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Pedro Bittar de Pinho Vidas à margem

Pedro Bittar de Pinho

Vidas à margem

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Fazia cinco anos que Fabiano, Sinhá Vitória e os dois filhos tinham chegado a São Paulo após conseguirem fugir da seca do sertão nordestino. Mais fracos, mais miseráveis e sem saber o que o futuro reservaria à família.

Morando na rua em uma barraca, Fabiano trabalhava catando latinhas e Sinha Vitória trabalhava com seus filhos tentando vender água e balas em sinais de trânsito. Fabiano e sua família estranhavam a cidade, era muito barulhenta por causa dos carros, toda hora movimentada e o cheiro era horrível. Sentiam que não pertenciam a São Paulo, sentiam que não pertenciam a lugar nenhum.

A vida não mudava, andava com as pessoas os encarando como bichos de outra espécie e com o clima insuportável de chuva, frio e calor, corroendo os corpos e espíritos da família. A alimentação era bem ruim também, às vezes comendo restos de lixo ou conseguindo dinheiro suficiente para comprar um lanche bem barato para dividir entre os quatro.

O passado ainda os atormentava por causa de Baleia, a vida parecia que era pior do que no sertão, na verdade era ruim em qualquer lugar, o grande mundo não tinha lugar para eles a não ser a miséria profunda. Fabiano não conseguia muito dinheiro com o trabalho de catador de latinhas, gastava a maior parte da grana recebida com cerveja no bar para aliviar sua angústia que a cada momento crescia, parecia um morto vivo feito a partir das pessoas que tinham o poder .

Quando chegava em casa bêbado, culpava as crianças e sua mulher por isso. Sinhá Vitória também estava muito angustiada, conseguia expressar-se melhor com palavras do que Fabiano . Era também dona de casa, descontava o medo do que poderia acontecer a ela, Fabiano e seus filhos, no menino mais novo e no mais velho.

Os meninos quando tinham um tempo livre, ficavam brincando perto da barraca, os dois conversavam muito, pensando sobre suas vidas e orando a Deus para que um dia pudessem ser realmente felizes. O ciclo interminável de pobreza perseguia-os de forma insaciável.

Fabiano encontrou um vira-lata que havia gostado dele, a quem deu o nome de Zeca. O cachorro deu esperanças à família para continuar lutando por uma vida minimamente feliz e digna. A miséria ainda seria o calcanhar de Aquiles da família, porém mais uma vez Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos estariam unidos com um novo companheiro, agora teriam Zeca em seus braços.