Cobras Cegas #2

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COBRAS CEGAS

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Os Cobras Cegas nascem da vontade de criar um meio onde possamos divulgar nossas ideias, feitas de maneira individual ou em grupo, sendo desenhos, fotografias, música, texto, arte de rua ou qualquer outra forma de expressão. Sem nenhum tema ou ponto de vista “definido”, sem seguir nenhum padrão que nos foi ensinado como “certo”, aprendendo uns com os outros logo evoluindo profissionalmente e, sobretudo, pessoalmente.

Este zine foi impresso com a ajuda de custo das firmas Monstra e Capim Guiné.

Acreditamos que juntos podemos fazer muito mais do que sozinhos. Perseguindo novos caminhos e novas formas de trabalhar, sem deixar que isso se torne uma obrigação. Crendo que o trabalho pode ser diversão e a diversão pode ser uma atividade levada a sério. Fazendo nós mesmos, do nosso jeito e da forma que depositamos fé. Estamos sempre de portas abertas para pessoas que compartilham dos mesmos ideais que os Cobras. Uma das intenções desse “projeto” é justamente conhecer e trabalhar com gente que ainda não conhecemos. JOIN, or DIE. FALE CONOSCO — cobrascegas@gmail.com — fb/cobrascegasltda

Capa Thamyres Donadio

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Nota de R$ 50,00 Certo dia, enquanto vagueava pelos trilhos do planeta Terra, encontrei um pedaço de papel que voava ao sabor do vento. Recolhi-o e com ele fiz um avião, com o qual me diverti imenso, a lançá-lo. Quando me cansei desta brincadeira fiz um pequeno barco e imaginei que era um navegador em busca de novas aventuras. Em seguida, fiz com o pedaço de papel um belo origami, em forma de cisne. Passou um homem por mim que, encantado com a minha obra, me pediu para ficar com ela, dando-me em troca o seu bloco de folhas de desenho. Claro que aceitei. Com aquelas folhas fiz vinte aviões, vinte barcos, vinte origamis e ainda fiquei com algumas para desenhar e uma escrever este meu episódio. O homem ficou só com aquela. Não entendo estes humanos. Emanuel R. Marques

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Eleição? Vamos falar de política então! Esse ano é ano de eleição, todos os preparativos já estão postos, copa do mundo, paralisação de alguns órgãos públicos, férias eterna aos políticos, cortes de verbas para obras fundamentais, dossiê, urnas, etc. Pensando em tudo isso, lembrei de um texto da filósofa contemporânea Hanna Arendt, publicado em 1957, “A crise na educação”. Em meio à riqueza que o texto oferece, destaco apenas um conceito para pensarmos nossa política, “O problema da mistura entre política e educação”, e por ele, podemos pensar esse período e as propostas de nossos políticos com seus partidos. Segundo nossa autora a influência direta do também filósofo Jean-Jacques Rousseau (séc. XVIII), no qual a educação tornou-se um instrumento da política, e a própria atividade política foi concebida como uma forma de educação, fez com que a política utiliza-se da educação para os seus fins e a atividade política se transformasse em um formato educacional, ou seja, a educação é política e a política educa, através de instituições e propaganda educacionais, tratam adultos como crianças, como infantis. Cito um trecho dessa obra: “O papel desempenhado pela educação em todas as utopias políticas, a partir dos tempos antigos, mostra o quanto parece natural iniciar um novo mundo com aqueles que são por nascimento e por natureza novos. No que toca à política, isso implica obviamente um grave equivoco: ao invés de juntar-se aos seus iguais, assumindo o esforço de persuasão e correndo o risco do fracasso, há a intervenção ditatorial, baseada na absoluta superioridade do adulto”. Fazer política dá muito trabalho, exige capacidade intelectual e argumentativa, devido à multiplicidade e imprevisibilidade das ações humanas, essa atividade persuasiva corre o risco de fracassar. Como os velhos são difíceis de lidar e convencer devido a sua igualdade política é “melhor” agir com uma probabilidade maior de certeza, ou seja, de um modo déspota e isso é feito através dos novos, as crianças os desiguais, elas são a esperança de uma política “certa”, pois não tem capacidade política, então não há um conflito de forças, uma resistência. A política tornase assim mais perversa, coage os que não podem se defender. Com isso o discurso democrático de iluminação e liberdade é derrubado.

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Arendt nos dá o exemplo dos movimentos revolucionários tirânicos, que quando subiam ao poder, subtraiam as crianças para doutriná-las. Penso que não foi e não é diferente no Brasil, se pensarmos na educação dos Jesuítas aos índios, arrancavam as crianças de suas aldeias e inculcavam o ideal cristão-católico. Talvez seja esse o motivo pelo qual a sociedade brasileira não tenha nenhuma ligação com seus ancestrais indígenas. E se pensarmos o ensino nesse país com mais de 500 anos, com todo tipo de reforma pedagógica já feita, “as crianças quando adultas” nunca amadurecem politicamente, devido à imbecilidade desse ensino. Em outro trecho ela explana mais essa idéia. “A educação não pode desempenhar papel nenhum na política, pois na política lidamos com aqueles que já estão educados. Quem que queira educar adultos na realidade pretende agir como guardião e impedi-los de atividade política. Como não se podem educar adultos, a palavra “educação” soa mal em política; o que há é um simulacro de educação, enquanto o objetivo real é a coerção sem o uso da força. Quem desejar seriamente criar uma nova ordem política mediante a educação, isto é, nem através de força e coação, nem através da persuasão, se verá obrigado à pavorosa conclusão platônica: o banimento de todas as pessoas mais velhas do Estado a ser fundado. A educação cabe as crianças, só a elas que podemos educar, já a política cabe aos velhos, não pode haver uma inversão. Quando a educação é política, as crianças são massa de manobras, privadas assim de seu direito frente ao seu futuro. Quando a política tem um formato educativo, com a idéia de educar os adultos, ela esta apenas reprimindo despoticamente e privando esses adultos de fazerem política. É como se a política banisse os velhos infantilizando-os e assim trata todos, crianças e velhos, como crianças, ou seja, desprovido de poder político, cabendo ao político redentor tomar as decisões pelos que não tem essa capacidade. Política e educação são coisas extremamente diferentes e não podem ter ligações. Que isso nos ajude a pensar em nossos candidatos, se tem “emancipado” nossas crianças e nos infantilizado com suas ações! Jhonatas de Castro Oliveira

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CONTATO

Bruno Salomão, 2 Emanuel R. Marques, 3 David Beat, 4 Bruno Detilio, 5 Ana Carolina, 6-7 Mariana Camargo, 8 Victor Andrade, 10 Eti Pellizzari, 11 Gabriel Diogo, 12 Jhonatas de Castro, 14 Josemar Porfirio, 16 Paulo Zeminian, 17 Fábio Pimenta, 18 Matheus Diogo, 20-21 André Fool, 22 Lucas Franzotti, 24 Tiago Sotero, 25 Fernando Resende, 26 Guilherme Ribeiro, 28 Gustavo Bianco, 30-31 Thamyres Donadio, 32-33 Mariana Genovese, 34-35 Bassi Renata, 36 Thiago Martins, 38

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SET/2014


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