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Carolina Faidiga da Costa Após o inferno

Carolina Faidiga Da Costa

Após o inferno

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Ao continuar a contemplar as palavras de Sinha Vitória, Fabiano ficou preocupado com o que o futuro lhes reservava. O filho mais novo, se preocupava com seus futuros filhos e onde eles iriam morar. Chorando, ele lamentou a ausência da Baleia. Sinhá Vitória o estudava com apreensão. Muito mais ainda viria pela frente. Fabiano, exausto de vagar sem rumo, suspirou para Sinhá Vitória e pensou nas palavras: “Cansei de fugir da seca andando sem rumo quando ela chega. Cansei de ficar para trás trabalhando, cansei também de pensar que meus filhos serão como eu no futuro. Vamos para São Paulo! Mas ao invés disso eu resmunguei como uma concha seca: “Vamos para São Paulo!”, andando as distâncias antes de chegar ao meu destino.

A família viajou por uma semana. Com os pés doloridos, fome e condições debilitadas antes de chegar ao seu destino final.

A família de Fabiano e Sinhá Vitória vivia uma vida conturbada, sem direção e sem lar. Apesar disso, o casal conseguiu um cubículo na periferia de São Paulo por menos de duzentos reais. Durante a noite, Sinhá Vitória pôde descansar tranquilamente enquanto seu marido Fabiano permanecia acordado imaginando novas fontes de renda. Preocupado por não ter trabalhado em um emprego regular, ele decidiu que seria difícil abordar um novo empregador. Como vaqueiro, ele nunca teve um emprego regular. Fabiano acordou assustado com a luz do sol refletida em seu rosto. Ele dormiu pouco, três horas somente. Imediatamente após se levantar, notou que Sinha Vitória e seus filhos não estavam mais no colchão. Eles já tinham começado o dia. Fabiano rapidamente verificou a hora no relógio enquanto se apressava para apertar o cinto. Quando percebeu que estava atrasado para sair, ficou surpreso, não se despediu antes de sair apressadamente.

O primeiro visitante de Fabiano foi um empresário que o cumprimentou com um susto: “O que você está fazendo aqui, rapaz?” Fabiano entrou na fábrica com os sapatos tocando os pés por duas horas, seu estômago apertava de nervosismo antes que alguém percebesse que ele estava lá. Fabiano se esforçou para responder à pergunta da entrevista de emprego. Satisfeito com as palavras do gerente, Fabiano rapidamente se lembrou do soldado amarelo. No entanto, ele entrou na sala apesar de seu medo. Assim que fez isso, o pai de família percebeu por que estava tão apreensivo: reconheceu o soldado como

alguém de quem ele buscava aprovação. Após este evento, Fabiano decidiu entrevistar o gerente sobre sua necessidade de funcionários.

Fabiano voltou menos de uma hora depois de ser contratado. Ele não entendia por que o gerente o contratou.. Ao voltar para casa, deu a notícia à Sinha Vitória. Ela preparou o almoço com os recursos que trouxeram da viagem. Além disso, ela pediu à professora da escola do bairro que deixasse seus filhos assistirem às aulas naquela manhã. A mãe encorajava os filhos a apreciar o valor da educação. Ela se orgulhava por receber uma resposta tão afirmativa porque significava que seu trabalho era importante. Uma vez que os dois meninos se sentaram à mesa, todos comemoraram seus novos colegas de classe e escola. Enquanto todos comiam, tentavam aproveitar esse raro momento de felicidade.

Fabiano, às quatro da manhã, tomou um cafezinho. Deixou os sapatos bem amarrados, saiu para o trabalho. Pouco depois, as crianças acordaram com o sol da manhã brilhando em seus olhos. Sinhá Vitória preparou o café da manhã enquanto as duas crianças se vestiam. Sinhá Vitória saía todos os dias para uma caminhada de meia hora até a escola. Quando ela chegou em casa, decidiu que queria um emprego e se aventurou no centro da cidade em busca de um. Fabiano voltou para casa ao cair da noite. Sinhá Vitória estava preparando uma refeição para seus filhos famintos, ela não encontrou trabalho. Eles estavam nessa mesma rotina há 28 dias – exaustos e famintos. No entanto, eles conseguiram fazer da faxineira de um restaurante de fast-food sua última opção. Os salários de Fabiano e Sinhá Vitória totalizavam 2.214 reais no último dia do mês; eles consideraram isso um tremendo sucesso.

A família de Fabiano estava satisfeita com o primeiro salário, usaram-no para pagar suas contas e comprar comida. Resolveram juntar dinheiro para, eventualmente, comprarem para Sinhá Vitória uma cama como a de Tomás da Bolandeira. Enquanto comiam sua melhor refeição em meses, eles puderam finalmente sentar e relaxar. Fabiano não precisava mais se estressar com a seca, pois ele cuidava alegremente de sua família. O menino esperava que sua falecida cachorra Baleia ainda estivesse viva e bem, para que ele pudesse vê-la novamente. É por isso que ele acha difícil esquecer sua passagem, as lembranças de Baleia voltam à tona. Consequentemente, ele não tem nenhum apetite diante de sua bandeja de jantar.