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Francisco Varanda Cidade Grande

e perguntou onde seria a delegacia mais próxima e o dono do bar, percebendo o desespero de Fabiano e vendo a Sinhá Vitória chorando, levou os dois até a delegacia.

Chegando à delegacia, Fabiano falou com o delegado. Sinhá Vitória ouviu as vozes dos filhos, queria vêlos de qualquer jeito. O delegado disse que eles não tinham documentos e não poderia liberá-los. Fabiano mostra o documento dele e diz que os dois são seus filhos, que chegaram há poucos meses do nordeste para melhorar de vida.

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O delegado percebeu que Sinhá Vitória estava desesperada e a levou até a sala em que estavam os meninos. Quando eles viram a mãe, o filho mais novo saiu correndo, abraçando e chorando muito e o filho mais velho aliviado de ver a mãe, com um ferimento na testa, abraçou o pai.

O delegado vendo essa cena, percebeu que eram realmente filhos deles e resolveu liberá-los, já que não fazia sentido eles ficarem presos.

Os meninos, assustados, perceberam que a cidade grande é cheia de perigos e resolvem não sair mais da favela, somente com os pais. Francisco Varanda

Cidade Grande

As árvores já estavam sem cor, a caatinga em tom amarelado sinalizava que a seca estava voltando. Olhando a fazenda despovoada e sem vida, Fabiano e Sinhá Vitória decidem ir rumo à cidade grande. Há algum tempo queriam sair da fazenda, principalmente Sinha Vitória. Fabiano por outro lado não gostava da ideia, principalmente porque tinha conquistado a duras penas a pequena estabilidade daquele momento, mas, sabiam que na cidade teriam condições melhores.

A partida foi de madrugada, os filhos estavam com sono, não sabiam direito para onde estavam indo, mas não questionavam. A família não possuía muitos pertences e levava poucas coisas, como trouxas com algumas roupas.

O caminho foi longo, durou semanas, com muitas noites dormidas nas ruas, nos bancos das praças de pequenas cidades que passavam. A grande São Paulo parecia cada vez mais longe.

A chegada em São Paulo foi em uma noite chuvosa e com a presença de ventos fortes que atrapalhavam

o percurso. Uma vez escuro, por falta de opção, a família se viu obrigada a passar a noite em uma calçada, e cansados, acabaram adormecendo. Na manhã seguinte, foram acordados por uma voz de um senhor rabugento de barba branca, que dizia com raiva:

—Saiam daqui! Não quero nenhum fracassado na minha calçada!

Os quatro saíram assustados, sem rumo. A manhã estava fria e sem destino Sinha Vitória os guiava, se lembrava de sua infância, correndo pelas ruas da cidade, lembrava de sua mãe que havia falecido quando pequena, lembrava da antiga lojinha de seu pai onde pegava chiclete escondido.

Após horas andando pelas ruas da cidade, encontraram um pequeno centro comercial, e Fabiano começou sua procura por algum trabalho, qualquer que fosse. O tempo passou e começou a anoitecer, Fabiano não havia encontrado nada.

Ainda desempregado, Fabiano passava os dias à procura de empregos, e Sinha Vitória e seus filhos passavam o dia pedindo esmolas nos semáforos, e este dinheiro era usado para a compra de comidas e caso sobrasse algo, para roupas também

Os meses se passaram, a família estava ainda sem uma estabilidade, passavam o dia atrás de esmolas e de empregos, mas às sorte era pouca. Em uma manhã, Fabiano acordou adoecido, tossindo. Seus sintomas agravaram cada dia mais por falta de ajuda médica. Fabiano faleceu, e não recebeu um enterro digno. Seu corpo foi deixado na rua onde morrera.

A morte de Fabiano foi marcada, mas com o passar do tempo o esqueceram. Sinha Vitória havia conseguido um emprego como empregada doméstica, onde recebia em forma de pagamento moradia e alimento. Sinhá que agora estava mais solitária do que nunca criava os filhos sozinhos. Com o tempo, seus filhos foram adquirindo certa instabilidade, começaram a ser mais felizes e a se acostumar com a cidade. O filho mais velho junto com o mais novo já tinha feito amizades no bairro onde moravam e passavam o dia na inteiro na rua, dado que não estudavam, e sempre que brincavam com os cachorros de rua, se lembraram de Baleia e de Fabiano, que sempre estarão presentes junto as eles.