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Pablo Carvalho Reis Vida Nova

ninguém por perto e corri para o beco que eu havia planejado. O dia amanheceu, e pensei que a rua tinha esvaziado, porém estava cheia de cartazes e papéis informando que eu era uma escrava fugida e que a recompensa para quem me levasse de volta ao meu senhor seria de cem mil réis. Esperei a rua esvaziar um pouco para que eu pudesse fugir de perto daquele horrível lugar. Comecei a andar, com medo e atenta caso algo acontecesse. Quando eu ainda olhava para os lados, desse beco saía um homem com uma criança recém nascida no colo, não pensei duas vezes e continuei andando pensando em meu filho. Ele me olhou com um olhar suspeito e em seguida entrou em uma farmácia que ficava lá perto. Continuei a descer a rua e, passados alguns segundos ouvi um grito vindo de trás:

—Arminda!

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Era o homem que havia entrado na farmácia, que me reconheceu como escrava. Tentei correr, mas era tarde demais, em poucos segundos ele já estava segurando meu braço e amarrando-o. Pensei em gritar e pedir ajuda, mas pensei que não me ajudariam, e sim, o homem. Pedi que me soltasse:

—Estou grávida, meu senhor! Exclamei. Eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser.

Ele não me deu ouvidos e apenas ordenava que eu seguisse. Eu fazia de tudo para me soltar, me arrastava e tentava fazer qualquer tipo de esforço para evitar que me pegasse.

Logo cheguei àquele lugar novamente. Deitada no chão e abortada, via o senhor entregando a recompensa ao homem e, em seguida, pedia que eu entrasse. A dor física não era nada comparada à dor sentimental. Senti a vida escorrer pelas minhas pernas. Pablo Carvalho Reis

Vida Nova

A família continuou a caminhar, cansados, pela longa estrada feita de terra. Fabiano considerou se abrigarem no bebedouro. O sol se pôs, e ainda não haviam achado água, Fabiano fincando sua bota no solo parou para analisar a situação, com poucos resquícios de luz em sua mente, pensou que a água dessa região havia secado. Em meio à escuridão, um lampejo de luz. Deixou a carga que carregava em um tronco seco, levando apenas um pano que guardava. Quando estava prestes a sair, lembrouse de pegar a espingarda e seu facão.

Procurou uma cactácea, uma planta típica da região, que já conhecia, com suas habilidades rurais teve a ideia de pegar a água armazenada em seus tecidos. Quanto mais demorava, via figuras feitas pela luz da lua na penumbra da noite, com um rápido reflexo viu um ser se movimentando, precisa foi sua mira, puxou o gatilho para tentar capturar o ser. Quando chegou mais perto viu um bicho parecido com um preá, morto com seu tiro, sua sorte foi ter atingido apenas sua cabeça, assim deixando todo o resto em boa condição. Sorriu contente, mas logo veio Baleia em sua mente, lembrou-se da cachorra pegando

o preá e salvando a todos. Derramou uma lágrima pelos seus olhos reluzentes pela luz da lua, mas não fraquejou, não abaixou a cabeça e continuou firme em seu objetivo.

Focado em seu objetivo, amarrou o animal em sua calça para não cair, continuou a procurar. Sem muitas dificuldades encontrou um similar, cortou-o em pedaços com a peixeira, enrolou no pano e a levou consigo , chegando, percebeu um pequeno véu de fumaça, mesmo com o breu da noite ainda conseguia distinguir algumas coisas, preparou a espingarda, não sabia da situação. Será que Vitória teria sido raptada? Correu pensando nas piores hipóteses, e se deparou com uma fogueira, montada com pequenos gravetos secos dos arbustos e pedras.

Os meninos ajudaram a pegar as pedras e os gravetos! - Exclamou Sinhá Vitória.

Com um gesto de alegria mostrou suas conquistas, desembrulhou os pedaços de planta. Os outros não haviam entendido qual era seu propósito. E depois retirou da calça ,os bichos olharam gratificados, mas logo veio a imagem de Baleia em suas mentes, o menino mais novo caiu-se em lágrimas, o mais velho tentou mostrar uma postura rígida para seu irmão, mas estava quase se lamentando. Sinhá os acalmou e lembrou-lhes da caça de seu pai. Enquanto a carne cozinhava, Fabiano utilizou uma técnica aprendida em seus anos de vaqueiro, espremeu os pedaços da planta e fez cair água em uma jarra, com a comida que tiveram, comemoraram, Fabiano acendeu um tabaco, e logo mais tarde improvisaram uma cama para todos dormirem. Acordaram no nascer do sol, Fabiano tivera uma ideia, começaram a procurar sinal de estradas. Com o sol se aproximando do meio dia ficaram preocupados, até os meninos ouviram sons de carros, Sinhá Vitória deulhes a ideia de pedir carona, Fabiano não achava que poderia dar certo, mas não havia outra opção. Depois de tempos esperando, uma carreta deixou-os subir a bordo. Seu destino era a cidade de São Paulo.