mistura de cansaço e de renovação, uma transição inevitável de uma larva para uma borboleta, o mês da mudança e, após longos meses frios de bater o dente chega a primavera e traz de volta ás arvores despidas as suas triunfantes folhas coloridas, assim como flores prontas a atrair todo o tipo de insectos que tenha a felicidade de passar por elas, e a nossa infelicidade caso estejamos ao lado das mesmas flores (infelizmente posso também constatar que março trás consigo o inicio das ditas alergias, coragem a todos os condenado!). Enfim a mudança chega e espalha se como um vírus pelo mundo fora. Mudança não é necessariamente fácil ou difícil, é apenas uma necessidade da própria natureza das coisas evoluírem e modificarem-se, formas passadas deixam saudade e formas futuras trazem esperança. E, enquanto estamos confusos neste mês de mudança, aproveitemos para chorar, celebrar e crescer com a mudança e depois de aceitarmos e compreendermos estas sementes, podemos florir. E depois, existem sempre aquelas músicas ou filmes que nos relembram que não estamos sozinhos, nem somos os únicos a provar um pouco do sabor ambíguo da mudança e da importância e sabedoria da mesma para connosco.

The Artist Michel Hazanavicius

127Hours Danny Boyle

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Mesmo que o Sol num dia esteja mais quente e noutro mais gelado, mesmo que as flores demorem a revelarse, a música que nos acompanha mantém-se a mesma e sobretudo o que ela diz permanece intemporal, o filme vai continuar a transmitir a mesma mensagem, a revelar personagens a historias, ou talvez desta vez vejamos ou ouçamos a mesma coisa com perspetivas diferentes, modificando-nos mesmos num constante ciclo de transformações, talvez palavras sábias sobre o vento que muda constantemente de rumo.

The Times They Are a-Changin Bob Dylan

Night Of The Hunter 30 Seconds To Mars

Across The Universe The Beatles

Our House Below Cécile Corbel

Cosmic Love Florence + The Machine

Read My Mind The Killers

I'm On Fire Chromatics

Iridescent Linkin Park

Heroes David Bowie

The Crystal Ship The Doors

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O Florescer De Um Diário Anais Nin escreveu estes diários ao longo de quase toda a sua vida bem conturbada. Neste diários, inclui não só reminiscências de uma infância perturbada pelas fortes personalidades dos membros da família, como pela multiplicidade íntima que mantinha secreta. É algo peculiar a maneira como escreve, exibindo uma solidão autoinfligida que se repercute por uma panóplia abrangente de universos e mundos invisíveis aos demais. ‘Adoro sentir-me em mundos não familiares, desorientada, desenraizada.’ diz, fazendo alusão à contrariedade que desde cedo encontra em si mesma. Os outros vêm-na como um ídolo, algo para ser admirado e amado, mas quase intocável na sua perfeição. O seu diário revela, no entanto, a visceralidade do pensamento de Anais. Embora seja uma força mediadora entre outras mais tempestuosas, como é o caso do escritor Henry Miller e a sua amante June, e estas a tratem como um bálsamo para o seu temperamento, a sua escrita oscila entre o sonhador e o cruel. Tece paisagens pessoais com incerteza e uma busca do novo e do diferente, encontrando novos significados no que pensava conhecer acerca de si mesma. É esta busca, aliada com a amizade com Miller, central neste volume, que a faz evoluir como escritora, desabrochando em obras literárias incontornáveis do séc. XX. HP

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