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Tiê Ornellas Toledo de Menezes Vidas Podres

Tiê Ornellas Toledo de Menezes

Vidas Podres

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A família havia tido um longa e dura viagem, caminharam por dias até encontrarem uma pequena cidade e lá, após descansarem um pouco, seguiram viagem à cidade grande.

Finalmente chegaram, entraram pela beira da avenida e se assustaram com a quantidade de carros que passavam em alta velocidade pelo seu lado. Ao entrarem na cidade perceberam que não tinham ideia de onde ir, e principalmente não sabiam onde estavam. O barulho da cidade foi a primeira mudança que os atingiu, buzinas, carros, gritos e xingamentos, não se ouvia nem mesmo um pássaro sequer. As crianças diante de tal situação se puseram a chorar e Sinha Vitória, mesmo relutante, os repreendeu e mandou-os calar-se. Fabiano decidiu que ali não podiam ficar, então, sem uma palavra dita, pôs-se a andar e os outros o seguiram.

Andaram por mais 2h até que se depararam com uma Catedral. Essas duas horas foram possivelmente as mais assustadoras de suas vidas, a família toda se assustava com os barulhos, os becos e as enormes construções que os cobriam de sombras geladas. As calçadas machucavam os pés descalços das crianças e as pessoas olhavam para eles com desprezo, porém sem surpresa. Sentaram-se na escada em frente à Catedral, Fabiano pensava, na verdade tentava pensar, porém seu estômago não o deixava, haviam consumido todos os poucos alimentos que trouxeram e agora sem ter aonde ir puseram-se a chorar, todos os quatros choravam na porta da Catedral. Sinhá Vitória guardava em si a vontade de entrar na grande igreja, porém não tinha coragem, não tinha coragem de entrar na casa de Deus no estado em que estava, era a maior Catedral que já vira na vida e se sentia observada só estando perto. As lágrimas dos meninos adormeceram em seu colo, o cansaço a abalou, assim como fez com seu marido, então os quatro dormiram nas escadas frias de mármore.

Foram acordados com uma chuva, gotas frias e grossas os atingiam, no desespero, todos correram às portas da igreja, ao entrarem, um vento forte os atingiu e os mesmo sentiram o pior frio de suas vidas. Sinhá Vitória estremeceu e num movimento involuntário ajoelhou-se e pô-se a rezar, ela estava em seu limite e à beira de um colapso mental. Fabiano se ajoelhou e a abraçou, os dois levantaram-se e se retiram da Catedral. Eles caminharam um pouco, debaixo de chuva, até se depararem com uma casa aparentemente abandonada, com uma placa de vende-se na porta, Fabiano arrombou a porta e os quatro entraram. Ali, eles dormiram, no chão duro de madeira, mas que porém lhes lembrava de sua casa no campo.

Fabiano acordou e decidiu sair para procurar emprego. O filho mais novo acordou com coriza, o nariz entupido e Sinha Vitória tentou cuidar dele da maneira que podia.